terça-feira, 9 de julho de 2024

Biden não convence após nova entrevista: 'Ele nega a realidade' e 'permanece no purgatório político'

The New York Times, The Economist e The New Yorker publicaram suas análises da entrevista com Joe Biden transmitida na sexta-feira (5) pela rede ABC.

As edições concordam que o presidente não conseguiu acalmar as dúvidas do eleitorado sobre as suas capacidades cognitivas nem vai acabar com as vozes que lhe pedem o abandono da corrida.

Depois de oito dias difíceis para a campanha de reeleição do presidente Joe Biden, o mandatário deu finalmente a sua primeira entrevista pública.

Embora Biden, de 81 anos, tenha repetido na entrevista que permaneceria na corrida presidencial e negado que tivesse problemas cognitivos, os meios de comunicação norte-americanos, mesmo alguns dos mais alinhados com o Partido Democrata, não se deixaram convencer por seu desempenho.

Em uma nota intitulada "A entrevista de Joe Biden na ABC estancou a hemorragia ou prolongou-a?”, o The New Yorker questiona o desempenho do presidente na entrevista, concluindo precisamente que o seu fraco desempenho "prolongará a hemorragia de sua campanha" e que falhou em sua missão de tentar tranquilizar os eleitores democratas e as vozes que pedem a sua desistência.

A revista diz ainda que embora Biden quisesse mostrar "convicção política" na entrevista, a única coisa que conseguiu foi confirmar que o presidente está em "negação" sobre a realidade da sua condição física e mental, o estado da sua campanha e até mesmo suas chances eleitorais.

"Foi surpreendente ouvir o presidente repetir as mesmas velhas frases, como se não tivesse passado pela crise dos últimos oito dias", observa o veículo, acrescentando que estava claro que Biden tinha pouco desejo de aprender quaisquer lições do seu debate com Trump.

Além disso, o The New Yorker afirma que embora não parecesse tão perdido como no palco no duelo televisivo da semana passada, Biden não exibiu durante a entrevista "o tipo de presença ágil e imponente que silenciaria o coro dos democratas que o querem fora da corrida".

"A entrevista durou 22 minutos, surpreendentemente curta para um momento tão dramático, em que Biden e seus assessores foram acusados ​​de se esconder da imprensa, e o presidente teria se beneficiado se se mostrasse com mais energia e força", observa o The New Yorker, concluindo que apesar da tentativa de seus assessores de mudar a narrativa com a entrevista, "Biden permanece no purgatório político".

Por seu lado, o The Economist publicou uma avaliação similar, afirmando que a nova entrevista não conseguiu livrar os democratas da situação problemática em que se encontram antes das eleições de novembro.

Em nota intitulada "A entrevista de Joe Biden à ABC não dissipa dúvidas sobre o seu futuro", os meios de comunicação salientam que o presidente evitou responder a algumas das questões mais sensíveis, como aceitar se submeter a um teste cognitivo e dar conhecimento dos resultados publicamente, e também mostrou não aceitar que esteja atrás de Trump nas sondagens ou que possa ser um risco para o seu partido.

"O perigo para Biden é que, mesmo que consiga se apresentar com mais força daqui em diante, a imagem dele como um velho cambaleante já foi absorvida. Ronald Reagan não ajuda nesse sentido", alertam, lembrando que, segundo o mais recente inquérito da CBS e da empresa YouGov, 72% dos norte-americanos acreditam que o democrata não tem aptidões físicas ou mentais para desempenhar as tarefas de presidente.

Entretanto, o The New York Times, talvez o meio de comunicação mais próximo do establishment democrata, também criticou a atitude de Biden na entrevista, sublinhando a forma como o chefe de Estado preferiu evitar perguntas e negar a realidade.

"Tudo parece bom no mundo do presidente Biden. Esse debate devastador? Apenas uma noite ruim. Aqueles números terríveis das pesquisas? Eles simplesmente não são precisos. As sombrias previsões eleitorais? Os mesmos velhos pessimistas, errados novamente. Os democratas que querem que ele abandone a candidatura? Ninguém lhe disse isso", ironiza o jornal.

¨      Casa Branca enviou lista de perguntas a apresentadores de rádio para entrevista com Biden

Os apresentadores da estação de rádio WURD na Filadélfia receberam antecipadamente uma lista de perguntas para a entrevista com o presidente dos EUA, Joe Biden, disse a apresentadora do WURD, Andrea Lawful-Sanders.

"Me enviaram perguntas para aprovação; eu as aprovei [...] recebi várias perguntas — oito ao todo. E as quatro que foram escolhidas foram as que eu aprovei", disse ela à CNN no sábado (6).

Quando questionada se recebeu a lista de perguntas da Casa Branca, Lawful-Sanders respondeu afirmativamente.

No mesmo dia, o apresentador da rádio CivicMedia, Earl Ingram, que entrevistou Biden esta semana, disse à ABC News que também recebeu perguntas para a entrevista.

Ingram observou que recebeu uma lista de cinco perguntas da equipe do líder dos EUA e acabou utilizando quatro delas.

Mais tarde, a CNN informou que a campanha de Biden não vai mais enviar perguntas aos entrevistadores com antecedência.

"Embora os apresentadores das entrevistas sempre tenham sido livres para fazer as perguntas que quiserem, no futuro nos absteremos de propor sugestões de perguntas", disse uma fonte citada pela emissora.

 

¨      Veja os destaques da entrevista do presidente Joe Biden à ABC

O presidente Joe Biden minimizou na sexta-feira (5) seu desempenho ruim no debate da semana passada em uma entrevista de alto risco à emissora americana ABC, enquanto surgiam dúvidas sobre o futuro de sua candidatura.

Durante sua entrevista com o âncora George Stephanopoulos, Biden descartou qualquer possibilidade de sair da disputa, oferecendo também desculpas variadas para seu desempenho ruim.

A conversa foi a primeira entrevista televisiva de Biden desde seu desempenho no debate da CNN, um momento crucial para seu futuro político, à medida que uma lista crescente de democratas – legisladores, doadores e eleitores – expressa preocupações sobre a viabilidade de sua candidatura.

<<<< Aqui estão seis pontos principais da entrevista de Biden à ABC News.

<><> Biden diz que o debate foi uma “noite ruim”, não um problema maior

O presidente disse na entrevista que estava “doente” e “se sentindo terrível” antes do debate. Quando perguntado se foi um episódio ruim ou um sinal de uma condição mais séria, Biden descartou essas preocupações.

“Foi um episódio ruim. Nenhuma indicação de qualquer condição séria. Não segui meus instintos em termos de preparação, e tive uma noite ruim”, disse ele.

Na entrevista, Biden deu mais detalhes sobre como se sentia na época do debate, dizendo que estava cansado por causa da doença e que até havia feito um teste de Covid-19. A Casa Branca não respondeu à CNN sobre se o presidente fez o teste antes ou depois do debate.

Ele disse: “Eu estava me sentindo terrível. Na verdade, eu perguntei aos médicos que estavam comigo se eles fizeram um teste de Covid, eles estavam tentando descobrir o que havia de errado. Eles fizeram um teste para ver se eu tinha alguma infecção, sabe, um vírus. Não tinha. Eu só tinha um resfriado muito forte”.

O comentário sobre sua doença marcou a mais recente mudança na descrição da Casa Branca sobre a condição física do presidente durante o debate.

Funcionários da Casa Branca disseram a repórteres durante o debate que o presidente tinha um resfriado, e então, na quarta-feira (3), a secretária de imprensa Karine Jean-Pierre descartou a ideia de que Biden havia consultado seu médico, repetidamente dizendo que o presidente não fez exames médicos desde seu exame físico de fevereiro.

“É um resfriado, pessoal. É um resfriado,” ela disse na época. “Eu sei que afeta todos de forma diferente. Todos nós tivemos resfriados, então não, ele não foi examinado pelo médico”.

Um dia depois, a Casa Branca confirmou que o presidente, de fato, havia consultado um médico sobre sua doença, e na sexta-feira Jean-Pierre disse a repórteres a bordo do Air Force One que Biden teve uma “consulta verbal” com seu médico após o debate.

Ela caracterizou a consulta de Biden como “uma conversa” com seu médico, Kevin O’Connor, após os repórteres obervarem que o presidente disse a um grupo de governadores democratas que foi a um médico.

<><> Presidente assume responsabilidade pelo desempenho ruim, mas oferece uma nova desculpa

O presidente disse que não assistiu à reprise de seu debate. Quando foi perguntado se sabia o quão mal estava indo, ele disse que foi “culpa minha”. Enquanto respondia à pergunta, Biden ofereceu um argumento confuso sobre a pesquisa do New York Times.

“Eu preparei o que normalmente faria sentando-me, como fiz ao voltar como líderes estrangeiros ou o Conselho de Segurança Nacional – para detalhes explícitos. E percebi, mais ou menos na metade, que – sabe, tudo o que eu vejo citado é o The New York Times que me deixou com 10 pontos a menos antes do debate, nove agora, ou seja lá o que for. O fato é que – o que eu olhei é que ele também mentiu 28 vezes”, disse ele.

Pressionado sobre seu desempenho, ele disse: “Bem, eu estava apenas tendo uma noite ruim”.

Mas mais tarde na entrevista, Biden ofereceu uma explicação diferente. Ele disse que se distraiu com Trump falando fora de hora, mesmo com o microfone de Trump desligado.

“Percebi que estava tendo uma noite ruim quando percebi que, mesmo quando estava respondendo a uma pergunta, mesmo quando desligaram o microfone dele, ele ainda estava gritando. E deixei isso me distrair. Não estou culpando isso, mas percebi que simplesmente não estava no controle”, disse Biden a Stephanopoulos.

Biden e Trump e suas equipes concordaram com as regras antes do debate.

<><> Biden não fará um teste cognitivo

Biden disse que “ninguém disse que eu tinha que” fazer exames cognitivos e neurológicos, dizendo a Stephanopoulos que “faço um teste neurológico completo todos os dias” – referindo-se às demandas de seu trabalho.

“Tenho médicos viajando para todos os lugares. Todo presidente tem, como você sabe. Médicos dos melhores do mundo viajam comigo para todos os lugares. Tenho uma avaliação contínua do que estou fazendo. Eles não hesitam em me dizer se acham que há algo errado”, disse ele.

Quando perguntado se ele fez testes cognitivos e um exame por um neurologista, Biden disse que não. “Ninguém disse que eu tinha que fazer. Eles disseram que estou bem”.

Em uma análise publicada na sexta-feira, o Correspondente Médico Chefe da CNN, Dr. Sanjay Gupta – um neurocirurgião praticante – instou Biden a se submeter a testes cognitivos e neurológicos completos e a compartilhar seus resultados.

Gupta escreveu que era preocupante assistir ao desempenho de Biden no debate. Testes detalhados “podem ajudar a determinar se há uma explicação mais simples para os sintomas apresentados ou se há algo mais preocupante”, disse ele.

<><> Biden nega que as pesquisas mostrem que ele está perdendo para Trump

Questionado por Stephanopoulos se ele estava sendo honesto consigo mesmo sobre sua capacidade de vencer Trump, Biden disse: “Sim. Sim, sim, sim”.

Ele apontou pesquisas anteriores que mostravam que ele não poderia vencer em 2020 como prova e subsequentes eleições locais, negando extensas pesquisas que refletem uma corrida em que ele está atrás.

Pressionado sobre sua baixa taxa de aprovação e se seria mais difícil vencer quatro anos depois, Biden disse: “Não quando você está concorrendo contra um mentiroso patológico. Não quando ele não foi desafiado da maneira que está prestes a ser desafiado”.

O presidente disse que todos as pesquisas caracterizam a corrida como “equilibrada”, enquanto ele começava a apontar pesquisas específicas antes de se calar.

<><> Biden desconsidera democratas ansiosos: Apenas o “Senhor Todo-Poderoso” poderia fazê-lo sair da corrida

Questionado durante sua entrevista se ele renunciaria se fosse convencido de que não poderia vencer Trump, Biden disse que só faria isso “se o Senhor Todo-Poderoso descesse” e dissesse a ele.

“Se o Senhor Todo-Poderoso descesse e dissesse, ‘Joe, saia da corrida’, eu deixaria da corrida”, disse Biden. “O Senhor Todo-Poderoso não vai descer”, acrescentou Biden, que é um devoto católico.

Stephanopoulos respondeu: “Concordo que o Senhor Todo-Poderoso não vai descer. Mas se você for informado de forma confiável por seus aliados, amigos e apoiadores no Partido Democrata, na Câmara, no Senado, que eles estão preocupados que você vai perder a Câmara e o Senado se continuar, o que você fará?”.

Biden se recusou a responder à pergunta. “Isso não vai acontecer”, ele acrescentou.

O presidente questionou mais tarde se algum outro líder democrata teria sua acuidade em política externa. “Quem vai conseguir manter a Otan unida como eu? Quem vai conseguir estar em uma posição em que sou capaz de manter a bacia do Pacífico em uma posição em que estamos pelo menos freando a China agora? Quem vai – quem vai fazer isso? Quem tem esse alcance?”, Biden perguntou.

Quatro membros democratas do Congresso pediram que Biden se retirasse. A governadora de Massachusetts, Maura Healey, emitiu uma declaração na sexta-feira pedindo a Biden que “avalie cuidadosamente” se ele é a melhor escolha do partido para derrotar Donald Trump.

O senador da Virgínia, Mark Warner, está tentando alinhar os democratas do Senado sobre o futuro da candidatura à reeleição de Biden, disseram fontes à CNN, colocando mais pressão sobre a Casa Branca.

Warner, que está assumindo um papel de liderança no esforço, está chegando a um ponto em que acha que é hora de Biden suspender sua campanha de reeleição, disse uma fonte familiarizada com seus esforços à CNN.

Perguntado sobre os esforços de Warner, Biden respondeu: “Mark é um bom homem. Ele também tentou conseguir a nomeação”. Warner havia sido considerado um candidato a vice-presidente em 2008, o cargo que Biden eventualmente ganharia, mas retirou-se da consideração. “Mark não está – Mark e eu temos uma perspectiva diferente”, disse Biden a Stephanopoulos.

Quando perguntado se reconsideraria sua posição se mais democratas do alto escalão, incluindo o líder da maioria no Senado, Chuck Schumer, a ex-presidente da Câmara, Nancy Pelosi, ou o líder da minoria na Câmara, Hakeem Jeffries, o pressionassem a desistir, Biden respondeu: “Eles não vão fazer isso”.

<><> Biden se anima e mostra sua energia em comício em Wisconsin

Biden se deparou com preocupações dos eleitores pouco antes da entrevista à ABC, ao subir ao palco em um comício de campanha em Wisconsin. Um participante do comício desenrolou um cartaz escrito: “Passe a tocha, Joe”. O cartaz ficou visível por alguns momentos antes que outra pessoa tentasse cobrir parte dele com um cartaz de Biden-Harris.

O discurso de Biden durante aquele comício foi animado e enérgico – embora ele parecesse perceber que cada uma de suas palavras seria analisada e cuidadosamente examinada neste período politicamente crucial.

Ele prometeu “vencer Trump novamente em 2020” antes de perceber rapidamente seu erro e corrigir-se: “A propósito, vamos fazer isso novamente em 2024”. Criticando a política econômica de Trump, Biden disse que seu oponente “quer outro corte de impostos de 5 bilhões – trilhões, trilhões, não bilhões – de US$ 5 trilhões”.

Ele abordou diretamente as críticas sobre sua idade: “Eu não era muito velho para criar mais de 50 milhões de novos empregos, para garantir que 21 milhões de americanos estejam segurados pelo Affordable Care Act, para vencer a Big Pharma. Eu era muito velho para aliviar a dívida estudantil de quase 5 milhões de americanos? Muito velho para colocar a primeira mulher negra na Suprema Corte dos Estados Unidos da América? Para assinar a Lei de Respeito ao Casamento?”.

Biden disse que forças não identificadas estão “tentando empurrá-lo para fora da corrida”. “Bem, deixe-me dizer isso o mais rápido que puder”, ele acrescentou. “Eu vou continuar na corrida”.

Esse ponto foi sublinhado pela música que tocou quando o discurso de Biden terminou: “I Won’t Back Down” de Tom Petty.

 

Fonte: Viomundo/CNN Brasil

 

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