Como
divórcios estão reduzindo a desigualdade de gênero
Mães
solteiras são um dos grupos mais vulneráveis nas sociedades ao redor do mundo.
Na Suécia, no entanto, o número de mulheres arcando sozinhas com as
responsabilidades de cuidado diminuiu quase pela metade ao longo das últimas
duas décadas.
O
que causou essa mudança? Seria uma exceção à tendência global de aumento de
separações e divórcios?
Não,
o número de dissoluções de uniões na Suécia ainda está entre os mais altos do
mundo. O que estamos observando é uma mudança nas separações.
A
Suécia não apenas lidera em termos de taxas de divórcio, mas também é líder
mundial quando se trata de dividir a guarda das crianças igualmente. Quase
metade das crianças com pais separados agora dividem seu tempo igualmente entre
os dois lares.
Em
nosso novo estudo, publicado na revista Social Forces, queríamos descobrir em
qual medida essa mudança notável nos arranjos de vida alterou a divisão de
trabalho de cuidado entre os ex-cônjuges.
Partimos
da hipótese de que o efeito de tais dissoluções de união pode levar a uma maior
igualdade de gênero do que quando as crianças viviam apenas com suas mães.
Ultimamente,
a guarda "meio a meio" requer que os pais assumam integralmente a
responsabilidade pelo cuidado da criança metade do tempo — algo que poucos pais
em parceria fazem. Portanto, isso poderia impulsionar os pais para uma divisão
mais igualitária do trabalho de cuidado.
Como
medida de trabalho de cuidado, examinamos uma das desigualdades mais
persistentes entre mulheres e homens nos países de alta renda hoje: tirar
licença do trabalho remunerado para cuidar de uma criança.
Usamos
dados de registros administrativos que cobrem toda a população da Suécia — com
medidas de licença tanto da mãe quanto do pai de cada criança, tanto antes
quanto depois do divórcio.
Nossos
resultados mostram que, na Suécia, o divórcio levou a um aumento na
participação dos pais nos dias de folga do trabalho para cuidado.
Concluímos
que, enquanto os divórcios nas últimas décadas haviam atrasado a revolução de
gênero na Suécia — com as mães tradicionalmente assumindo toda a
responsabilidade — agora estão tendo o efeito contrário.
• Líderes mundiais?
Não
estamos tentando argumentar que o divórcio seja algo bom. Acreditamos, em vez
disso, que os divórcios ajudam a expor o lar conjunto como um ambiente
altamente marcado pelo gênero.
Casais
heterossexuais na Suécia, e mais amplamente ao redor do mundo, tendem a cair em
dinâmicas de gerente-auxiliar, em que a mãe assume toda a carga administrativa
e mental e delega apenas tarefas específicas para o pai cumprir.
Esta
é uma dinâmica que ao longo do tempo parece inevitável e impossível de ser
quebrada.
Mas
os arranjos de vida "meio a meio" viram essa dinâmica de cabeça para
baixo, porque não é mais possível assumir esses papéis fortemente marcados pelo
gênero — a mãe não pode planejar a casa de seu ex e o pai não pode esperar que
isso aconteça.
A
lição é que os homens podem e cuidam de crianças por conta própria. Se os
homens suecos conseguem fazer isso, a incapacidade de outros homens não pode
ser inevitável.
Homens
suecos não têm uma composição biológica diferente dos outros homens, então
parece que os estereótipos culturais são os culpados.
Os
aumentos no divórcio poderiam mudar atitudes em um nível mais profundo ao longo
do tempo. Quanto mais vemos homens cuidando de seus filhos, mais normal isso
parecerá.
Chefes
podem parar de se incomodar com pais que tiram tempo para ficar em casa com
seus filhos, e as mães podem achar mais fácil confiar que seus parceiros
assumam mais cuidados infantis e tarefas domésticas.
A
experiência sueca pode indicar para onde outros países estão indo. Dito isso, a
Suécia está à frente de muitas maneiras.
Por
exemplo, graças a políticas familiares generosas, pais suecos agora tiram três
meses de licença parental para ficar em casa com seus bebês enquanto a mãe
retorna ao trabalho — proporcionando uma oportunidade crucial para se vincular
e aumentar a confiança no cuidado infantil.
Na
Suécia, diversas mudanças relacionadas à família, incluindo o aumento do
divórcio e a maior participação dos pais no cuidado infantil, têm sido
pioneiras em tendências posteriormente observadas em toda a Europa e América do
Norte.
A
moradia dividida com o pai após o divórcio parece ser mais um desses
desenvolvimentos.
Embora
outros países ainda não observem a mesma reversão no efeito geral do divórcio
sobre o trabalho de cuidado, casais que praticam arranjos de moradia "meio
a meio" nesses países podem já estar experimentando uma divisão mais
igualitária do trabalho de cuidado após a separação.
E
isso é uma boa notícia, não apenas para as mulheres que afirmam de repente que
"pela primeira vez... ex-maridos estão fazendo a sua parte justa",
mas também para os homens que não precisam mais lidar com a dor associada à
sensação de perder seus filhos após uma separação.
• Deixar de amar alguém é motivo
suficiente para se divorciar? Por Marcia Zug, em The Conversation
Costuma-se
dizer que "primeiro vem o amor, depois vem o casamento". Mas nem
todas as pessoas concordam.
É
cada vez mais contestada a ideia de que o amor é o motivo mais importante para
se casar – ou, pelo menos, para permanecer casado.
Nos
Estados Unidos, legisladores e especialistas republicanos vêm rejeitando a
possibilidade de divórcio imotivado. Eles questionam a noção de que deixar de
amar o parceiro é uma razão válida para pôr fim a um casamento.
Como
professora de direito da família, sei que estas opiniões não são novas.
A
atriz e socialite Zsa Zsa Gabor (1917-2016), certa vez, fez o seguinte gracejo:
"Divorciar-se só porque você não ama um homem é quase tão insensato quanto
se casar com um apenas porque você o ama."
Gabor
provavelmente estava brincando, mas o ataque republicano ao divórcio é sério.
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A história do divórcio nos EUA
Na
maior parte da história dos Estados Unidos, era difícil conseguir o divórcio.
Em
muitos Estados, ele era terminantemente proibido, enquanto outros permitiam a
separação dos casais apenas em circunstâncias muito limitadas – normalmente,
casos de crueldade, deserção ou adultério.
Por
isso, os casais infelizes que não conseguiam comprovar esses motivos não
encontravam uma saída.
Em
1969, a Califórnia passou a ser o primeiro Estado a permitir o divórcio
imotivado. Com isso, um dos cônjuges podia conseguir o divórcio simplesmente
apresentando o pedido, sem precisar comprovar que seu parceiro havia feito algo
de errado.
Depois
da aprovação na Califórnia, seguiram-se rapidamente os demais Estados
americanos.
Em
1977, 47 Estados permitiam essa espécie de divórcio e, em 1985, todos os 50
Estados americanos permitiam algum tipo de divórcio imotivado.
Mas,
agora, quase 50 anos depois, surgem cada vez mais questionamentos a este
respeito nos Estados Unidos.
A
questão do divórcio imotivado voltou a ganhar atenção nacional em 2023, quando
o comentarista conservador Steven Crowder, que se vangloria das suas opiniões
"provocadoras", expressou sua indignação e incredulidade porque sua
esposa poderia se divorciar dele sem seu consentimento.
Crowder
não é o único a apresentar essas críticas. O divórcio passou a ser uma questão
polêmica entre muitos legisladores nos Estados de maioria republicana.
Mais
recentemente, em janeiro de 2024, o senador de Oklahoma Dusty Deevers
apresentou um projeto de lei para eliminar o divórcio imotivado. Ele sugeriu a
"humilhação pública" dos cônjuges que cometerem falhas conjugais,
seguida pelo divórcio.
A
restrição ao divórcio imotivado também faz parte das plataformas do Partido
Republicano do Texas e de Nebraska. Ela também foi debatida recentemente por
legisladores da Louisiana.
A
possibilidade de se divorciar, independentemente do que deseja a outra parte, é
a essência do divórcio imotivado. Acho alarmante que ele esteja sendo
questionado.
Mas
a ideia de que não amar mais é uma razão válida para o divórcio deve ser
considerada. Ela se baseia na noção de que o amor é o propósito do casamento e
esta ideia, por si só, é questionável.
• Para que serve o casamento, afinal?
O
casamento é um estado civil que confere direitos e benefícios importantes para
os cônjuges. E esses direitos e benefícios não têm nenhuma relação com o amor.
De
fato, o propósito dessas vantagens é oferecer aos casais outras razões, além do
amor, para se casarem. A ideia é que os benefícios sociais do matrimônio sejam
tão significativos que justifiquem o incentivo ao casamento, ou até o pagamento
puro e simples às pessoas para que se casem.
Para
dar um exemplo dessa análise de custo-benefício, vamos considerar o debate
político que analisa se os filhos se saem melhor sendo criados por dois pais
casados.
No
seu recente livro The Two-Parent Privilege: How Americans Stopped Getting
Married and Started Falling Behind ("O privilégio dos dois pais: como os
americanos pararam de se casar e começaram a ficar para trás", em tradução
livre), a professora de economia Melissa Kearney defende que esta é uma
vantagem abrangente e significativa.
Não
surpreende que o trabalho de Kearney tenha sido entusiasticamente endossado
pelos defensores pró-casamento e revigorado antigas discussões sobre como
incentivar as pessoas a se casarem.
Se
as crianças se saem melhor quando são criadas por pais casados, é compreensível
que o governo crie leis e políticas para promover o casamento. Isso também
explica por que o governo pode buscar limitar os divórcios.
Esta
é uma visão puramente instrumental do casamento, que teria parecido muito
familiar para os americanos dos séculos 18 e 19.
Na
maior parte da história americana, o casamento foi abertamente uma transação.
As leis essencialmente garantiam que a maior parte dos homens e mulheres se
casassem e o amor não tinha nada a ver com isso.
• 'Barganha conjugal'
Os
historiadores se referem ao casamento para obter benefícios legais e
financeiros como a "barganha conjugal".
Mas,
no final do século 19, a aceitação da natureza comercial da barganha conjugal
começou a desaparecer. Homens e mulheres começaram a declarar publicamente que
o amor era o propósito do casamento.
Como
a historiadora Nancy Cott escreve no seu livro Public Vows ("Votos
públicos", em tradução livre), na virada do século 20, a cultura americana
havia "colocado o amor e o dinheiro em lados opostos da rua".
Meu
livro, You'll Do: A History of Marrying for Reasons Other than Love ("Você
dirá 'sim': a história do casamento por outras razões além do amor", em
tradução livre), também examina esta história e mostra como os americanos
deixaram de incentivar a barganha conjugal e passaram a considerá-la
prejudicial, tanto para os casais, quanto para a instituição do matrimônio como
um todo.
Apesar
da visão pública de que o amor é a única razão para se casar, a lei tem uma
abordagem mais prática e reconhece que o amor sozinho pode não ser suficiente
para levar os casais ao altar.
É
por isso que a legislação continua a incentivar o casamento por razões
instrumentais. Seus benefícios variam de isenções de impostos e preferências de
imigração até defesas na legislação criminal.
Quando
o casamento era uma clara barganha por trocas, os benefícios da união eram
óbvios.
Como
no anúncio conjugal do século 19, "Homem com fazenda procura mulher com
trator", cada um dos lados sabia o que estava recebendo. Agora, o objetivo
do casamento já não é tão claro.
Acredito
que o movimento para a eliminação do divórcio imotivado seja simplesmente o
sintoma mais recente dessa confusão sobre os objetivos do casamento.
Se
o casamento for questão de amor, a falta de amor deveria ser, então, a razão do
divórcio por excelência. Mas, se o casamento for um contrato com benefícios,
não surpreende que Crowder e outros críticos do divórcio imotivado fiquem
indignados pelo casamento poder ser dissolvido unilateralmente.
A
disposição de eliminar o divórcio imotivado é apresentada como uma luta sobre o
propósito do divórcio. Mas, na verdade, trata-se de uma luta sobre o
significado do casamento.
Fonte: Helen Eriksson, para The
Conversation
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