quinta-feira, 4 de julho de 2024

O 'sacrifício' de candidatos de esquerda e centro para barrar direita radical na França

O prazo para confirmação de candidaturas para o segundo turno das eleições legislativas francesas a ser realizado no próximo domingo (7/7) terminou nesta terça-feira (3/7), com um grande número de candidatos de esquerda e de centro deixando de concorrer numa tentativa de bloquear uma possível vitória do Reunião Nacional, de direita radical.

Segundo o sistema eleitoral que regula as eleições para a Assembleia Nacional francesa, passam para o segundo turno todos os candidatos que conseguirem assegurar mais de 12,5% dos votos no primeiro turno.

Sem que tenha sido divulgada uma lista oficial, a mídia francesa estima que entre 214 e 218 candidatos, que chegaram em terceiro lugar em seus distritos eleitorais. desistiram da disputa.

Assim, os grupos de centro e de esquerda esperam que nestes distritos, o RN passe a enfrentar um oponente (segundo lugar no primeiro turno) mais fortalecido, capaz de aglutinar os votos conseguidos também pelos candidatos que chegaram em terceiro lugar no pleito de domingo passado (30/7) e que agora retiraram a candidatura.

Isso significa que agora a disputa com três candidatos se resumirá a apenas 108 distritos eleitorais (em dois distritos a disputa reunirá 4 candidatos), comparados a pouco mais de 300 no primeiro turno.

A estratégia de retirada em massa de candidaturas é uma tentativa de aumentar a chance da oposição ao RN — grande vencedor do primeiro turno — já que candidatos de centro e de esquerda deixariam de dividir entre eles a preferência dos eleitores.

O primeiro turno do último domingo produziu uma grande vitória para o RN, partido de Marine Le Pen, que, reforçado por aliados, obteve cerca de 33% dos votos.

A aliança ampla de esquerda — Nova Frente Popular (NPF) — ficou em segundo lugar com cerca de 28% dos votos, e os centristas do presidente Emmanuel Macron em terceiro com pouco menos de 21%.

Mas agora, as chances de Le Pen de conquistar a maioria absoluta na Assembleia Nacional — 289 de um total de 577 assentos — ficam prejudicadas pelas táticas de bloqueio dos adversários.

A NPF — que compreende desde social-democratas de centro-esquerda até anticapitalistas da esquerda radical — orientou todos os seus candidatos que chegaram em terceiro lugar que renunciassem e apoiassem um centrista na briga pelo voto anti-RN.

Por outro lado, François Ruffin, um candidato pró-Macron renunciou para apoiar o esquerdista radical na tentativa de derrotar o candidato do RN na cidade de Amiens, no norte do país.

O presidente do RN, Jordan Bardella, de apenas 28 anos, condenou a iniciativa dizendo que esses arranjos representam uma “aliança de desonra” entre partidos que até agora estavam brigando um com o outro.

Porém, as orientações para candidatos do bloco centrista de Macron têm sido mais ambíguas do que as do NPF. o que revela um certo desconforto de membros do partido do presidente de se alinhar com a esquerda mais radical, embora o próprio Macron e o primeiro-ministro Gabriel Attal tenham pedido o “não voto para o RN”.

Figuras importantes do partido de Macron como o ministro das Finanças, Bruno Le Maire, e o ex-primeiro ministro Edouard Philippe — ambos originários da centro-direita — têm se recusado a pedir votos sistemáticos contra o RN.

A liderança do RN declarou que o partido não tentará formar um governo a menos que obtenha maioria absoluta no Parlamento. O partido não quer ter um poder apenas aparente sem capacidade de aprovar legislação.

No entanto, na terça-feira, Marine Le Pen pareceu mudar levemente essa orientação ao dizer que uma maioria não absoluta já seria boa o suficiente — se não ficasse muito abaixo do limite de 289 membros (metade + 1).

Falando na rádio francesa, Le Pem disse que com algo em torno de 270 deputados o partido poderia negociar com parlamentares individualmente na esperança de convencê-los a firmar um acordo.

“Vamos dizer a eles: 'Vocês estão prontos para participar conosco na criação de uma nova maioria? Você está pronto para votar uma moção de confiança? Você está pronto para votar a favor do orçamento? '” disse ela.

Le Pen citou como possíveis aliados deputados independentes de direita e esquerda e parte do Partido Republicano conservador, que obteve 10% dos votos no primeiro turno.

Se o RN conseguir maioria absoluta no domingo, Bardella (ou alguém indicado pela cúpula do RN) seria convidado pelo presidente Macron a formar um governo — e então começaria um período tenso de “coabitação” com dois inimigos políticos compartilhando o poder.

De acordo com a Constituição da Quinta República Francesa, o poder fluiria de Macron para o gabinete do primeiro-ministro porque “o governo determina e conduz a política da nação”.

No entanto, Macron provavelmente procuraria manter o controle nas áreas de política externa e defesa, que, por precedentes — já que não está previsto na constituição - permaneceram na alçada do presidente em coabitações anteriores.

Marine Le Pen também acusou o presidente na terça-feira de dar um “golpe administrativo de Estado ” quando soube que Macron estaria preparando várias nomeações importantes na polícia e no Exército poucos dias antes da votação.

“Quando você quer contrariar os resultados de uma eleição nomeando seus aliados para cargos, e quando isso impede que [o governo] seja capaz de executar as políticas que o povo francês exige... isso é um golpe de Estado administrativo”, disse ela.

“Espero que seja só um boato”, acrescentou.

 

¨      7 perguntas essenciais sobre a eleição no Reino Unido

Os britânicos vão às urnas nesta quinta-feira (4/7) para escolher o próximo primeiro-ministro do Reino Unido.

Cerca de 46 milhões de eleitores estão aptos a participar da primeira eleição geral no país desde 2019.

O pleito acontece após o primeiro-ministro, Rishi Sunak, do Partido Conservador, ter convocado eleições gerais antecipadas em maio, e dissolvido o Parlamento britânico (algo que é sua prerrogativa legal).

A seguir, analisamos algumas dúvidas que você pode ter sobre o assunto.

·        Quando vai ser a eleição?

As eleições gerais vão ser realizadas nesta quinta-feira (4/7). O mandato político dura cinco anos no Reino Unido e, como o Partido Conservador do país venceu as últimas eleições em dezembro de 2019, as próximas eleições gerais deveriam ocorrer por lei até janeiro de 2025.

O Reino Unido está dividido em 650 distritos eleitorais. Os eleitores em cada um destes distritos elegem um deputado para a Câmara dos Comuns para representar os moradores locais.

A maioria dos candidatos representa um partido político, mas alguns são independentes.

·        Por que Sunak convocou eleições antecipadas?

O Partido Conservador, do primeiro-ministro, Rishi Sunak, vem caindo nas pesquisas de opinião desde 2021.

Alguns políticos do partido "sentiram que as coisas poderiam não melhorar muito, e que o desejo percebido do eleitorado de ter voz logo poderia correr o risco de piorar qualquer derrota conservadora, se o compromisso com os eleitores fosse adiado", avalia Chris Mason, editor de polícia da BBC News.

"Em outras palavras, faça isso agora ou pode piorar."

"O primeiro-ministro também pode destacar que pelo menos alguns dos seus objetivos foram cumpridos, ou aparentemente estão a caminho de serem cumpridos."

"Os números atuais da inflação podem ser considerados um sucesso. É claro que não se trata apenas das ações do governo. Mas os governos são responsabilizados quando (a inflação) está nas alturas, por isso é razoável esperar que tentem ganhar algum crédito quando ela cai — e caiu."

"O cenário econômico mais amplo também parece um pouco mais promissor."

·        Como os partidos se comparam nas pesquisas?

As últimas pesquisas de opinião sugerem que o Partido Conservador, de Sunak, está muito atrás do seu principal adversário, o Partido Trabalhista.

Na verdade, esse tem sido o cenário dos últimos 12 meses, com os trabalhistas consistentemente acima dos 40% das intenções de voto nas sondagens.

É claro que as pesquisas de intenção de votos podem estar erradas, e Sunak espera que a recente desaceleração da inflação e o foco nas plataformas políticas dos partidos ajudem os conservadores a reverter a situação.

Mas os trabalhistas seguem bem na frente nas pesquisas.

O Reform UK, partido de direita radical anti-imigração, está em terceiro lugar — mas como seu apoio está distribuído uniformemente por todo o país, pode ser difícil transformar esse apoio em assentos no Parlamento.

O Liberal Democrata, que já foi o terceiro maior partido do país, tem registrado, de forma consistente, cerca de 10% da preferência do eleitorado, em média. Mas espera que, ao se concentrar nos assentos que tem como alvo, possa obter ganhos no que diz respeito às eleições.

·        O que vai acontecer com o plano de Sunak para Ruanda?

A princípio, Rishi Sunak havia prometido começar a enviar alguns solicitantes de asilo para Ruanda antes das eleições gerais. Ele fez da implementação desse plano uma prioridade fundamental do seu mandato, argumentando que isso impediria as pessoas de cruzar o Canal da Mancha em pequenos barcos.

Mas depois de convocar eleições antecipadas, ele resolveu suspender a implementação do plano, e disse que o programa vai ter início se ele for reeleito em 4 de julho.

O Partido Trabalhista prometeu acabar com o plano se chegar ao poder, levantando questionamentos sobre se alguém será enviado.

O programa, que já custou 240 milhões de libras, tem sido uma linha divisória importante entre os dois principais partidos durante a campanha eleitoral.

·        Quem são os principais candidatos?

Os dois partidos que devem obter a maior parte dos votos são o Partido Conservador, no poder, e o Partido Trabalhista.

O primeiro-ministro, Rishi Sunak, de 44 anos, lidera o Partido Conservador. Ele tinha 42 anos quando se tornou primeiro-ministro em 2022, o que faz dele a pessoa mais jovem à frente do cargo nos tempos modernos. Ele também é o primeiro britânico-indiano a ser primeiro-ministro.

O líder do Partido Trabalhista é Keir Starmer, de 61 anos. Ele foi eleito em 2020 para suceder Jeremy Corbyn na liderança do partido. Anteriormente, foi chefe do Crown Prosecution Service (CPS), o Ministério Público do Reino Unido.

·        O que aconteceu com o Parlamento e os parlamentares antes das eleições?

O primeiro-ministro pediu formalmente ao rei Charles 3° que "dissolvesse" o Parlamento — termo oficial para fechá-lo antes de uma eleição.

O Parlamento foi dissolvido no dia 30 de maio.

Com isso, os parlamentares perderam seu status, e para continuar na função, teriam que concorrer à reeleição.

Mais de 100 disseram que não concorreriam.

O governo também entrou num período pré-eleitoral, que restringe a atividade ministerial e de repartições durante a campanha.

·        O que acontece depois que os resultados das eleições são anunciados?

Após a contagem dos votos, o rei pede ao líder do partido com mais parlamentares que se torne primeiro-ministro e forme um governo.

O líder do partido com o segundo maior número de parlamentares se torna o líder da oposição.

Se nenhum partido alcançar maioria — o que significa que não é capaz de aprovar uma legislação apenas com seus próprios parlamentares —, o resultado levaria ao chamado Parlamento em suspenso (hung Parliament).

Neste momento, o maior partido pode decidir formar um governo de coalizão com outro partido ou operar como um governo minoritário, contando com os votos de outros partidos para aprovar qualquer projeto de lei.

 

Fonte: BBC News Mundo

 

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