quarta-feira, 10 de julho de 2024

"Selva": a investigação da PF que desnuda a OrCrim de Bolsonaro... E o ladrão é Lula????

Na introdução do relatório de 2.041 páginas entregue à Procuradoria-Geral da República (PGR) e ao Supremo Tribunal Federal (STF), o delegado da Polícia Federal Fábio Alvarez Shor, que comandou a equipe de investigadores, afirma que o esquema de furto de joias do acervo da União para venda nos EUA é apenas um dos braços da Organização Criminosa comandada por Jair Bolsonaro (PL) para "uso da estrutura do Estado para obtenção de vantagens" para enriquecimento ilícito do clã.

"O presente relatório trata da análise dos fatos relacionados ao eixo de atuação da ORCRIM, ora investigada, denominado "uso da estrutura do Estado para obtenção de vantagens", especificamente ao subitem "Desvio de bens de alto valor patrimonial entregues por autoridades estrangeiras ao ex-presidente da República, JAIR MESSISAS BOLSONARO, ou agentes públicos a seu serviço, e posterior ocultação com o fim de enriquecimento ilícito", diz o documento.

"Cumpre informar que a análise a ser apresentada não é exaustiva, visto que a investigação ainda está em curso e novos dados podem ser encontrados nos materiais analisados ou decorrentes de novas diligências", ressalta a PF, sinalizando que o valor de R$ 6,8 milhões pode ser ainda maior.

O furto de joias, segundo a PF, é parte de apenas um dos cinco braços onde atuou a OrCrim de Bolsonaro, que trata justamente do uso da estrutura do Estado para obtenção de vantagens.

A PF lista ainda os "ataques virtuais a opositores" e também "às instituições, às urnas eletrônicas e ao processo eleitoral", os "ataques às vacinas contra a Covid-19 e medidas sanitárias na pandemia" e a "tentativa de golpe de Estado e de Abolição violenta do Estado Democrático de Direito". 

O relatório da última, considerado o delito mais grave, deve ser apresentado nos próximos dias à PGR e ao STF, revelando a intenção final do grupo criminoso, de se perpetuar no poder com a frustrada ação desencadeada em 8 de janeiro de 2023.

Em ordem cronológica, tendo como base a perícia no telefone celular do tenente-coronel Mauro César Barbosa Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, a PF detalha a "complexidade e da dinâmica em torno dos fatos investigados", desde o furto das joias - transportadas em uma mala dentro do avião em que o ex-presidente fugiu para os EUA para não entregar a faixa a Lula, seu sucessor - até a estratégia para recomprar os artefatos diante do avanço das descobertas dos agentes.

·        "Selva"

Uma das principais provas contra Jair Bolsonaro apresentadas pela Polícia Federal é justamente a resposta, em jargão militar, para comemorar o leilão do "kit rose", informado a ele por meio de um link enviado por Mauro Cid via WhatsApp no dia 4 de fevereiro de 2023.

"Selva", celebra Bolsonaro sobre o leilão que seria feito 4 dias depois pela casa de leilões Fortuna Auction, com sede em Nova York.

"Nesse contexto, ratificando sua ciência e anuência na tentativa de alienação ilegal das joias, a análise dos dados armazenados no telefone celular apreendido em poder de JAIR MESSIAS BOLSONARO identificou cookies e históricos de navegação da página da empresa FORTUNA AUCTION, responsável pelo leilão do 'kit ouro rose'", diz a PF, que detalha que o ex-presidente acessou o link 21 minutos após receber a mensagem do ex-assessor.

"JAIR BOLSONARO encaminha para MAURO CID a mensagem 'Selva', demonstrando sua ciência sobre leilão das joias desviadas do acervo público brasileiro que ocorreria no dia 08 de fevereiro de 2023", segue o relatório, que prova ainda que Cid enviou para Bolsonaro uma mensagem no dia do leilão do "kit".

Em seguida, a PF confirma que Bolsonaro mentiu em depoimento sobre o desconhecimento da atuação da organização criminosa para venda das joias nos EUA.

"Os novos elementos de prova evidenciam que JAI RBOLSONARO, além de determinar o envio das joias para os Estados Unidos, também autorizou e acompanhou a tentativa de vendas dos itens do denominado 'kit ouro rose' em leilão realizado pela empresa FORTUNA, demonstrando que as informações prestadas pelo ex-presidente da República a Polícia Federal, em termo de declarações, são totalmente dissonantes dos fatos apurados, com a finalidade de ocultar a localização e a tentativa de alienação no exterior dos bens desviados do acervo público brasileiro", conclui a PF.

¨      Bolsonaro recebia dinheiro das joias em espécie: "Quanto menos movimentação em conta, melhor"

O ex-presidente Jair Bolsonaro teria recebido dinheiro em espécie em mãos oriundo da venda de joias que ele teria subtraído do acervo presidencial em um esquema criminoso para desviar R$ 6,8 milhões. É o que aponta o relatório da Polícia Federal (PF) sobre o indiciamento do ex-mandatário e outras 11 pessoas por associação criminosa, peculato e lavagem de dinheiro enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), cujo sigilo foi derrubado nesta segunda-feira (8). 

No documento enviado ao STF constam mensagens trocadas entre o ex-ajudante de ordens Mauro Cid e o ex-assessor Marcelo Câmara nas quais fica claro que ambos discutiam a melhor maneira de fazer o dinheiro da venda ilegal das joias chegar até o ex-presidente. Em dado momento, Cid sugere evitar transferências bancárias, que deixa rastros, e propõe entregar os valores a Bolsonaro "em cash", isto é, em espécie. 

O diálogo via WhatsApp entre Cid e Câmara foi registrado em 18 de janeiro de 2023, quando o ex-assessor estava com Jair Bolsonaro em Orlando, nos EUA. Na conversa, Cid tenta organizar o repasse ao ex-presidente, revelando que seu pai, o general Mauro Lourena Cid, que teria negociado venda de joias no país da América do Norte, possuía R$ 25 mil de uma dessas vendas.

“Eu estava vendo o que era melhor fazer com esse dinheiro levar em ‘cash’ aí. Meu pai estava querendo inclusive ir aí falar com o presidente (…) E aí ele poderia levar. Entregaria em mãos. Mas também pode depositar na conta (…). Eu acho que quanto menos movimentação em conta melhor, né?", diz Cid. 

“O relógio, aquele outro kit lá, vai pro dia 7 de fevereiro, vai pra leilão. Aí vamos ver quanto que vão dar”, afirma ainda o ex-ajudante de ordens. 

Além de ficar explícito que Cid planejava entregar o dinheiro das joias a Bolsonaro sem deixar rastro, outra troca de mensagens mostra que o ex-presidente deu aval para que um kit de pedras preciosas, também subtraído ilegalmente do acervo presidencial, fosse a leilão nos EUA. 

Em 4 de fevereiro de 2023, Cid enviou a Bolsonaro, via WhatsApp, o link com informações sobre um leilão nos EUA para tentar vender um kit de joias de ouro rose, que ocorreria quatro dias depois. Bolsonaro, prontamente, respondeu: "Selva".

¨      Le Monde escancara para a Europa esquema criminoso das joias de Bolsonaro

Le Monde, principal jornal da França e um dos mais renomados do mundo, deu destaque em seu site nesta segunda-feira (8) ao indiciamento de Jair Bolsonaro (PL) pela Polícia Federal pelo escândalo das joias subtraídas do acervo da Presidência da República para serem vendidas nos EUA. O jornal escancarou para o público europeu o esquema criminoso do ex-presidente brasileiro.

"No Brasil, Jair Bolsonaro é acusado de tentar se apropriar de joias no valor de mais de 1 milhão de dólares", diz o título da matéria. Na linha fina, os franceses recordam que o escândalo veio a público na imprensa brasileira em março de 2023, depois que agentes da Receita Federal apreenderam as joias com Bento Albuquerque, ex-ministro de Minas e Energia, em 2021. "A polícia recomenda a acusação formal do ex-presidente", diz a publicação.

A matéria reproduz informação oriunda da PF de que Bolsonaro "se beneficiou de um esquema ilegal de venda de joias e artigos de luxo recebidos no Brasil, avaliados em um total de 1,22 milhão de dólares (1,1 milhão de euros)".

O texto explica que o indiciamento já havia ocorrido na última semana e que Bolsonaro está indiciado ao lado de outras 11 pessoas por associação criminosa, lavagem de dinheiro e peculato. Também cita o discurso do ex-presidente, que se diz "vítima de perseguição".

O jornal destacou as peças adquiridas em viagens ao Oriente Médio e informou que o ministro Alexandre de Moraes, do STF, deu ao procurador-geral da República, Paulo Gonet, quinze dias para decidir formalmente sobre a acusação de Jair Bolsonaro.

"Entre os presentes estavam um anel, um colar e brincos da marca suíça Chopard, avaliados em cerca de 828.000 dólares (765.000 euros), além de relógios Chopard e Rolex de ouro e diamantes, e outros itens de joalheria, conforme o relatório policial de quase 500 páginas. Após a revelação do caso, conselheiros de Jair Bolsonaro recuperaram e devolveram ao Estado alguns dos objetos vendidos, detalha o relatório. Segundo a Polícia Federal, os valores obtidos com as vendas 'poderiam ter sido usados para cobrir as despesas de Jair Bolsonaro' nos Estados Unidos, onde ele passou alguns meses após o término de seu mandato", diz o trecho final da matéria.

¨      CADEIA À VISTA?: jurista projeta 'situação complicada' para o ex-presidente após relatório da PF

O advogado Pedro Serrano, professor de Direito Constitucional na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e considerado um dos maiores juristas do país, projeta uma 'situação complicada' para Jair Bolsonaro diante das revelações contidas no relatório da Polícia Federal (PF) sobre o indiciamento do ex-presidente no âmbito do inquérito das joias. 

Nesta segunda-feira (8), o ministro Alexandre de Moraes tornou público o relatório da PF, que contém uma série de informações e indícios sobre uma suposta organização criminosa liderada por Bolsonaro para desviar mais de R$ 6 milhões através da venda de joias e artigos de luxo que pertencem ao Estado brasileiro e que foram subtraídos do acervo da presidência da República. 

O ex-presidente foi indiciado, junto a outras 11 pessoas, por associação criminosa, peculato e lavagem de dinheiro. Em um trecho do relatório, os investigadores apontam que Bolsonaro teria utilizado os valores obtidos com as vendas ilegais das joias para bancar despesas de viagens aos Estados Unidos - país em que parte dos itens teria sido vendida. 

Para Pedro Serrano, caso os fatos apontados no relatório se confirmem, "a situação [de Bolsonaro] se complica". "E muito", frisa o jurista. 

"Por óbvio há que se aguardar denúncia, defesa e o devido processo legal antes de qualquer juízo definitivo, mas caso se demonstre verdadeiro o afirmado no relatório da PF, que Bolsonaro teria se apropriado do resultado da venda das joias para custear despesas de viagem internacional, sua situação se complica e muito", escreveu Serrano nas redes sociais. 

  • PF diz que Bolsonaro montou organização criminosa 

O sigilo do inquérito das joias, pelo qual Jair Bolsonaro (PL) foi indiciado na última semana, caiu nesta segunda-feira (8) por decisão do ministro Alexandre de Moraes do Supremo Tribunal Federal (STF). Com a queda, a Polícia Federal teve de revelar a lista completa das joias e objetos de alto valor desviados pelo ex-presidente para que fossem vendidos no exterior.

De acordo com o relatório enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), a PF afirma que Bolsonaro montou uma organização criminosa para desviar R$ 6,8 milhões de reais a partir da venda ilegal de presentes recebidos por ele em visitas oficiais a outros países enquanto chefe de estado. A investigação estima o valor total das joias investigadas em US$ 1.227.725,12.

Os valores apontados pela PF superam em 3 vezes o famigerado triplex do Guarujá (SP) atribuído ao presidente Lula (PT) pela Lava Jato. Em 2018, época da prisão do petista, o imóvel era avaliado em R$ 2,2 milhões.

"Identificou-se, ainda, que os valores obtidos dessas vendas eram convertidos em dinheiro em espécie e ingressavam no patrimônio pessoal do ex-presidente da República, por meio de pessoas interpostas e sem utilizar o sistema bancário formal, com o objetivo de ocultar a origem, localização e propriedade dos valores", diz trecho do relatório da PF, tornado público.

Um dos itens que está na listagem da PF é uma escultura com ouro e pedras preciosas de um cavalo árabe, entregue por uma autoridade saudita ao então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque.

Outro item são os kits de joias femininas e masculinas, supostamente da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e do seu marido. No caso das joias masculinas, trata-se do kit ouro rose da Chopard, que contra com caneta, relógio e abotoaduras. Já o kit feminino, também da Chopard, tem anel e colar prateados, além de um par de brincos.

Foram esses os itens descobertos ainda em março de 2023 por reportagem do Estadão que inaugurou a cobertura pública do caso e motivou as investigações da PF. Á época, estimava-se que as joias valiam R$ 16,5 milhões, mas depois os objetos foram reavaliados. Na lista divulgada pela PF há ainda um kit ouro branco com relógio Rolex, avaliado em quase US$ 74 mil.

Jair Bolsonaro e outras 11 pessoas acusadas de participar do esquema foram indiciados pelos crimes de associação criminosa, peculato e lavagem de dinheiro. Segundo as investigações, os valores obtidos com a venda das joias eram transformados em dinheiro em espécie e o ex-presidente os recebia das mãos dos aliados.

A PF fez uma lista com os “bens que foram objeto dos atos de desvio e tentativa de desvio perpetrados pela associação criminosa com a finalidade de enriquecimento ilícito do ex-presidente”.

¨      Sobrevida política: Indiciado, Bolsonaro pulveriza candidaturas de Michelle e filhos ao Senado... Aguem terá coragem de votar???

Enquanto advogados se ocupam com a defesa jurídica após o indicia nas investigações sobre o furto de joias e da fraude no cartão de vacinação, Jair Bolsonaro (PL) trama a ofensiva política do clã diante das fartas provas que poderão levá-lo, em breve, à cadeia.

Inelegível até 2030 por duas condenações no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ex-presidente, que fez carreira na política fluminense, quer pulverizar as candidaturas de Michelle Bolsonaro e dos filhos ao Senado por diferentes unidades da federação.

A estratégia busca eleger todo o clã para a casa Legislativa, onde os mandatos têm duração de 8 anos, expandindo seu campo político.

Eleito em 2018, Flávio Bolsonaro (PL-RJ) sairá candidato à reeleição pelo Rio de Janeiro. A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, presidenta do PL Mulher, vai lançar candidata pelo Distrito Federal.

Atual deputado federal, Eduardo Bolsonaro (PL-SP) será candidato por São Paulo. Já o vereador Carlos Bolsonaro (PL), que cumpre seu 6º mandato na Câmara do Rio, deve sair candidato ao Senado por Santa Catarina ou Mato Grosso, dois dos maiores nichos do bolsonarismo no país, segundo Mônica Bergamo, na Folha de S.Paulo.

Ao se lançar candidato ao Senado por estados em que não tem nenhuma relação, Carlos evita dividir os votos do clã no Rio de Janeiro.

Neste ano, o filho "04", Jair Renan, fruto do segundo casamento de Bolsonaro, com Ana Cristina do Valle, vai disputar uma vaga na Câmara de Vereadores de Balneário Camboriú.

Jair Renan, que coleciona entreveros com a madrasta, Michelle, mora na cidade do litoral catarinense, onde atua no gabinete do senador Jorge Seif (PL-SC), ex-secretário da Pesca.

 

Fonte: Fórum

 

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