sábado, 6 de julho de 2024

Projeto 2025: o detalhado plano para Trump mudar os EUA que mobiliza democratas

Os democratas já estão se mobilizando contra a agenda política de Donald Trump, caso ele venha a derrotar o presidente Joe Biden nas eleições de novembro nos Estados Unidos.

Um dos planos dessa agenda é batizado de Projeto 2025 e foi elaborado pela fundação conservadora Heritage Foundation. Outras entidades também elaboraram planos que servem como plataforma para a campanha de Trump.

Com mais de 900 páginas, o plano prevê a demissão de milhares de servidores públicos, expansão dos poderes do presidente, desmantelamento do ministério da Educação e de outras agências do governo federal e cortes de impostos.

A Heritage Foundation divulgou seu plano em abril do ano passado. A oposição dos liberais americanos ao plano aumentou desde que Trump começou a avançar nas pesquisas — principalmente após o debate presidencial da semana passada, em que Biden teve um desempenho considerado fraco.

Na quarta-feira (3/7), o presidente da Heritage, Kevin Roberts, sugeriu que pode haver violência política durante a campanha presidencial.

"Nós estamos no processo de uma segunda Revolução Americana, que seguirá sem derramamento de sangue, se a esquerda permitir", disse Roberts ao podcast War Room, fundado pelo assessor de Trump, Steve Bannon.

A fala despertou críticas da campanha de Biden, que acusou Trump e seus aliados de "sonhar com uma revolução violenta para destruir a ideia de América".

Essa troca de farpas reascendeu o interesse pelo Projeto 2025.

É comum que fundações e entidades de Washington proponham políticas públicas para futuros governos. Por exemplo, o Center for American Progress, um instituto liberal, já foi chamado de "fábrica de ideias" durante o governo de Barack Obama.

Mas os democratas estão atacando as ideias da Heritage na tentativa de expôr aos eleitores algumas das medidas consideradas mais drásticas.

No mês passado, o parlamentar democrata Jared Huffman, da Califórnia, anunciou uma força tarefa chamada Stop Project 2025 Task Force — cujo objetivo é barrar o Projeto 2025.

"O Projeto 2025 é mais do que uma ideia, é um plano distópico que já está em curso para desmantelar nossas instituições democráticas, abolir pesos e contrapesos, erodir a separação entre Igreja e Estado e impor uma agenda de extrema direita que ataca as liberdades básicas e viola a vontade pública", disse Huffman.

"Nós precisamos de uma estratégia coordenada para salvar a América e impedir esse golpe antes que seja tarde demais."

No passado, a Heritage acusou o partido de Biden de tentar provocar medo nos americanos com "um comunicado de imprensa cheio de equívocos e pouco sério".

"Parlamentares democratas estão gastando dinheiro dos contribuintes para lançar uma campanha de difamação contra um esforço conjunto para reestabelecer a auto-governança para os americanos comuns", disse Roberts em um comunicado no mês passado.

"Sob a gestão Biden, o governo federal virou uma arma contra cidadãos americanos, com nossas fronteiras invadidas e nossas instituições sequestradas pela ideologia woke."

O documento do Projeto 2025 estabelece quatro objetivos principais: restaurar a família como centro da vida americana; desmantelar o Estado intervencionista; defender a soberania e as fronteiras da nação; e assegurar o direito divino dos indivíduos de poderem viver livremente.

O plano é um entre diversos documentos da plataforma conhecida como Agenda 47 — uma referência ao fato de que Trump seria o 47° presidente americano caso vença a eleição.

A Heritage diz que o Projeto 2025 foi escrito por diversos ex-funcionários do governo Trump e reflete sugestões de mais de cem organizações conservadoras.

Confira abaixo algumas das principais propostas.

<><> Governo

O Projeto 2025 propõe colocar toda a burocracia federal — incluindo agências independentes, como o ministério da Justiça — diretamente sob controle do presidente. Essa ideia polêmica é conhecida como "teoria do Executivo unitário".

Na prática, isso agiliza o processo de tomada de decisões, permitindo que o presidente implemente políticas em diversas áreas.

O plano também propõe a eliminação da estabilidade no trabalho para milhares de servidores do governo, que poderiam ser substituídos por indicados políticos.

O documento classifica o FBI como uma "organização inflada, arrogante e cada vez mais fora da lei" — e pede uma reforma drástica nesta e em outras agências federais, inclusive com eliminação do ministério da Educação.

<><> Imigração

Umas das promessas mais famosas de Trump de 2016 — o financiamento do muro na fronteira entre EUA e México — está contemplada no documento.

Além disso, ele propõe a consolidação de diversas agências americanas de imigração e a ampliação de seus poderes.

Outras propostas incluem o aumento de taxas cobradas de imigrantes e a criação de uma via expressa para processos de imigração mediante pagamento de mais dinheiro.

<><> Clima e economia

O documento prevê um corte em dinheiro federal para pesquisa e investimentos em energias renováveis — e pede que o próximo presidente "acabe com a guerra contra o petróleo e o gás natural".

Metas de redução de emissões seriam substituídas por esforços para aumentar produção de energia.

O documento estabelece duas visões contraditórias sobre tarifas de importação — e se mostra dividido sobre se o presidente deve promover um comércio mais livre ou aumentar barreiras comerciais.

Assessores econômicos sugerem que um eventual segundo governo de Trump deveria cortar impostos de renda e sobre negócios, abolir o Federal Reserve (o Banco Central americano) e até mesmo considerar voltar ao padrão ouro no dólar.

<><> Aborto

O Projeto 2025 não pede uma proibição nacional contra o aborto.

Mas defende que o medicamento para aborto mifepristone seja retirado do mercado.

<><> Tecnologia e educação

Pelas propostas, a pornografia seria banida. Empresas de tecnologia e telecomunicações que facilitassem acesso a esses conteúdos seriam fechadas.

O documento pede maior controle dos pais sobre as escolas e ataca o que chama de "propaganda woke".

O plano propõe eliminar diversas expressões de leis e normas federais, como "orientação sexual", "diversidade, igualdade e inclusão", "igualdade de gênero", "aborto" e "direitos reprodutivos".

A Heritage Foundation é um dos institutos mais influentes entre os que estão oferecendo propostas de políticas a Trump.

Desde 1980, a Heritage produz documentos semelhantes. O Projeto 2025 — que faz parte de um plano conservador com orçamento de US$ 22 milhões — estabelece estratégias para implementar o plano já em janeiro de 2025.

Trump vem endossando diversas ideias do Projeto 2025 em seus discursos e em seu site na internet — apesar de que sua campanha deixa claro que ele teria palavra final em todas as políticas.

Muitas das propostas posivelmente seriam contestadas na Justiça caso se tente implementá-las.

 

•          Biden tenta, mas não consegue mudar maré crescente contra sua reeleição

O presidente se reunirá com membros da família, que serão críticos para suas deliberações futuras sobre sua campanha de reeleição, na Casa Branca para o Dia da Independência – precisando urgentemente de um dia de notícias calmas que lhe permita se reagrupar para possivelmente as 48 horas mais críticas de sua carreira política.

À medida que a especulação explodiu na quarta-feira (3) de que ele poderia estar considerando sair da corrida, Biden declarou inequivocamente que estava na disputa para vencer. Ele então se encontrou com 20 governadores democratas na Casa Branca para tentar provar que tem a energia e a acuidade para vencer e liderar por mais quatro anos.

Na sexta-feira (5), Biden concederá uma entrevista à ABC News, que agora se apresenta como um desafio ainda maior do que o debate da CNN, dada a necessidade de uma performance ágil e contundente para corrigir a impressão anterior.

As paradas de campanha de Biden em estados decisivos serão, como todas as suas aparições públicas agora, analisadas em busca de qualquer deslize ou sinal de vulnerabilidade que sustente a impressão que ele criou para si mesmo no palco do debate, de um líder enfraquecido.

“Estou concorrendo. Sou o candidato do Partido Democrata. Ninguém está me forçando a sair. Não vou sair”, declarou Biden à equipe de campanha assustada em uma chamada telefônica na quarta-feira, enquanto buscava um retorno esquivo.

•           Agora, é o fuso horário que era o problema

Mas a dura realidade emergente para o presidente é que as garantias, explicações mutáveis e a rotação que seus assessores políticos apresentaram até agora não estão funcionando – porque pode não haver resposta para seu dilema.

A imagem de um presidente incoerente, fraco e em dificuldades foi gravada na mente de 50 milhões de telespectadores há uma semana. E mesmo um esforço de controle de danos muito mais competente do que o montado pela Casa Branca e pela campanha de Biden teria lutado para apagar essa impressão.

As tentativas de explicar suas dificuldades em Atlanta estão apenas voltando a atenção ao problema central: a maioria dos eleitores duvidam que ele esteja apto para servir a um novo mandato que terminaria quando ele tiver 86 anos.

Na quarta-feira, por exemplo, a Casa Branca adotou a linha de Biden de que ele estava com a síndrome do fuso horário após duas viagens à Europa no início de junho. Dado que o presidente já estava de volta ao solo dos EUA há mais de uma semana no momento do debate, isso só levantou novas questões sobre se ele está à altura das demandas onerosas da presidência – que frequentemente requer viagens extensas.

A ideia de que o fuso horário atrasado – em combinação com o resfriado que os assessores disseram que ele também tinha – fez Biden se perder no meio das frases e falhar em apresentar um caso coerente sobre questões básicas de sua campanha, e não fez nada para deter sua queda política.

E significou que quarta-feira foi mais um dia em que o foco estava na campanha desmoronante de Biden, em vez da grave ameaça à democracia e às liberdades políticas dos Estados Unidos que o presidente alerta que Trump representa.

No final de um dia de golpes pungentes para o presidente, um funcionário sênior da administração disse à CNN que a erosão gradual de seu apoio entre os democratas era como “ondas batendo na costa”. O funcionário acrescentou: “Primeiro são os doadores. Depois, são os funcionários eleitos. Agora será a pesquisa. Isso apenas quebra a resistência”.

Coisas começaram mal para Biden na quarta-feira e só pioraram

Um segundo funcionário eleito democrata saiu do anonimato e pediu para Biden deixar a campanha de reeleição. O deputado Raúl Grijalva, do Arizona, disse ao The New York Times que apoiaria Biden se ele fosse o candidato, mas que “esta é uma oportunidade para olhar para outro lugar”.

Ele acrescentou: “O que ele precisa fazer é assumir a responsabilidade de manter essa posição – e parte dessa responsabilidade é sair dessa corrida”. Embora poucos outros parlamentares tenham sido tão francos, há muitos mais que compartilham das opiniões de Grijalva e do deputado do Texas, Lloyd Doggett, que se manifestou na terça-feira (2).

Uma nova pesquisa trouxe más notícias para Biden. Uma pesquisa do The New York Times/Siena College descobriu que Trump agora lidera com 49% a 43% entre os prováveis eleitores nacionais, ganhando uma oscilação de três pontos em relação a uma semana antes do debate.

Na CNN Poll of Polls, o ex-presidente lidera por cinco pontos (49% a 44%, nas pesquisas frente a frente realizadas inteiramente após o debate presidencial da última quinta-feira). Candidatos que ganham debates muitas vezes têm um aumento nas pesquisas que depois diminui. Mas Biden entrou no confronto atrás e precisava ganhar. Em vez disso, ele está seguindo na direção oposta após desperdiçar sua melhor chance de redefinir a corrida.

A porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, enfrentou mais uma jornada difícil na sala de imprensa, ao apresentar uma nova explicação de por que Biden teve um desempenho tão ruim em Atlanta, que ela insistiu não ser uma desculpa.

“O que quero dizer é, é o fuso horário e também o resfriado, certo?”, ela disse. “São as duas coisas que ocorreram, e vocês ouviram isso em sua voz quando ele fez o debate”.

Biden lançou uma rodada de ligações para os principais líderes democratas, incluindo o líder da maioria no Senado, Chuck Schumer, o líder da minoria na Câmara, Hakeem Jeffries, a ex-presidente da Câmara, Nancy Pelosi, o deputado da Carolina do Sul, James Clyburn, e seu amigo, o senador de Delaware, Chris Coons.

Ele também gravou duas entrevistas de rádio que irão ao ar nesta quinta-feira (4) em estados decisivos, Wisconsin e Pensilvânia. E recebeu ainda os governadores democratas na Casa Branca. Dois, Tim Walz, de Minnesota, e Wes Moore, de Maryland, ofereceram a ele um impulso com comentários de apoio aos repórteres.

Mas Moore, uma estrela em ascensão do Partido Democrata, também disse: “Sempre acreditamos que quando você ama alguém, você diz a verdade. E acho que entramos e fomos honestos sobre o feedback que estávamos recebendo. Fomos honestos sobre as preocupações que estamos ouvindo das pessoas”.

Outro governador – e possível alternativa de candidato – Gavin Newsom, da Califórnia, disse em nota à CNN que Biden estava “totalmente comprometido. E eu também estou. Joe Biden nos apoiou. Agora é hora de apoiá-lo”.

Não há sinal de que os sentimentos não sejam genuínos. Mas também não há incentivo político para qualquer figura poderosa do Partido Democrata que esteja de olho no futuro arriscar ser visto como desestabilizando um presidente já ferido. Vários possíveis candidatos alternativos, incluindo a governadora de Michigan, Gretchen Whitmer, e a vice-presidente Kamala Harris, estavam nas reuniões de Biden com os governadores.

Alguns dos principais democratas na Câmara disseram que era hora do presidente se afastar, em uma ligação com a liderança do partido na câmara, informou a CNN. Mas alguns membros também estavam preocupados com o frenesi que poderia surgir se o presidente saísse e deixasse um vácuo de poder na chapa presidencial.

Houve os primeiros sinais na quarta-feira de que a campanha de Trump está calibrando o quão longe o ex-presidente precisaria mudar sua estratégia se Biden abandonar sua reeleição. Os copresidentes de campanha Chris LaCivita e Susie Wiles emitiram uma declaração avisando que qualquer substituto poderia esperar ser martelado por esconder “a verdade do público americano” sobre a condição de Biden.

“Cada um deles mentiu sobre o estado cognitivo de Joe Biden e apoiou suas políticas desastrosas nos últimos quatro anos, especialmente a copiloto risonha Kamala Harris”, escreveram.

As veementes promessas de Biden de permanecer na corrida pareceram ser uma resposta às reportagens do The New York Times e da CNN de que o presidente entende que os próximos dias são críticos e podem encerrar sua campanha.

A Casa Branca e a campanha disseram que as reportagens eram falsas. Mas qualquer sinal de que Biden está hesitando pode ser desastroso para as campanhas no terreno em estados decisivos. Se Biden sair, ele provavelmente insistirá que está dentro até os momentos finais.

A CNN informou que um plano de sucessão está tomando forma, que poderia ver o presidente imediatamente lançar seu apoio, seu fundo de campanha e seus delegados à vice-presidente para evitar uma luta pela nomeação que poderia dividir o partido.

A nova realidade de Biden estava em exibição à tarde, quando ele presidiu uma cerimônia para conceder postumamente a Medalha de Honra a dois soldados da Guerra Civil. O evento foi transmitido ao vivo pela TV a cabo, em um sinal de que cada movimento do presidente daqui até novembro será filtrado através do prisma de seu fracasso no debate e analisado em busca de novos sinais de faculdades decadentes.

Outro problema para Biden é que figuras chave do Partido Democrata que continuam apoiando o presidente estão deixando claro que ele deve fazer mais para remodelar a percepção pública de suas capacidades e não descartam a possibilidade de ele abandonar a corrida.

“Vamos confiar nele para tomar a decisão certa sobre a encruzilhada em que estamos agora”, disse o deputado de Maryland, Jamie Raskin, à CNN. E a deputada de Michigan, Debbie Dingell, resumiu os dias críticos à frente de Biden quando advertiu: “Ele tem um período muito curto de tempo para falar com o povo americano”.

 

Fonte: BBC News Brasil/CNN Brasil

 

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