OTAN segue dando 'armamentos obsoletos a
conta-gotas' para Ucrânia, diz analista
OTAN promete novamente
a Kiev o envio de caças F-16, apesar dos altos custos e baixo impacto no campo
de batalha. Segundo analista, países da OTAN não são altruístas e oferecem
caças F-16 antigos para poder adquirir modelos mais novos.
A OTAN se prepara para
enviar caças norte-americanos F-16 para a Ucrânia nos próximos meses, no
intuito declarado de contestar o domínio dos ares russo. Com infraestrutura
insuficiente e capacidade de defesa antiaérea diminuta, Kiev terá dificuldade
de garantir a efetividade do uso destas aeronaves, acreditam especialistas
ouvidos pela Sputnik Brasil.
Durante a Conferência
da Aliança Militar do Atlântico Norte (OTAN), realizada em Washington entre os
dias 9 e 11 de julho, os países ocidentais prometeram o envio de até 65
aeronaves F-16 para Kiev, o que dobraria o número de caças à disposição da
Força Aérea ucraniana, composta majoritariamente de aeronaves de origem russa e
soviética MiG-29 e Su-27.
No início de julho, o
secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, declarou que aeronaves F-16 já
teriam deixado o território de países como Dinamarca e Países Baixos a caminho
da Ucrânia. No entanto, ainda não está claro se as aeronaves já estariam em solo
ucraniano.
"O processo de
transferência desses F-16 está em andamento, e a Ucrânia estará voando com F-16
operacionais neste verão [Hemisfério Norte]. Não podemos fornecer detalhes
adicionais neste momento devido a preocupações com a segurança operacional",
versa a declaração de líderes dos EUA, Países Baixos e Dinamarca emitida após a
conferência da OTAN em Washington.
Nas últimas semanas,
as forças russas retomaram a realização de ataques em bases aéreas ucranianas,
no intuito de danificar aeronaves adversárias ainda em solo. Bases aéreas como
Mirgorod e Krivoi Rog, na região central do país, e a de Starokonstantinov, à
leste da capital Kiev, teriam sido atingidas por de mísseis russos Iskander, de
acordo com vídeos publicados pelo Ministério da Defesa da Rússia.
Essa não é a primeira
vez que a OTAN sugere o envio de caças F-16 para a Ucrânia. No passado, a
aliança chegou a aventar a possibilidade de enviar mais de 80 unidades para
Kiev, o que não se concretizou. Além da baixa disponibilidade de caças F-16
disponíveis dentro da aliança, existem dificuldades logísticas em transportar
essas armas até bases aéreas em território ucraniano.
"A distância das
bases áreas da OTAN até a base de Starokonstantinov – a única que possui
hangares protegidos subterrâneos para abrigar essas armas – não é curta, o que
gera problemas logísticos", disse o doutor em ciência política pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e presidente do Instituto
Sul-Americano de Política e Estratégia (ISAPE), Fabrício Ávila, à Sputnik
Brasil.
Moradores da cidade de
Starokonstantinov, que abriga a base aérea, expressam preocupação quanto à
chegada dos caças norte-americanos, que transformarão a região em alvo
prioritário para as forças russas, reportou a AFP.
"Estou com medo
da chegada dos F-16. Não sei o que acontecerá com a cidade se eles vierem para
cá," declarou um morador de Starokonstantinov a repórteres.
Considerando que o
manejo de aeronaves norte-americanas será uma novidade para a Força Aérea
ucraniana, que tem larga experiência no uso de caças soviéticos, Kiev
enfrentará dificuldades para integrar os F-16 aos seus sistemas de defesa
aérea.
Os ministros da Defesa
da Polônia, Wladyslaw Kosiniak-Kamysz; da Itália, Guido Crosetto; e da França,
Sebastian Lecornu, assinam uma Carta de Intenções sobre uma “Abordagem Europeia
de Ataque de Longo Alcance”, ou ELSA, que visa melhorar a capacidade, como
europeus, de desenvolver, produzir e entregar capacidades na área de ataque de
longo alcance, à margem da cúpula do 75º aniversário da OTAN, em 11 de julho de
2024 - Sputnik Brasil, 1920, 26.07.2024
Os ministros da Defesa
da Polônia, Wladyslaw Kosiniak-Kamysz; da Itália, Guido Crosetto; e da França,
Sebastian Lecornu, assinam uma Carta de Intenções sobre uma “Abordagem Europeia
de Ataque de Longo Alcance”, ou ELSA, que visa melhorar a capacidade, como
europeus, de desenvolver, produzir e entregar capacidades na área de ataque de
longo alcance, à margem da cúpula do 75º aniversário da OTAN, em 11 de julho de
2024
"Aeronaves F-16
são produzidas há muitas décadas, e a expectativa é que a Ucrânia receba
modelos da década de 90. Serão necessárias adaptações e modernização da parte
eletrônica e aviônica, para que elas se mantenham funcionais", disse o
professor do Centro Universitário Ritter dos Reis (UniRitter) e pesquisador do
Instituto Sul-Americano de Política e Estratégia (ISAPE) João Gabriel Burmann à
Sputnik Brasil.
Além disso, essas
aeronaves demandam pistas de pouso e decolagem em estado impecável, condições
que a Ucrânia teria dificuldades para providenciar sem reformas abrangentes na
sua infraestrutura aérea. No entanto, qualquer reforma seria facilmente identificada
pelo sistema de vigilância russo, que conta com satélites e drones de
observação.
Burmann ainda nota que
o treinamento de pilotos ucranianos é “um dos grandes gargalos para a entrega”
de caças F-16 para a Ucrânia, “já que a aviônica e as partes de combate são
muito distintas das aeronaves soviéticas”.
"O treinamento do
pouso em área acidentada também é um obstáculo, assim como o pouso carregando
armamentos que não foram totalmente despejados sobre o inimigo, que muitas
vezes são muito caros", disse o presidente do ISAPE Ávila. "O treinamento
de um piloto de F-16 em nível avançado pode levar até quatro anos e custar
cerca de US$ 5 milhões [cerca de R$ 28 milhões]."
Além da dificuldade
técnica, os pilotos ucranianos "foram acostumados durante toda a sua
carreira a pilotar jatos MiG-29, e agora terão que mudar totalmente a chave
mentalmente para se adaptar ao F-16 e ao padrão OTAN", disse Ávila.
Segundo ele, os ucranianos vivem o dilema entre treinar pilotos do zero ou
aproveitar seus pilotos experientes, mas formados em outra escola de aviação.
"O risco de
acidente aéreo para o piloto ucraniano é significativo, não só por estarem
lidando com treinamento em outra língua, mas também com aeronaves [F-16] que
são antigas, muitas vezes em operação desde o final da década de setenta",
notou.
O complexo processo de
treinamento aumenta ainda mais os custos de cada F-16 abatido ou eliminado em
solo pela Rússia, levando a Ucrânia a tratar tanto os pilotos quanto os caças
como "um trunfo, uma arma a ser guardada e muito bem preservada",
considerou Burmann.
·
Impacto no campo de batalha
O número insuficiente
de caças F-16 a serem fornecidos para a Ucrânia, o alto nível de investimento
por aeronave e a atual situação de domínio dos ares russo no campo de batalha
diminuem sobremaneira o impacto dessas armas no campo de batalha, acreditam os
especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil.
"A Rússia
conseguiu praticamente deixar a Força Aérea ucraniana fora de combate desde o
início do conflito", disse Ávila. "A superioridade aérea da Rússia é
patente, mas se mantém pelas debilidades ucranianas e pela impossibilidade da
OTAN de repor alguns armamentos."
O especialista ainda
nota que o custo de desenvolvimento de forças aéreas são normalmente 50% mais
elevados do que de forças terrestres, "o que vai comprometer ainda mais os
recursos ucranianos, que já são escassos".
"Estamos falando
de um gasto de US$ 6 mil [cerca de R$ 33 mil] a US$ 28 mil [cerca de R$ 157
mil] por hora para manter um caça F-16 em voo", calculou Ávila. "Tudo
isso para decolar de uma base aérea desprotegida, lançar um míssil que, ao contrário
do que a mídia diz, será de curto alcance e ficar à mercê da guerra eletrônica
russa."
Estrategistas em
Moscou já se preparam para a eventual chegada dos F-16 no teatro de guerra
ucraniano, instalando sistemas de defesa antiaérea S-300 e S-400 adicionais na
região do Donbass, adiantou Ávila.
"Na minha
opinião, esse é mais um evento midiático do que algo que realmente terá impacto
no conflito", considerou Ávila. "É mais um armamento obsoleto dado
aos ucranianos de forma restrita e a conta-gotas."
Apesar do baixo
impacto que os F-16 poderão ter para os ganhos militares reais da Ucrânia, eles
são capazes de escalar as tensões nucleares entre Rússia e OTAN que, segundo
avaliação do próprio presidente dos EUA Joe Biden, já estão no nível mais
elevado desde a crise dos mísseis em Cuba, em 1962.
"A OTAN mantém
armamentos nucleares dos EUA, mas que seriam transportados ao alvo por caças de
outros países da Europa, como Itália e Bélgica. Até agora, a capacidade da OTAN
era de transportar armas nucleares ao território de Kaliningrado. Considerando
que o raio de combate do F-16 é de 500 quilômetros, podemos dizer que a OTAN
está testando a sua doutrina de combate de emprego de armas nucleares táticas
com possível penetração no território russo", disse Ávila.
Ainda em março deste
ano, o presidente russo Vladimir Putin tratou do tema e alertou que a Rússia
poderá reconsiderar sua posição e considerar bases aéreas que recebam esses
F-16 como alvos legítimos de suas Forças Armadas.
"Os F-16 são
capazes de carregar armas nucleares, e nós precisaremos levar isso em
consideração quando organizarmos nossas operações de combate", disse o
presidente Putin.
Por outro lado, o
interesse da OTAN no fornecimento dessas aeronaves à Ucrânia pode não estar
relacionado aos avanços militares de Kiev ou à escalada nuclear, mas sim à
compra de novas aeronaves por parte de países ocidentais. De acordo com
Burmann, países como Dinamarca, Países Baixos e EUA comprarão caças mais
modernos após fornecer F-16 de gerações mais antigas a Kiev.
“Cada aeronave enviada
para a Ucrânia será substituída em casa por um modelo mais recente. Isso gera
maior dinamismo para as suas próprias indústrias de defesa e aumenta a demanda
pela produção de aeronaves. Por isso, esses países não estão sendo
completamente altruístas”, concluiu o especialista.
¨ Tropas ucranianas recebem veículos militares despreparados na
região de Carcóvia, diz fonte
Um tenente-coronel
aposentado descreveu vários tipos de peças e equipamentos acessórios que forças
ucranianas não receberam para os veículos blindados ocidentais que receberam.
Dez unidades
despreparadas de veículos blindados ocidentais chegaram a uma das unidades das
Forças Armadas da Ucrânia na região de Carcóvia, contou à Sputnik um
especialista militar e tenente-coronel aposentado da República Popular de
Lugansk (RPL).
"Veículos
blindados ocidentais, em um total de dez unidades, foram entregues sobre
plataformas a uma das unidades das formações armadas da Ucrânia que realizava
tarefas na linha de contacto de combate da área de Liptsy. Durante a aceitação
do equipamento por especialistas ucranianos, descobriu-se que ele foi entregue
de um local de conservação sem as medidas necessárias para colocá-lo em
condições de combate", detalhou Andrei Marochko.
Ele acrescentou que o
equipamento não tinha os conjuntos individuais de peças de reposição,
ferramentas e acessórios, e também faltavam fluidos de resfriamento e
lubrificação.
Sergei Lavrov,
ministro das Relações Exteriores da Rússia, alertou que os países ocidentais
que apoiam a Ucrânia estão se tornando parte do conflito, e qualquer
carregamento de armas para Kiev é considerado um alvo legítimo.
¨ Projéteis do sistema russo Malka podem deixar armas estrangeiras
inoperantes até sem impacto direto
A capacidade dos
projéteis do sistema russo de artilharia autopropulsado 2S7M Malka é suficiente
para danificar o equipamento do adversário mesmo sem um impacto direto, aponta
o consórcio de defesa russo Rostec avaliando o armamento.
"As munições do
obuseiro russo de calibre 203 milímetros têm uma capacidade explosiva tão alta
que privam os obuseiros estrangeiros das qualidades de combate, mesmo quando
explodem perto. A munição do Malka é duas vezes mais pesada que a do [obuseiro
alemão de calibre 155 mm] PzH 2000", diz o comunicado.
"Ao mesmo tempo,
o alcance de tiro do 2S7M lhe proporciona uma paridade com modelos estrangeiros
durante a luta contrabateria", acrescenta o consórcio.
A peça de artilharia
autopropulsada 2S7M começou a ser produzida em 1986. O veículo sobre esteiras
recebeu um motor de 840 cavalos de potência. O alcance de disparo com um
projétil ativo-reativo é de mais de 47 quilômetros. Esta munição carrega cerca
de 13 quilos de explosivos.
O armamento foi
projetado para destruir alvos em profundidade das linhas de defesa inimigas,
bem longe da linha do front. O canhão pode disparar munições reativas e
projéteis incendiários e de fragmentação.
¨ Defesa antiaérea da Europa está em estado lamentável, com falta
de interceptadores, revela jornal
A defesa antiaérea da
Europa está em um estado lamentável, com a maioria dos países não possuindo
interceptadores suficientes para evitar ataques massivos, escreve o jornal
britânico The Economist.
"A defesa
antiaérea da Europa está em um estado lamentável. As suas forças armadas
durante certo tempo não pensaram seriamente na proteção de seu próprio céu […].
A defesa antimísseis do continente está no limite; a maioria dos países não tem
interceptores suficientes para evitar ataques massivos", diz o artigo.
O jornal destaca que a
Europa está atualmente tentando se reorganizar devido ao conflito na Ucrânia,
muitos sacrificaram preciosas baterias antiaéreas para Kiev.
No início do mês, o
comandante das Forças de Defesa Antiaérea e de Mísseis da Rússia,
tenente-general Andrei Semenov, disse aos jornalistas que os sistemas de defesa
antiaérea dos EUA, os Patriot, são incapazes não só de cobrir os locais que
defendem, mas também de se protegerem.
¨ Forças ucranianas sofrem perdas devido a ordens severas dos
generais, diz militar
Os militares
ucranianos sofreram perdas que poderiam ter sido evitadas na área do povoado de
Progress, na República Popular de Donetsk (RPD), por causa das ordens severas
dos generais, relatou ao portal Hromadske o comandante do batalhão da 47ª
Brigada Mecanizada do Exército ucraniano, Aleksandr Shirshin.
"Devido a que os
nossos generais – 'nem um passo atrás, ficamos até o último soldado',
infelizmente, sofremos certas perdas que poderiam ter sido evitadas",
afirmou.
De acordo com o
oficial, se deveria simplesmente "ter entregado" o povoado Progress,
localizado a oeste de Ocheretino, e recuar para outras linhas.
"Falando da 47ª
Brigada: em um certo ponto estávamos quase cercados, quase por todos os
lados", reclamou Shirshin.
O militar ucraniano
acrescentou que houve "certas falhas" das unidades vizinhas, a
situação permanece difícil, alguns setores da defesa das tropas ucranianas
"continuam se desmoronando".
Anteriormente, o
observador militar da revista Forbes David Axe havia informado que a 31ª
brigada mecanizada da Ucrânia sofreu uma derrota total perto do povoado de
Progress, o que, segundo ele, se deveu a problemas no comando ucraniano.
Fonte: Sputnik Brasil
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