quinta-feira, 4 de julho de 2024

Felipe Costa: O capitalismo (infelizmente) é uma ficção

A semana começou agitada e hoje eu tive uma grande lição de economia política: devo dizer que amo o capitalismo, pena que as corporações o odeiem tanto.

Penso e pratico a livre iniciativa desde menino. Uma das minhas primeiras iniciativas como empreendedor foi por volta de 1970, em plena ditadura. Eu tinha então uns 10-11 anos. Morávamos no Cruzeiro Novo, em Brasília. O comércio local era muito incipiente e eu decidi entrar no ramo. Comprei doces e balas em uma distribuidora da Campineira, que ficava na W-3 Sul, e fui revender no Cruzeiro.

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Lembro bem do meu raciocínio inicial. Naquela época, três balas eram vendidas por algo como 10 centavos. Fiz as contas e percebi que poderia ter lucro oferecendo quatro balas, com a vantagem adicional de poder atrair mais consumidores. E foi o que eu fiz. Não deu para ficar rico, como ficaram ricos os irmãos metralha das Americanas, mas a brincadeira foi adiante.

Os gigantes do mundo corporativo fazem exatamente o oposto. Veja o comportamento das big techs (e.g., Amazon, Apple, Facebook, Google e Microsoft): compram ou esmagam a concorrência. As corporações agem contra a livre iniciativa, pois elas simplesmente não admitem concorrência. No fim das contas, claro, quem paga o pato é o consumidor: hoje, em um universo econômico cada vez mais dominado por monopólios, os meus clientes de outrora não conseguiriam comprar mais do que uma bala por 10 centavos, ou talvez nem isso.

 

¨      Ataque contra a moeda brasileira. Por Paulo Gala

Começamos o semestre, a semana, o mês, o trimestre e o semestre em um momento bastante difícil para os ativos financeiros brasileiros e de emergentes. Ao mesmo tempo, os Estados Unidos tiveram um semestre exuberante nas bolsas, com o Nasdaq subindo mais de 18%, o S&P 500 subindo 14% e o Dow Jones, que representa a velha economia, subindo quase 4%.

No entanto, a Bovespa está na contramão, caindo 7,6% no ano, apesar de um mês de junho um pouco melhor, com alta de 1,4%. A Bovespa subiu 2% na semana, enquanto o real se desvalorizou 15% no ano, sendo uma das piores moedas, perdendo apenas para o iene japonês. Outras moedas emergentes, como o peso mexicano, o peso colombiano, o peso chileno e a lira turca, também estão se desvalorizando.

Apesar do bom momento da economia brasileira, com crescimento de 2,5%, desemprego em 7,1%, inflação convergindo e reservas elevadas, o mercado está muito preocupado com a trajetória futura do arcabouço fiscal, como o governo fechará as contas e quem será o próximo presidente do Banco Central.

O mercado está comprando dólares e enviando recursos para fora do Brasil, o que começa a ter consequências concretas, como o aumento da inflação e a possibilidade de o Banco Central não cortar mais os juros. Hoje, a curva de juros já projeta um aumento de quase 1% na taxa Selic até o final do ano.

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Existe uma crise de confiança, um ataque especulativo, no sentido de que há uma expectativa muito negativa, resultando em estratégias de defesa dos portfólios. O governo deveria apresentar um plano crível de como o arcabouço fiscal será sustentável e, eventualmente, o Banco Central poderia intervir. Apenas a intervenção do Banco Central, sem um anúncio de medidas fiscais mais críveis, poderia ser um gasto desnecessário de reservas. Seria ideal uma ação combinada do Tesouro e do Banco Central para mostrar que o arcabouço é viável.

A arrecadação de junho está bem, com alta de receita, o que pode fechar as contas. No entanto, isso não tem sido suficiente para acalmar o mercado. Além disso, as moedas latino-americanas têm sofrido, especialmente as de países com governos menos pró-mercado, como o México e a Colômbia. A percepção de risco na América Latina aumentou, com a região sendo vista como mais arriscada em comparação com outros mercados emergentes.

A preocupação com os Estados Unidos também influencia, com a taxa de juros de 10 anos perto de 4,50%. Dados da economia americana indicam incerteza sobre quando os juros serão cortados. Ontem, houve uma escalada dos juros para perto de 4,50%, sacrificando as moedas emergentes, especialmente o real. Apesar disso, a bolsa brasileira teve um bom desempenho, puxada pelo petróleo acima de 85 dólares e pelo minério de ferro reagindo bem às notícias da China.

Até que haja corte de juros nos Estados Unidos ou anúncios mais contundentes de controle de gasto e como o arcabouço fiscal funcionará, esse movimento continuará. Existem três elementos que poderiam reverter essa trajetória: corte de juros nos EUA, medidas fiscais críveis no Brasil e intervenção cambial. Nos próximos dias, teremos muitos dados sobre o mercado de trabalho americano, como o relatório JOLTS, o ADP e o Payroll, que serão indicadores importantes da situação econômica nos EUA.

¨      “Há um jogo especulativo contra o real no país”, avalia Lula 

O presidente Lula (PT) relacionou, na terça-feira (2), às altas dólar nos últimos dias com um movimento especulativo contra o real. Para contornar o cenário, o mandatário afirmou que fará uma reunião com auxiliares. Ontem (1), a moeda norte-americana fechou em R$ 5,65, o maior valor desde janeiro de 2022.

“Obviamente, me preocupa essa subida do dólar, é uma especulação. Há um jogo especulativo contra o real no país”, afirmou o presidente, em entrevista à Rádio Sociedade, em Salvador (BA). “Tenho conversado com as pessoas, [sobre] o que vamos fazer, estou voltando [para Brasília] na quarta-feira [3], e temos uma reunião. Não é normal”, acrescentou.

O presidente explicou ainda que não deve revelar as possíveis soluções para conter a valorização do dólar. “Temos de fazer alguma coisa. Não posso falar, senão estou alertando meus adversários. Mas, se pegar dados da economia, vai perceber que o PIB [Produto Interno Bruto] está crescendo mais do que a previsão do mercado, o desemprego cai mais do que a previsão do mercado, a massa salarial cresce mais do que a previsão do mercado”, pontuou. 

Na ocasião, Lula rejeitou ainda a ideia, levantada por especialistas da grande mídia, de que as subidas do dólar têm relação com suas falas dadas em entrevista sobre o Banco Central (BC) e o cenário político do país.

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“Semana passada, dei entrevista no Uol. Depois da entrevista, alguns especialistas falaram que o dólar subiu ‘por conta da entrevista do Lula’. Fomos descobrir que o dólar tinha subido 15 minutos antes da minha entrevista”, argumentou.

O petista voltou, inclusive, a criticar a atuação do presidente do BC, Roberto Campos Neto. “Efetivamente eu acho que ele tem um viés político (…) O Banco Central é um banco do Estado brasileiro que tem que cuidar da política monetária. Ele não pode estar a serviço do sistema financeiro. Ele não pode estar a serviço do mercado”, disse.

Ainda sobre o mercado, Lula ressaltou que não existem motivos para “terem medo de que vai acontecer coisa errada”. “É preciso cuidar dos gastos públicos e ninguém cuidou melhor do que eu”, declarou.

¨      Haddad e economistas pediram discrição a Lula para evitar aumento da inflação

Após a alta do dólar nesta terça-feira (02), vista como uma reação do Banco Central ao governo Lula, interlocutores do presidente teriam alertado a ele para diminuir o tom das críticas, a fim de evitar uma nova reação, como a alta da inflação com a continuidade do aumento da moeda norte-americana.

O noticiário econômico desta terça concentrou-se no disparo da moeda norte-americana, superando R$ 5,70, como uma falta de atuação do BC, que poderia usar reservas internacionais para impedir o aumento.

O presidente do Banco Central, Campos Neto, tem se posicionado contra uma possível atuação no câmbio, aumentando ainda as especulações financeiras sobre o real e desvalorizando a moeda brasileira. Como consequência, há aumento da inflaçao e os preços dos produtos no Brasil aumentam.

Diante do cenário, o ministro Fernando Haddad, da Fazenda, e um grupo de economistas conversaram com o presidente Lula, neste final de semana, alertando para conter o tom das críticas a Campos Neto, com o objetivo de obter do Banco Central uma atuação para impedir o aumento da inflação.

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A informação foi divulgada por Mônica Bergamo, nesta quarta (03). No encontro, segundo a nota, o presidente mostrou-se “indignado” com o movimento especulativo contra o seu governo. Os economistas teriam afirmado a Lula que, no lugar das críticas, o presidente deve atuar pela proteção econômica de forma discreta, preservando o salário mínimo, aposentadorias e benefícios sociais.

¨      Robin Brooks alerta sobre Banco Central e gastos 

O ex-economista-chefe do Instituto Internacional de Finanças (IIF), Robin Brooks, se tornou uma figura constante na comunidade de investidores no X (ex-Twitter), conhecida como Fintwit. Brooks é um entusiasta dos crescentes e constantes superávits comerciais proporcionado pelas commodities, fazendo projeção de uma taxa de câmbio justa de R$ 4,50 e classificando a economia brasileira como “Suíça dos trópicos”.

Nos últimos dias, porém, as postagens de Brooks são mensagens de alerta, para que o cenário projetado pelo economista se concretiza. “Não faça isto, Brasil”, finaliza Brooks em uma postagem no qual recomenda à manutenção da independência do Banco Central e a busca pelo equilíbrio fiscal.

O pano de fundo são as críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao presidente do Banco Central (Bacen), Roberto Campos Neto, que também indicam um provável perfil do indicado para sucedê-lo no comando da autoridade monetária a partir de janeiro de 2025.

Lula não está de acordo com a manutenção da taxa Selic em 10,5% decidida na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) em 19 de junho, além de sua equipe econômica não apresentar um programa de corte de gastos que elimine os déficits primário e nominal e acabe com a trajetória altista da dívida pública.

As falas de Lula nos últimos dias apontaram, pelo contrário, uma busca pela continuidade no ajuste fiscal pelo lado da receita, já esgotado nos primeiros 18 meses de seu terceiro mandato.

Na avaliação do Copom, a política fiscal expansionista, juntamente com uma atividade econômica e mercado de trabalho aquecidos acima das projeções, é o que está deteriorando a expectativa de inflação para 2025 e 2026 acima da meta de 3% ao ano.

Além disso, os investidores têm receio de que o próximo presidente do Banco Central, que será indicado por Lula, possa ser leniente com a inflação e faça vista grossa com os déficits fiscais, mantendo uma taxa de juros artificialmente baixa para contemplar o Palácio do Planalto, o que tiraria, na prática, a autonomia do Banco Central estabelecida em uma lei aprovada pelo Congresso brasileiro em 2021.

“A Turquia é um conto de alerta para Brasil”, afirma Brooks ao comparar as possíveis intenções do atual governo brasileiro com que o governo turco, sob a liderança do presidente Recep Tayyip Erdogan, fez em março de 2021 ao demitir o presidente do Banco Central do país para forçar um corte nas taxas de juros.

“O que se seguiu foi um colapso da lira [moeda turca], hiperinflação e a taxa de juros da Turquia é atualmente muito maior do que seria sem esse experimento”, avalia o economista.

“O Banco Central do Brasil é a âncora da estabilidade, trazendo a inflação [do Brasil] ao nível dos países desenvolvidos”, diz Brooks, criticando a fala de Lula de querer “um presidente do Banco Central que não pensa nos mercados”.

“A maior âncora de estabilidade não é nem [o ex-presidente Jair] Bolsonaro nem Lula, é um banco central forte e independente. Se começa a desmantelar, tudo isso desmorona…”, prossegue o economista em outra postagem.

Em meio às críticas ao presidente Lula, Brooks faz recomendações para que o Brasil realmente se torne a “Suíça dos trópicos”, abordando que a economia do país é um exemplo de “contração fiscal expansionista”.

“O caminho para um crescimento maior do Brasil não é pela expansão fiscal e mais dívida. Brasil já tem a maior taxa de juros dos títulos de 10 anos entre as economias emergentes. Se o Brasil reduzisse sua dívida, taxas de juros cairiam e a economia teria um boom. Uma contração fiscal expansionista…”, avalia Brooks, que aponta ser essa uma oportunidade à economia brasileira ao invés de focar esse quadro como um problema.

 

Fonte: Jornal GGN/ Investing.com

 

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