Olimpíadas: as novidades desta edição e os
detalhes da delegação brasileira
Os Jogos Olímpicos de Paris 2024 apresentarão
3.800 horas de esporte ao vivo e entregarão 329 medalhas de ouro em 32 esportes
ao longo de 18 dias de competição na capital e em outras partes da França. O evento começa nesta sexta-feira (26/7)
e termina no dia 11 de agosto. A edição terá a participação total de 10.500
atletas.
Será a primeira edição
que contará com igualdade de gênero em
relação ao número de atletas participantes. O Comitê Olímpico Internacional
(COI) determinou que as vagas fossem preenchidas por 5.250 mulheres e 5.250
homens.
O Brasil levará 276
atletas brasileiros, competindo em 39 modalidades diferentes. Pela primeira
vez, as mulheres serão maioria: serão 153 representantes – 55% do número total.
Em Tóquio, por exemplo, o índice era de 47%.
<>< Aqui está
tudo o que você precisa saber sobre os 34º Jogos Olímpicos de Verão.
·
Quando começam as
Olimpíadas?
A cerimônia de
abertura das Olimpíadas de Paris 2024 foi realizada nesta sexta-feira (26/7). Mas
o evento esportivo começou na quarta-feira (24/7) com partidas de futebol,
rugby, handebol e tiro com arco. A tradicional cerimônia de abertura foi feita
ao longo do rio Sena, e não num estádio. As primeiras medalhas serão entregues
um dia depois e a competição terminará no dia 11 de agosto, com a cerimônia de
encerramento ainda naquela noite.
·
Quantas medalhas de
ouro serão entregues?
Há 329 medalhas de
ouro em Paris 2024, com impressionantes 39 medalhas entregues no penúltimo dia
de competição, em um sábado, 10 de agosto.
A primeira medalha dos
Jogos será no tiro – rifle de ar de equipe mista – e está prevista para ser
conquistada neste sábado (27/7). A última medalha de ouro será concedida no
basquete feminino, no domingo, 11 de agosto.
·
Quais esportes surgem
como novidades?
O único esporte novo
para as Olimpíadas de 2024 é o break. É um estilo de dança que se originou no
Bronx, em Nova York, durante a década de 1970, mas evoluiu para se tornar um
esporte competitivo. Em Paris, o break só será visto na última parte dos Jogos,
com a prova feminina no dia 9 de agosto e a masculina no dia 10 de agosto. Um
total de 32 participantes, 16 homens e 16 mulheres competirão pelas medalhas. Beisebol/softbol
e karatê foram disputados em Tóquio há três anos, mas foram descartados nestas
Olimpíadas.
Outros ajustes nos
esportes incluem uma mudança no formato da escalada esportiva, que inclui três
modalidades: boulder (quando os atletas escalam paredes de 4,5m de altura sem
cordas em um período limitado), velocidade e guiada. Em Tóquio, cada atleta
competiu nas três modalidades e as pontuações finais tiveram como base os
resultados dessas três. Já em Paris haverá uma competição combinada entre
boulder e guiada e outra apenas com provas de velocidade.
O Kayak Cross também
fará sua estreia. É uma forma de canoagem slalom, em que quatro atletas em cada
bateria competem entre si, não apenas contra o relógio. Na vela foram
adicionadas duas categorias: iQFoil (que substitui RS:X na disciplina de
windsurf) e Fórmula Kite. E na natação artística, os homens são incluídos pela
primeira vez na história olímpica e também haverá uma rodada de rotina
acrobática por equipes.
·
Quem está competindo
pelo Brasil e quantas medalhas eles poderiam ganhar?
O Brasil terá a quarta
maior delegação da sua nas Olímpiadas neste ano, com os 276 atletas enviados ao
evento. A maior foi na Rio 2016 (465), em Tóquio 2020 (301) e em Pequim 2008
(277).
A primeira vez em que
o Brasil esteve presente nas Olímpiadas foi em 1920, participando de todas as
edições desde então, com exceção de 1928. Ao longo de 23 edições de Jogos
Olímpicos de Verão, o Brasil conquistou um total de 150 medalhas, sendo 37 de
ouro, 42 de prata e 71 de bronze. A melhor performance do país aconteceu na
última edição dos Jogos Olímpicos de Tóquio. Na ocasião, o Brasil conquistou 21
medalhas, sendo sete de ouro, seis de prata e oito de bronze, o que garantiu ao
Brasil a 12ª colocação no ranking de países.
O Brasil será
representado por atletas nas seguintes modalidades: atletismo, badminton,
basquete, boxe, BMX Freestyle, BMX Racing, canoagem velocidade, canoagem
slalom, ciclismo de estrada, ciclismo mountain bike, esgrima, futebol feminino,
ginástica artística, ginástica de trampolim, ginástica rítmica, handebol. Hipismo
adestramento, hipismo concurso completo de equitação, hipismo saltos, judô,
levantamento de peso, luta, maratona aquática, natação, pentatlo moderno, remo,
rugby sevens, saltos ornamentais, skate, surfe, taekwondo, tênis, tênis de
mesa, tiro com arco, tiro esportivo, triatlo, vela, vôlei e vôlei de praia.
·
Quem é o mascote das
Olimpíadas de Paris 2024?
Conheça as Phryges
olímpica.
O nome é baseado nos
tradicionais pequenos chapéus frígios que dão forma aos mascotes olímpicos e
paraolímpicos. É um símbolo de liberdade ao longo da história francesa e
representa figuras alegóricas da república francesa. O lema dos mascotes é
"sozinhos vamos mais rápido, mas juntos vamos mais longe".
·
Haverá premiação em
dinheiro nas Olimpíadas?
A World Athletics
anunciou que se tornará a primeira federação internacional a conceder prêmios
em dinheiro nos Jogos Olímpicos. O órgão governamental global disse que um
prêmio total de US$ 2,4 milhões (cerca de R$ 13,4 milhões) foi disponibilizado
para as Olimpíadas deste verão em Paris, com os medalhistas de ouro recebendo
US$ 50.000 (cerca de R$ 280 mil).
·
A Rússia está proibida
de competir nas Olimpíadas?
Os atletas russos e
bielorrussos poderão competir como atletas neutros, conhecidos como AIN
(Atletas Neutros Individuais). Eles não participarão da cerimônia de abertura
das Olimpíadas de 2024 em Paris, afirma o Comitê Olímpico Internacional.
>>>>
Cronograma das competições
Os eventos estão
sujeitos a alterações. A BBC não é responsável por quaisquer alterações feitas.
Alguns esportes têm dias de descanso não listados abaixo.
Cerimônia
de abertura: 26 de julho
Tiro com
arco: 25 de julho a 4 de agosto
Ginástica
artística: 25 de julho a 4 de agosto
Natação
artística: 5 a 10 de agosto
Atletismo: 1 a 11 de agosto
Badminton: 27 de julho a 5 de agosto
Basquete
3x3: 30 de julho a 5 de agosto
Basquete: 27 de julho a 11 de agosto
Voleibol
de praia: 27 de julho a 10 de agosto
Boxe: 27 de julho a 10 de agosto
Break: 9 a 10 de agosto
Canoagem
slalom: 27 de julho a 5 de agosto
Canoagem
sprint: 6 a 10 de agosto
Ciclismo
BMX: 30 de julho a 2 de agosto
Ciclismo
de mountain bike: 28 a 29 de julho
Ciclismo
de estrada: 27 de julho a 4 de agosto
Ciclismo
de pista: 5 a 11 de agosto
Mergulho: 27 de julho a 10 de agosto
Hipismo: 27 de julho a 6 de agosto
Esgrima: 27 de julho a 4 de agosto
¨ 3 fatos fascinantes sobre o rio Sena, protagonista da abertura
dos Jogos Olímpicos e da história da França
É a tela de Paris, o espelho de sua história, a inspiração
de artistas e confidente de amantes anônimos ou tão célebres quanto Horacio
Oliveira e a Maga (personagens do escritor argentino Júlio Cortázar, no
romance O jogo da Amarelinha), que se encontravam e desencontravam
na Pont des Arts (Ponte das Artes, em português).
Mas ele não só
testemunhou amores como os dos personagens do escritor argentino mais
parisiense — Cortázar viveu na capital francesa por 33 anos, de 1951 até sua
morte, em 1984 —, mas também invasões, revoluções e massacres.
De suas nascentes na
Borgonha até sua foz no Canal da Mancha, o rio Sena percorre quase
780 km, passando por cidades como Rouen e chegando ao seu fim próximo a Le
Havre. No entanto, é impossível conceber Paris sem o Sena, nem o Sena sem
Paris. A interdependência do rio e da cidade foi forjada ao longo dos anos,
tornando-a o berço da monarquia francesa e da expansão da França como
Estado-nação. Seu curso divide a capital em duas, criando uma barreira
psicológica e de identidade para seus habitantes, que se definem como rive
gauche ou rive droite, margem esquerda ou direita,
atribuindo uma personalidade específica — e sempre melhor que a vizinha — ao
lado do Sena em que se vive. Agora, o famoso rio, que ao longo de sua história
viu a construção da Catedral de Notre Dame e
da Torre Eiffel, que viu os exércitos
de Napoleão e as tropas do exército francês em tanques desfilarem para libertar
a Cidade Luz das sombras do nazismo, tornou-se uma peça central nos Jogos Olímpicos realizados
na capital francesa.
Aqui, contamos três
fatos fascinantes para mergulhar no coração de um dos grandes rios históricos
da Europa, que é palco da cerimônia de abertura dos Jogos e de algumas
competições.
·
1. 'Fluctuat nec
mergitur': símbolo de resistência
Após os ataques de Paris de 13 de novembro de 2015, nos quais um grupo de militantes do autoproclamado Estado
Islâmico aterrorizou a capital francesa e matou 130 pessoas, uma frase latina
apareceu escrita em caracteres grandes em diferentes partes da capital: flutuat
nec mergitur. Até então, poucos fora da capital francesa haviam ouvido o
lema de Paris, que significa “É sacudida pelas ondas, mas não afunda” e que
aparece em seu escudo ao lado de um veleiro que navega nas ondas do rio.
Diante da tragédia, os
parisienses se agarraram ao emblema da cidade, que simboliza sua resistência
diante da adversidade: Paris atacada, golpeada, profanada e ferida em sua
essência, mas Paris resiliente. As cenas de horror se tornaram novos símbolos
de resiliência: a vida floresceu novamente nos terraços dos cafés, a música
voltou ao salão Bataclan um ano depois e o estádio multiuso Stade de France
(próximo ao qual pelo menos dez pessoas foram feridas ou mortas em uma explosão
em um bar naquele 15 de novembro) é hoje um dos locais olímpicos.
Mas de onde vem esse
lema? E o barco do escudo?
Sua origem está na
guilda dos conhecidos como “mercadores de água”, os transportadores de
mercadorias do Sena que na Idade Média usavam esse símbolo como emblema e que
mais tarde foi adotado pela corporação municipal. Hoje, o Sena continua sendo
uma verdadeira rodovia de transporte: 20 milhões de toneladas de mercadorias
circulam por suas águas por ano, o equivalente a 800 mil caminhões.
Mas o simbolismo do
rio e sua navegação para representar Paris remonta ainda mais no tempo. Os
“nautes of Lutetia”, uma poderosa irmandade de armadores galo-romanos da tribo
parisiense que usavam o Sena para conectar o que era então conhecido como
Lutetia com o resto do mundo antigo, já usavam esse símbolo. Acredita-se que os
parisienses, a quem a cidade de Paris deve seu nome, tenham se estabelecido no
século 3 a.C., no que hoje é conhecido como Ilha da Cidade, no coração da
metrópole que conhecemos hoje. A cidade se expandiu para as margens do Sena e
para a ilha vizinha de Saint Louis e cresceu em importância até que o rei
Clóvis 1º estabeleceu seu centro de poder lá no século 6º. Seu status de
capital foi fortalecido quando os monarcas franceses decidiram se estabelecer
na cidade.
O rio, que serviu de
fortaleza natural quando Paris — então, Lutetia —era uma ilha, também poderia
trazer perigos. No ano de 845, a cidade foi sitiada por tropas vikings
comandadas pelo lendário Ragnar, que chegaram com 120 navios e cerca de 5 mil
homens e saquearam Paris. Muitos séculos depois, as tropas aliadas
bombardeariam várias pontes sobre o Sena entre Paris e o Canal da Mancha para
impedir o avanço alemão durante o desembarque na Normandia.
Em 24 de agosto de
1944, a La Nueve, a empresa formada pelos republicanos espanhóis sob o comando
do general Leclerc, foi a primeira a cruzar a ponte Austerlitz para libertar
Paris dos nazistas.
Mas a ameaça não veio
apenas do rio, mas, às vezes, do próprio Sena.
Suas inundações
causaram graves inundações ao longo dos anos. Em 1910, inundou grande parte da
cidade e até colocou em risco o museu do Louvre, que fica próximo ao rio. A
escultura do Zouave argelino que guarda a Ponte Alma, ao lado da
qual Diana, Princesa de Gales, morreu em 1997, tornou-se a guardiã não oficial
do fluxo do rio. Se seus sapatos estiverem embaixo d'água, o rio está acima do
seu nível. Em 2018, o Sena o cobriu até a cintura. Em 1910, o Zouave estava
quase até o pescoço na água: chegou até seus ombros.
·
2. Uma fonte de
inspiração para as artes
Os parisienses gostam
de dizer que a Champs-Élysées é a avenida mais bonita do mundo. Mas a “avenida”
mais bonita de Paris é, sem dúvida, o Sena. Grande parte do esplendor
arquitetônico, cultural e histórico da capital está concentrado em suas
margens, o que inspirou escritores, artistas e músicos. Uma caminhada pelas
docas ou em um dos famosos bateaux mouches, os barcos turísticos
que viajam por suas águas, pode transportá-lo da Paris medieval da Catedral de
Notre Dame até a futurista Paris do Seine Musicale, passando pela belle
époque da Torre Eiffel.
A cultura, com o museu
do Louvre, o museu Orsay, o Palais de Tokyo, a Academia Francesa, o Grand
Palais e seu irmão mais novo, o Petit Palais, ficam às margens do rio. Há
também os grandes palácios dos centros de poder, como a Assembleia Nacional, a
sede da Prefeitura da capital ou o Palácio da Justiça e a Conciergerie, que
serviram de prisão durante a Revolução Francesa e tiveram Maria Antonieta entre
suas convidadas mais famosas.
Toda essa história
lindamente gravada em pedra, a essência de uma cidade e de um país, foi
declarada patrimônio cultural pela Unesco em 1991.
Especificamente, a
seção das margens do Sena incluída entre a ponte Sully, que conecta a ilha de
Saint Louis com a margem esquerda do rio, até a famosa ponte Jena (Pont de
L'Iena) que conecta o Champs de Mars e a Torre Eiffel ao Trocadero.
Em 2014, grande parte
do cais inferior do Sena era para pedestres, e o que havia sido uma via
expressa para veículos por décadas tornou-se um lugar para passear ou sentar
relaxadamente e observar a água e a vida passarem. O rio, sobre o qual Jacques
Prévert escreveu que deslizava “como um sonho/em meio aos mistérios/misérias de
Paris”, foi imortalizado na pintura de artistas como Renoir, Seurat, Sisley,
Monet e praticamente todo mundo que o colocou com um pé na capital francesa com
um pincel na mão. Muitos pintores amadores continuam desenhando e vendendo suas
gravuras em suas docas, onde se baseia outro tesouro cultural de Paris:
os bouquinistes.
Os livreiros do Sena,
com suas mais de 200 barracas de madeira verde, onde vendem livros usados e
antigos, são uma verdadeira instituição na cidade e compõem a maior livraria ao
ar livre do mundo.
Ernest Heminway os
homenageou em Paris era uma festa, e, desde o final do século
19 — alguns dizem que até antes — eles fazem parte do cartão-postal do Sena.
E, claro, o cinema.
Da Nouvelle Vague a
James Bond, as águas do Sena têm sido o cenário cinematográfico de amores e
desgostos, perseguições e até falsos assassinatos, como o de Lord X,
o amante fictício de Sweet Irma. Vale lembrar que Cary Grant e
Audrey Hepburn se apaixonaram durante um passeio de barco no Sena em Charada ou
Woody Allen e Goldie Hawn dançando em uma de suas docas à luz das luzes da rua
em Todo mundo diz que te amo.
·
3. Seu lado mais
sombrio
Mas, sob a beleza que
se eleva acima da superfície, também se esconde um lado sombrio, sujo e, às
vezes, criminoso. O Sena e seus canais se tornam a cova aquática de dezenas de
pessoas todos os anos — entre 50 e 60, de acordo com a agência AFP — devido a
suicídio, assassinato ou acidentes, embora, na maioria dos casos, diz a polícia
francesa, devido ao álcool.
Uma dessas vítimas,
uma adolescente de 16 anos que nunca foi identificada, ajudou a salvar milhões
de vidas. A “Garota Desconhecida do Sena” ou “Mona Lisa do Sena”, à medida que
a garota se tornou popular, se afogou em suas águas no final do século 19. Seu
rosto sereno com um sorriso enigmático atraiu a atenção e foi objeto de uma
máscara mortuária. Essa máscara se tornou popular e vendida em massa, acabando
nas oficinas e casas de muitos artistas e escritores, como Rilke, Louis Aragon,
Man Ray ou Vladimir Nabokov.
Quando o fabricante
norueguês de brinquedos Asmund Laerdal foi convidado em 1960 a fazer um boneco
de treinamento para a recém-inventada técnica de ressuscitação cardiopulmonar,
Laerdal se lembrou da máscara que decorava a casa de seus avós e a usava como
modelo para seu protótipo “Resusci Anne”, que, de acordo com o British Journal
of Medicine, teria salvado a vida de mais de 2,5 milhões de pessoas em todo o
mundo.
Mas alguns dos
capítulos mais sombrios da turbulenta história gaulesa também percorrem as
margens do Sena.
A mais famosa das
guilhotinas instaladas após a Revolução Francesa, aquela que viu rolarem as
cabeças de Luís 16, Maria Antonieta e Robespierre, foi instalada na então
chamada Place de la Révolution — rebatizada, paradoxalmente, de Concorde —, às
margens do Sena. Os restos mortais do imperador Napoleão Bonaparte também foram
carregados rio acima em 1840 após sua morte na ilha de Santa Helena, até
descansarem sob a cúpula de Les Invalides, na margem esquerda do Sena.
Mais recentemente,
dois episódios infames marcaram novas páginas negras da memória francesa.
Em 17 de outubro de
1961, o Sena foi palco e protagonista involuntário do massacre de argelinos
pela polícia francesa. Em meio à guerra de independência da Argélia, milhares
de argelinos desfilaram pacificamente pelas ruas de Paris para protestar contra
o toque de recolher imposto à população nativa do que ainda era um departamento
francês. Os oficiais, sob a autoridade do chefe de polícia Maurice Papon —
posteriormente julgados por colaborar com os nazistas durante a ocupação e
deportar milhares de judeus franceses para campos de extermínio — reprimiram
sangrentamente a manifestação. Mais de 60 anos se passaram, e ainda não está
claro quantas pessoas morreram, mas historiadores estimam entre 30 e 200. A
maioria foi baleada ou espancada por policiais, alguns deles após serem presos.
Dezenas foram jogados no Sena, onde, gravemente feridos ou porque não sabiam
nadar, se afogaram.
Três décadas depois,
um marroquino então anônimo, cujo nome se tornou hoje na França um símbolo da
luta contra o racismo, também encontrou seu fim nas águas de chumbo do rio. Em
1º de maio de 1995, Brahim Bouarram, que tinha 29 anos e pai de dois filhos,
foi jogado no Sena próximo à ponte do Carrossel por um apoiador da Frente
Nacional (agora o Rally Nacional) durante uma manifestação partidária.
Toda essa história
também faz parte de um rio que agora está decorado para receber atletas e
visitantes de todo o mundo, aos quais apresenta sua face mais amigável. E mais
limpo, pode-se dizer. Pela primeira vez em mais de cem anos, o Sena será
adequado para nadar, após uma campanha de limpeza e descontaminação que durou
décadas e custou mais de US$ 1,6 bilhão (R$ 9 bilhões).
Três eventos olímpicos
e paralímpicos — triatlo, maratona de natação e paratriatlo — estão programados
no Sena quando ele passa pelo centro de Paris, embora tudo dependa de seus
níveis de poluição nos dias em que estão programados para ocorrer. Apesar de
qualquer contratempo de última hora que possa ocorrer, o processo de limpeza do
rio, que conseguiu eliminar as águas residuais industriais e reduzir as
bactérias fecais que acabam no Sena, é considerado um sucesso internacional,
diz o correspondente da BBC em Paris, Hugh Schofield. Como parte desse esforço,
um grande reservatório subterrâneo foi construído para coletar o escoamento em
períodos de chuvas fortes, quando águas residuais não tratadas podem acabar no
rio. O Sena, prometeu a prefeita da capital, Anne Hidalgo, estará aberto ao
banho em 2025. Será quando poderemos, literalmente, mergulhar no coração e na
alma de Paris.
Fonte: BBC News Mundo
Nenhum comentário:
Postar um comentário