sábado, 27 de julho de 2024

OTAN segue dando 'armamentos obsoletos a conta-gotas' para Ucrânia, diz analista

OTAN promete novamente a Kiev o envio de caças F-16, apesar dos altos custos e baixo impacto no campo de batalha. Segundo analista, países da OTAN não são altruístas e oferecem caças F-16 antigos para poder adquirir modelos mais novos.

A OTAN se prepara para enviar caças norte-americanos F-16 para a Ucrânia nos próximos meses, no intuito declarado de contestar o domínio dos ares russo. Com infraestrutura insuficiente e capacidade de defesa antiaérea diminuta, Kiev terá dificuldade de garantir a efetividade do uso destas aeronaves, acreditam especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil.

Durante a Conferência da Aliança Militar do Atlântico Norte (OTAN), realizada em Washington entre os dias 9 e 11 de julho, os países ocidentais prometeram o envio de até 65 aeronaves F-16 para Kiev, o que dobraria o número de caças à disposição da Força Aérea ucraniana, composta majoritariamente de aeronaves de origem russa e soviética MiG-29 e Su-27.

No início de julho, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, declarou que aeronaves F-16 já teriam deixado o território de países como Dinamarca e Países Baixos a caminho da Ucrânia. No entanto, ainda não está claro se as aeronaves já estariam em solo ucraniano.

"O processo de transferência desses F-16 está em andamento, e a Ucrânia estará voando com F-16 operacionais neste verão [Hemisfério Norte]. Não podemos fornecer detalhes adicionais neste momento devido a preocupações com a segurança operacional", versa a declaração de líderes dos EUA, Países Baixos e Dinamarca emitida após a conferência da OTAN em Washington.

Nas últimas semanas, as forças russas retomaram a realização de ataques em bases aéreas ucranianas, no intuito de danificar aeronaves adversárias ainda em solo. Bases aéreas como Mirgorod e Krivoi Rog, na região central do país, e a de Starokonstantinov, à leste da capital Kiev, teriam sido atingidas por de mísseis russos Iskander, de acordo com vídeos publicados pelo Ministério da Defesa da Rússia.

Essa não é a primeira vez que a OTAN sugere o envio de caças F-16 para a Ucrânia. No passado, a aliança chegou a aventar a possibilidade de enviar mais de 80 unidades para Kiev, o que não se concretizou. Além da baixa disponibilidade de caças F-16 disponíveis dentro da aliança, existem dificuldades logísticas em transportar essas armas até bases aéreas em território ucraniano.

"A distância das bases áreas da OTAN até a base de Starokonstantinov – a única que possui hangares protegidos subterrâneos para abrigar essas armas – não é curta, o que gera problemas logísticos", disse o doutor em ciência política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e presidente do Instituto Sul-Americano de Política e Estratégia (ISAPE), Fabrício Ávila, à Sputnik Brasil.

Moradores da cidade de Starokonstantinov, que abriga a base aérea, expressam preocupação quanto à chegada dos caças norte-americanos, que transformarão a região em alvo prioritário para as forças russas, reportou a AFP.

"Estou com medo da chegada dos F-16. Não sei o que acontecerá com a cidade se eles vierem para cá," declarou um morador de Starokonstantinov a repórteres.

Considerando que o manejo de aeronaves norte-americanas será uma novidade para a Força Aérea ucraniana, que tem larga experiência no uso de caças soviéticos, Kiev enfrentará dificuldades para integrar os F-16 aos seus sistemas de defesa aérea.

Os ministros da Defesa da Polônia, Wladyslaw Kosiniak-Kamysz; da Itália, Guido Crosetto; e da França, Sebastian Lecornu, assinam uma Carta de Intenções sobre uma “Abordagem Europeia de Ataque de Longo Alcance”, ou ELSA, que visa melhorar a capacidade, como europeus, de desenvolver, produzir e entregar capacidades na área de ataque de longo alcance, à margem da cúpula do 75º aniversário da OTAN, em 11 de julho de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 26.07.2024

Os ministros da Defesa da Polônia, Wladyslaw Kosiniak-Kamysz; da Itália, Guido Crosetto; e da França, Sebastian Lecornu, assinam uma Carta de Intenções sobre uma “Abordagem Europeia de Ataque de Longo Alcance”, ou ELSA, que visa melhorar a capacidade, como europeus, de desenvolver, produzir e entregar capacidades na área de ataque de longo alcance, à margem da cúpula do 75º aniversário da OTAN, em 11 de julho de 2024

"Aeronaves F-16 são produzidas há muitas décadas, e a expectativa é que a Ucrânia receba modelos da década de 90. Serão necessárias adaptações e modernização da parte eletrônica e aviônica, para que elas se mantenham funcionais", disse o professor do Centro Universitário Ritter dos Reis (UniRitter) e pesquisador do Instituto Sul-Americano de Política e Estratégia (ISAPE) João Gabriel Burmann à Sputnik Brasil.

Além disso, essas aeronaves demandam pistas de pouso e decolagem em estado impecável, condições que a Ucrânia teria dificuldades para providenciar sem reformas abrangentes na sua infraestrutura aérea. No entanto, qualquer reforma seria facilmente identificada pelo sistema de vigilância russo, que conta com satélites e drones de observação.

Burmann ainda nota que o treinamento de pilotos ucranianos é “um dos grandes gargalos para a entrega” de caças F-16 para a Ucrânia, “já que a aviônica e as partes de combate são muito distintas das aeronaves soviéticas”.

"O treinamento do pouso em área acidentada também é um obstáculo, assim como o pouso carregando armamentos que não foram totalmente despejados sobre o inimigo, que muitas vezes são muito caros", disse o presidente do ISAPE Ávila. "O treinamento de um piloto de F-16 em nível avançado pode levar até quatro anos e custar cerca de US$ 5 milhões [cerca de R$ 28 milhões]."

Além da dificuldade técnica, os pilotos ucranianos "foram acostumados durante toda a sua carreira a pilotar jatos MiG-29, e agora terão que mudar totalmente a chave mentalmente para se adaptar ao F-16 e ao padrão OTAN", disse Ávila. Segundo ele, os ucranianos vivem o dilema entre treinar pilotos do zero ou aproveitar seus pilotos experientes, mas formados em outra escola de aviação.

"O risco de acidente aéreo para o piloto ucraniano é significativo, não só por estarem lidando com treinamento em outra língua, mas também com aeronaves [F-16] que são antigas, muitas vezes em operação desde o final da década de setenta", notou.

O complexo processo de treinamento aumenta ainda mais os custos de cada F-16 abatido ou eliminado em solo pela Rússia, levando a Ucrânia a tratar tanto os pilotos quanto os caças como "um trunfo, uma arma a ser guardada e muito bem preservada", considerou Burmann.

·        Impacto no campo de batalha

O número insuficiente de caças F-16 a serem fornecidos para a Ucrânia, o alto nível de investimento por aeronave e a atual situação de domínio dos ares russo no campo de batalha diminuem sobremaneira o impacto dessas armas no campo de batalha, acreditam os especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil.

"A Rússia conseguiu praticamente deixar a Força Aérea ucraniana fora de combate desde o início do conflito", disse Ávila. "A superioridade aérea da Rússia é patente, mas se mantém pelas debilidades ucranianas e pela impossibilidade da OTAN de repor alguns armamentos."

O especialista ainda nota que o custo de desenvolvimento de forças aéreas são normalmente 50% mais elevados do que de forças terrestres, "o que vai comprometer ainda mais os recursos ucranianos, que já são escassos".

"Estamos falando de um gasto de US$ 6 mil [cerca de R$ 33 mil] a US$ 28 mil [cerca de R$ 157 mil] por hora para manter um caça F-16 em voo", calculou Ávila. "Tudo isso para decolar de uma base aérea desprotegida, lançar um míssil que, ao contrário do que a mídia diz, será de curto alcance e ficar à mercê da guerra eletrônica russa."

Estrategistas em Moscou já se preparam para a eventual chegada dos F-16 no teatro de guerra ucraniano, instalando sistemas de defesa antiaérea S-300 e S-400 adicionais na região do Donbass, adiantou Ávila.

"Na minha opinião, esse é mais um evento midiático do que algo que realmente terá impacto no conflito", considerou Ávila. "É mais um armamento obsoleto dado aos ucranianos de forma restrita e a conta-gotas."

Apesar do baixo impacto que os F-16 poderão ter para os ganhos militares reais da Ucrânia, eles são capazes de escalar as tensões nucleares entre Rússia e OTAN que, segundo avaliação do próprio presidente dos EUA Joe Biden, já estão no nível mais elevado desde a crise dos mísseis em Cuba, em 1962.

"A OTAN mantém armamentos nucleares dos EUA, mas que seriam transportados ao alvo por caças de outros países da Europa, como Itália e Bélgica. Até agora, a capacidade da OTAN era de transportar armas nucleares ao território de Kaliningrado. Considerando que o raio de combate do F-16 é de 500 quilômetros, podemos dizer que a OTAN está testando a sua doutrina de combate de emprego de armas nucleares táticas com possível penetração no território russo", disse Ávila.

Ainda em março deste ano, o presidente russo Vladimir Putin tratou do tema e alertou que a Rússia poderá reconsiderar sua posição e considerar bases aéreas que recebam esses F-16 como alvos legítimos de suas Forças Armadas.

"Os F-16 são capazes de carregar armas nucleares, e nós precisaremos levar isso em consideração quando organizarmos nossas operações de combate", disse o presidente Putin.

Por outro lado, o interesse da OTAN no fornecimento dessas aeronaves à Ucrânia pode não estar relacionado aos avanços militares de Kiev ou à escalada nuclear, mas sim à compra de novas aeronaves por parte de países ocidentais. De acordo com Burmann, países como Dinamarca, Países Baixos e EUA comprarão caças mais modernos após fornecer F-16 de gerações mais antigas a Kiev.

“Cada aeronave enviada para a Ucrânia será substituída em casa por um modelo mais recente. Isso gera maior dinamismo para as suas próprias indústrias de defesa e aumenta a demanda pela produção de aeronaves. Por isso, esses países não estão sendo completamente altruístas”, concluiu o especialista.

¨      Tropas ucranianas recebem veículos militares despreparados na região de Carcóvia, diz fonte

Um tenente-coronel aposentado descreveu vários tipos de peças e equipamentos acessórios que forças ucranianas não receberam para os veículos blindados ocidentais que receberam.

Dez unidades despreparadas de veículos blindados ocidentais chegaram a uma das unidades das Forças Armadas da Ucrânia na região de Carcóvia, contou à Sputnik um especialista militar e tenente-coronel aposentado da República Popular de Lugansk (RPL).

"Veículos blindados ocidentais, em um total de dez unidades, foram entregues sobre plataformas a uma das unidades das formações armadas da Ucrânia que realizava tarefas na linha de contacto de combate da área de Liptsy. Durante a aceitação do equipamento por especialistas ucranianos, descobriu-se que ele foi entregue de um local de conservação sem as medidas necessárias para colocá-lo em condições de combate", detalhou Andrei Marochko.

Ele acrescentou que o equipamento não tinha os conjuntos individuais de peças de reposição, ferramentas e acessórios, e também faltavam fluidos de resfriamento e lubrificação.

Sergei Lavrov, ministro das Relações Exteriores da Rússia, alertou que os países ocidentais que apoiam a Ucrânia estão se tornando parte do conflito, e qualquer carregamento de armas para Kiev é considerado um alvo legítimo.

¨      Projéteis do sistema russo Malka podem deixar armas estrangeiras inoperantes até sem impacto direto

A capacidade dos projéteis do sistema russo de artilharia autopropulsado 2S7M Malka é suficiente para danificar o equipamento do adversário mesmo sem um impacto direto, aponta o consórcio de defesa russo Rostec avaliando o armamento.

"As munições do obuseiro russo de calibre 203 milímetros têm uma capacidade explosiva tão alta que privam os obuseiros estrangeiros das qualidades de combate, mesmo quando explodem perto. A munição do Malka é duas vezes mais pesada que a do [obuseiro alemão de calibre 155 mm] PzH 2000", diz o comunicado.

"Ao mesmo tempo, o alcance de tiro do 2S7M lhe proporciona uma paridade com modelos estrangeiros durante a luta contrabateria", acrescenta o consórcio.

A peça de artilharia autopropulsada 2S7M começou a ser produzida em 1986. O veículo sobre esteiras recebeu um motor de 840 cavalos de potência. O alcance de disparo com um projétil ativo-reativo é de mais de 47 quilômetros. Esta munição carrega cerca de 13 quilos de explosivos.

O armamento foi projetado para destruir alvos em profundidade das linhas de defesa inimigas, bem longe da linha do front. O canhão pode disparar munições reativas e projéteis incendiários e de fragmentação.

¨      Defesa antiaérea da Europa está em estado lamentável, com falta de interceptadores, revela jornal

A defesa antiaérea da Europa está em um estado lamentável, com a maioria dos países não possuindo interceptadores suficientes para evitar ataques massivos, escreve o jornal britânico The Economist.

"A defesa antiaérea da Europa está em um estado lamentável. As suas forças armadas durante certo tempo não pensaram seriamente na proteção de seu próprio céu […]. A defesa antimísseis do continente está no limite; a maioria dos países não tem interceptores suficientes para evitar ataques massivos", diz o artigo.

O jornal destaca que a Europa está atualmente tentando se reorganizar devido ao conflito na Ucrânia, muitos sacrificaram preciosas baterias antiaéreas para Kiev.

No início do mês, o comandante das Forças de Defesa Antiaérea e de Mísseis da Rússia, tenente-general Andrei Semenov, disse aos jornalistas que os sistemas de defesa antiaérea dos EUA, os Patriot, são incapazes não só de cobrir os locais que defendem, mas também de se protegerem.

¨      Forças ucranianas sofrem perdas devido a ordens severas dos generais, diz militar

Os militares ucranianos sofreram perdas que poderiam ter sido evitadas na área do povoado de Progress, na República Popular de Donetsk (RPD), por causa das ordens severas dos generais, relatou ao portal Hromadske o comandante do batalhão da 47ª Brigada Mecanizada do Exército ucraniano, Aleksandr Shirshin.

"Devido a que os nossos generais – 'nem um passo atrás, ficamos até o último soldado', infelizmente, sofremos certas perdas que poderiam ter sido evitadas", afirmou.

De acordo com o oficial, se deveria simplesmente "ter entregado" o povoado Progress, localizado a oeste de Ocheretino, e recuar para outras linhas.

"Falando da 47ª Brigada: em um certo ponto estávamos quase cercados, quase por todos os lados", reclamou Shirshin.

O militar ucraniano acrescentou que houve "certas falhas" das unidades vizinhas, a situação permanece difícil, alguns setores da defesa das tropas ucranianas "continuam se desmoronando".

Anteriormente, o observador militar da revista Forbes David Axe havia informado que a 31ª brigada mecanizada da Ucrânia sofreu uma derrota total perto do povoado de Progress, o que, segundo ele, se deveu a problemas no comando ucraniano.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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