sexta-feira, 19 de julho de 2024

José Luis Fiori: Que horas são no relógio de guerra da OTAN?

Existe um sentimento generalizado de que o relógio da guerra está se acelerando, e é cada vez maior o número dos que falam da eminência de uma terceira guerra mundial, que seria nuclear e catastrófica para toda a humanidade. Existem desdobramentos recentes no campo internacional que estão apontando, sem dúvida, nesta direção, a começar pelo avanço das tropas russas dentro do território de Donbass, junto com a convicção cada vez mais ampla de que já não há como reverter a derrota das tropas ucranianas, mesmo com a chegada dos novos armamentos que lhes serão entregue pelos Estados Unidos e seus principais aliados.

Ainda assim, a OTAN segue decidida a impor uma derrota estratégica à Rússia, no campo de batalha, como ficou claro na declaração final da 75ª Reunião Anual da OTAN, realizada em Washington, entre os dias 9 e 11 de julho de 2024. Momento em que a OTAN dobrou sua aposta no enfrentamento, ao anunciar a futura incorporação da Ucrânia na Organização, sabendo que isto representa uma declaração de guerra aberta contra a Rússia. E é por isso quer todos olham neste momento com ansiedade para alguns acontecimentos que podem precipitar este desfecho catastrófico.

Deste ponto de vista, a exposição pública e recente pela televisão norte-americana, da fragilidade física e decrepitude mental do atual presidente norte-americano, colocou lenha na fogueira com a antecipação de sua possível derrota no próximo mês de novembro. Uma data que se transformou imediatamente num deadline extremamente perigoso para o alto comando militar dos Estados Unidos e da OTAN, e para todos os governantes da União Europeia que querem radicalizar seu enfrentamento com a Rússia e temem a volta de Donald Trump, com sua antiga antipatia pela OTAN e pela própria intervenção norte-americana na Ucrânia.

Somem-se a isto as declarações do novo primeiro-ministro britânico, Sir Keir Starmer, que se apressou em garantir aos seus aliados que “está preparado para usar armas nucleares” e que não hesitaria em tomar a iniciativa de ordenar um ataque atômico, se isto fosse do interesse britânico. Uma afirmação assustadora da parte de um governante recém-empossado, quando se sabe que os Estados Unidos e a Inglaterra haviam decidido, no início de 2024, instalar novas armas atômicas americanas no território inglês.

Chama atenção, neste sentido, a rapidez com que o novo ministro de Relações Exteriores inglês, David Lammy, fez sua primeira visita oficial exatamente à Alemanha, onde se concentra a liderança política e ideológica mais agressiva e “russofóbica” da Europa, e onde está sendo instalada a ponta de lança militar do novo “triângulo de ferro” da OTAN, formado pelos Estados Unidos, pela Inglaterra e pela própria Alemanha.

Uma “troika” que foi reforçada pela reeleição da alemã Ursula van der Lyden para mais um mandato na presidência da Comissão Europeia, e pela sua escolha pessoal da nova chefe da Política Externa da EU, Kaja Kallas, ex-primeira-ministra da Estônia – uma espécie de “apêndice báltico” da Alemanha, com um território de 45 mil km2 e apenas um milhão e trezentos mil habitantes. Uma das vozes mais agressivas e belicistas da Europa, atualmente, ao lado da ministra de Relações Exteriores da Alemanha, Annabela Baerbock (que sofreu uma grande derrota nas últimas eleições do Parlamento Europeu).

Um trio, portanto, pouco expressivo dentro da própria Europa, mas que que tem em comum sua posição radicalmente favorável, com pouquíssimos votos, à expansão da guerra da OTAN contra a Rússia. A mesma posição advogada pelo novo secretário geral da OTAN, o ex-primeiro-ministro da Holanda, Mark Rutte, outro belicista cuja candidatura foi patrocinada, desde o primeiro momento, pelos mesmos Estados Unidos, Inglaterra e Alemanha.

Uma nova administração da União Europeia e da OTAN, com figuras pouco representativas que parecem ter sido escaladas para compor uma espécie de “governo fantoche” manejado, em última instância, pela nova tríade que assume o comando da guerra contra a Rússia, sobretudo depois da derrocada do governo francês de Emmanuel Macron. Não é de estranhar, portanto, que a recente Reunião Anual da OTAN tenha vetado qualquer tipo de inciativa de paz na Ucrânia envolvendo a participação russa.

Esta posição belicista e irredutível, sobretudo no caso das duas potências anglo-saxônicas, vem de muito antes de 22 de fevereiro de 2022, e teve papel decisivo no bloqueio das negociações de paz entre a Rússia e a Ucrânia, de março de 2022, na cidade de Istambul; como também no atentado e destruição dos dois gasodutos do Báltico, o North Stream 1 e 2, no dia 26 de setembro de 2022, responsáveis pelo fornecimento do gás russo às economias da Alemanha e do restante da Europa continental.

Assim mesmo, no caso da intolerância norte-americana, sua explicação vem de mais atrás, quando os Estados Unidos formularam sua “Grande Estratégia” para o século XXI, logo depois da sua vitória na Guerra Fria. Entre 1990 e 1997, os Republicanos e os Democratas definiram de forma convergente o novo objetivo global dos Estados Unidos para o novo século: impedir o aparecimento de qualquer potência que fosse capaz de concorrer ou ameaçar o poder americano, em qualquer ponto do mundo.

Uma nova estratégia global que foi a grande responsável pela decisão americana de expandir a OTAN, a partir da década de 90, na direção do Leste Europeu, já com a intenção de conter e impedir qualquer tentativa de ressurgimento ou revanche geopolítica da Rússia.

Foi essa mesma estratégia que embasou a decisão dos Estados Unidos e da OTAN de bombardear a Iugoslávia durante 78 dias, em 1999, sem autorização do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Ali começaram as “guerras sem fim” dos Estados Unidos e da OTAN no Oriente Médio, que já duram 25 anos. E, finalmente, foi em nome desta mesma estratégia de contenção global que os Estados Unidos iniciaram sua operação de mudança de governo e de rearmamento da Ucrânia, em 2014.

A história do “movimento de Maidan” e de seus desdobramentos políticos e militares é bem conhecida e não precisa ser relembrada. Mas existe um fato menos conhecido ou lembrado, essencial para entender a urgência militar dos Estados Unidos e de seus aliados da OTAN: o discurso do presidente russo, Vladimir Putin, pronunciado no dia 1º. de março de 2018, frente à Duma, em Moscou, mas dirigido diretamente a todos os governos do Atlântico Norte.

Naquele momento, Vladimir Putin comunicou ao mundo que a Rússia dispunha de um novo tipo de armamento que estabelecia um verdadeiro “abismo tecnológico” entre a capacidade militar da Rússia e a dos Estados Unidos, e em particular entre seu poder nuclear e de seus vizinhos da OTAN. Foi quando a Rússia deu notícia da produção do seu novo míssil balístico RS-28 Sarmat, com alcance ilimitado e capacidade de mudar sua trajetória; o sistema de asas planadoras hipersônicas de velocidade Mach 20, chamado Avangard; os mísseis cruzadores e aerobalísticos; e o míssel aerobalístico Kinzhal – com alcance de 2.000 quilômetros, lançado por jatos Mig-31BM e que não pode ser detido por qualquer sistema de defesa existente que não seja o próprio sistema russo S-5000. Uma salva de cinco ou seis desses mísseis é capaz de destruir qualquer porta-aviões no mundo.

Um conjunto de armas, portanto, que segundo vários analistas militares, estabeleceu um novo paradigma e uma nova concepção de guerra, responsável pelo sucateamento de boa parte dos arsenais existentes, incluindo os 10 porta-aviões que foram até hoje a peça central do poder naval dos Estados Unidos. E se esses analistas tiverem razão, não está errado afirmar que, a partir dali, a Rússia teria começado a derrubar a hegemonia militar global dos Estados Unidos.

É apenas uma questão de tempo para que os russos logrem instalar seus novos armamentos de forma generalizada, dentro e fora do território russo, e através do seu sistema de submarinos atômicos. Impõe-se, assim, aos Estados Unidos e à OTAN, a necessidade de correr para impedir a consolidação da vantagem tecnológica adquirida pelo seu grande adversário.

Do nosso ponto de vista, foi essa nova realidade militar que fez com que o “Ocidente” apostasse inicialmente no seu poder econômico e sanções financeiras para derrotar a Rússia na Guerra da Ucrânia. E foi o fracasso desse ataque econômico que obrigou as “potências ocidentais” a formularem uma nova estratégia ofensiva capaz de impedir que a Rússia consolide sua liderança militar e atômica dentro da hierarquia do poder mundial.

É neste ponto que se baseia a hipótese que vem sendo formulada com frequência cada vez maior, de que os EUA e a OTAN já têm planejado um first strike atômico contra as instalações nucleares russas. Uma hipótese que explicaria, por sua vez, as dimensões, profundidade e complexidade dos últimos exercícios militares russos com seus mísseis nucleares e táticas que serão utilizadas no caso de um eventual ataque da OTAN, que significaria o fim da Europa tal como a conhecemos.

Não há como verificar ou comprovar estas hipóteses de maneira segura, por razões óbvias, mas são elas que explicam por que os ponteiros do “relógio da guerra mundial” estão se movendo de forma cada vez mais acelerada.

 

¨      Washington e seus aliados exercem o 'egoísmo estratégico' da OTAN para semear crises

Especialistas chineses em geopolítica e relações internacionais disseram ao jornal Global Times que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) age de forma egoísta quando se trata de apontar certos países como supostas ameaças, ao mesmo tempo que fomenta crises globais para sobreviver como bloco militar.

George Robertson, antigo secretário-geral da OTAN e recém-nomeado chefe da revisão da defesa do governo do Reino Unido, chamou a China, a Rússia, o Irã e a Coreia do Norte de alegadas ameaças à ordem global ocidental.

Robertson disse que "estamos perante um quarteto mortal de nações que trabalham cada vez mais em conjunto" e que Londres e os seus aliados da OTAN têm de "ser capazes de enfrentar esse quarteto em particular".

No entanto, a linguagem usada pelos líderes ocidentais contra essas quatro nações apenas reflete "a prática habitual de egoísmo da OTAN", já que a Aliança Atlântica sempre cria crises e desastres como desculpa para a sua própria sobrevivência e força, enquanto transfere conflitos internos para outros, indicaram especialistas ao veículo asiático.

"O egoísmo estratégico é também uma forma típica de os Estados Unidos e outros países ocidentais transferirem conflitos e crises internas para outros", alertou o Global Times.

'Apenas incentiva a Rússia': senador dos EUA revela pior decisão da OTAN em relação à Ucrânia

A decisão da OTAN de prometer a adesão da Ucrânia à Aliança Atlântica, em vez de resolver pacificamente o conflito, é a pior solução possível, disse o senador dos EUA Rand Paul em um artigo no The American Conservative.

"[…] A insistência da OTAN de que a Ucrânia um dia se juntará à aliança apenas incentiva a Rússia a continuar sua agressão. Em vez de trabalhar para alcançar um acordo negociado, a política da OTAN conduzida principalmente pela administração Biden garantirá a continuação da carnificina na Ucrânia", disse o senador.

De acordo com ele, só é possível convidar outros países para o bloco militar se isso aumentar a segurança dos atuais membros. A adesão da Ucrânia fará o oposto e aumentará o risco de uma guerra direta entre a NATO e a Rússia.

Na opinião dele, a guerra contra a Rússia pela Ucrânia não é de interesse dos EUA. O arsenal nuclear da Rússia ultrapassa 5 mil unidades, lembra. "A perspectiva da adesão da Ucrânia à OTAN é a pior solução possível", advertiu Paul.

Na recente cúpula da OTAN, a administração Biden deveria ter tido a coragem de levantar a questão de uma proposta de paz diplomática, acrescentou.

O presidente russo Vladimir Putin observou que a possível adesão da Ucrânia à OTAN é uma ameaça à segurança da Rússia. Ele ressaltou que a chance de Kiev se juntar à aliança foi uma das razões para o início da operação militar especial.

 

Fonte: A Terra é Redonda/Sputnik Brasil

 

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