Qual será a política externa do Irã sob o
novo presidente?
Masoud Pezeshkian foi
eleito novo presidente do Irã nesta sexta-feira (5), substituindo Mohammad
Mokhber, que substituiu em 20 de maio temporariamente Ebrahim Raisi no cargo,
após a morte do último em um acidente de aviação em 19 de maio.
Pezeshkian falou à
Sputnik na véspera das eleições sobre as principais prioridades da política
externa do Irã: o reforço das relações com a Rússia e a China, a presença ativa
do Irã no BRICS e na Organização para Cooperação de Xangai (OCX), a restauração
do Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA, na sigla em inglês) e o levantamento
das sanções.
"A Rússia é amiga
e parceira do Irã, e considero uma prioridade aprofundar e expandir as relações
com a Rússia e a China, bem como intensificar as atividades de política externa
na direção asiática em geral. E certamente, em todos os níveis – bilateral,
regional e internacional – continuaremos nossos esforços para expandir nossa
interação com a Federação da Rússia", considerou ele.
Ele defendeu uma
"política unidirecional" do Irã, como "defensor do princípio da
multipolaridade".
"Além disso, a
cooperação regional é uma das prioridades da minha agenda de política externa
e, para esse fim, o Irã expandirá sua presença no BRICS e na OCX, e buscará uma
cooperação mais ativa com a UEE [União Econômica Euroasiática] para realizar
mais plenamente o potencial das relações comerciais e econômicas com seus
Estados-membros", previu.
Na sua opinião, a
saída unilateral dos EUA do JCPOA, o acordo nuclear assinado entre vários
países internacionais e o Irã, prejudicou seriamente o Irã e seu povo.
"Como o lado
russo tem sublinhado repetidamente, o Irã cumpriu suas obrigações, e
consideramos que nossa tarefa é trazer as outras partes de volta a esse acordo
o mais rápido possível e conseguir o levantamento das sanções. Estou confiante
de que os governos amigos da Rússia e da China apoiarão e ajudarão o Irã a
resolver essa questão", segundo o presidente iraniano recém-eleito.
·
Primeiro presidente
reformista da República Islâmica
O ex-ministro da Saúde
de 69 anos, parlamentar e cirurgião cardíaco, era um político pouco conhecido
no início da campanha, mas foi ganhando popularidade com uma mensagem de
moderação, aproximação ao Ocidente e críticas à obrigatoriedade do véu
muçulmano para as mulheres.
Ele conseguiu
conquistar os votos dos descontentes com críticas a seu antecessor, o
ultraconservador Ebrahim Raisi, morto
num acidente de helicóptero em maio, sob cujo governo aumentou a repressão
social e política. Ao mesmo tempo Pezeshkian alimentou o medo do eleitorado em
relação a seu adversário Jalili, também ultraconservador com reputação de
intransigente.
Pezeshkian será o
primeiro presidente iraniano reformista. Esse grupo moderado busca uma certa
abertura social e política num país em meio fortes tensões regionais,
sobretudo devido à guerra de Israel contra o movimento islamista palestino Hamas, na Faixa de Gaza.
Internamente, a imposição do véu e a falta generalizada de liberdades são
igualmente fonte de insegurança.
Enquanto chefe de
governo, o presidente do Irã tem capacidade de decisão em assuntos nacionais e,
em menor medida, na política exterior e na segurança. Nestas e outras questões
de Estado, o líder supremo detém amplos poderes. Desde 1989 o cargo é ocupado
por Ali Khamenei.
¨ Quem é Masoud Pezeshkian, o novo presidente do Irã que promete
acabar com isolamento do país
O reformista Masoud
Pezeshkian foi eleito novo presidente do Irã ao superar seu oponente
conservador de linha dura, Saeed Jalili.
Pezeshkian, de 70
anos, foi declarado vencedor ao receber 53,3% dos mais de 30 milhões de votos
contados no segundo turno do pleito presidencial. Já Jalili recebeu 44,3%.
O segundo turno
aconteceu depois que nenhum dos candidatos recebeu a maioria dos votos no
primeiro turno realizado em 28 de junho — que teve comparecimento às urnas de
40% do eleitorado, o mais baixo desde a fundação da República Islâmica do Irã
em 1979.
O pleito foi convocado
depois que o presidente anterior, Ebrahim Raisi, morreu em um acidente de
helicóptero em maio. Outras sete pessoas morreram na queda.
Ao saber dos
resultados, Pezeshkian agradeceu a seus partidários e pediu a todos os
iranianos que o acompanhem na dura tarefa que tem pela frente.
"As eleições
terminaram e este é só o começo da nossa aliança", escreveu em sua conta
na rede social X.
"O difícil
caminho que temos pela frente não será fácil exceto pela companhia, empatia e
confiança de vocês. Eu estendo minha mão a vocês e juro que não os
abandonarei", disse.
Vídeos publicados nas
redes sociais mostraram festas de rua pela vitória de Pezeshkian em Teerã e em
várias outras cidades do país.
As imagens mostravam
muitos jovens dançando e balançando a bandeira verde, que é característica de
sua campanha, entre carros que buzinavam.
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Reforma sem ruptura
Pezeshkian, que é
cirurgião cardíaco e parlamentar, criticiou a polêmica polícia moral do Irã e
chamou atenção por prometer tentar acabar com o fim do isolamento iraniano no
mundo.
O presidente eleito
pediu "negociações construtivas" com as potências ocidentais sobre a
renovação do acordo nuclear de 2015 — no qual o Irã acordou frear seu programa
nuclear em troca por um alívio de sanções ocidentais.
No entanto, Pezeshkian
não pode ser considerado uma pessoa que defende uma ruptura. Pelo contrário,
sua carreira deixa claro o seu apego pelo líder supremo do país, o aiatolá Ali
Khamenei.
"Sou um
'principista' (pessoa que defende os conceitos que sustentam a República
Islâmica) e a partir destes princípios é que buscamos reformas", disse
ele, durante a campanha.
Pezeshkian também não
é novato na política, pois já foi parlamentar durante cinco legislaturas.
Em sua passagem pelo
Parlamento, ele gerou polêmica por defender a descriminalização das drogas.
"Desde que o
governo não se transforme no provedor das drogas, não conseguimos frear o
vício", disse.
Entre 2001 e 2005, ele
foi ministro da Saúde durante o segundo governo de Mohammad Khatami
(1997-2005), que é considerado o primeiro presidente reformista da República
Islâmica.
Khatami apoiou a
candidatura de seu antigo ministro, assim como fez Mehdi Karrubi, um clérigo
dissidente que em 2009 tentou chegar à Presidência do Irã nas questionadas
eleições daquele ano, e que desde então está em prisão domiciliar, segundo o
serviço de notícias em farsi da BBC.
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Terceira tentativa
Pezeshkian já tentou
se eleger presidente em 2013 e 2021. Na primeira tentativa, retirou sua
candidatura para apoiar outro candidato. Na segunda, ele foi desqualificado da
disputa pelo Conselho dos Guardiões, um órgão formado por 12 clérigos e
juristas.
O motivo foi seu apoio
aos protestos que estouraram contra os resultados do pleito de 2009.
Além de reduzir as
tensões com o Ocidente e buscar a reinserção do Irã no palco internacional, o
presidente eleito prometeu a seus compatriotas que buscará implementar
"reformas estruturais" que permitam o país atingir um desenvolvimento
mais justo e equilibrado.
Já seu rival, Saeed
Jalili, defende a continuidade do status quo e considera que as propostas do
vencedor fazem parte de um modelo falido. Ele fez parte da equipe de
negociadores nucleares do Irã e tem forte apoio das comunidades mais religiosas
do país.
Jalili é conhecido por
sua postura anti-Ocidente de linha dura e oposição a restaurar o acordo
nuclear, que segundo ele viola as "linhas vermelhas" do Irã.
Mais pessoas votaram
no segundo turno, realizado na sexta-feira (5/7), do que no primeiro turno,
quando a participação havia sido a mais baixa desde a Revolução Islâmica de
1979, em meio a um descontentamento generalizado.
Até agora a
participação em urnas está em 49% — nove pontos a mais do que no primeiro
turno, segundo autoridades eleitorais.
Alguns que se
abstiveram no primeiro turno votaram em favor de Pezeshkian agora, para evitar
que Jalili ganhasse.
Eles temem que uma
vitória de Jalili pudesse levar a maior tensão com o Ocidente, algo que
provocaria mais isolamento e novas sanções.
Ambos os candidatos se
submeteram a investigações do Conselho de Guardiões para poderem seguir com
suas campanhas.
Esse processo eliminou
74 candidatos da corrida — incluindo diversas mulheres.
O Conselho é criticado
por grupos de direitos humanos por desqualificar candidatos que não são
suficientemente leais ao regime.
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Desconfiança
Após anos de
distúrbios civis que culminaram em protestos contra o governo em 2022 e 2023,
muitos jovens iranianos de classe média desconfiam profundamente do
establishment. No passado, eles se negaram a votar.
Nas redes sociais
iranianas, a hashtag "minoria traidora" viralizou — com grupos
pedindo que eleitores não votem em nenhum dos candidatos.
Mas o aiatolá Ali
Khamenei rejeitou as acusações de que a baixa participação nas urnas seja uma
rejeição ao modelo teocrático do Irã vigente desde 1979.
"Há motivos [pela
baixa participação nas urnas] e os políticos e sociólogos examinarão eles, mas
se alguém pensa que quem não votou está contra o establishment, está totalmente
equivocado", disse.
Em uma declaração
incomum, Khamenei reconheceu que alguns iranianos não aceitam a situação atual.
"Estamos
escutando e sabemos o que nos dizem, e não é como se estivessem escondidos e
não fossem vistos", diz o aiatolá.
No Irã, os meios de
comunicação estimularam as pessoas a votar.
O jornal reformista
Sazandegi disse: "O futuro está ligado aos seus votos". O Hamminah
disse: "Agora é a sua hora".
O Hamshahri, dirigido
pelo governo de Teerã, publicou um artigo com o título "Cem motivos para
se votar". O jornal da emissora Jaam-e Jam disse que o Irã estava
"aguardando seu povo".
¨ Xi Jinping exalta relação com o Irã se diz pronto para trabalhar
com o presidente eleito do país
O presidente da China,
Xi Jinping, declarou neste sábado (6) que está pronto para trabalhar com o
presidente eleito do Irã, Masoud Pezeshkian, para aprofundar as relações
bilaterais entre os países. A informação foi dada pelo Ministério das Relações
Exteriores da China.
"Atribuo grande
importância ao desenvolvimento das relações China-Irã e estou pronto para
trabalhar em conjunto com o sr. presidente para aprofundar a parceria
estratégica abrangente China-Irã", escreveu o líder chinês em sua mensagem
de felicitações a Pezeshkian.
Xi Jinping acrescentou
que os dois países desfrutam de uma longa história de intercâmbios amistosos e
de desenvolvimento estável das relações bilaterais desde que as relações
diplomáticas foram estabelecidas, há mais de meio século.
Ele lembrou ainda que,
nas condições do difícil ambiente regional e internacional, a China e o Irã
sempre se apoiaram e trabalharam juntos, reforçaram constantemente a confiança
estratégica mútua, desenvolveram intercâmbios e cooperação em diferentes
domínios e mantiveram a coordenação nos assuntos regionais e internacionais, o
que que não só beneficiou o seu povo, mas também contribuiu positivamente para
a paz e a estabilidade na região e em todo o mundo.
Mais de 61 milhões de
iranianos foram às urnas para escolher o próximo presidente do país. O primeiro
turno das eleições ocorreu em 28 de junho, com uma participação eleitoral de
cerca de 40%.
Quatro candidatos
concorreram na disputa: o chefe do Parlamento, Mohamad Bagher Ghalibaf; o
ex-secretário do Conselho Superior de Segurança Nacional, Saeed Jalili; o
ex-ministro do Interior, Mostafa Pourmohamadi; e o deputado Masoud Pezeshkian,
o único considerado reformista.
Nenhum dos candidatos
obteve a maioria de 50% mais um dos votos, o que levou a um segundo turno entre
os dois candidatos com mais votos, Pezeshkian e Jalili.
Pezeshkian que obteve
16.384.403 dos 30.510.157 votos computados no segundo turno. Entre suas
propostas está a cooperação com o Ocidente para aliviar as sanções impostas
contra Teerã.
As eleições
presidenciais do Irã estavam previstas para 2025, mas foram antecipadas após a
morte do presidente Ebrahim Raisi, em maio, em um acidente de helicóptero em 19
de maio.
¨ Eleição no Irã: Arábia Saudita fala em aprofundar laços, China
em desenvolver e Rússia em expandir
O premiê da Arábia
Saudita, Mohammed bin Salman, parabenizou Pezeshkian por sua eleição, informou
a agência de notícias estatal SPA, citada pela Reuters.
"Afirmo meu
interesse em desenvolver e aprofundar as relações entre nossos países e povos e
servir aos nossos interesses mútuos", disse MBS.
Em março de 2023, o
Teerã e Riad assinaram um acordo histórico mediado pela China para restabelecer
relações após anos de rivalidade regional.
Já o presidente
chinês, Xi Jinping, declarou que está pronto para trabalhar com o presidente
eleito, assim como aprofundar as relações bilaterais.
"Atribuo grande
importância ao desenvolvimento das relações China-Irã e estou pronto para
trabalhar em conjunto com o presidente para aprofundar a parceria estratégica
abrangente", escreveu o líder do país asiático na sua mensagem de
felicitações.
O presidente da
Rússia, Vladimir Putin, também Putin parabenizou Pezeshkian, expressando seu
desejo de que a cooperação entre Rússia-Irã se desenvolva em todas as áreas.
"Espero que sua
atividade como presidente contribua para uma maior expansão da cooperação
bilateral construtiva em todas as áreas, em benefício de nossos povos amigos,
no interesse de simplificar a segurança e a estabilidade regionais", disse
Putin em uma mensagem publicada no site do Kremlin hoje (6).
Pezeshkian, que é
ex-cirurgião cardíaco, falou à Sputnik na véspera das eleições sobre as
principais prioridades da política externa do Irã: o reforço das relações com a
Rússia e a China, a presença ativa do Irã no BRICS e na Organização para
Cooperação de Xangai (OCX), a restauração do Plano de Ação Conjunto Global
(JCPOA, na sigla em inglês) e o levantamento das sanções ocidentais.
¨ Rússia e Irã conectam sistemas de pagamento, anuncia presidente
do Banco Central iraniano
Moscou e Teerã
assinaram um acordo cambial bilateral para garantir a liquidez das moedas
nacionais em transações comerciais, disse o presidente do Banco Central do Irã,
citado no sábado (6) pela agência iraniana Tasnim.
Na primeira fase, que
estará totalmente operacional até o final de agosto, os cidadãos iranianos
poderão usar seus cartões Shetab sob o esquema de cartão de débito inteligente
Kahroba para retirar rublos de caixas automáticas em toda a Rússia, detalhou Mohammad
Farzin.
Durante a segunda
fase, explicou, os viajantes russos poderão usar seus cartões russos Mir no
Irã, enquanto na terceira fase os cidadãos iranianos serão autorizados a usar
seus cartões Shetab nos terminais de ponto de venda de todas as lojas em toda a
Rússia.
Além disso, referiu
Farzin, os sistemas Shetab e Mir já estão atualmente conectados.
Fonte: Sputnik Brasil/BBC
Pérsia
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