Por que 4
de Julho é feriado nos EUA se no dia 2 eles já tinham declarado sua
independência?
Festas,
fogos de artifício, bandeiras e cachorros-quentes: o feriado de 4 de
julho está impregnado de patriotismo e tradição e é comemorado
como o dia em que os colonos
norte-americanos descontentes romperam os laços com a Grã-Bretanha e declararam sua
intenção de fundar uma nação democrática própria, declararam
sua independência.
Mas a
história por trás do feriado não é tão clara. Isso porque
o aniversário da independência dos Estados Unidos seria
no dia 2 de julho, não 4 de julho. E os revolucionários que fundaram a nação
não garantiram a todos os seus residentes "vida, liberdade e a busca da
felicidade".
Em 1774,
após anos de impostos injustos e
controle imperial, as reclamações contra a coroa britânica atingiram
um nível febril nas 13 colônias norte-americanas. A guerra começou a parecer
inevitável e, assim, em setembro, os delegados das colônias se reuniram para
discutir suas queixas no que eles chamaram de Congresso Continental.
O processo
de declaração de independência não começou até 7 de junho de 1776, quando
o delegado da Virgínia, Richard Henry Lee, apresentou uma resolução
no Segundo Congresso Continental. Com apenas 80 palavras, a Resolução
Lee propunha a dissolução de qualquer conexão política entre a
Grã-Bretanha e as colônias. Embora a maioria dos delegados apoiasse a
independência, não havia garantia de que a proposta seria aprovada por
unanimidade, por isso os membros adiaram a votação.
Enquanto
os delegados faziam lobby para que seus estados de origem apoiassem a
resolução, cinco homens começaram a trabalhar em um documento que
acompanhava a resolução e que expunha os motivos pelos quais os colonos
queriam se tornar independentes da Grã-Bretanha. O Committee
of Five, como ficou conhecido, era uma equipe política dos
sonhos: John Adams, Thomas Jefferson, Benjamin Franklin, Roger Sherman e
Roger Livingston. Eles indicaram Thomas Jefferson para redigir o
primeiro rascunho do que hoje é conhecido como Declaração de
Independência.
Em
pouco mais de duas semanas, Jefferson elaborou um rascunho que se
baseou em vários outros documentos, incluindo algumas das quase 100
declarações semelhantes que estavam circulando na preparação para a
Resolução Lee. Uma delas, a Fairfax County Resolves, escrita em
conjunto por George Washington e George Mason, afirmava que os direitos
constitucionais dos colonos haviam sido violados pelo Parlamento
britânico. Outra, a Declaração de Direitos da Virgínia de Mason, de 1776,
afirmava que os homens tinham o direito de "desfrutar da vida e da
liberdade, com os meios de adquirir e possuir propriedades, e buscar e obter
felicidade e segurança".
Jefferson
repetiu essa linguagem em seu rascunho de documento, que declarava que
"todos os homens são criados iguais" e tinham o direito inalienável à
"vida, liberdade e busca da felicidade". Ele apresentou seu rascunho
aos outros membros do comitê e eles fizeram várias edições antes de enviá-lo ao
Segundo Congresso Continental em 28 de junho.
Com
a Declaração de Independência redigida, o Congresso estava pronto para
debater a resolução de Lee pela independência. Mas uma votação de teste
realizada em 1º de julho não foi nada unânime. A Pensilvânia e a Carolina
do Sul esperavam que ainda houvesse uma chance de reconciliação com a
Grã-Bretanha e votaram contra a independência. A delegação de Delaware
ficou dividida. E Nova York se
absteve – seus delegados tinham ordens para não impedir uma possível
reconciliação.
No
dia seguinte, em 2 de julho, os delegados tentaram novamente. Dessa vez, a
votação teve um resultado diferente. Caesar Rodney, um delegado de Delaware,
cavalgou durante a noite até a Filadélfia, onde quebrou o impasse de Delaware.
A Carolina do Sul mudou sua posição. E dois dos delegados da
Pensilvânia simplesmente se abstiveram da votação, virando sua
delegação a favor da independência. Naquele dia, o Congresso votou
unanimemente pela independência.
"O 2º
dia de julho de 1776 será a época mais memorável da história da América", escreveu um
extasiado John Adams para sua esposa Abigail no dia seguinte.
"Acredito que será celebrado pelas gerações seguintes como o grande
festival de aniversário... Deveria ser solenizado com pompa e desfile, com
espetáculos, jogos, esportes, armas, sinos, fogueiras e iluminações de uma
ponta a outra do continente, de agora em diante, para sempre."
·
A aprovação da Declaração de Independência
Acontece
que o documento que deveria acompanhar a resolução ainda não estava
pronto. Nos dias 3 e 4 de julho, o Congresso continuou a discutir a
Declaração de Independência de Jefferson. O debate mais acalorado dizia
respeito a uma passagem sobre a escravidão, na
qual Jefferson acusava o Rei George III de violar a vida e a
liberdade de "um povo distante que nunca o ofendeu, cativando-o
e levando-o à escravidão em outro hemisfério, ou a incorrer em morte miserável
em seu transporte para lá". Em outra passagem, Jefferson acusou o rei de
incentivar os escravizados a fugir e se juntar às forças inglesas.
Embora
o debate não tenha sido documentado, Jefferson mais tarde culpou a
Carolina do Sul e a Geórgia pela recusa em aprovar a lei. Mas todo o Congresso
compartilhava um interesse econômico em manter a instituição da escravidão: eles
sabiam que a economia das colônias era amplamente baseada no trabalho de
pessoas escravizadas. Muitos delegados, inclusive o próprio
Jefferson, possuíam escravos e lucravam pessoalmente com o trabalho
deles.
Em
vez de estabelecer as bases para a abolição da escravidão, o
Congresso excluiu a passagem controversa e combinou a referência
fugaz às revoltas dos escravos com outra linha do rascunho de Jefferson
que acusava o rei de incentivar os nativos americanos, que eles chamavam
de "selvagens", a atacar os colonos na fronteira ocidental das
colônias britânicas.
Com
a Declaração de Independência concluída, o Segundo Congresso
Continental votou para adotá-la em 4 de julho de 1776. Ela foi recebida
com grande alarde, e o dia 4 de julho, e não 2 de julho, é
comemorado como o aniversário da independência norte-americana. A
independência da nova república seria finalmente
garantida com a vitória na Guerra Revolucionária em 1783.
Mas para aqueles que o documento deixou de fora – pessoas escravizadas,
nativos americanos e mulheres – a célebre declaração provou ser tudo menos
uma garantia de igualdade.
Fonte:
National Geographic Brasil

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