O que esperar das negociações entre Putin e
Modi em Moscou
A Rússia aguarda com
expectativa uma "visita muito importante e em grande escala, significativa
para as relações russo-indianas", sublinhou o porta-voz do Kremlin, Dmitry
Peskov, em entrevista antes da chegada do primeiro-ministro Narendra Modi a
Moscou.
A última vez que o
chefe do governo indiano esteve na Rússia foi em 2019, quando foi para a cidade
de Vladivostok, no Extremo Oriente. A última viagem de Modi a Moscou foi em
2015. A 21ª Cúpula Índia-Rússia foi realizada em 2021.
A Rússia é um país que
continua a ser muito importante para o envolvimento da Índia na Eurásia, para
além da relação estratégica bilateral abrangente que os dois lados estão
desenvolvendo, disse à Sputnik o dr. Raj Kumar Sharma, pesquisador sênior do
NatStrat, um think tank com sede em Nova Deli.
Em um cenário
geopolítico em que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) continua
alimentando o conflito na Ucrânia, o conflito israelo-palestino continua
inabalável e as eleições se aproximam nos EUA, Modi "escolheu corretamente
visitar a Rússia, destacando a resiliência dos laços Índia-Rússia no meio de
muitas mudanças geopolíticas", notou o especialista.
Na verdade, para Modi,
a viagem a Moscou é uma demonstração da autonomia estratégica da Índia e das
suas próprias ambições como líder do mundo não ocidental. Para Putin, as
conversações estão em linha com uma sucessão de reuniões recentes com líderes
do Sul Global, simbolizando o pivô em direção a uma nova ordem mundial.
Modi chega a Moscou na
tarde desta segunda-feira (8) e será recebido com um jantar privado oferecido
pelo presidente russo e, na sequência, tomam lugar as discussões formais da
cúpula, seguida de reunião com a comunidade indiana em Moscou na terça-feira (9)
e visitas oficiais a parques e monumentos russos. Ao final, como de praxe,
serão anunciados os documentos resultantes da visita, sendo um deles um acordo
há muito esperado no setor de defesa.
Segundo as assessorias
dos líderes, Modi e Putin devem rever toda a gama de laços multifacetados entre
os seus países, "incluindo defesa, comércio, investimento, cooperação
energética, ciência e tecnologia, educação, cultura e intercâmbios interpessoais,
entre outros", observou o secretário de Relações Exteriores da Índia,
Vinay Kwatra, saudando o fato de a "parceria estratégica privilegiada
especial" entre os dois países ter permanecido "resiliente na
sequência de múltiplos desafios geopolíticos".
"O comércio
bilateral Índia-Rússia registrou um aumento acentuado em 2023-2024. Desde
então, atingiu perto de US$ 65 bilhões [cerca de R$ 354,9 bilhões],
principalmente devido à forte cooperação energética entre os países",
ressaltou o alto diplomata indiano.
Para além da parceria
em segurança e defesa energética no setor nuclear, o secretário indiano afirmou
que o reforço da cooperação em projetos como o Corredor Internacional de
Transporte Norte-Sul, o Corredor Marítimo Chennai-Vladivostok e o porto de Chabahar,
deverá figurar com destaque nas conversações entre Modi e Putin em um cenário
em que as trocas em moedas nacionais se ampliam diante da desdolarização.
Em junho deste ano, a
Rússia enviou pela primeira vez, já como parte de sua mudança dos fluxos
comerciais da Europa para a Ásia e o Oriente Médio, dois trens de carga com
carvão para a Índia através do Corredor Internacional de Transporte Norte-Sul —
que se estende por 7.200 quilômetros de São Petersburgo até o porto de Mumbai,
na Índia, lembrou o dr. Raj Kumar Sharma.
Quando questionado
sobre as sanções do Ocidente contra a Rússia, ele observou que Nova Deli tem
tido o cuidado de aderir às sanções da ONU, mas no que diz respeito às sanções
do G7 (grupo composto por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão
e Reino Unido), "temos mantido contatos muito regulares com o G7,
essencialmente para proteger e fazer progredir nosso interesse nacional e as
nossas necessidades quando se trata dos nossos interesses econômicos e
políticos".
Após o início da
operação militar especial da Rússia na Ucrânia, os países ocidentais reduziram
enormemente as suas compras de petróleo e gás russos, em uma medida que
pretendia, mas falhou, paralisar a economia russa. A Índia, no entanto, viu as
suas importações de petróleo russo dispararem. As importações de petróleo russo
pelo país cresceram dez vezes em apenas 2023.
No setor de defesa, a
Rússia continua a ser o principal fornecedor de armas da Índia, sendo
responsável por 36% das suas importações de armas. Os dois lados continuam a
implementar projetos da indústria de defesa focados na cooperação tecnológica.
Além disso, na cúpula de Moscou, é provável que as partes assinem um Acordo de
Troca Recíproca de Logística entre a Rússia e a Índia que melhore a cooperação
militar entre eles.
Aplicável durante
missões em tempos de guerra e em tempos de paz, o acordo vai:
Facilitar a reposição
de abastecimentos essenciais (combustível, comida e peças sobressalentes) para
permitir uma presença militar contínua em regiões cruciais;
Fornecer instalações
de atracação (para tropas, navios de guerra e aeronaves);
Oferecer à Índia um
alcance marítimo mais alargado, incluindo o Ártico;
Equilibrar os acordos
logísticos da Índia com os países do Quad, reforçando ao mesmo tempo a presença
da Rússia no Indo-Pacífico.
A Rússia e a Índia
também esperam implementar viagens mútuas sem visto até o final de 2024, além
do anúncio da abertura de mais dois consulados indianos na Rússia.
¨ Lula exige participação de 'ambas as partes' na solução do
conflito Rússia-Ucrânia
Na cúpula de chefes de
Estado do Mercosul, realizada em Assunção, no Paraguai, o presidente
brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), afirmou que a solução para o
conflito entre a Rússia e a Ucrânia só pode ser alcançada com a participação de
ambos os lados.
"Precisamos de um
mundo de paz. Essa é a razão do nosso engajamento em prol de uma solução para o
conflito entre Rússia e Ucrânia que efetivamente envolva as duas partes."
Em uma breve análise
do cenário internacional, Lula também destacou que o Brasil apoia a petição da
África do Sul perante a Corte Internacional de Justiça (CIJ) para "pôr fim
à matança de mulheres e crianças em Gaza".
Os confrontos na
região da Faixa de Gaza se intensificaram em 7 de outubro de 2023 e, desde
então, Israel matou mais de 35 mil palestinos, em resposta aos ataques do grupo
Hamas.
Além disso, o petista
celebrou os resultados das eleições recentes no Reino Unido e na França, com
suas coalizões de esquerda saindo triunfantes nos respectivos pleitos.
"São fundamentais
para a defesa da democracia e da justiça social frente às ameaças do extremismo",
afirmou o presidente brasileiro.
Ele enfatizou que os
desafios enfrentados pela humanidade exigem, mais do que nunca, esforços
coletivos e propostas inovadoras, defendendo que o Mercosul seja um agente que
promove soluções.
¨ Jornalista irlandês: há quem queira evitar a paz na Ucrânia a
todo o custo
A Organização do
Tratado do Atlântico Norte (OTAN) não permitirá que a paz seja alcançada na
Ucrânia porque isso não é do interesse da aliança, escreveu na rede social X o
jornalista irlandês Chay Bowes.
"A paz assusta
mais a OTAN do que a guerra. É por isso que a aliança continua existindo 33
anos após o desaparecimento da União Soviética, que foi a razão de sua
existência e criação. E é por isso que a paz na Ucrânia será evitada [na OTAN]
a todo o custo", escreveu ele.
Anteriormente, o
porta-voz do presidente russo, Dmitry Peskov, observou que os países da OTAN
estão deliberadamente entrando em uma nova rodada de tensão, provocando a
Ucrânia "a continuar a guerra sem sentido". Segundo ele, isso terá
inevitavelmente suas consequências e acabará sendo muito prejudicial aos
interesses dos países que optaram por escalar o conflito.
Moscou tem
repetidamente enfatizado que não representa ameaça para nenhum dos países da
Aliança Atlântica, mas não ignorará ações potencialmente perigosas para seus
interesses.
¨ 'Abordagem realpolitik' de Orbán às conversações com Putin
enfurece belicistas da EU, diz analista
O primeiro-ministro
húngaro, Viktor Orbán, teria irritado os falcões da União Europeia (UE) porque
contrariou a sua afirmação de que "não se pode negociar com Putin",
disse Ulrich Reitz, correspondente-chefe da FOCUS Online.
Houve um clamor de
críticas na liderança da UE depois que o primeiro-ministro húngaro visitou a
Rússia para falar com o presidente Vladimir Putin.
Ao voar para a Rússia
em uma missão pessoal para se encontrar com o presidente Vladimir Putin, Orbán
provou que é apenas "natural e óbvio que se possa falar com Putin",
observou o jornalista Ulrich Reitz na sua coluna "Reitz-Thema".
De acordo com o
jornalista, pessoas como a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der
Leyen, ou o chanceler alemão, Olaf Scholz, estão furiosas, depois de a UE ter
laboriosamente costurado "uma estratégia única, que afirma que não há
alternativa ao apoio militar à Ucrânia". A estratégia da UE surge após
pressão dos EUA, como líder da Organização do Tratado do Atlântico Norte
(OTAN), continuou.
No entanto, a viagem
espontânea de Orbán constituiu um obstáculo aos trabalhos da UE. A posição do
governo alemão ou de von der Leyen "não nos aproximou nem um milímetro da
paz até agora", destacou Reitz, acrescentando em sua análise que o esforço
de Orbán "valeu a pena tentar".
A UE e Scholz
enfatizaram que o líder húngaro não tinha mandato para a viagem, mas Orbán
nunca afirmou que estava em outra coisa que não fosse uma missão pessoal,
observou Reitz.
"Ele só está
fazendo o que anunciou há dois anos. Naquela época, Viktor Orbán se ofereceu
como mediador da União Europeia", disse Reitz, acrescentando que a Hungria
está mais próxima da Rússia do que os países da Europa Ocidental.
Reitz considera
incompreensíveis as críticas da UE à viagem de Orbán, sublinhando que um chefe
de governo europeu experiente no seu quinto mandato, que também é "ouvido
na Rússia", poderia "nos trazer um passo para mais perto da
paz".
Orbán, que é visto
como "a ovelha negra da UE", segue uma "abordagem realpolitik
com a sua missão de paz", observou Reitz, acrescentando que ao
"tentar se aproximar da paz [...] não é algo que eu possa considerar
repreensível".
A viagem de Orbán à
Rússia teria desencadeado protestos entre os líderes do bloco europeu, que
alertaram contra o "apaziguamento" de Moscou e afirmaram que o
primeiro-ministro húngaro não falava em nome do bloco.
"O Conselho
Europeu é representado por Charles Michel em termos de política externa — e não
pela Hungria", disse Scholz, se referindo ao presidente do Conselho
Europeu.
Orbán, cujo país acaba
de assumir a presidência rotativa do Conselho da União Europeia, foi o primeiro
líder da UE a visitar Moscou desde abril de 2022. O líder húngaro descreveu a
sua visita a Moscou para falar com o presidente da Rússia na sexta-feira (5)
como uma continuação da sua "missão de paz" depois de uma visita a
Kiev, que teve lugar na terça-feira (2). Os dois líderes discutiram a
cooperação bilateral em diversas áreas, bem como questões internacionais
importantes, incluindo o conflito na Ucrânia.
Orbán afirmou que
pediu a opinião de Putin sobre as propostas de paz de outros países, a
possibilidade de um cessar-fogo antes das conversações de paz e como poderá ser
a arquitetura de segurança da Europa no futuro.
"Ele [Putin]
disse que é óbvio que negociações reais não podem acontecer sem o envolvimento
de ambas as partes. Portanto, o que quer que estejam a fazer sem ele, não
significa nada. O que é bastante lógico, de qualquer forma", disse Orbán.
Após as recentes
conversações com Putin, o primeiro-ministro húngaro afirmou que terá várias
outras reuniões na próxima semana, que seriam "igualmente
surpreendentes".
·
Rússia reagirá ao
envolvimento dos EUA no uso de mísseis na Crimeia, diz MRE
Sergei Lavrov,
ministro das Relações Exteriores russo, sublinhou que Moscou está a par do
"envolvimento direto dos Estados Unidos na seleção de alvos" na
Crimeia.
Os mísseis das Forças
Armadas da Ucrânia não teriam atingido Sevastopol e outras cidades russas sem o
envolvimento direto dos EUA na sua orientação, disse o ministro das Relações
Exteriores da Rússia em comentários sobre o bombardeio da Crimeia e outras regiões
russas por Kiev.
"Sem o
envolvimento direto dos Estados Unidos na seleção de alvos, na preparação de
dados de satélite, esses mísseis não teriam voado para lado algum",
declarou Sergei Lavrov em uma entrevista para o canal russo Rossiya 1.
"Quanto à nossa
reação, o presidente [russo Vladimir Putin] disse que reagiremos, e estou
convencido de que, em um futuro próximo, vocês saberão disso", garantiu
Lavrov.
O ministro das
Relações Exteriores da Rússia notou que a OTAN e os EUA continuam declarando
que não estão participando do conflito com a Rússia. "Eles nem sequer
disfarçam e entendem isso perfeitamente bem", deixou claro o ministro.
·
Ministério da Defesa
russo explica tática de 'carrossel' aplicada contra as forças de Kiev
Os lançadores
múltiplos de foguetes Grad do 1º Exército de Tanques do agrupamento Zapad
(Oeste) estão usando com sucesso a tática de "carrossel" na zona da
operação especial, anunciou o Ministério da Defesa da Rússia.
"As baterias do
agrupamento de tropas Zapad estão disparando contra alvos usando a tática do
'carrossel’: quando uma bateria se posiciona, outra já está recarregando e uma
terceira se move para uma nova posição de tiro", disse o ministério.
Ele explicou que a
mudança frequente de posições permite infligir o máximo de danos ao inimigo e
ficar fora da zona de alcance de seu fogo de artilharia.
"A eficácia do
sistema de lançadores múltiplos de foguetes foi comprovada mais de uma vez. Uma
instalação desse tipo permite cobrir uma área equivalente a vários campos de
futebol e destruir tudo – fortificações, soldados e equipamento militar do inimigo",
detalhou o órgão militar russo.
Fonte: Sputnik Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário