Reação da
sociedade, faz Rubinho Nunes, recuar do PL da Marmita, mas sua ‘luta’ contra
população vulnerável continua
Na
semana que passou, vergonhosamente os vereadores paulistanos aprovaram em
primeiro turno o PL 445-23, de Rubinho Nunes, do União Brasil, que previa multa
de R$ 17 mil a quem doasse alimentos para a população de rua da cidade. O
projeto foi aprovado com a justificativa infame de acabar com o "tráfico
de marmita".
Na
teoria, a ideia era criar "protocolos de segurança alimentar para pessoas
em vulnerabilidade social”. Na prática, dificultava que ONGs e pessoas físicas
distribuíssem voluntariamente marmitas a sem-teto. O projeto foi aprovado em 32
segundos.
Foi
só depois de uma intensa reação da sociedade que Nunes voltou atrás – suspendeu
a tramitação do projeto e falou em "erro". Diz que não se 'atentou ao
valor da multa'.
Mas
é preciso colocar as coisas em perspectiva: o PL da fome, foi apelidado, não é
uma iniciativa isolada. Ele faz parte de uma cruzada maior, orquestrada desde o
fim do ano passado.
Seguindo
a cartilha do MBL, Rubinho Nunes aprendeu a capitalizar politicamente em cima
da polêmica em redes sociais antagonizando com a esquerda – e foi exatamente
isso que ele fez desta vez.
Há
meses, o vereador vem empreendendo uma cruzada contra o padre Júlio
Lancellotti. As acusações de Nunes contra o religioso, conhecido por seu
trabalho com a população em situação de rua na capital paulista, vão de
"máfia da miséria" à associações com pedofilia.
Rubinho
Nunes está em uma saga para tentar emplacar uma CPI para "máfia da
miséria" que atuaria na Cracolândia. No começo deste ano, vários
vereadores que haviam endossado a CPI retiraram a assinatura quando viram que a
investigação seria direcionada ao padre.
Em
março deste ano, houve outro pedido de CPI, já mirando Padre Júlio, desta vez
para investigar supostos abusos sexuais contra pessoas vulneráveis. Lancellotti
nega todas as acusações.
Denúncia
parecida já havia sido feita por outro ex-MBL, Arthur do Val, em 2020. Segundo
ex-membros do movimento, a máquina de moer reputações do MBL usou um vídeo
fabricado como "prova" contra Lancellotti em acusações de pedofilia.
O objetivo: impulsionar a candidatura de Val, conhecido como Mamãe Falei. Essa
história é contada em uma reportagem na revista piauí.
As
investigações contra o padre foram arquivadas pelo Ministério Público na época.
Mas acusações semelhantes ressurgiram – de novo, em ano eleitoral.
Desta
vez, a narrativa orquestrada de Rubinho Nunes contra Padre Júlio e organizações
de caridade ficam claras nos anúncios do vereador no Facebook. Ele gastou ao
menos R$ 15 mil só em anúncios que miram o religioso, entre fevereiro e março
deste ano.
Em
um deles, o vereador lamentava que Câmara estivesse "se ajoelhando para um
pedófilo". Pedia apoio para conseguir assinaturas para a CPI. O anúncio
custou R$ 3 mil e atingiu 100 mil pessoas.
Em
outro, Nunes dizia que 'fluxo' na Cracolândia aumentou em 140% depois que o
Fernando Haddad criou o 'Bolsa Crack' em SP". "As ONGs esquerdistas
se multiplicaram no período. Agora, elas querem boicotar a CPI que vai
investigá-las", dizia a propaganda. (O que aumentou mesmo foi a
Cracolândia de Ricardo Nunes: 43% só no segundo semestre de 2023.)
Só
que, agora, Rubinho Nunes e seus pedidos de CPI entraram na mira da Polícia
Civil. O órgão irá investigar a conduta do vereador a pedido do Ministério
Público de São Paulo.
O
pedido inicial foi feito pelo Instituto Padre Ticão, ONG que acusa Rubinho
Nunes de abuso de autoridade por tentar abrir a CPI "mesmo sem qualquer
indício de conduta criminosa por parte do pároco, com única motivação de
produzir ganho pessoal de capital político".
O
MPSP entendeu que o caso deveria ser melhor esclarecido. Como mostrou a votação
do PL da Fome, o ex-MBL conseguiu emplacar sua cruzada dentro da Câmara – mas a
sociedade mostrou que não está disposta a comprar essa campanha do lado de
fora. Que os vereadores aprendam. Afinal, é ano eleitoral
• Polícia investiga vereador Rubinho
Nunes por CPI contra padre Julio Lancelotti
O
vereador de São Paulo Rubinho Nunes (União Brasil), está sendo investigado após
alegações de abuso de poder contra o padre Julio Lancellotti, conhecido por sua
atuação junto às comunidades vulneráveis. A Polícia Civil de São Paulo, sob a
demanda da 4ª Promotoria de Justiça Criminal da Capital, iniciou um inquérito
buscando esclarecer a situação.
A
denúncia que motivou a 4ª Promotoria de Justiça Criminal da Capital, vinculada
ao Ministério Público, a solicitar a investigação da Polícia Civil foi feita
pelo Instituto Padre Ticão, que criticou a formulação da comissão sem que
houvesse qualquer indício de conduta ilegal de Lancellotti em seu trabalho
assistencial na região conhecida como Cracolândia, no centro da capital
paulista.
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O que motivou as investigações contra Rubinho Nunes?
O
vereador usou sua posição para instaurar uma Comissão Parlamentar de Inquérito
(CPI), o que gerou grande polêmica. Segundo o Instituto Padre Ticão, a CPI, que
deveria investigar operações nas ONGs, foi indevidamente direcionada contra
Lancellotti, sem evidências que justificassem tal foco.
No
final de 2023, Nunes, que é fundador do Movimento Brasil Livre (MBL), iniciou
um movimento pela criação de uma CPI para apurar o trabalho de ONGs e
movimentos que atuavam na Cracolândia. No entanto, com o correr das semanas,
ficou evidente que o vereador queria, na verdade, investigar Lancellotti,
personagem muito próximo de organizações da esquerda em São Paulo.
Com
o mal estar causado na Câmara Municipal, Nunes foi forçado pelos líderes
partidários a reescrever o escopo da proposta de CPI e evidenciar padre Júlio
Lancellotti como alvo. Como resultado, perdeu apoio e força política e a
comissão está estagnada na gaveta do presidente da Casa, o vereador Milton
Leite (UB).
Em
entrevista ao jornal Folha de São Paulo, o promotor do Ministério Público,
Paulo Henrique Castex, falou sobre a investigação. “Entendo que a narrativa
apresentada deve ser mais bem esclarecida para apurar possível conduta com
repressão criminal”, explicou.
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Como a sociedade reagiu?
Muitas
pessoas e organizações expressaram preocupação com o possível desvirtuamento
das funções legislativas para perseguição pessoal e política. Além disso,
alegações adicionais feitas pelo Instituto Padre Ticão incluem a propagação de
notícias falsas e aporofobia, acentuando ainda mais as críticas contra o
vereador.
Em
resposta, Rubinho Nunes defende-se das acusações, destacando que sua intenção
ao abrir a CPI foi puramente investigativa, focada em possíveis irregularidades
nas entidades que operam na cracolândia. Ele acusa o instituto e o Ministério
Público de tentar intimidá-lo em vez de focar no bem-estar das comunidades
vulneráveis e na corrupção em algumas ONGs.
• Quem é Rubinho Nunes
Rubens
Alberto Gatti Nunes (Vinhedo, 2 de junho de 1988) é um advogado e político
brasileiro filiado ao União Brasil (UNIÃO).[1] Atualmente exerce seu primeiro
mandato como vereador da cidade de São Paulo.
É
conhecido por ser um dos cofundadores do Movimento Brasil Livre (MBL), do qual
foi líder e advogado por oito anos. Em 2022, ele deixou o quadro de integrantes
do movimento.
No
segundo ano de mandato como vereador, Rubinho Nunes foi eleito corregedor-geral
da Câmara Municipal de São Paulo para o exercício de 2023, com 37 votos
favoráveis. A escolha ocorreu após a eleição da nova Mesa Diretora da Casa,
realizada em 15 de dezembro de 2022.
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Biografia
Filho
do vereador Rubens Nunes (PODE) e da comerciante Inês Gatti Nunes, Rubinho
Nunes nasceu no município de Vinhedo, no interior do estado de São Paulo, em 2
de junho de 1988. Formou-se em Direito e Ciências sociais pela Pontifícia
Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) e pós-graduou-se em Direito
trabalhista pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e em Direitos
fundamentais através do curso IBCCRIM-Coimbra, realizado pelo Instituto
Brasileiro de Ciências Criminais em parceria com o Instituto de Direito Penal
Económico Europeu, da Universidade de Coimbra. Além disso, Rubinho Nunes também
especializou-se em Direito constitucional e Empresarial.
• Trajetória política
Em
2014, Rubinho Nunes foi um dos cofundadores do Movimento Brasil Livre (MBL),
organização política em oposição ao governo Dilma Rousseff (PT) e que tinha por
objetivo conseguir o afastamento da ex-presidente. À época, Rubinho Nunes
protocolou um dos pedidos de impeachment e trabalhou na organização de diversas
manifestações que precederam o afastamento de Dilma Rousseff da presidência da
República.
Em
abril de 2016, Rubinho Nunes protocolou o primeiro pedido de impeachment da
história de um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), sob o argumento de
que Marco Aurélio Mello agiu de forma arbitrária ao determinar, por meio de
medida liminar, que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, estaria obrigado a
acatar o pedido de impeachment contra o vice-presidente Michel Temer, que já
havia sido arquivado. Posteriormente, o presidente do Senado, Renan Calheiros
(MDB), arquivou o pedido alegando falta de documentação dos denunciantes e
ausência de crime de responsabilidade.
Nas
eleições municipais de Vinhedo em 2016, Rubinho Nunes concorreu ao seu primeiro
cargo eletivo ao candidatar-se à vice-prefeito do município pelo PMDB ao lado
do então candidato a prefeito Dr. Dario (PTB). Angariando 11.127 votos, porém,
a chapa ficou em 2° lugar na disputa e não conseguiu se eleger.
Em
2018, Rubinho Nunes tornou-se conhecido nacionalmente após entrar na Justiça
contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e conseguir a suspeição dos
seus direitos políticos à época em que estava preso em Curitiba após condenação
pela Operação Lava Jato. Na ocasião, Rubinho moveu uma ação popular que
questionava benefícios do ex-presidente como, por exemplo, motorista, carro
oficial e seguranças particulares. Em resposta à ação, em 17 de maio de 2018, o
juiz federal Haroldo Nader, da 6ª Vara de Campinas, acolheu a tutela de
urgência em ação popular e mandou cortar os benefícios de Lula, como
ex-presidente. Além disso, em agosto do mesmo ano, quando o Partido dos
Trabalhadores registrou a candidatura do ex-presidente Lula à presidência da
República, Rubinho Nunes e o líder do MBL, Kim Kataguiri (DEM), entraram com
nova ação pedindo a impugnação da candidatura de Lula com base na Lei da Ficha
Limpa. Ainda no final de agosto, 6 dos 7 ministros do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) votaram de maneira favorável ao pedido e Lula teve sua
candidatura barrada.
Já
nas eleições de 2020, Rubinho Nunes concorreu ao cargo de vereador da cidade de
São Paulo na legenda do Patriota. Alcançando a soma de 33.038 votos, o
equivalente à 0,65% dos votos válidos, conseguiu ser eleito à Câmara Municipal
de São Paulo.
Durante
o exercício do mandato, entrou com uma ação contra o prefeito eleito da capital
paulistana, Bruno Covas (PSDB), após o prefeito firmar um acordo sigiloso de R$
100 milhões entre a prefeitura e a empresa Mc Brazil Motorsport Holding Ltda
para a realização do Grande Prêmio de Fórmula 1 de São Paulo entre os anos de
2021 a 2025. De acordo com Rubinho Nunes, o contrato foi fechado sem processo
licitatório e “violou os princípios constitucionais da moralidade, da
publicidade e da legalidade. E, caso mantido, poderá lesar o patrimônio público
municipal”, devido ao sigilo imposto pelo município na documentação. Alguns
dias depois, a Justiça deferiu uma liminar, impedindo que o gasto fosse
realizado nos termos do prefeito.
Além
disso, em fevereiro de 2021, a Justiça de São Paulo suspendeu, a pedido de
Rubinho Nunes, o festival "Tô Me Guardando", realizado pela
prefeitura para promover apresentações de Carnaval virtuais, devido à pandemia
do novo coronavírus. De acordo com o vereador, o evento violava os princípios
administrativos e não contemplava licitação no processo, além de custar R$ 3
milhões aos cofres públicos. A prefeitura recorreu da decisão mas, em abril do
mesmo ano, o desembargador Camargo Pereira, do Tribunal de Justiça de São
Paulo, negou o recurso e manteve a suspensão.
Em
2021 foi expulso do Partido Patriotas, quando naquele momento se opôs à
filiação do senador Flávio Bolsonaro ao partido. Em entrevista ao jornal Valor
Econômico, afirmou que tal motivação se deu devido à venda do partido para um
projeto mesquinho, buscando captar maiores recursos do fundo partidário. Em
seguida Rubinho se filiou ao PSL, porém durante a janela eleitoral de 2022 se
transferiu novamente agora para o partido União Brasil, o mesmo do então
presidente da câmara de vereadores, Milton Leite da Silva.
Após
várias denúncias feitas por moradores e comerciantes do centro de São Paulo,
Rubinho Nunes protocolou uma CPI para investigar as ONGs que atuam na região da
cracolândia. Além disso, o vereador também protocolou uma nova CPI para
investigar as recorrentes denúncias de abuso sexual contra o padre Júlio
Lancellotti e outros casos de exploração sexual de pessoas em situação de
vulnerabilidade. A disputa em torno da questão, levou o PSOL a anunciar a
abertura de outra CPI para investigar a política de tratamento à população de
rua do Prefeito Ricardo Nunes.
Nenhuma
das CPIs até o momento foram de fato abertas. Após a repercussão em torno da
questão, diversos vereadores que assinaram o pedido de abertura se disseram
enganados, pois o nome do padre não constava do documento original. Pediram a
retirada da sua assinatura, Thammy Miranda(PL), Xexéu Tripoli (PSDB), Sidney
Cruz (Solidariedade) e Sandra Tadeu (União). Tal situação resultou em maior
dificuldade na instauração do procedimento uma vez que são necessárias 28
assinaturas e com a repercussão passaram de 22 para 18 as assinaturas de
vereadores que concordam com o caso.
O
caso das CPIs levou Nunes a ser alvo de inquérito policial, instaurado pela 4ª
Promotoria de Justiça Criminal da Capital, atendendo a um pedido do Instituto
Padre Ticão. Nunes questionou a motivação do inquérito e afirmou que irá
estudar uma representação criminal contra os responsáveis pelo instituto por
denunciação caluniosa eleitoral.
Em
junho de 2024, foi aprovado em primeiro turno um projeto de lei de autoria de
Rubinho Nunes que estabelecia uma série de regras para entidades e até pessoas
físicas que quisessem doar alimentos à população em vulnerabilidade social da
cidade e proibiam a doação de comida a moradores de rua sem autorização da
Prefeitura. Uma pessoa que doasse alimento a um morador de rua da cidade sem
licença pode ter que pagar multa de até R$ 17.680. O texto ainda precisava ser
aprovado em segundo turno para ser levado à sanção do prefeito Ricardo Nunes
(MDB), mas foi alvo de ampla reprovação, incluindo do prefeito, que declarou
que o vetaria. Com a polêmica, o próprio vereador recuou e suspendeu a
tramitação do projeto.
Fonte:
The Intercept/O Perfil/Brasil de Fato/Wikipedia
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