Moisés Mendes: Santa Catarina põe o dedo do
bolsonarismo na cara do sistema de Justiça
O fortalecimento
mundial da marca do bolsonarismo é só um dos objetivos da aglomeração do fim de
semana em Santa Catarina. Essa é a jogada externa, com a ajuda de Javier Milei
e outros líderes da região.
A missão interna,
enquanto tentam manter viva a ideia da anistia a Bolsonaro e seus parceiros de
golpe, é a de afrontar o sistema de Justiça. A Conferência Conservadora em
Balneário Camboriú manda o seguinte recado: vocês pegam manés, Zé Trovão e
Sergio Reis, mas os manezões estão escapando.
Santa Catarina é, por
ostentação, o Estado mais extremista do país. Mas é mais do que isso. É o onde
melhor se combinam o poder político e o poder econômico no ativismo
bolsonarista.
Não há em São Paulo ou
no Rio e em nenhum outro Estado, por excesso de pudor e certa covardia, uma
militância explícita da elite econômica pró-fascismo como existe em Santa
Catarina. E o verbo aqui não é conjugado no passado. Não é um ativismo que
existiu durante o governo de Bolsonaro. Ainda existe.
O evento com
Bolsonaro, Tarcísio e Milei é patrocinado por entidades e grupos das mais
variadas áreas da economia, e não só do agro pop. Alguns agem descaradamente,
outros estão encobertos ou estrategicamente distanciados porque ainda enfrentam
investigações como golpistas. Há muito fascista na moita em Santa Catarina.
O triângulo Balneário
Camboriú, Brusque e Itajaí e seu entorno reúnem a maior concentração de
mobilizadores bolsonaristas por metro quadrado do Brasil. Itajaí teve, ao redor
da Capitania dos Portos, o maior acampamento golpista de todo o Brasil depois
da eleição de Lula, chegando a reunir mais de 5 mil pessoas.
Em Porto Belo, ali
perto, o ministro Luis Roberto Barroso e a família foram corridos da cidade
pelo cerco de uma turba, às 4h da madrugada do dia 4 de novembro de 2022, como
se participassem de um faroeste.
Em nenhum outro Estado
o bloqueio de estradas, para tentar impedir a posse de Lula, foi tão intenso.
Só ali grandes empresários fizeram discursos públicos, para claques reunidas em
restaurantes, pedindo que os patriotas mantivessem os bloqueios para impedir a
volta do comunismo.
O evento da extrema
direita acontece no Estado em que mais se multiplicam as células nazistas. Um
Estado estigmatizado pelo avanço furioso e destemido da extrema direita.
Um estigma construído
por eles mesmos, como acontece no evento em Balneário, como forma de imposição
do marketing de ideias e ações extremistas. A extrema direita catarinense exibe
seus ódios como modelo para o Brasil.
Nenhum outro Estado
reuniria centenas de pessoas dispostas a pagar R$ 5 mil para jantar com
Bolsonaro no sábado. Porque o poder econômico do Sul, e não só de Santa
Catarina, aposta que Bolsonaro ainda é a força inspiradora para a volta dessa
turma ao poder.
Todos os envolvidos no
evento, mostrando ou não a cara, estão
dizendo a Alexandre de Moraes e ao Ministério Público que um encontro com essa
grandiosidade só é possível porque eles continuam a desafiar, com uma base
política ainda forte, todo o sistema de Justiça.
O encontro em Santa
Catarina tem a função do acinte, para proteger politicamente quem ainda está
impune, num reduto de grandes empresários sob investigação por envolvimento com
o golpe.
É simples assim. Os
catarinenses e seus parceiros sulistas informam ao Supremo que, quanto mais o
tempo passa, mais eles se rearticulam. Para advertir que continuarão
inalcançáveis e prontos para voltar a fazer o que fizeram até 2022. A
Conferência Conservadora de Balneário Camboriú é a copa do mundo da afronta
bolsonarista.
• Jornalistas são atacados em evento com
Bolsonaro e Milei em Balneário Camboriú
Durante o congresso de
extrema-direita CPAC Brasil, em Balneário Camboriú (SC), a repórter da CNN
Isadora Aires foi hostilizada e teve que deixar o local após ser cercada por
participantes do evento. Ela estava se preparando para uma transmissão ao vivo quando
o incidente ocorreu. A situação foi transmitida ao vivo e interrompeu o evento
por alguns minutos.
O apresentador Paulo
Vitor Souza tentou minimizar a situação, pedindo que o público se concentrasse
no evento, mas foi interrompido por xingamentos contra o presidente Lula.
Isadora foi escoltada para fora do local por guardas municipais.
A CNN se manifestou,
afirmando que Isadora foi hostilizada durante o exercício de sua atividade
profissional e precisou ser retirada para um ambiente seguro. A emissora
destacou o profissionalismo da repórter e condenou a hostilidade como uma
ameaça à democracia e à liberdade de expressão.
Esse não foi o
primeiro incidente de hostilidade contra jornalistas no evento. No dia
anterior, Pedro Augusto Figueiredo, do Estadão, foi empurrado e seguido após
questionar Michelle Bolsonaro sobre o indiciamento de Jair Bolsonaro no caso
das joias.
• Bolsonaro confessa que pressentia que
algo iria acontecer no dia 8 de janeiro de 2023
O ex-presidente Jair
Bolsonaro, que foi indiciado nesta semana como ladrão de joias pela Polícia
Federal e como falsificador do cartão de vacina contra a Covid-19, praticamente
confessou sua participação na tentativa de golpe de estado de 8 de janeiro de
2023, quando uma horda de extrema-direita depredou a Praça dos Três Poderes.
Ao participar de um
encontro de lideranças fascistas em Balneário Camboriú, Bolsonaro disse que se
exilou durante três meses nos Estados Unidos, logo após sua derrota para o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva, porque "pressentia" que algo
iria ocorrer. Na realidade, Bolsonaro está prestes a ser indiciado como líder
da gangue que tentou destruir a democracia brasileira.
• Indiciado como ladrão de joias,
Bolsonaro aposta em Kassio Nunes e André Mendonça para reverter sua
inelegibilidade
Durante o encerramento
do primeiro dia da Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC) Brasil,
encontro de lideranças fascistas do Brasil e de outros países, o ex-presidente
Jair Bolsonaro afirmou que não recuará frente às investigações que o envolvem.
Apesar de estar atualmente inelegível até 2030 por abuso de poder político e
econômico, ele expressou otimismo quanto a mudanças no Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) e a formação de uma forte bancada parlamentar, elementos que
considera essenciais para um "futuro melhor". Bolsonaro colocou suas
esperanças em Kássio Nunes, seguindo a recente substituição de Alexandre de
Moraes por André Mendonça no TSE, indicado ao Supremo Tribunal Federal (STF)
por ele mesmo.
"Temos eleições
neste ano, votem com a razão e não com o coração ou emoção. Porque a composição
do TSE vai mudar, já mudou, se tivermos uma grande bancada em 2026 pode ter
certeza que a gente faz pelo Parlamento, não pela canetada, uma história melhor
para todos nós", disse ele.
A Polícia Federal
entregou nesta sexta-feira ao Supremo Tribunal Federal o relatório da
investigação que indiciou Bolsonaro e mais 11 pessoas no caso das joias
sauditas, informou a Agência Brasil. A entrega foi realizada pessoalmente por
representantes da corporação no protocolo de processos da Corte. O inquérito
detalha o funcionamento de uma organização criminosa que teria sido
estabelecida para desviar e vender presentes de autoridades estrangeiras
durante o governo Bolsonaro. Entre os indiciados estão figuras próximas ao
ex-presidente, como o tenente-coronel Mauro Cid e seu pai, o general de
Exército Mauro Lourenna Cid, além dos advogados Fábio Wajngarten e Frederick
Wassef.
• Tarcisio chama Bolsonaro, indiciado como
ladrão de joias, de professor
"Quanta
inspiração, quanto sacrifício", disse Tarcísio de Freitas (Republicanos),
governador de São Paulo, durante a abertura da Cpac (Conferência de Ação
Política Conservadora) em Balneário Camboriú (SC), neste sábado (6), segundo
reportagem da Folha de S. Paulo. Tarcísio destacou o ex-presidente Jair
Bolsonaro como líder da direita no Brasil, classificando-o como
"professor" e mencionando Deus, orações e o Espírito Santo como
essenciais para o progresso do país. Ele enfatizou: "Esse ano a gente
começa a construir 2026", sugerindo o início da preparação para as
eleições presidenciais daquele ano.
Nesta semana,
Bolsonaro foi indiciado pela Polícia Federal (PF) no caso das joias sauditas. A
PF entregou ao Supremo Tribunal Federal (STF) o relatório de investigação que
apurou o funcionamento de uma organização criminosa para desviar e vender
presentes de autoridades estrangeiras durante o governo Bolsonaro. Entre os
indiciados estão o tenente-coronel Mauro Cid, o pai dele, general de Exército
Mauro Lourenna Cid, Osmar Crivelatti e Marcelo Câmara, ex-ajudantes de ordens
de Bolsonaro, além de Fábio Wajngarten e Frederick Wassef, advogados do
ex-presidente, acusado de peculato, ou seja, de roubo.
Tarcísio é visto como
o principal nome da direita para a eleição presidencial de 2026, especialmente
após Bolsonaro ter sido declarado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral
(TSE) até 2030 devido a ataques e mentiras sobre o sistema eleitoral. Bolsonaro,
que governou o Brasil de 2019 a 2022, perdeu a reeleição para Lula (PT), um
acontecimento inédito entre presidentes que disputaram a reeleição no cargo.
Durante seu mandato como ministro da Infraestrutura de Bolsonaro, Tarcísio
apoiou a postura negacionista do ex-presidente em relação à pandemia de
coronavírus e esteve presente em polêmicas, como a live onde Bolsonaro riu ao
comentar um suposto aumento de suicídios durante a pandemia.
A quinta edição da
Cpac Brasil tem como objetivo fortalecer a aliança entre o bolsonarismo e
movimentos fascistas de outros países. O evento conta com a presença de
Bolsonaro e do presidente argentino Javier Milei, entre outras figuras de
destaque da direita latino-americana e europeia. Representantes de partidos
europeus, como o Chega! de Portugal e o Grupo de Conservadores e Reformistas do
Parlamento Europeu, também estarão presentes. Ambiciosa, a organização do
evento chegou a convidar o ex-presidente americano Donald Trump, sem sucesso.
• 'Balneário Camboriú precisa de limpeza
espiritual após encontro de terraplanistas', diz Paulo Teixeira
O ministro do
Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, foi às redes
sociais neste domingo (7) criticar a Conferência da Ação Política Conservadora
(CPAC) Brasil, que ocorre neste final de semana na cidade catarinense de
Balneário Camboriú.
O titular da pasta
classificou em postagem na rede social X (antigo Twitter) a reunião da
extrema-direita regional como um "encontro de celerados, terraplanistas,
negacionistas". "O balneário de Camboriú em Santa Catarina, já foi
melhor frequentado. Sediou, neste final de semana, um encontro de celerados,
terraplanistas, negacionistas. A cidade precisa de uma limpeza espiritual, a
favor dos legítimos frequentadores do balneário", escreveu o ministro.
A CPAC Brasil,
anunciada como o primeiro grande comício de oposição na campanha para as
eleições municipais de outubro, também serviu para unir líderes de
extrema-direita nas Américas, com a presença de Jair Bolsonaro, o presidente
argentino, Javier Milei, e do ex-candidato presidencial chileno José Antonio
Kast.
• Mais de 60% dos eleitores não votariam
em candidato apoiado por Bolsonaro em SP, diz Datafolha
Segundo levantamento
do Datafolha, mais de 60% dos eleitores na capital paulista descartam a
possibilidade de apoiar candidatos a prefeito que recebam o respaldo do
ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Em contrapartida, a rejeição a um candidato
apoiado pelo presidente Lula (PT) é menor, atingindo 45% dos eleitores.
Por outro lado, 23%
dos entrevistados declararam que votariam sem dúvida em um candidato apoiado
por Lula, enquanto 28% considerariam essa alternativa. Em relação a Bolsonaro,
16% dos eleitores afirmaram que votariam com certeza em um candidato por ele indicado.
O registro desta pesquisa na Justiça Eleitoral é identificado pelo número
SP-01178/2024.
Na cidade de São
Paulo, o deputado federal e pré-candidato Guilherme Boulos (PSOL) conta com o
apoio do ex-presidente Lula, enquanto Bolsonaro inclina-se a apoiar o atual
prefeito e pré-candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB). Ambos estão em um
empate técnico, de acordo com outra pesquisa do instituto, como mostra essa
matéria da Fórum.
Entre os dias 2 e 4 de
julho, foram conduzidas 1.092 entrevistas em toda a cidade de São Paulo para a
pesquisa mais recente, que possui uma margem de erro de três pontos percentuais
para mais ou para menos e um nível de confiança de 95%, segundo o Datafolha.
Ao todo, 36% dos
residentes de São Paulo acreditam que Ricardo Nunes receberá o apoio de
Bolsonaro, enquanto 11% mencionam que o coach Pablo Marçal, pré-candidato pelo
PRTB, será o escolhido pelo ex-presidente. Mais da metade dos eleitores na
cidade de São Paulo indicaram estar dispostos a alterar seu voto para prefeito
caso o candidato seja apoiado por um político que rejeitam.
O instituto revela que
56% do eleitorado paulistano consideraria mudar seu voto nessas circunstâncias.
Outros 41% afirmaram que não alterariam sua escolha, enquanto 2% não souberam
responder. Em março deste ano, 42% dos entrevistados rejeitavam o candidato
recomendado por Lula, enquanto 68% rejeitavam o candidato apoiado por
Bolsonaro.
<><> Nunes
e a crise com aliados
Herdeiro do mandato
deixado pelo tucano Bruno Covas, vítima de um câncer em maio de 2021, Ricardo
Nunes (MDB) tem ficado cada dia mais isolado em sua candidatura de
extrema-direita, com tímido apoio de Jair Bolsonaro (PL), na capital paulista.
Após o
"coach" Pablo Marçal (PRTB) implodir a base bolsonarista e surrupiar
boa parte das intenções de votos, Nunes agora enfrenta um possível abandono do
União Brasil. A sinalização foi feita pelo veterano Milton Leite (União),
presidente e líder do governo na Câmara Municipal de São Paulo, que afirmou que
está aberto a conversar com Marçal, José Luiz Datena (PSDB), Tabata Amaral
(PSB) e até mesmo com Guilherme Boulos (PSOL), candidato de Lula que está à
frente das pesquisas.
Em entrevista ao
jornal O Globo, Leite disse que o prefeito "sabe das dores de cabeça
dele", sem dizer a razão do afastamento, e se mostrou "aberto" a
negociar com "todas as opções que estão na mesa".
"Reafirmo meu
compromisso com o Ricardo Nunes, o União segue no governo Ricardo Nunes, mas o
diálogo está aberto e todas as opções estão na mesa", disse Leite. O
principal motivo do atrito tem nome: Jair Bolsonaro (PL). Leite teria se
desentendido com Nunes após o prefeito ceder a pressão do ex-presidente e
aceitar o nome do coronel Mello Araújo, do PL, como vice.
Leite teria se
oferecido para o posto e queria, ao menos, que fosse um indicado do União. O
acordo entre os dois resultaria na retirada da pré-candidatura de Kim Kataguiri
(União), apoiado pela ala ligada ao MBL do partido. A decisão vai ser anunciada
no dia 20 de julho durante a convenção do União. Leite pretende ainda arrastar
outros 11 partidos de direita com a sigla.
Fonte: Brasil
247/Fórum
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