'Lula ainda não se adaptou ao atual
contexto internacional', afirma analista sobre Brasil-África
A relação do Brasil
com a África foi fortalecida significativamente nos primeiros mandatos de Luiz
Inácio Lula da Silva. Ao voltar ao Planalto, ele prometeu retomar a priorização
desses laços. No entanto, segundo analista ouvido pela Sputnik, Lula está tentando
repetir iniciativas do passado que podem não fazer muito sentido no contexto
atual.
A colonização
portuguesa teve um impacto profundo tanto na África quanto no Brasil,
ligando-os através de uma história comum de exploração, evangelização e
escravização.
Países africanos como
Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe compartilham
com o Brasil não apenas a língua portuguesa, mas também influências culturais
na culinária, música, religião e literatura. Autores brasileiros, como Jorge
Amado, são amplamente reconhecidos nesses lugares.
No terceiro governo da
gestão Luiz Inácio Lula da Silva, houve uma promessa de fortalecer esses laços,
entre o Brasil e o continente africano. Contudo analistas reforçam que até o
momento o governo brasileiro não fez movimentos muito significativos.
A diversidade
linguística entre os países lusófonos é notável. Em Angola, 85% da população
fala português fluentemente, enquanto em Moçambique e Guiné-Bissau apenas uma
parcela menor da população domina a língua. A Guiné Equatorial, por sua vez,
integrou o português como língua oficial recentemente, em um movimento
estratégico para se aproximar dos países lusófonos.
Relação diversificada
Segundo especialistas
ouvidos pelo podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, a relação entre o Brasil e a
África vai além dos aspectos culturais e comerciais. Envolve, segundo reforçado
por eles, a cooperação em saúde e agricultura, e a participação popular em
projetos de desenvolvimento, enfrentando também questões ambientais associadas
aos investimentos agrícolas financiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES) e pelo BRICS na África Subsaariana.
A cooperação
energética entre Brasil e África é um dos pilares dessa relação. Carolina
Vasconcelos, que pesquisa a região da África Subsaariana pelo Núcleo de
Avaliação da Conjuntura (NAC), participante do Grupo de Estudo e Pesquisa sobre
Sistema Interamericano de Direitos Humanos (GEP-SIDH), do Núcleo de Direitos
Humanos da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio),
destacou o impacto significativo das iniciativas brasileiras em
biocombustíveis.
"Há
transferências de tecnologias e conhecimentos, como pesquisas e treinamentos
aos países africanos. Por exemplo, o Brasil tem colaborado com Moçambique no
desenvolvimento do programa de produção de etanol, similar ao Proálcool
brasileiro", afirmou Vasconcelos.
Além de Moçambique,
Angola se beneficia dessa parceria, com projetos de produção de biodiesel a
partir de oleaginosas locais. "O Brasil vem desenvolvendo biocombustíveis
em Angola, visando à produção de biodiesel", destacou.
A hidreletricidade é
outra área em que o Brasil tem contribuído significativamente. Projetos de
infraestrutura sustentável são realizados em parceria com empresas brasileiras
de engenharia e construção, como a Odebrecht.
"Empresas
brasileiras têm participado na construção e renovação de usinas hidrelétricas
em diversos países africanos, financiados pelo BNDES, fomentando o
desenvolvimento", disse Carolina. Exemplos notáveis incluem a usina
hidrelétrica de Lauca, em Angola, e a usina de Cahora Bassa, em Moçambique.
• Brasil e África: contexto não é mais o
mesmo
José Ricardo Araújo,
pesquisador da Escola de Guerra Naval e do NAC, compartilhou sua perspectiva
sobre a abordagem de Lula em relação à África.
Segundo Araújo,
"o Lula veio nesse Lula 3 trazendo a África como um grande ponto central,
a retomada das relações com os países africanos", após um "sucessivo
esvaziamento das embaixadas na África" em governos anteriores, que
comprometeu as conquistas dos primeiros mandatos de Lula. Porém, para o
especialista, Lula ainda não se adaptou totalmente ao atual contexto
internacional.
"[No passado]
Saímos de 17 embaixadas para, hoje, nós termos 35, 33 embaixadas e dois
consulados gerais, na verdade. Então acaba que, sim, a África vai fazer parte
do plano central para o Brasil. Mas ao mesmo tempo, o que a gente consegue
perceber é que as iniciativas que estão sendo tomadas em Lula 3 são muito
baseadas num contexto internacional de Lula 1 e 2."
O presidente
brasileiro, na opinião do pesquisador, "está demorando um pouco para
entender que a gente está num contexto internacional diferente, tem novos
atores na região, tem outros atores que estão disputando pelo mercado, estão
disputando pela economia na região, e, às vezes, não faz exatamente sentido
continuar com as estratégias do passado. E é justamente por isso que elas não
têm tanta repercussão."
Ele destaca que as
iniciativas estão, sim, sendo feitas, e cita que, "do ponto de vista de
fóruns multilaterais, o Brasil vem se engajando bastante com países
africanos". Mas o país precisa se adaptar melhor aos novos tempos e
"usar o continente africano para conseguir reestabelecer a credibilidade
internacional que existia em Lula 1 e 2."
"E aí, por
exemplo, do ponto de vista militar, para o Brasil, é muito importante dar
atenção à ZOPACAS [Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul], aos países que
estão no Atlântico Sul e, principalmente, aos países do golfo da Guiné, que o
Brasil possui muita interação. Ao mesmo tempo, para o Brasil é importante ter
uma participação econômica no continente africano."
Em termos de
cooperação agrícola e tecnológica, Araújo explicou que "as parcerias do
Brasil com países africanos giram em torno do intercâmbio de informações e
tecnologia". Ele mencionou projetos específicos, como o "programa
Embrapa ABC Moçambique" e o "projeto Cotton 4 mais Togo,"
ressaltando que esses projetos ajudam a "aumentar sua competitividade no
ponto de vista agrícola e aumentar o seu potencial agroexportador."
Por fim, Araújo
sublinhou a importância das relações históricas entre Brasil e África,
afirmando que "o Brasil divide muitas raízes históricas com diversos
países africanos," o que pode fortalecer as relações culturais e as trocas
entre os países.
"Ao mesmo tempo,
nesse momento da história especificamente, na conjuntura em que nós estamos, o
Brasil está divagando um pouco em conseguir, novamente, ser reconhecido como
líder regional, como já foi no passado."
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Países da CPLP reafirmam compromisso com intercâmbio acadêmico e cultural
Compromisso foi
reafirmado em declaração divulgada após reunião de países membros. Nesta
semana, o Brasil quitou a dívida de 842.638,25 euros (R$ 5,1 milhões) que tinha
junto à comunidade.
A 29ª Reunião
Ordinária do Conselho de Ministros da Comunidade dos Países de Língua
Portuguesa (CPLP), realizada nesta sexta-feira (19), em São Tomé, terminou com
a assinatura da declaração final na qual os países membros reafirmaram o
compromisso com o intercâmbio acadêmico e cultural como forma de conhecimento
mútuo das sociedades.
A reunião contou com a
participação de ministros das Relações Exteriores dos países integrantes da
comunidade, entre eles, o ministro Mauro Vieira.
A declaração afirma
que os ministros apelaram à continuação da concertação entre os Estados-Membros
para promover a certificação cruzada entre cursos de ensino superior e o
lançamento do programa de intercâmbio de estudantes universitários da CPLP
"Frátria", projeto anunciado por Portugal em 2023.
Na declaração, os
países membros também exaltaram o 28º aniversário da fundação da CPLP,
celebrado no último dia 17, e reiteraram seu compromisso com a paz, a
democracia os direitos humanos e a justiça social.
Fundada em 1996, a
CPLP tem nove membros: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau,
Guiné-Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste. A
cada ano, a comunidade deve receber 2,7 milhões de euros (R$ 16,2 milhões),
divididos em cotas pagas pelos Estados membros, embora por vezes ocorram
atrasos no pagamento.
Na quinta-feira (18),
o Brasil quitou sua dívida com a comunidade. Segundo uma auditoria feita em
2021, os atrasos nos pagamentos somavam 842.638,25 de euros (R$ 5,1 milhões). O
país também pagou a cota referente a este ano, no valor de 768.453,68 de euros
(R$ 4,6 milhões), segundo anunciou o Itamaraty, em nota divulgada pelo jornal O
Globo.
• Brasil contorna sanções dos EUA e bate
recorde no comércio com Oriente Médio, incluindo Irã
De acordo com dados da
Apex Brasil, o comércio brasileiro com o Oriente Médio bateu recorde no
primeiro semestre de 2024. Mesmo com as duras sanções aplicadas por Estados
Unidos e Europa, os principais destinos para produtos brasileiros foram
Emirados Árabes Unidos (EAU), Arábia Saudita e Irã.
O valor total
exportado pelas empresas brasileiras nos seis primeiros meses do ano foi de US$
8,8 bilhões (R$ 48,81 bilhões), 25,8% maior que o montante vendido pelo Brasil
em 2023 inteiro.
De acordo com o
levantamento, citado pela coluna de Jamil Chade no UOL, as vendas de açúcares e
melaços para a região cresceram em 91,2% quando comparado ao primeiro semestre
do ano passado, e foram o principal item exportado, correspondendo a quase 20% da
pauta comercial.
Outros produtos com
crescimento expressivo foram café não torrado, carnes bovina e de aves, bagaços
e outros resíduos sólidos, da extração do óleo de soja.
Ainda segundo o
levantamento, o mercado dos Emirados, com aumento nas vendas de 73,9%, foi o
principal destino das exportações brasileiros para o Oriente Médio no primeiro
semestre. Apenas nos seis primeiros meses do ano, as exportações chegaram a US$
2,5 bilhões (R$ 13,87 bilhões).
A relação comercial e
política entre os países do BRICS, como o Irã, tem gerado debates no governo
norte-americano, ressalta o colunista.
Em junho e no começo
de julho, a administração Biden ampliou as sanções e passou a incluir empresas
dos EAU que fazem a triangulação e transporte de comércio de petróleo do
restante do mundo com os iranianos.
Ainda assim, o
comércio brasileiro driblou as barreiras e o aumento das exportações para o
Oriente Médio foi o mais intenso, ainda que a expansão para a África tenha sido
de 21%, de 12% para os Estados Unidos e de 3,9% para a China, o maior destino
das exportações nacionais.
Uma característica que
merece destaque na relação comercial entre Brasília e Abu Dhabi, é a importante
participação dos produtos brasileiros no mercado total dos Emirados em três
principais segmentos da exportação.
No setor de carnes de
aves, o Brasil representa 78% do comércio, 51% em açúcares e melaços e 31% em
carne bovina. Nesses itens, o Brasil é o principal fornecedor do país.
Por fim, o
levantamento aponta que no primeiro semestre do ano, o Brasil vendeu US$ 51
bilhões (R$ 283 bilhões) para os chineses, contra apenas US$ 19,2 bilhões (R$
106,2 bilhões) para o mercado norte-americano e US$ 29 bilhões (R$ 160 bilhões)
para os europeus.
Fonte: Sputnik Brasil
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