Felipe
Costa: O capitalismo (infelizmente) é uma ficção
A
semana começou agitada e hoje eu tive uma grande lição de economia política:
devo dizer que amo o capitalismo, pena que as corporações o odeiem tanto.
Penso
e pratico a livre iniciativa desde menino. Uma das minhas primeiras iniciativas
como empreendedor foi por volta de 1970, em plena ditadura. Eu tinha então uns
10-11 anos. Morávamos no Cruzeiro Novo, em Brasília. O comércio local era muito
incipiente e eu decidi entrar no ramo. Comprei doces e balas em uma
distribuidora da Campineira, que ficava na W-3 Sul, e fui revender no Cruzeiro.
Lembro
bem do meu raciocínio inicial. Naquela época, três balas eram
vendidas por algo como 10 centavos. Fiz as contas e percebi que poderia ter
lucro oferecendo quatro balas, com a vantagem adicional de poder atrair
mais consumidores. E foi o que eu fiz. Não deu para ficar rico, como ficaram
ricos os irmãos metralha das Americanas, mas a brincadeira foi adiante.
Os
gigantes do mundo corporativo fazem exatamente o oposto. Veja o comportamento
das big techs (e.g., Amazon, Apple, Facebook, Google e Microsoft): compram ou
esmagam a concorrência. As corporações agem contra a livre iniciativa, pois
elas simplesmente não admitem concorrência. No fim das contas, claro, quem paga
o pato é o consumidor: hoje, em um universo econômico cada vez mais dominado
por monopólios, os meus clientes de outrora não conseguiriam comprar mais do
que uma bala por 10 centavos, ou talvez nem isso.
¨
Ataque contra a moeda
brasileira. Por Paulo Gala
Começamos
o semestre, a semana, o mês, o trimestre e o semestre em um momento bastante
difícil para os ativos financeiros brasileiros e de emergentes. Ao mesmo tempo,
os Estados Unidos tiveram um semestre exuberante nas bolsas, com o Nasdaq
subindo mais de 18%, o S&P 500 subindo 14% e o Dow Jones, que representa a
velha economia, subindo quase 4%.
No
entanto, a Bovespa está na contramão, caindo 7,6% no ano, apesar de um mês de
junho um pouco melhor, com alta de 1,4%. A Bovespa subiu 2% na semana, enquanto
o real se desvalorizou 15% no ano, sendo uma das piores moedas, perdendo apenas
para o iene japonês. Outras moedas emergentes, como o peso mexicano, o peso
colombiano, o peso chileno e a lira turca, também estão se desvalorizando.
Apesar
do bom momento da economia brasileira, com crescimento de 2,5%, desemprego em
7,1%, inflação convergindo e reservas elevadas, o mercado está muito preocupado
com a trajetória futura do arcabouço fiscal, como o governo fechará as contas e
quem será o próximo presidente do Banco Central.
O
mercado está comprando dólares e enviando recursos para fora do Brasil, o que
começa a ter consequências concretas, como o aumento da inflação e a
possibilidade de o Banco Central não cortar mais os juros. Hoje, a curva de
juros já projeta um aumento de quase 1% na taxa Selic até o final do ano.
Existe
uma crise de confiança, um ataque especulativo, no sentido de que há uma
expectativa muito negativa, resultando em estratégias de defesa dos portfólios.
O governo deveria apresentar um plano crível de como o arcabouço fiscal será
sustentável e, eventualmente, o Banco Central poderia intervir. Apenas a
intervenção do Banco Central, sem um anúncio de medidas fiscais mais críveis,
poderia ser um gasto desnecessário de reservas. Seria ideal uma ação combinada
do Tesouro e do Banco Central para mostrar que o arcabouço é viável.
A
arrecadação de junho está bem, com alta de receita, o que pode fechar as
contas. No entanto, isso não tem sido suficiente para acalmar o mercado. Além
disso, as moedas latino-americanas têm sofrido, especialmente as de países com
governos menos pró-mercado, como o México e a Colômbia. A percepção de risco na
América Latina aumentou, com a região sendo vista como mais arriscada em
comparação com outros mercados emergentes.
A
preocupação com os Estados Unidos também influencia, com a taxa de juros de 10
anos perto de 4,50%. Dados da economia americana indicam incerteza sobre quando
os juros serão cortados. Ontem, houve uma escalada dos juros para perto de
4,50%, sacrificando as moedas emergentes, especialmente o real. Apesar disso, a
bolsa brasileira teve um bom desempenho, puxada pelo petróleo acima de 85
dólares e pelo minério de ferro reagindo bem às notícias da China.
Até
que haja corte de juros nos Estados Unidos ou anúncios mais contundentes de
controle de gasto e como o arcabouço fiscal funcionará, esse movimento
continuará. Existem três elementos que poderiam reverter essa trajetória: corte
de juros nos EUA, medidas fiscais críveis no Brasil e intervenção cambial. Nos
próximos dias, teremos muitos dados sobre o mercado de trabalho americano, como
o relatório JOLTS, o ADP e o Payroll, que serão indicadores importantes da
situação econômica nos EUA.
¨
“Há um jogo
especulativo contra o real no país”, avalia Lula
O
presidente Lula (PT) relacionou, na terça-feira (2), às altas dólar nos últimos
dias com um movimento especulativo contra o real. Para contornar o cenário, o
mandatário afirmou que fará uma reunião com auxiliares. Ontem (1), a moeda
norte-americana fechou em R$ 5,65, o maior valor desde janeiro de 2022.
“Obviamente,
me preocupa essa subida do dólar, é uma especulação. Há um jogo especulativo
contra o real no país”, afirmou o presidente, em entrevista à Rádio Sociedade,
em Salvador (BA). “Tenho conversado com as pessoas, [sobre] o que vamos
fazer, estou voltando [para Brasília] na quarta-feira [3], e temos uma reunião.
Não é normal”, acrescentou.
O
presidente explicou ainda que não deve revelar as possíveis soluções para
conter a valorização do dólar. “Temos de fazer alguma coisa. Não posso falar,
senão estou alertando meus adversários. Mas, se pegar dados da economia, vai
perceber que o PIB [Produto Interno Bruto] está crescendo mais do que a
previsão do mercado, o desemprego cai mais do que a previsão do mercado, a
massa salarial cresce mais do que a previsão do mercado”, pontuou.
Na
ocasião, Lula rejeitou ainda a ideia, levantada por especialistas da grande
mídia, de que as subidas do dólar têm relação com suas falas dadas em
entrevista sobre o Banco Central (BC) e o cenário político do país.
“Semana
passada, dei entrevista no Uol. Depois da entrevista, alguns especialistas
falaram que o dólar subiu ‘por conta da entrevista do Lula’. Fomos descobrir
que o dólar tinha subido 15 minutos antes da minha entrevista”, argumentou.
O
petista voltou, inclusive, a criticar a atuação do presidente do BC, Roberto
Campos Neto. “Efetivamente eu acho que ele tem um viés político (…) O Banco
Central é um banco do Estado brasileiro que tem que cuidar da política
monetária. Ele não pode estar a serviço do sistema financeiro. Ele não pode
estar a serviço do mercado”, disse.
Ainda
sobre o mercado, Lula ressaltou que não existem motivos para “terem medo de que
vai acontecer coisa errada”. “É preciso cuidar dos gastos públicos e ninguém
cuidou melhor do que eu”, declarou.
¨
Haddad e economistas
pediram discrição a Lula para evitar aumento da inflação
Após
a alta do dólar nesta terça-feira (02), vista como uma reação do Banco Central
ao governo Lula, interlocutores do presidente teriam alertado a ele para
diminuir o tom das críticas, a fim de evitar uma nova reação, como a alta da
inflação com a continuidade do aumento da moeda norte-americana.
O
noticiário econômico desta terça concentrou-se no disparo da moeda
norte-americana, superando R$ 5,70, como uma falta de atuação do BC, que
poderia usar reservas internacionais para impedir o aumento.
O
presidente do Banco Central, Campos Neto, tem se posicionado contra uma
possível atuação no câmbio, aumentando ainda as especulações financeiras sobre
o real e desvalorizando a moeda brasileira. Como consequência, há aumento da
inflaçao e os preços dos produtos no Brasil aumentam.
Diante
do cenário, o ministro Fernando Haddad, da Fazenda, e um grupo de economistas
conversaram com o presidente Lula, neste final de semana, alertando para conter
o tom das críticas a Campos Neto, com o objetivo de obter do Banco Central uma
atuação para impedir o aumento da inflação.
A
informação foi divulgada por Mônica Bergamo, nesta quarta (03). No encontro,
segundo a nota, o presidente mostrou-se “indignado” com o movimento
especulativo contra o seu governo. Os economistas teriam afirmado a Lula que,
no lugar das críticas, o presidente deve atuar pela proteção econômica de forma
discreta, preservando o salário mínimo, aposentadorias e benefícios sociais.
¨
Robin Brooks alerta
sobre Banco Central e gastos
O
ex-economista-chefe do Instituto Internacional de Finanças (IIF), Robin Brooks,
se tornou uma figura constante na comunidade de investidores no X (ex-Twitter),
conhecida como Fintwit. Brooks é um entusiasta dos crescentes e constantes
superávits comerciais proporcionado pelas commodities, fazendo projeção de uma
taxa de câmbio justa de R$ 4,50 e classificando a economia brasileira como
“Suíça dos trópicos”.
Nos
últimos dias, porém, as postagens de Brooks são mensagens de alerta, para que o
cenário projetado pelo economista se concretiza. “Não faça isto, Brasil”,
finaliza Brooks em uma postagem no qual recomenda à manutenção da independência
do Banco Central e a busca pelo equilíbrio fiscal.
O
pano de fundo são as críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao
presidente do Banco Central (Bacen), Roberto Campos Neto, que também indicam um
provável perfil do indicado para sucedê-lo no comando da autoridade monetária a
partir de janeiro de 2025.
Lula
não está de acordo com a manutenção da taxa Selic em 10,5% decidida na última
reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) em 19 de junho, além de sua
equipe econômica não apresentar um programa de corte de gastos que elimine os
déficits primário e nominal e acabe com a trajetória altista da dívida pública.
As
falas de Lula nos últimos dias apontaram, pelo contrário, uma busca pela
continuidade no ajuste fiscal pelo lado da receita, já esgotado nos primeiros
18 meses de seu terceiro mandato.
Na
avaliação do Copom, a política fiscal expansionista, juntamente com uma
atividade econômica e mercado de trabalho aquecidos acima das projeções, é o
que está deteriorando a expectativa de inflação para 2025 e 2026 acima da meta
de 3% ao ano.
Além
disso, os investidores têm receio de que o próximo presidente do Banco Central,
que será indicado por Lula, possa ser leniente com a inflação e faça vista
grossa com os déficits fiscais, mantendo uma taxa de juros artificialmente
baixa para contemplar o Palácio do Planalto, o que tiraria, na prática, a
autonomia do Banco Central estabelecida em uma lei aprovada pelo Congresso
brasileiro em 2021.
“A
Turquia é um conto de alerta para Brasil”, afirma Brooks ao comparar as
possíveis intenções do atual governo brasileiro com que o governo turco, sob a
liderança do presidente Recep Tayyip Erdogan, fez em março de 2021 ao demitir o
presidente do Banco Central do país para forçar um corte nas taxas de juros.
“O
que se seguiu foi um colapso da lira [moeda turca], hiperinflação e a taxa de
juros da Turquia é atualmente muito maior do que seria sem esse experimento”,
avalia o economista.
“O
Banco Central do Brasil é a âncora da estabilidade, trazendo a inflação [do
Brasil] ao nível dos países desenvolvidos”, diz Brooks, criticando a fala de
Lula de querer “um presidente do Banco Central que não pensa nos mercados”.
“A
maior âncora de estabilidade não é nem [o ex-presidente Jair] Bolsonaro nem
Lula, é um banco central forte e independente. Se começa a desmantelar, tudo
isso desmorona…”, prossegue o economista em outra postagem.
Em
meio às críticas ao presidente Lula, Brooks faz recomendações para que o Brasil
realmente se torne a “Suíça dos trópicos”, abordando que a economia do país é
um exemplo de “contração fiscal expansionista”.
“O
caminho para um crescimento maior do Brasil não é pela expansão fiscal e mais
dívida. Brasil já tem a maior taxa de juros dos títulos de 10 anos entre as
economias emergentes. Se o Brasil reduzisse sua dívida, taxas de juros cairiam
e a economia teria um boom. Uma contração fiscal expansionista…”, avalia
Brooks, que aponta ser essa uma oportunidade à economia brasileira ao invés de
focar esse quadro como um problema.
Fonte:
Jornal GGN/ Investing.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário