terça-feira, 9 de julho de 2024

Moisés Mendes: Santa Catarina põe o dedo do bolsonarismo na cara do sistema de Justiça

O fortalecimento mundial da marca do bolsonarismo é só um dos objetivos da aglomeração do fim de semana em Santa Catarina. Essa é a jogada externa, com a ajuda de Javier Milei e outros líderes da região.

A missão interna, enquanto tentam manter viva a ideia da anistia a Bolsonaro e seus parceiros de golpe, é a de afrontar o sistema de Justiça. A Conferência Conservadora em Balneário Camboriú manda o seguinte recado: vocês pegam manés, Zé Trovão e Sergio Reis, mas os manezões estão escapando.

Santa Catarina é, por ostentação, o Estado mais extremista do país. Mas é mais do que isso. É o onde melhor se combinam o poder político e o poder econômico no ativismo bolsonarista.

Não há em São Paulo ou no Rio e em nenhum outro Estado, por excesso de pudor e certa covardia, uma militância explícita da elite econômica pró-fascismo como existe em Santa Catarina. E o verbo aqui não é conjugado no passado. Não é um ativismo que existiu durante o governo de Bolsonaro. Ainda existe.

O evento com Bolsonaro, Tarcísio e Milei é patrocinado por entidades e grupos das mais variadas áreas da economia, e não só do agro pop. Alguns agem descaradamente, outros estão encobertos ou estrategicamente distanciados porque ainda enfrentam investigações como golpistas. Há muito fascista na moita em Santa Catarina.

O triângulo Balneário Camboriú, Brusque e Itajaí e seu entorno reúnem a maior concentração de mobilizadores bolsonaristas por metro quadrado do Brasil. Itajaí teve, ao redor da Capitania dos Portos, o maior acampamento golpista de todo o Brasil depois da eleição de Lula, chegando a reunir mais de 5 mil pessoas.

Em Porto Belo, ali perto, o ministro Luis Roberto Barroso e a família foram corridos da cidade pelo cerco de uma turba, às 4h da madrugada do dia 4 de novembro de 2022, como se participassem de um faroeste.

Em nenhum outro Estado o bloqueio de estradas, para tentar impedir a posse de Lula, foi tão intenso. Só ali grandes empresários fizeram discursos públicos, para claques reunidas em restaurantes, pedindo que os patriotas mantivessem os bloqueios para impedir a volta do comunismo.

O evento da extrema direita acontece no Estado em que mais se multiplicam as células nazistas. Um Estado estigmatizado pelo avanço furioso e destemido da extrema direita.

Um estigma construído por eles mesmos, como acontece no evento em Balneário, como forma de imposição do marketing de ideias e ações extremistas. A extrema direita catarinense exibe seus ódios como modelo para o Brasil.

Nenhum outro Estado reuniria centenas de pessoas dispostas a pagar R$ 5 mil para jantar com Bolsonaro no sábado. Porque o poder econômico do Sul, e não só de Santa Catarina, aposta que Bolsonaro ainda é a força inspiradora para a volta dessa turma ao poder.

Todos os envolvidos no evento, mostrando  ou não a cara, estão dizendo a Alexandre de Moraes e ao Ministério Público que um encontro com essa grandiosidade só é possível porque eles continuam a desafiar, com uma base política ainda forte, todo o sistema de Justiça.

O encontro em Santa Catarina tem a função do acinte, para proteger politicamente quem ainda está impune, num reduto de grandes empresários sob investigação por envolvimento com o golpe.

É simples assim. Os catarinenses e seus parceiros sulistas informam ao Supremo que, quanto mais o tempo passa, mais eles se rearticulam. Para advertir que continuarão inalcançáveis e prontos para voltar a fazer o que fizeram até 2022. A Conferência Conservadora de Balneário Camboriú é a copa do mundo da afronta bolsonarista.

•        Jornalistas são atacados em evento com Bolsonaro e Milei em Balneário Camboriú

Durante o congresso de extrema-direita CPAC Brasil, em Balneário Camboriú (SC), a repórter da CNN Isadora Aires foi hostilizada e teve que deixar o local após ser cercada por participantes do evento. Ela estava se preparando para uma transmissão ao vivo quando o incidente ocorreu. A situação foi transmitida ao vivo e interrompeu o evento por alguns minutos.

O apresentador Paulo Vitor Souza tentou minimizar a situação, pedindo que o público se concentrasse no evento, mas foi interrompido por xingamentos contra o presidente Lula. Isadora foi escoltada para fora do local por guardas municipais.

A CNN se manifestou, afirmando que Isadora foi hostilizada durante o exercício de sua atividade profissional e precisou ser retirada para um ambiente seguro. A emissora destacou o profissionalismo da repórter e condenou a hostilidade como uma ameaça à democracia e à liberdade de expressão.

Esse não foi o primeiro incidente de hostilidade contra jornalistas no evento. No dia anterior, Pedro Augusto Figueiredo, do Estadão, foi empurrado e seguido após questionar Michelle Bolsonaro sobre o indiciamento de Jair Bolsonaro no caso das joias.

•        Bolsonaro confessa que pressentia que algo iria acontecer no dia 8 de janeiro de 2023

O ex-presidente Jair Bolsonaro, que foi indiciado nesta semana como ladrão de joias pela Polícia Federal e como falsificador do cartão de vacina contra a Covid-19, praticamente confessou sua participação na tentativa de golpe de estado de 8 de janeiro de 2023, quando uma horda de extrema-direita depredou a Praça dos Três Poderes.

Ao participar de um encontro de lideranças fascistas em Balneário Camboriú, Bolsonaro disse que se exilou durante três meses nos Estados Unidos, logo após sua derrota para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, porque "pressentia" que algo iria ocorrer. Na realidade, Bolsonaro está prestes a ser indiciado como líder da gangue que tentou destruir a democracia brasileira.

•        Indiciado como ladrão de joias, Bolsonaro aposta em Kassio Nunes e André Mendonça para reverter sua inelegibilidade

Durante o encerramento do primeiro dia da Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC) Brasil, encontro de lideranças fascistas do Brasil e de outros países, o ex-presidente Jair Bolsonaro afirmou que não recuará frente às investigações que o envolvem. Apesar de estar atualmente inelegível até 2030 por abuso de poder político e econômico, ele expressou otimismo quanto a mudanças no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e a formação de uma forte bancada parlamentar, elementos que considera essenciais para um "futuro melhor". Bolsonaro colocou suas esperanças em Kássio Nunes, seguindo a recente substituição de Alexandre de Moraes por André Mendonça no TSE, indicado ao Supremo Tribunal Federal (STF) por ele mesmo.

"Temos eleições neste ano, votem com a razão e não com o coração ou emoção. Porque a composição do TSE vai mudar, já mudou, se tivermos uma grande bancada em 2026 pode ter certeza que a gente faz pelo Parlamento, não pela canetada, uma história melhor para todos nós", disse ele.

A Polícia Federal entregou nesta sexta-feira ao Supremo Tribunal Federal o relatório da investigação que indiciou Bolsonaro e mais 11 pessoas no caso das joias sauditas, informou a Agência Brasil. A entrega foi realizada pessoalmente por representantes da corporação no protocolo de processos da Corte. O inquérito detalha o funcionamento de uma organização criminosa que teria sido estabelecida para desviar e vender presentes de autoridades estrangeiras durante o governo Bolsonaro. Entre os indiciados estão figuras próximas ao ex-presidente, como o tenente-coronel Mauro Cid e seu pai, o general de Exército Mauro Lourenna Cid, além dos advogados Fábio Wajngarten e Frederick Wassef.

•        Tarcisio chama Bolsonaro, indiciado como ladrão de joias, de professor

"Quanta inspiração, quanto sacrifício", disse Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo, durante a abertura da Cpac (Conferência de Ação Política Conservadora) em Balneário Camboriú (SC), neste sábado (6), segundo reportagem da Folha de S. Paulo. Tarcísio destacou o ex-presidente Jair Bolsonaro como líder da direita no Brasil, classificando-o como "professor" e mencionando Deus, orações e o Espírito Santo como essenciais para o progresso do país. Ele enfatizou: "Esse ano a gente começa a construir 2026", sugerindo o início da preparação para as eleições presidenciais daquele ano.

Nesta semana, Bolsonaro foi indiciado pela Polícia Federal (PF) no caso das joias sauditas. A PF entregou ao Supremo Tribunal Federal (STF) o relatório de investigação que apurou o funcionamento de uma organização criminosa para desviar e vender presentes de autoridades estrangeiras durante o governo Bolsonaro. Entre os indiciados estão o tenente-coronel Mauro Cid, o pai dele, general de Exército Mauro Lourenna Cid, Osmar Crivelatti e Marcelo Câmara, ex-ajudantes de ordens de Bolsonaro, além de Fábio Wajngarten e Frederick Wassef, advogados do ex-presidente, acusado de peculato, ou seja, de roubo.

Tarcísio é visto como o principal nome da direita para a eleição presidencial de 2026, especialmente após Bolsonaro ter sido declarado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) até 2030 devido a ataques e mentiras sobre o sistema eleitoral. Bolsonaro, que governou o Brasil de 2019 a 2022, perdeu a reeleição para Lula (PT), um acontecimento inédito entre presidentes que disputaram a reeleição no cargo. Durante seu mandato como ministro da Infraestrutura de Bolsonaro, Tarcísio apoiou a postura negacionista do ex-presidente em relação à pandemia de coronavírus e esteve presente em polêmicas, como a live onde Bolsonaro riu ao comentar um suposto aumento de suicídios durante a pandemia.

A quinta edição da Cpac Brasil tem como objetivo fortalecer a aliança entre o bolsonarismo e movimentos fascistas de outros países. O evento conta com a presença de Bolsonaro e do presidente argentino Javier Milei, entre outras figuras de destaque da direita latino-americana e europeia. Representantes de partidos europeus, como o Chega! de Portugal e o Grupo de Conservadores e Reformistas do Parlamento Europeu, também estarão presentes. Ambiciosa, a organização do evento chegou a convidar o ex-presidente americano Donald Trump, sem sucesso.

•        'Balneário Camboriú precisa de limpeza espiritual após encontro de terraplanistas', diz Paulo Teixeira

O ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, foi às redes sociais neste domingo (7) criticar a Conferência da Ação Política Conservadora (CPAC) Brasil, que ocorre neste final de semana na cidade catarinense de Balneário Camboriú.

O titular da pasta classificou em postagem na rede social X (antigo Twitter) a reunião da extrema-direita regional como um "encontro de celerados, terraplanistas, negacionistas". "O balneário de Camboriú em Santa Catarina, já foi melhor frequentado. Sediou, neste final de semana, um encontro de celerados, terraplanistas, negacionistas. A cidade precisa de uma limpeza espiritual, a favor dos legítimos frequentadores do balneário", escreveu o ministro.

A CPAC Brasil, anunciada como o primeiro grande comício de oposição na campanha para as eleições municipais de outubro, também serviu para unir líderes de extrema-direita nas Américas, com a presença de Jair Bolsonaro, o presidente argentino, Javier Milei, e do ex-candidato presidencial chileno José Antonio Kast.

•        Mais de 60% dos eleitores não votariam em candidato apoiado por Bolsonaro em SP, diz Datafolha

Segundo levantamento do Datafolha, mais de 60% dos eleitores na capital paulista descartam a possibilidade de apoiar candidatos a prefeito que recebam o respaldo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Em contrapartida, a rejeição a um candidato apoiado pelo presidente Lula (PT) é menor, atingindo 45% dos eleitores.

Por outro lado, 23% dos entrevistados declararam que votariam sem dúvida em um candidato apoiado por Lula, enquanto 28% considerariam essa alternativa. Em relação a Bolsonaro, 16% dos eleitores afirmaram que votariam com certeza em um candidato por ele indicado. O registro desta pesquisa na Justiça Eleitoral é identificado pelo número SP-01178/2024.

Na cidade de São Paulo, o deputado federal e pré-candidato Guilherme Boulos (PSOL) conta com o apoio do ex-presidente Lula, enquanto Bolsonaro inclina-se a apoiar o atual prefeito e pré-candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB). Ambos estão em um empate técnico, de acordo com outra pesquisa do instituto, como mostra essa matéria da Fórum.

Entre os dias 2 e 4 de julho, foram conduzidas 1.092 entrevistas em toda a cidade de São Paulo para a pesquisa mais recente, que possui uma margem de erro de três pontos percentuais para mais ou para menos e um nível de confiança de 95%, segundo o Datafolha. 

Ao todo, 36% dos residentes de São Paulo acreditam que Ricardo Nunes receberá o apoio de Bolsonaro, enquanto 11% mencionam que o coach Pablo Marçal, pré-candidato pelo PRTB, será o escolhido pelo ex-presidente. Mais da metade dos eleitores na cidade de São Paulo indicaram estar dispostos a alterar seu voto para prefeito caso o candidato seja apoiado por um político que rejeitam.

O instituto revela que 56% do eleitorado paulistano consideraria mudar seu voto nessas circunstâncias. Outros 41% afirmaram que não alterariam sua escolha, enquanto 2% não souberam responder. Em março deste ano, 42% dos entrevistados rejeitavam o candidato recomendado por Lula, enquanto 68% rejeitavam o candidato apoiado por Bolsonaro.

<><> Nunes e a crise com aliados

Herdeiro do mandato deixado pelo tucano Bruno Covas, vítima de um câncer em maio de 2021, Ricardo Nunes (MDB) tem ficado cada dia mais isolado em sua candidatura de extrema-direita, com tímido apoio de Jair Bolsonaro (PL), na capital paulista.

Após o "coach" Pablo Marçal (PRTB) implodir a base bolsonarista e surrupiar boa parte das intenções de votos, Nunes agora enfrenta um possível abandono do União Brasil. A sinalização foi feita pelo veterano Milton Leite (União), presidente e líder do governo na Câmara Municipal de São Paulo, que afirmou que está aberto a conversar com Marçal, José Luiz Datena (PSDB), Tabata Amaral (PSB) e até mesmo com Guilherme Boulos (PSOL), candidato de Lula que está à frente das pesquisas.

Em entrevista ao jornal O Globo, Leite disse que o prefeito "sabe das dores de cabeça dele", sem dizer a razão do afastamento, e se mostrou "aberto" a negociar com "todas as opções que estão na mesa".

"Reafirmo meu compromisso com o Ricardo Nunes, o União segue no governo Ricardo Nunes, mas o diálogo está aberto e todas as opções estão na mesa", disse Leite. O principal motivo do atrito tem nome: Jair Bolsonaro (PL). Leite teria se desentendido com Nunes após o prefeito ceder a pressão do ex-presidente e aceitar o nome do coronel Mello Araújo, do PL, como vice.

Leite teria se oferecido para o posto e queria, ao menos, que fosse um indicado do União. O acordo entre os dois resultaria na retirada da pré-candidatura de Kim Kataguiri (União), apoiado pela ala ligada ao MBL do partido. A decisão vai ser anunciada no dia 20 de julho durante a convenção do União. Leite pretende ainda arrastar outros 11 partidos de direita com a sigla.

 

Fonte: Brasil 247/Fórum

 

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