O
argumento contra aumentar número de dias de trabalho presencial no escritório
Um
motivo frequentemente mencionado para justificar o trabalho presencial é que
ele ajuda a incentivar a conexão da equipe.
O
número de empregadores que vêm convocando seus funcionários para trabalhar de
quatro a cinco dias por semana no escritório está aumentando. O argumento se
concentra na importância da colaboração e na sensação de pertencimento – e
alguns líderes acreditam que estes atributos só podem ser promovidos em um
ambiente físico compartilhado.
Há
dados, no entanto, que mostram que a quantidade de dias de comparecimento ao
escritório não apresentam correlação direta com esse sentido de conexão.
Existe
apenas 1% de diferença entre o número de funcionários que se sentem conectados
à sua organização trabalhando presencialmente quatro ou cinco dias por semana e
os que trabalham dois ou três dias no escritório, segundo uma pesquisa global
analisada pela BBC.
E
esta leve diferença foi verificada em favor do último grupo, em que 60% dos
entrevistados se sentem conectados à sua organização. A pesquisa envolveu 1.115
empregados e foi realizada pela Leesman – uma empresa com sede em Londres que
oferece informações sobre o mercado de trabalho.
"Simplesmente
não parece haver muitos ganhos com o número de dias que as pessoas passam no
escritório", segundo Allison English, vice-diretora-executiva da Leesman.
"O
que importa é a qualidade, não a quantidade do tempo", explica ela.
"Na verdade, observamos que, quanto maior o número de dias presenciais,
menor a satisfação geral do funcionário com o equilíbrio entre a vida
profissional e pessoal. Isso prejudica seu engajamento e sua conexão com a
organização."
Existem
evidências de que uma combinação de autonomia e dois a três dias presenciais
por semana incentiva o engajamento dos funcionários e sua conexão com seu
empregador.
Dados
do instituto Gallup indicam que um em cada cinco trabalhadores norte-americanos
pesquisados declarou ter um "melhor amigo" no trabalho. E, em uma
meta-análise de mais de 100 mil locais de trabalho em todo o mundo, o Gallup
concluiu que estes relacionamentos próximos entre funcionários contribuem para
o aumento do desempenho e reduzem a rotatividade.
No
entanto, à medida que os índices de ocupação dos escritórios começam a aumentar
e mais empresas de alto perfil põem fim ao trabalho à distância, English afirma
que os líderes podem passar a exigir cronogramas fixos, por sua relativa
simplicidade.
"Os
patrões têm milhares de outras preocupações, além de saber se alguém está
trabalhando em casa com produtividade", explica ela. "Eles acham mais
fácil gerenciar de cima para baixo e liderar presencialmente."
"Em
uma economia mais lenta, os líderes não querem perder tempo procurando uma
forma de trabalho diferente e mais complexa, até porque muitos deles preferem
padrões de tempo integral no escritório, fazendo uso total dos seus imóveis
corporativos."
Em
muitos casos, os dias presenciais obrigatórios não levam em conta o ritmo
natural das semanas de trabalho dos profissionais, segundo English. Por isso,
eles criam desconexão entre os líderes e os trabalhadores.
"Às
vezes, os funcionários precisam apenas de um tempo de concentração trabalhando
em casa e mantêm o escritório como um local para se conectar ocasionalmente com
as equipes, sem que o empregador estipule em quais dias deve ser feito o
quê", explica ela.
Com
cada vez mais patrões exigindo mais dias de trabalho no escritório, os
profissionais agora passam boa parte dos seus dias de trabalho presencial na
frente das telas de computador, em ambientes de trabalho mal preparados para a
era do trabalho híbrido, em vez de realmente se conectarem com os colegas,
segundo English.
"Muitos
funcionários têm funções que, normalmente, podem ser desempenhadas de forma
remota na maior parte do tempo. O aumento dos dias presenciais faz com que o
tempo de concentração precise ser cumprido em escritórios movimentados, que não
têm cabines de reunião. Os dias de trabalho são ocupados por ligações virtuais,
em ambientes muitas vezes piores do que a privacidade das suas casas."
A
qualidade do tempo presencial também é prejudicada pela necessidade de
"ficar ocupado", diz Tomas Chamorro-Premuzic, professor de Psicologia
Corporativa do University College de Londres.
Os
funcionários passam dias no escritório parecendo ocupados frente a gerentes
desconfiados, que não estão preparados para liderar suas equipes em trabalho
híbrido. Eles imaginam que os profissionais são mais produtivos quando estão
dentro do seu ângulo de visão.
"O
problema é a falta de confiança e a incapacidade de avaliar resultados por
parte do gerente", explica Chamorro-Premuzic. "Isso causa falta de
engajamento e produtividade do lado do funcionário."
Por
outro lado, o funcionário pode se sentir conectado à sua organização
comparecendo ao escritório ocasionalmente. Isso porque é mais provável que ele
sinta que é de confiança e capaz de passar seus dias presenciais colaborando
com a empresa.
"As
pessoas tendem a gostar de mais liberdade e flexibilidade", segundo
Chamorro-Premuzic. "E, de qualquer forma, a maior parte do trabalho dos
profissionais do conhecimento [aqueles que usam principalmente seus
conhecimentos, informações e inteligência para desenvolver seus trabalhos] é
realizada em frente a uma tela de computador, com a 'cultura' da organização
frequentemente transmitida pelos meios digitais, como [as plataformas] Zoom,
Slack e por e-mail."
"Por
isso, ir ao escritório uma ou duas vezes por semana complementa essa cultura
digital com as interações analógicas."
Ao
longo do tempo, a menos que os patrões planejem os dias presenciais com mais
cuidado, pensamento e coordenação, segundo English, os profissionais podem
encontrar outros empregadores mais abertos.
"Se
os funcionários forem microgerenciados e tratados como crianças, eles irão
enfrentar uma sensação de frustração permanente", afirma ela. "Os
melhores irão encontrar novos cargos que sejam mais flexíveis e haverá mais
funcionários de nível médio infelizes, cumprindo as rigorosas exigências."
O
resultado é que, quanto mais os empregadores exigem a volta dos funcionários ao
escritório para criar conexões, mais eles podem acabar criando desconexões.
"O
escritório oferece a oportunidade de ser um fator de conexão incrivelmente
forte como a manifestação física de uma empresa, uma ferramenta para que todos
remem com a mesma cadência, voltados ao mesmo destino", explica English.
"Mas,
sem um pouco de flexibilidade, o risco é que as organizações fiquem com mais
pessoas nas margens, satisfeitas em simplesmente ficarem sentadas no barco,
acompanhando as ondas."
Fonte:
BBC Worklife
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