quarta-feira, 10 de julho de 2024

Presidentes dos países do Mercosul reafirmam integração regional e fortalecimento de economia

Na 64ª Cúpula de Presidentes do Mercosul, realizada nesta segunda-feira (8), em Assunção, no Paraguai, líderes dos países membros e da Bolívia reafirmaram seu compromisso com os objetivos do bloco e discutiram medidas para fortalecer a integração regional.

"Os presidentes reafirmaram a importância de fortalecer as instituições democráticas, a vigência do Estado de direito, a proteção dos direitos humanos e o crescimento econômico na região", conforme destacado em nota publicada pelo Ministério das Relações Exteriores brasileiro.

Os presidentes dos países membros do Mercosul – Santiago Peña Palacios (Paraguai), Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil), Luis Lacalle Pou (Uruguai) e Diana Mondino, ministra das Relações Exteriores da Argentina – juntamente com Luis Alberto Arce, presidente da Bolívia, em processo de adesão, participaram do encontro.

A presença do presidente do Panamá, José Raúl Molino, também foi um dos destaques deste ano.

Vale ressaltar que a integração regional fortalecida pelo Mercosul não apenas beneficia os países membros, mas também pode desempenhar papel crucial nas relações comerciais internacionais, incluindo países como a Rússia, um dos parceiros do bloco.

Os líderes ressaltaram a importância de fortalecer as instituições democráticas, a vigência do estado de direito, a proteção dos direitos humanos e o crescimento econômico na região.

Mais cedo, Lula havia discursado enfatizando a importância do Mercosul como instrumento de integração regional e desenvolvimento econômico.

Sem mencionar o homólogo argentino, Javier Milei, que não participou da cúpula, ele criticou políticas ultraliberais, afirmando que "num mundo globalizado, não faz sentido recorrer ao nacionalismo arcaico e isolacionista; também não há justificação para resgatar experiências ultraliberais que apenas agravaram as desigualdades na nossa região".

Lula também lamentou a divisão interna do Mercosul nos últimos anos e defendeu o bloco como fundamental para a presença dos países da região no cenário mundial.

·        Avanços econômicos e comerciais

No âmbito econômico, os presidentes destacaram a redução da Tarifa Externa Comum (TEC) e a necessidade de continuar a revisão integral da tarifa para fortalecer sua consistência.

A criação de um Comitê ad hoc sobre Medidas que Afetam o Comércio Intrazona foi mencionada como uma iniciativa para identificar e eliminar barreiras comerciais dentro do bloco.

Os líderes ressaltaram a importância da coordenação de políticas macroeconômicas, discutindo resiliência econômica e fenômenos climáticos extremos na região, como a recente situação ocorrida no Rio Grande do Sul.

"A liberalização progressiva do comércio de serviços intrazona e a reativação dos trabalhos do Comitê Automotivo do Mercosul foram enfatizadas como passos cruciais", destacaram os líderes.

Os presidentes valorizaram as contribuições da agricultura familiar para a produção alimentar e o desenvolvimento sustentável. "Reafirmaram a importância da integração energética regional, destacando a interconexão elétrica e gasífera e a incorporação de fontes energéticas renováveis", acrescentaram.

No campo ambiental, foi ressaltada a importância da preservação da biodiversidade regional e a assinatura de acordos sobre conservação marinha. "Destacaram também a necessidade de coordenar posições em relação a substâncias e produtos químicos perigosos."

Por fim, os presidentes celebraram os avanços nas áreas de integração física, conectividade digital e infraestrutura regional, como a construção do Corredor Bioceânico.

"Enfatizaram a importância de um Mercosul mais forte, unido e próspero, eliminando restrições internas que limitam o livre intercâmbio de bens e serviços e fortalecendo a inserção internacional do bloco", concluíram os líderes.

¨      Resgatar experiências ultraliberais não faz sentido, diz Lula no Mercosul

O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, defendeu nesta segunda-feira (8), diante de seus pares do Mercosul, a ideia de que resgatar antigas experiências ultraliberais não é bom para a região.

"Num mundo globalizado, não faz sentido recorrer ao nacionalismo arcaico e isolacionista; também não há justificação para resgatar experiências ultraliberais que apenas agravaram as desigualdades na nossa região", afirmou.

No discurso, ele não citou diretamente o presidente argentino, Javier Milei — que não participa da cúpula de chefes de Estado, realizada em Assunção, no Paraguai —, embora suas palavras possam ser interpretadas como uma referência às políticas que estão sendo aplicadas por Buenos Aires.

"Os bons economistas sabem que o mercado livre não é uma panaceia para a humanidade", disse Lula, que afirmou ainda que quem conhece a história da América Latina reconhece o valor do Estado "como planejador e indutor do desenvolvimento".

O presidente brasileiro também lamentou a divisão interna do Mercosul nos últimos anos e defendeu o grupo como fórmula para que os países da região tenham presença no mundo.

"Nos últimos anos, permitimos que conflitos e disputas, muitas vezes estranhos à região, substituíssem a nossa vocação de paz e cooperação; somos mais uma vez uma região balcanizada e dividida, que olha mais para fora do que para si mesma", criticou.

Lula também condenou a recente tentativa de golpe na Bolívia, manifestou seu apoio ao presidente Luis Arce e traçou paralelos entre o que aconteceu em La Paz e o que foi vivido em Brasília em 8 de janeiro de 2023. "A reação unânime ao 26 de junho na Bolívia e ao 8 de janeiro no Brasil mostra que não há atalhos para a democracia em nossa região, mas devemos estar atentos."

O presidente brasileiro comemorou a adesão plena da Bolívia ao Mercosul, que na sua opinião tem "enorme valor estratégico", e defendeu encontrar caminhos para que os benefícios da transformação de minerais para a indústria de baterias e semicondutores permaneçam nos países da região.

Lula também defendeu a continuidade das negociações para um acordo de livre comércio com a China e para que os pagamentos possam ser feitos em moeda local nas transações do bloco.

Por fim, sobre o acordo comercial com a União Europeia, frustrado após quase duas décadas de negociações, Lula culpou os países europeus, que não souberam resolver suas contradições internas.

¨      Lula reforça crença 'inabalável' no papel estratégico do Mercosul para a região

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva destacou nesta segunda-feira (8) a importância do Mercosul para a integração regional e o desenvolvimento durante a 64ª Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul e Estados Associados, realizada em Assunção, no Paraguai.

Em seu discurso, ele ressaltou a necessidade de uma integração baseada na qualificação do trabalho e na produção de ciência, tecnologia e inovação como forma de gerar emprego e renda.

Ele também comentou que o Brasil é o primeiro país do bloco a ratificar um acordo de livre comércio com a Palestina, mas lamentou que isso ocorra "no contexto em que o povo palestino sofre com uma guerra totalmente irracional".

"O Mercosul é e seguirá sendo a grande aposta de inserção internacional e de desenvolvimento do Brasil", afirmou o presidente.

Ele destacou que o comércio entre os países do bloco multiplicou-se por dez desde o seu lançamento, alcançando a marca de US$ 49 bilhões (R$ 268,26 bilhões). "Minha aposta no Mercosul como plataforma de inserção internacional e de desenvolvimento do Brasil permanece inabalável. Nosso bloco é um projeto ambicioso e que gerou muitos frutos."

Lula também abordou a necessidade de enfrentamento das desigualdades sociais no continente e de um Instituto Social forte para estabelecer metas e ações concretas. "Para superar flagelos como a fome, a pobreza e as desigualdades, é importante contar com um Instituto Social forte, com meios para estabelecer metas e ações concretas."

O presidente brasileiro aproveitou a ocasião para alertar sobre a crise climática, lembrando a tragédia recente no Rio Grande do Sul, que também afetou o Uruguai. "A crise climática nos aproxima rapidamente de um cenário catastrófico."

"No último ano e meio, vivemos secas históricas na Amazônia, nos Pampas e no Pantanal brasileiro e boliviano, que também padeceram com incêndios nos últimos dias."

·        O Mercosul hoje

Criado há 33 anos pelo Tratado de Assunção, o Mercosul é atualmente a sétima maior economia mundial, com um produto interno bruto (PIB) de US$ 2,86 trilhões (R$ 15,66 trilhões), abrangendo 67% do território da América do Sul.

O presidente do Paraguai, Santiago Peña, ao final do evento desta segunda-feira, passou a presidência do bloco ao presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou.

Entre as medidas recentes do Mercosul está a criação de comitês de controle integrado nas fronteiras, visando facilitar a cooperação entre os países-membros.

Em 2023, o Brasil exportou US$ 23,56 bilhões (R$ 128,95 bilhões) para o Mercosul e importou US$ 17,09 bilhões (R$ 93,54 bilhões), um superávit de quase US$ 6,5 bilhões (R$ 35,58 bilhões).

As principais mercadorias comercializadas entre os membros do bloco incluem automóveis, peças automotivas, energia e soja.

Após a cúpula, Lula seguirá para Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, para visita oficial e encontro bilateral com o presidente Luis Arce. Esta é a primeira visita de Lula à Bolívia em seu terceiro mandato.

<><> Brasil e Bolívia avançam em acordos sobre fertilizantes, hidrocarbonetos e eletricidade

Autoridades bolivianas e brasileiras avançam em acordos sobre fertilizantes, hidrocarbonetos e eletricidade, antes do encontro entre os presidentes Luis Arce e Luiz Inácio Lula da Silva, em Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia. As negociações foram confirmadas nesta segunda-feira (8) pelo ministro de Hidrocarbonetos e Energia, Franklin Ortiz.

"Tivemos uma reunião extensa com o ministro de Minas e Energia do Brasil, Alexandre Silveira, para abordar todos os temas do setor energético. São vários pontos que foram discutidos desde a exploração de gás, fornecimento de gás ao Brasil e aspectos ligados aos fertilizantes", explicou o ministro boliviano em breve contato com a imprensa local.

Na terça-feira (9), Lula chegará à Santa Cruz de la Sierra em visita oficial com uma delegação de ministros e empresários para selar acordos comerciais e de cooperação entre os dois países.

"O Brasil tem mais de 25 milhões de hectares de terras de cultivo que precisam fertilizantes. 90% das importações vêm do exterior e a Bolívia pode se tornar fornecedora desses fertilizantes", indicou Ortiz.

Brasil e Bolívia também buscam integração energética e executam projetos conjuntos de energia elétrica na região amazônica.

"Outro elemento de que falamos são os mecanismos de integração elétrica, que tem tudo a ver com os projetos que estamos executando no rio Madeira (Amazônia). O governo de Lula da Silva vem novamente promovendo este projeto e trabalhando em outros de integrações elétricas que podem beneficiar o Mato Grosso e Mato Grosso do Sul", disse.

A agenda de Lula na Bolívia inclui um encontro com o presidente Arce para assinatura de acordos comerciais e de cooperação com empresários bolivianos, autoridades locais e organizações sociais.

O Brasil é o maior parceiro comercial da Bolívia na América do Sul, devido às exportações de gás natural e fertilizantes; bem como importações de produtos manufaturados e insumos industriais.

¨      Chanceler da Argentina diz que Mercosul precisa de um 'choque de adrenalina'

A ministra das Relações Exteriores da Argentina, Diana Mondino, considerou que o Mercado Comum do Sul (Mercosul) deve acelerar sua capacidade de ampliar acordos durante a reunião de chanceleres que o Paraguai sediou no último domingo (7).

"O Mercosul precisa de um choque de adrenalina", disse a representante argentina durante a 64ª Reunião do Conselho do Mercado Comum.

Em substituição ao presidente Javier Milei, que priorizou uma viagem ao Brasil para participar da Conferência Política de Ação Conservadora em Balneário Camboriú, no estado de Florianópolis, Mondino destacou a "visão crítica do presente do Mercosul" da atual gestão.

"Consideramos que o seu potencial como mercado ampliado e plataforma de relações com o mundo está altamente desperdiçado", observou a chanceler um dia antes da cúpula de chefes de Estado do Mercosul.

Durante sua apresentação perante o órgão máximo do Mercosul, a ministra destacou a "estagnação do comércio intrazona" e deu como exemplo que, em 1998, 25% das exportações da Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai permaneceram dentro do bloco, percentual que em 2023 caiu para 11,3%.

A ministra propôs ainda uma modernização da associação regional, diante de uma agenda que "tem um elevado grau de inércia, que avança lentamente à velocidade das mudanças globais".

"O atual estágio do Mercosul é caracterizado pela 'gestão' e 'administração' de diferentes acordos e compromissos anteriormente assumidos, mas não temos agilidade e capacidade para nos projetarmos nas questões do futuro", observou.

Mondino, que lamentou que a inteligência artificial (IA) não seja um tema abordado pelo Mercosul, insistiu na necessidade de uma atualização institucional "que, respeitando a sua essência intergovernamental, facilite os seus processos de tomada de decisão".

Nessa linha, a chanceler considerou que modalidades de negociação mais flexíveis podem ser implementadas com outros países, com a ideia de chegar a um entendimento em dezembro, por ocasião do 30º aniversário da assinatura do Protocolo de Ouro Preto.

Fora do Mercosul, bloco ao qual também aderiu a Bolívia, a ministra assinou com o seu homólogo uruguaio, Omar Paganini, um "protocolo de coordenação da assistência médica e das transferências transfronteiriças, terrestres, fluviais e aéreas de saúde primária em casos de urgências e emergências".

Ao lado de seus pares do bloco, a chanceler também assinou os Acordos de Complementação Financeira e de Complementação Técnica entre Mercosul e o Fundo Financeiro para Desenvolvimento da Bacia do Prata (Fonplata), além de um acordo de cooperação cinematográfica do Mercosul.

O Paraguai recebeu do Brasil a presidência pro tempore do Mercosul, ou seja, exercida de forma alternada entre os Estados-membros, pelos próximos seis meses.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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