Supremo
dos EUA blinda Trump
Em
uma decisão inédita que garante imunidade a presidentes, a Suprema Corte
dos Estados Unidos decidiu
nesta segunda-feira (01/07) que o republicano e ex-ocupante da Casa
Branca Donald Trump não pode ser
processado por atos realizados no exercício do cargo. A imunidade, porém, não
vale para coisas que Trump tenha feito como indivíduo.
Endossado
por seis votos contra três, o julgamento derruba uma decisão de uma corte
inferior que negava a imunidade a Trump em processos criminais relacionados
às tentativas do ex-presidente de se manter no poder após a derrota
eleitoral para o democrata Joe
Biden.
A
decisão vem a quatro meses das eleições presidenciais americanas, que Trump
disputará pelo partido Republicano pela terceira vez consecutiva.
A
decisão, vista como uma vitória para Trump, deve atrasar os julgamentos
dos processos, que podem acontecer apenas depois das eleições presidenciais, em
5 de novembro. O ex-presidente é candidato pelo Partido Republicano.
"Grande
vitória para a nossa Constituição e democracia. Orgulho de ser
americano!", festejou Trump nas redes sociais.
A
decisão não concede imunidade automática para Trump, mas aponta
que ex-presidentes dos EUA têm direito a pedi-la em casos na esfera
criminal. Com isso, o caso voltará a tribunais da 2ª instância, que terão
de julgar se Trump é imune em cada um dos três processos.
Os
seis juízes que votaram favoráveis ao ex-presidente são conservadores. Os três
que votaram contra a imunidade parcial dele são liberais.
"Concluímos
que, sob a nossa estrutura constitucional de separação de poderes, a natureza
do poder presidencial requer que um ex-presidente tenha alguma imunidade contra
processos criminais decorrentes de atos oficiais praticados durante seu mandato",
consta da decisão redigida pelo presidente da corte, ministro John Roberts.
"Ao
menos em relação ao exercício dos poderes constitucionais centrais do
presidente, essa imunidade tem que ser absoluta. Quanto aos demais atos
oficiais, ele também tem direito a imunidade", continuou Roberts.
Este
é o caso do processo que acusa Trump de ter conspirado para reverter o
resultado das eleições de 2020 e incentivado manifestantes a invadirem o
Capitólio, a sede do Lesgislativo dos EUA, em 6 de
janeiro de 2021. Ele havia perdido as eleições para o presidente atual, Joe Biden, mas ainda estava na presidência -- Biden tomou posse dias
depois da invasão.
Trump
se tornou réu nesse processo em agosto de 2023, mas a data para o julgamento
ainda não foi marcada.
Em
sua própria rede social, a Truth Social, Donald Trump celebrou a decisão, que
classificou de uma "grande vitória para a nossa Constituição e a
democracia".
O
assessor-chefe da campanha de Joe Biden disse que "a decisão de hoje não
altera os fatos, por isso sejamos muito claros sobre o que aconteceu em 6 de
janeiro (de 2021): Donald Trump encorajou uma multidão a derrubar os resultados
de uma eleição livre e justa".
A
sentença da Suprema Corte desta segunda também determina que, agora, os
tribunais inferiores são os que deverão decidir sobre a imunidade como aplicar
a nova decisão ao caso de Trump. O caso, originalmente, foi julgado em um
tribunal da 2ª instância, que rejeitou o pedido do ex-presidente por imunidade.
Os
advogados de Trump apresentaram recurso, e o caso subiu, então, para a Suprema
Corte.
No
pedido original, Trump argumentou que estaria imune porque era presidente
quando tomou as medidas que levaram a todos os processos -- como as
acusações de que ele incitou manifestantes a invadirem o Capitólio e de que
pressionou autoridades eleitorais do estado da Georgia a recontar os votos.
A
Suprema Corte dos EUA tem maioria conservadora -- seis juízes foram indicados
por presidentes republicanos, três deles pelo próprio Donald Trump. Os outros
três foram indicações democratas.
Na
sentença, a juíza Sonia Sotomayor, indica pelo ex-presidente democrata Barack
Obama e que deu voto contrário à imunidade, argumentou que, com direito a serem
imunes, presidentes e ex-presidente se tornaram "reis acima da
lei".
·
Que atos concretos
estão cobertos pela imunidade?
O
julgamento se debruçou sobre quatro categorias de conduta listadas na denúncia
contra Trump: as discussões com agentes do Departamento de Justiça logo após as
eleições de 2020, a suposta pressão sobre o então vice-presidente Mike Pence
para que bloqueasse a certificação da vitória de Biden, seu suposto papel em
reunir falsos apoiadores e a conduta dele relacionada à invasão do Capitólio em
6 de janeiro de 2021.
Trump
é acusado de conspiração para defraudar os Estados Unidos, conspiração para
obstruir um procedimento oficial, conspiração envolvendo o processo de
certificação de voto no Capitólio em 6 de janeiro de 2021 e por levar adiante
essa obstrução, além de conspiração por violação de direitos civis, em relação
às tentativas de reverter a seu favor os resultados eleitorais em diferentes
estados do país nas eleições de 2020. Ele alega inocência.
Apenas
em um deles, o julgamento já aconteceu. Em maio, o ex-presidente foi condenado
por fraude contábil ao ocultar um pagamento de US$ 130 mil para comprar o
silêncio da ex-atriz pornô Stormy Daniels na eleição de 2016, que ele venceu.
A
pena da condenação estava prevista para ser determinada pelo juiz do caso em
julho. Até a última atualização, o juiz não havia informado se adiaria a sessão
para estipular a pena por conta da nova decisão da Suprema Corte.
Neste
caso, no entanto, a imunidade não se aplicaria, já que ele não estava no poder
quando cometeu o crime, segundo entendimento da Justiça.
Pela
decisão da Suprema Corte, Trump tem imunidade total pelas conversas com agentes
do Departamento de Justiça. Os demais três casos foram remetidos a tribunais
inferiores, que deverão analisar se é o caso de estender ou não essa imunidade.
Nos
outros dois processos, a defesa de Trump poderia pedir que ele seja imune,
seguindo a compreensão dos juízes da Suprema Corte.
Em
um deles, Trump é acusado de ser o chefe de uma organização criminosa com o
objetivo de fraudar a eleição no estado da Georgia.
Neste
caso, segundo a Promotoria, o ex-presidente chegou a telefonar pessoalmente
para secretário de Estado da Georgia e para a autoridade eleitoral máxima do
estado com o objetivo de pressioná-los a alterar o resultado da contagem local
de votos, que davam vitória aos democratas. Na ocasião, ele era presidente dos
EUA.
No
quarto processo, Donald Trump é julgado por ter levado para sua residência uma série de
documentos confidenciais da Casa Branca quando
deixou a presidência, no fim de janeiro de 2021 -- neste caso, ele também ainda
estava no poder ao cometer o crime.
No
entanto, agora caberá aos juízes da 2ª instância decidir se a imunidade se
aplicará em cada um dos casos ou não, e de que forma.
Com
isso, o processo criminal contra Trump sofre novo atraso, diminuindo a
probabilidade de que o caso dele venha a ser julgado antes das eleições, em 5
de novembro.
A
decisão da Suprema Corte, somada à rejeição de esforços para barrar a candidatura dele diante das tentativas de se manter no poder depois da
derrota para Joe Biden, é um indicativo do papel que os ministros estão
desempenhando nas eleições de novembro.
·
Decisão inédita
É a
primeira vez na história da Suprema Corte que um ex-presidente tem sua
imunidade declarada em relação a acusações criminais em qualquer instância. A
decisão foi motivada por um recurso de Trump contra a decisão anterior que
negava imunidade a ele.
A
defesa do candidato argumentava que ele tinha imunidade porque as acusações
diziam respeito a ações praticadas durante o seu mandato como presidente, e que
se ele não tivesse a imunidade declarada, isso sujeitaria futuros presidentes a
"chantagem e extorsão" de rivais políticos.
Contrária à
imunidade de Trump, a ministra do Supremo Sonia Sotomayor criticou o
julgamento, afirmando que ele "zomba do princípio fundamental da nossa
Constituição e do nosso sistema de governo de que ninguém está acima da
lei".
A
acusação argumentou que dar "imunidade absoluta" a Trump, conforme
ele desejava, blindaria presidentes de responsabilização criminal por propina,
traição, assassinato e, no caso em questão, tentativa de golpe.
Ao
analisar o caso, os ministros mencionaram hipoteticamente a venda de segredos
nucleares, o recebimento de propina e o comando de um golpe ou homicídio com
motivação política. O argumento da defesa de Trump era que, se essas ações
fossem conduta oficial, um ex-presidente só poderia ser acusado se sofresse
primeiro um impeachment na Câmara dos Representantes e depois fosse condenado
no Senado – algo que nunca aconteceu na história dos EUA.
¨
Steve Bannon diz que
vai mobilizar 'exército' pró-Trump de dentro ou fora da prisão
Um
dos principais conselheiros de Donald Trump nas campanhas
presidenciais, Steve Bannon, disse à BBC que não tem medo de ir para a prisão
ou assistir à campanha de 2024 do
ex-presidente atrás das grades.
Depois
de ser condenado por desacato ao Congresso, o homem que era visto como um dos mais poderosos nos
bastidores da Casa Branca no início do mandato presidencial de Trump em 2017 se
apresentará a uma prisão federal em Connecticut nesta segunda-feira (01/07).
Ele
ainda está recorrendo contra sua condenação por se recusar a comparecer à
comissão da Câmara que investiga o ataque de 6 de janeiro de 2021 ao Capitólio,
em Washington por apoiadores de Trump.
Bannon
afirmou que as conversas que teve com o presidente naquele dia deveriam ser
protegidas sob privilégios do Executivo.
Mas
na semana passada, a Suprema Corte decidiu que ele não poderia adiar sua
sentença até que o recurso fosse ouvido, e agora Bannon terá que cumprir a
sentença de quatro meses na prisão.
“Eu
sirvo meu país há cerca de 10 anos focando nisso”, disse ele em uma entrevista,
referindo-se à política e ao movimento Make America Great Again (Maga).
“Se
eu tiver que fazer isso em uma prisão, eu faço em uma prisão - não faz nenhuma
diferença”, acrescentou Bannon.
Ele
disse que não estava preocupado em perder uma parte crucial da campanha de
Trump, pois há um “exército Maga” pronto para garantir que o ex-presidente
derrote Joe Biden e retorne à Casa
Branca.
“Estou
pronto para ir (para a prisão)”, disse ele. “Estou inteiramente pronto.”
Embora
seu esforço para adiar sua sentença tenha falhado, Bannon disse à BBC que
pretendia transmitir uma última edição de seu programa de TV e podcast de
direita do lado de fora dos portões da prisão antes de se entregar às
autoridades.
Depois
disso, seu programa — descrito como um “centro de comando militar para o Maga”
— permanecerá no ar em sua ausência.
Ele
providenciou para que outros apresentadores assumam o programa War Room
(sala de guerra, em português) junto com todos os seus colaboradores
regulares.
Ex-operador
financeiro do banco de investimentos Goldman Sachs que se tornou figura da
mídia de direita alternativa, Bannon era visto pelos democratas como o cérebro
por trás não apenas da extraordinária ascensão política de Trump, mas também de
algumas de suas políticas mais polêmicas.
Ele
ganhou destaque nacional como chefe executivo da bem-sucedida campanha
presidencial de Donald Trump em 2016 e depois se tornou uma das figuras mais
poderosas de Washington como estrategista-chefe da Casa Branca no início do
governo Trump.
No
entanto, sete meses depois, ele foi demitido, deixando de frequentar a Casa
Branca, de onde comandava as postagens e iniciativas nas redes sociais, e
passou algum tempo à deriva do círculo íntimo de Trump.
O
aspecto desafiador da personalidade de Bannon advém de que “a maioria dos
comentaristas se divide entre chamá-lo de mentor e dizer que ele é
irrelevante”, disse Benjamin Teitelbaum, autor de War for Eternity:
Inside Bannon's Far-Right Circle of Global Power Brokers (Guerra para a
Eternidade: Por Dentro do Cícrulo da Direita Radical de Bannon para os Figurões
do Poder Global, em tradução livre).
“Ele
é os dois extremos ao mesmo tempo.”
Nesse
ínterim, Bannon parece ter voltado ao grupo de Trump e, nos últimos cinco anos,
comandou o War Room — de onde continuou apoiando o
ex-presidente e seu movimento.
·
Dentro da 'sala de
guerra'
A verdadeira
“sala de guerra” de Bannon fica no porão de uma elegante casa no Capitólio, a
poucos passos da Suprema Corte dos EUA.
Cada
canto está repleto de livros de capa dura sobre política, finanças e teorias da
conspiração.
Sobre
a lareira, entre diversas iconografias religiosas, está uma citação impressa
que Bannon - que se vê como um pastor da agenda populista Maga - cunhou: “NÃO
há conspirações, mas NÃO há coincidências”.
O
volumoso manual do “Projeto 2025" está posicionado em um lugar de orgulho
na sala.
O
livro de 900 páginas elaborado pela Heritage Foundation — um think tank
conservador — contém planos detalhados de como um segundo mandato de Trump
transformará o governo americano e o poder do Executivo.
Estávamos
cercados pelas luzes, câmeras e microfones que Bannon usa para transmitir sua
mensagem, por quatro horas, todos os dias da semana, quando me disse que ele e
seu programa tiveram um papel importante na capacitação e mobilização de
milhares de ativistas apoiadores de Trump, a quem chamou de “combatentes de
rua”.
Embora
não seja capaz de liderá-los a partir da prisão, ele disse que esse “exército
Maga” que “não pode e não vai parar até a vitória final” seguirá normalmente em
sua missão.
Afinal,
disse ele, o movimento populista Maga é maior do que ele — e até mesmo do que
Donald Trump. De acordo com Bannon, não importa quem transmita sua mensagem.
Bannon
continua fazendo a falsa alegação de que a eleição de 2020 foi roubada de Trump
— na realidade, os tribunais rejeitaram dezenas de ações judiciais contestando
os resultados e nenhuma evidência de fraude generalizada surgiu.
Bannon
disse que no dia da eleição, 5 de novembro, o “exército Maga” estará pronto
para se deslocar por todo o país, presente nas seções eleitorais e nas
contagens de votos para garantir a vitória do ex-presidente.
Esses
apoiadores - incluindo observadores de pesquisas e advogados - contestariam
cédulas que não acreditam que deveriam ser concedidas a Joe Biden, disse ele.
Teitelbaum,
no entanto, duvida que o próprio público de Bannon esteja “organizado o
suficiente para ser conduzido da maneira que ele descreve”.
·
O que acontece depois
da prisão?
Confiante
de que Trump vencerá em novembro, Bannon estava ansioso para discutir qual
seria a agenda do ex-presidente quando ele retornar ao governo — e o
apresentador do War Room sair da prisão.
Ele
acredita que a próxima Casa Branca de Trump será influenciada pelas ideias que
ele promoveu em seu programa.
A
imigração continua sendo prioridade máxima, disse Bannon. Ele disse ter certeza
de que no “primeiro dia” Trump fechará a fronteira para “impedir a invasão” e,
em seguida, iniciaria a “deportação em massa de 10 a 15 milhões de invasores
estrangeiros ilegais”.
O
ex-presidente voltaria para a economia depois disso, disse ele, e manteria os
cortes de impostos de seu primeiro mandato, que beneficiaram amplamente
indivíduos e corporações ricas. Ele afirmou que o republicano acabaria com as
“guerras eternas” na Ucrânia e em Gaza, embora não estivesse claro como Trump
faria isso.
Bannon
não hesitou em discutir como um segundo governo Trump atacaria seus inimigos
políticos.
O
próprio Trump disse que, se reeleito, poderá imputar responsabilidade a
indivíduos que ele acha que o investigaram erroneamente — especialmente aqueles
que estiveram envolvidos nos vários processos criminais contra ele.
As
agências policiais e os militares seriam “responsabilizados” e teriam que
prestar contas sob uma futura administração Trump, disse Bannon, e o presidente
Joe Biden também seria processado.
Embora
tenha acusado o presidente de ter “vendido o país”, a comissão de supervisão
que é controlada pelos republicanos na Câmara dos Deputados, e que investiga
tais alegações, não apresentou nenhuma evidência de irregularidade criminal
cometida pelo presidente, nem agiu para pedir seu impeachment.
E,
a partir de agora, é Bannon quem está prestes a ir para a prisão. E pouco antes
de sua partida, ele deixou um aviso sinistro sobre qualquer resultado eleitoral
que não considerasse Trump o vencedor.
É
“impossível”, ele me disse, que Joe Biden ganhe a eleição em novembro. E,
portanto, não há como ele, Bannon, e seu “exército Maga” aceitarem o resultado
se o presidente for reeleito.
Como
ele disse em um discurso recente em uma conferência política conservadora, ele
vê a eleição como um jogo de soma zero — e, disse à multidão de apoiadores de
Trump, ela resultará em “vitória ou morte”.
Fonte: Deutsche Welle/g1/BBC News EUA
Nenhum comentário:
Postar um comentário