'EUA acreditam ser donos de todos os
recursos naturais do mundo', diz Evo Morales
Na manhã de
quarta-feira (10/7), a Praça Abaroa, uma das principais de La Paz, capital
da Bolívia, estava lotada e
dividida.
De um lado,
"evistas" entoavam cantos de apoio ao ex-presidente Evo Morales, que havia pouco
tempo tinha chegado à sede do Tribunal Supremo Eleitoral, em frente ao local.
Do outro lado estavam
os "arcistas", apoiadores do atual presidente da Bolívia, Luis Arce, que
vociferavam contra o outro grupo.
Em um dado momento, as
agressões verbais se transformaram em pedradas e foi preciso que a polícia
interrompesse o conflito.
Há poucos anos, essa
cena seria impensável. Arce, afinal, foi ministro de Finanças de Morales entre
2006 e 2019. Em 2020, Arce chegou à Presidência com o apoio de Morales.
Mas a aliança acabou
em 2021. No país, o motivo dado para o rompimento é a nova empreitada política
de Morales: chegar à Presidência novamente.
Evo Morales é o
principal líder de esquerda da Bolívia e um dos nomes mais conhecidos da
política sul-americana. Líder indígena e cocaleiro, foi eleito presidente em
2005 e foi reeleito duas vezes.
Foi justamente sua
última reeleição, em 2019, que levou o país a uma crise política e que fez com
que ele renunciasse ao cargo e
partisse para o exílio na Argentina.
No cerne da crise
estava a polêmica manobra judicial que permitiu que ele tentasse um terceiro
mandato. O cenário, porém, impõe desafios.
Em 2023, o Tribunal
Constitucional Plurinacional da Bolívia decidiu que não é possível exercer mais
de dois mandatos presidenciais, seja de forma consecutiva ou de forma
descontínua.
Parte da opinião
pública do país entende que a decisão impede Morales de disputar uma eleição
novamente, uma vez que ele já foi eleito presidente três vezes.
Morales, no entanto,
rebate a tese e diz que, tecnicamente, está "habilitado" e que lutará
pelo direito de ser candidato novamente.
Mas ainda que vença
uma futura disputa judicial pelo direito de disputar um novo mandato, ele terá
que vencer um outro adversário: Luis Arce, a quem chama pelo apelido, Lucho.
Apesar de não dizer
claramente que pretende disputar a reeleição, Arce tem feito críticas às
tentativas de Morales de pleitear um novo mandato.
E foi em meio a esse
cenário de tensão que o ex-presidente Evo Morales concedeu uma entrevista
exclusiva à BBC News Brasil e à BBC News Mundo (serviço de notícias em espanhol
da BBC), na sede do MAS (Movimiento al Socialismo), em La Paz.
Na entrevista, Morales
comenta sua visão de um suposto plano dos Estados Unidos para dividir a
esquerda boliviana, de olho nas reservas de lítio do país.
"O delito do povo
boliviano é ter tantos recursos naturais [...] Esse é o nosso crime. Os Estados
Unidos, por destino manifesto, acreditam ser donos de todos os recursos
naturais do mundo", afirma.
O ex-presidente
boliviano coloca em dúvida a versão dada pelo governo boliviano de que o país
teria sido alvo de uma tentativa de golpe de Estado no
dia 26 de junho.
Naquele dia, militares
tentaram invadir a sede do governo boliviano, mas foram contidos e presos.
Para Morales, tudo não
teria passado de um "autogolpe". "Se não é golpe ou autogolpe é
um show bem encenado", disse Morales.
O ex-presidente
critica a atuação de Arce na presidência e o acusa de "eleitoralizar o
país" e de ter migrado para a direita.
"Lucho
endireitou'", diz Morales.
Ainda segundo o
ex-presidente boliviano, Arce não é mais um ativo da esquerda boliviana.
"Luis Arce, em
vez de benefício, é uma fraqueza", afirmou.
O ex-presidente diz
também que está disposto a disputar eleições primárias com Arce para que o MAS
decida quem será o candidato do partido e diz acreditar que terá apoio popular
para voltar ao cargo mais alto do país.
"Conhecendo meu
povo, eles vão [impor] uma batalha dura para recuperar a revolução e salvar
nossa querida Bolívia", afirma.
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Confira os principais trechos da entrevista com Evo Morales.
·
O Tribunal Constitucional Plurinacional da
Bolívia decidiu no ano passado que não se pode ter mais de dois mandatos
presidenciais na Bolívia. Mesmo assim, o senhor quer concorrer novamente? Por
quê?
Evo Morales - A
ação que apresentaram ao tribunal constitucional foi sobre a liberdade de
expressão e não sobre a autorização [para disputar eleições] ou inabilitação
[eleitoral].
Na parte resolutiva,
não diz nada (...) portanto, não há decisão constitucional sobre a questão da
inabilitação. Agora, segundo a Constituição, está dito: uma eleição e uma
reeleição.
A [eleição] indefinida
não está na Constituição, mas a descontínua está na Constituição. E agora,
vamos nos basear na opinião consultiva.
O parecer consultivo
da Corte Internacional de Direitos Humanos fala sobre a eleição indefinida, mas
não da eleição descontínua. Ou seja: Evo [Morales], em nível nacional e
internacional, está qualificado como candidato a presidente.
·
Especialistas e o presidente Luis Arce
dizem que sua condição política não lhe permite concorrer a uma outra
candidatura à presidência e que esta candidatura seria um elemento de
instabilidade política na Bolívia. Como o senhor responde àqueles que dizem que
sua tentativa de chegar à presidência é um elemento de instabilidade política?
Morales -
Primeiro, vamos falar legalmente e constitucionalmente. Estou demonstrando que,
constitucionalmente, Evo está habilitado. Repito mais uma vez: uma eleição e
uma reeleição. Mas a eleição descontínua não é proibida.
Agora, outra coisa é a
opinião. Mas o povo decide isso.
Em 2005, vencemos as
eleições (...) É claro que existem os chamados analistas políticos, que são de
direita, e eles falam e comentam. Eu respeito.
Esta não é a primeira
vez. Durante os tempos neoliberais, [diziam que] Evo era traficante de drogas,
que era assassino, terrorista. E mesmo com essa campanha, vencemos. Agora, a
história se repete.
·
O senhor não tem medo de que essa
instabilidade política possa levar a Bolívia à mesma situação de 2019?
Morales - Estou
muito mais fortalecido, sabe por quê? Mesmo alguns que estavam no golpe de
Estado [ele se refere à sua renúncia em 2019]... alguns da direita estão me
procurando. E o que eles me dizem? Estão arrependidos.
Eles dizem: "Evo,
quando você era presidente e nos dizia: isso sim, e isso não. E para onde você
dizia, nós nos envolvemos e ganhamos dinheiro. Agora, estamos endividados."
·
Vamos ao assunto do dia 26 de junho. O
presidente Luis Arce disse que o que aconteceu foi uma tentativa de golpe, mas
o senhor respondeu a esta versão e disse que possivelmente foi um autogolpe.
Que provas o senhor tem para fazer essa acusação?
Morales - No dia
26 do mês passado, às 11h da manhã, alguns amigos militares me ligaram.
Disseram: "Estão nos aquartelando". Eu disse a eles: "Me dê um
raio-x ou [passe-me] os documentos [que comprovem]". Passaram 10 ou 15
minutos e eles me disseram: "É verbal".
Eu fui o primeiro a
denunciar o aquartelamento suspeito das Forças Armadas.
Às duas da tarde, eu
estava caminhando em minha propriedade para ver os peixes e vejo os tanques
entrando na Praça Murillo.
Neste momento,
preparei um tuíte declarando e convocando uma greve geral e o bloqueio das
estradas nacionais para derrotar o golpe de Estado.
Continuei andando e
quando me dei conta, o ministro do governo estava acariciando os tanques na
Praça Murillo. Que tipo de golpe é esse? Fico surpreso.
Fico assistindo nas
redes sociais, o golpista entra no Palácio Quemado e conversa com o presidente.
Um ministro do governo está com um militar feliz, dando risadas. São as
imagens.
·
Mas o senhor acha que foi um autogolpe?
Morales - O que é
isso? Comecei a duvidar. E eles [Luis Arce e o general Juan José Zúñiga]
conversam e ele [Zúñiga] vai embora. Ele mesmo, general Zúñiga, disse que
naquele domingo estava jogando basquete com seu amigo [Arce].
Infelizmente, Arce não
respeitou a antiguidade e a institucionalidade ao nomear [Zúñiga como
comandante das Forças Armadas]. Dos mais de 60 oficiais que ingressaram com ele
[Zúñiga], ele era o número 48.
Como o número 48 vira
general e comandante? Avisei ao ministro da Defesa. Disse ao ministro: "A
antiguidade deve ser respeitada" (...) Ele me disse: "Não, a lealdade
vem primeiro que a antiguidade" (...) Ele [Zúñiga] se considerava o general
do povo.
Depois, ele vai e
denuncia que estava acordado com Lucho para melhorar sua imagem (...) Se não é
um golpe ou um autogolpe é um show bem encenado entre Lucho e Zúñiga. Estamos
convencidos disso (...)
Tudo demonstra que se
não é um golpe, é um autogolpe. Mas o certo é que houve um golpe na economia. O
dólar disparou, há especulação total. O setor privado não quer investir. Há
desconfiança dos organismos internacionais. É muito sério (...)
Que se investigue, que
se saiba, mas tudo está bem planejado. Foi para elevar a imagem do Lucho? Será
um verdadeiro golpe, uma tentativa de golpe? Ou será um autogolpe para se
vitimizar?
·
A grande maioria dos países da região
demonstrou seu apoio ao presidente Luis Arce após o ocorrido em 26 de junho. O
senhor acha que todos os presidentes, até mesmo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que eles
não estão bem informados sobre o que aconteceu?
Morales - Vejo
isso como uma questão diplomática. Eles [os presidentes] expressaram
solidariedade. Mas veja outro fato. Veja o golpe de 2019. Quem foi o promotor
do golpe? A OEA [Organização dos Estados Americanos].
Na época, a embaixada
dos Estados Unidos e o próprio [Donald] Trump aplaudiram o golpe de Estado de
2019 (...) Falei com vários colegas. Claro que não vão dizer que não é um
golpe, repito, por questões diplomáticas.
·
O presidente Lula fez uma viagem à Bolívia
há dois ou três dias [Lula foi a Santa Cruz de La Sierra entre 8 e 9 de Julho]
e deu seu apoio ao presidente Arce. Gostaria de saber se o senhor conversou com
o presidente Lula nos últimos dias, principalmente depois do 26 de junho? O
senhor se sente ignorado pelo presidente Lula?
Morales - Não
tenho motivos para falar [com Lula]. Não tenho autoridade. Não procurei, nem
procurarei, nenhum encontro.
Embora o presidente
Lula tenha instruído seu ministro da Presidência a falar com os companheiros
que estava em Santa Cruz [de La Sierra], mas eu não estava em Santa Cruz. Não
tenho porquê procurá-lo.
Publicamente, digo que
é um amigo, pode ser que me chame de "Evo".
Um dia, quando formos
ex-presidentes, vamos conversar. Somos amigos, companheiros. Tenho muito
respeito.
·
Há especialistas, inclusive dentro do
governo brasileiro [o Brasil é o maior comprador de gás natural produzido na
Bolívia], que afirmam que a queda de produção de gás na Bolívia acontece porque
o Estado boliviano não fez os investimentos necessários nos últimos anos para
que a produção fosse mantida. Isso é, claro, algo que vai contra sua
administração. O que aconteceu com os investimentos na exploração do gás?
Morales - Vou te
resumir outra vez: quando chegamos, produzíamos 30 milhões de metros cúbicos de
gás. Deixei o governo com produção de pelo menos 60 milhões de metros cúbicos
de gás.
A renda petroleira, no
tempo neoliberal, era de US$ 3 bilhões [R$ 16 bilhões]. Na nossa gestão, foi
para US$ 40 bilhões.
Dizem que nos últimos
dois anos [do seu governo] não encontrei nenhum outro campo de gás. Isto não é
verdade.
Eu disse ao gabinete:
se não encontramos gás, porque é um recurso natural não-renovável, dependermos
totalmente de um recurso natural não-renovável não é bom para a economia de
nenhum país do mundo. Eu perguntei: como você vai substituir essa economia do
gás se não encontrarmos gás?
Tínhamos criado o
Ministério da Energia. Exportar energia, vender energia ao Brasil, Argentina e
outros países. Era um plano que tínhamos.
Chega Lucho e elimina
o Ministério de Energia. Veja, quando cheguei ao governo, produzimos apenas 900
megawatts. A demanda interna era de 700 megawatts.
Em 2019, a demanda era
de 1.500 megawatts, e a capacidade de produção era de 3.200 megawatts. Meu
plano era gerar 9.000 megawatts para exportar.
·
Presidente, há muitas pessoas, inclusive o
senhor, que dizem existir interesses internacionais nas reservas de lítio.
Recentemente, o senhor falou sobre um suposto plano dos Estados Unidos para
dividir o MAS. Que provas o senhor tem desses interesses internacionais no
lítio e na divisão da esquerda boliviana?
Morales - O
delito do povo boliviano é ter tantos recursos naturais [...] ferro, lítio,
hidrocarbonetos, terras raras. Os recursos naturais continuam a aparecer. Esse
é o nosso crime. Os Estados Unidos, por destino manifesto, acreditam ser donos
de todos os recursos naturais do mundo.
Os Estados Unidos
pensam que, por destino manifesto, Deus os enviou para serem os policiais
mundiais. Esse é o problema. Essa é a diferença que temos com o império.
Países que
nacionalizam, que estabelecem a soberania econômica através da nacionalização
dos seus recursos naturais…já entram na mira do império (...)
O golpe [de 2019] não
foi só do gringo sobre o índio. Foi sobre o nosso modelo econômico. Com o nosso
modelo econômico mostramos que a Bolívia tem muita esperança. Mas também foi,
fundamentalmente, um golpe de Estado para o lítio.
Em outras palavras,
nós passamos a industrializar o lítio (...) Nós deixamos uma fábrica de cloreto
de potássio que gerava 300 mil toneladas por ano. Uma planta-piloto que gerou
1.000 toneladas de carbonato de lítio. E agora, tudo está completamente paralisado
(...)
Por que digo que
estamos na mira do império? (...) O movimento indígena por herança e por
história é anticolonialista e anti-imperialista.
·
Noa dia 10/7, pessoas do mesmo campo
político, vistas como marxistas, brigaram na praça. O senhor se sente
responsável por esse clima de tensão na Bolívia?
Morales - Olha,
os companheiros se mobilizaram quando souberam que eu tinha sido convidado
[para uma reunião no Tribunal Supremo Eleitoral para debater o fim das eleições
primárias e o calendário eleitoral de 2025], mas quem saiu [às ruas, pelo campo
de Luis Arce]? Somente funcionários públicos.
Naquela noite, me
informaram detalhes. Quem provoca [tensão]? É o governo usando seus
funcionários públicos.
Levaram petardos,
bazucas, tomates. Uma pequena equipe que eu tenho se infiltrou e estava com
eles. Sabe o que disse um companheiro? Que os que não foram [à manifestação]
seriam penalizados em um salário e multa.
E eu nunca fiz isso.
[Do meu lado], as pessoas se mobilizaram voluntariamente.
·
Mas a minha pergunta é: o senhor se sente
responsável por esse clima de tensão que está acontecendo agora?
Morales - Mas
como o governo… como pode usar seus funcionários para agredir militantes? Por
favor! Ontem, uma ministra mentiu. Ela disse: "Uma pessoa eleitoralizou o
país" (...)
Em 2021, eles tinham
preparado um documento [chamado] "2025-2030 Lucho Presidente".
Em Janeiro de 2021, eu recebi o documento e fiquei quieto.
Eu não disse nada, mas
em setembro, eu disse ao presidente: "Olha, você é o candidato a
presidente. É o seu direito. Você deve fazer uma boa gestão."
Ele estava prestes a
ser proclamado [candidato]. Então eu mostrei a ele o documento (...) Ele ficou
em silêncio, assustado e nervoso.
Mas para além disso,
eu não concordo que ele diga: "Evo está à esquerda, [Luis Fernando]
Camacho e [Carlos] Mesa, à direita e ele no meio".
É uma direitização de
Lucho, (...) quem eleitoraliza [a Bolívia] é o governo.
·
O presidente teme que essa divisão no
terreno entre "evistas" e "arcistas" possa favorecer a
direita no país?
Morales - Neste
momento, Lucho, em vez de um benefício, é uma fraqueza.
Se eu não tivesse ido
a campo com Lucho e com o MAS, o MAS teria afundado, assim como Lucho. Eu
salvei o MAS. Quem é que divide?
Na minha
administração, havia apenas um único grupo parlamentar dentro do MAS. Agora, há
três bancadas divididas.
Na minha
administração, havia uma única confederação. Agora, as confederações estão
divididas.
·
Tem gente que faz comparação entre você e o
presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, por causa dessas sucessivas tentativas
de permanência no poder. Qual é a sua resposta a essas comparações?
Morales - Vejamos
[Angela] Merkel. Quantos anos ela esteve como
primeira-ministra? (...) Quando alguém como eu fica oito ou nove anos no poder,
eles nos criticam. Como?
Depois da Segunda
Guerra Mundial, a Alemanha ficou muitos anos tentando se reerguer… agora eu
estou experimentando quão importante é a continuidade (...)
Mas, novamente, nós
não estamos falando de reeleição indefinida.
Estamos falando sobre
ser reeleito com uma pausa fora do poder. Como Lula, ou como acontece nos
Estados Unidos.
·
Mas o que o senhor acha dessas comparações?
Morales - Eu
acredito em servir à Constituição. Eu respeito isso.
Para mim, seria melhor
se houvesse eleição indefinida se forem resultado de processos e dessas
gestões.
Por exemplo, a
Alemanha, em que Merkel ficou 18 anos [foram 16] e como ela levantou o país e o
tornou o melhor da Europa.
·
O senhor está pronto para disputar as
primárias com Luis Arce?
Morales - Eu
disse isso publicamente. Nenhum problema. Sem primárias não há democracia nos
partidos. É por isso que são tão importantes.
Eu me submeto às
primárias. Se ele ganhar, eu faço campanha para ele. Se eu ganho, que ele faça
campanha para mim.
·
Há gente dentro do seu campo que classifica
o presidente Luis Arce como um traidor. É assim que o senhor o classifica?
Morales - [Temos]
Diferenças ideológicas, programáticas e até éticas. As pessoas veem isso como
uma traição (...) Ele tem uma política de contração econômica.
Quando chegou,
eliminou quatro ministérios. Falamos da receita do Banco Mundial, de reduzir o
tamanho do Estado que somente regula e não investe. Lucho reduziu quatro
ministérios (...) as pessoas protestaram. Quem eleitoraliza é Lucho (...) Isso
é o que mais me enoja.
[Nota da redação:
em meio à resposta, Morales pega um calhamaço de papel com um slide em que
aparece um gráfico com diferentes nomes e sua posição no espectro político]
À esquerda: Evo
Morales. À direita: Luis Fernando Camacho e Carlos Mesa. Ao meio: Lucho. Esta é
a prova da direitização [de Luis Arce] (...) Lucho se "endireitou".
·
Na América do Sul existem hoje muitos
governos de direita como Equador, Paraguai, Uruguai, agora na Argentina. Esta
divisão política na esquerda boliviana pode favorecer a direita? Minha segunda
pergunta é: por que o senhor acha que a direita está avançando na região? Onde
a esquerda está falhando?
Morales - O
melhor para mim foi nos tempos de [Hugo] Chávez, [Rafael] Correa, [Néstor]
Kirchner ou Lula. Avançamos na integração da América do Sul (...) A direita se
moveu, infelizmente, com alguns problemas em alguns países (...)
·
Mas por que a direita avança na América do
Sul?
Morales - Mas,
por favor, no passado não havia nenhuma esquerda (...) há golpes, golpes
judiciais, lawfare. O que aconteceu com Rafael Correa? Imagina uma
traição semelhante? Está acontecendo uma Guerra Fria. Apesar disso, seguimos
vigentes. Esta é a luta. Aqui se perde, depois se ganha. Que os povos decidam
suas políticas.
·
Mas, presidente, não ficou claro onde a
esquerda está falhando em fazer o avanço da direita em países importantes como
Argentina, Equador, Paraguai e Uruguai. Onde a esquerda falha?
Morales - Eu não
quero me meter muito… veja a Argentina… há o tema da inflação, inflação, inflação…
isso é um tema de cada país.
Mas agora, dizem que
os argentinos se deram conta como é com a direita ou com a extrema direita de Milei (...)
cada país tem suas próprias particularidades.
·
Minha última pergunta é: o senhor está
disposto a ir às últimas consequências pela sua candidatura?
Morales - Não é
Evo Morales, é o povo. As pessoas. Ontem [10/7], eu também fui surpreendido por
pelo menos 3.500 militantes reunidos em menos de 24 horas.
Vêm de alguns
departamentos como La Paz (...) conhecendo o meu povo, eles vão [impor] uma
batalha dura para recuperar a revolução e salvar a nossa querida Bolívia.
Fonte: Por Leandro
Prazeres, enviado da BBC News Brasil a La Paz, na Bolívia
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