Francisco Calmon: ‘O povo brasileiro
precisa sonhar’
O Congresso tem-se
pautado por uma agenda que vai de encontro à classe trabalhadora, retirando
seus direitos e precarizando o trabalho, a mulher e a vida da juventude.
Na histórica geração
68, combatemos o culto à personalidade e o personalismo, com a recuperação das
eleições diretas, antes limitada e cerceada pela ditadura, a entrada
escandalosa do marketing foi substituindo valores de conteúdo pelo invólucro, a
forma passou a ser a vestimenta da mensagem, que foi ficando cada vez mais
importante do que a substância. E o personalismo e o culto à personalidade
passaram a ser meio e fim, emagrecendo o princípio de que somos todos iguais,
criando a militância do “sim, senhor, faremos tudo o que o chefe mandar”.
De forma que a cultura
e o analfabetismo político, aliados à gênese do mundo virtual, espraiou-se, a
leitura e os debates escafederam-se, o simplismo nas redes sociais predomina e
serve à despolitização.
Recentemente eu li o
qualificativo de um ativista como sendo o “tutor da democracia”, pasmem! “Nosso
chefe, nosso grande líder, o pai dos pobres”, são expressões que desqualificam
cada um e a todos como sujeitos da história, e os aproximam de manadas, de
hordas, propiciam caldo de cultura ao autocratismo.
A democracia como
governo do povo, não é um modelo único, acabado e fechado. Varia conforme o
país, a história, a cultura, a correlação de forças, e a base econômica sobre a
qual se ergue. Há governo do povo, mas não pelo povo. Há governo do povo, pelo
povo, mas não com o povo protagonista e participante das decisões que lhe
afeta.
A Inglaterra tem uma
democracia monarquista, os EUA têm uma democracia na qual o voto popular não é
o determinante, os doadores da campanha são os bigs eleitores e
dois partidos de mesma natureza ideológica se revezam no governo; existem as
democracias parlamentaristas e as presidencialistas, enfim, a democracia é
relativa e processual, sempre em devir.
Na sua gênese a
democracia era exercida nas praças pelos cidadãos. “A praça é do povo,
como o céu é do condor”, já versou o poeta. A praça ficou pequena, as
separações de classe aumentaram e os conflitos também, a forma indireta passou
a prevalecer. De um lado, o povo, de outro, seus representantes.
A democracia
representativa é a democracia das elites. A elite política que representa os
segmentos sociais e econômicos. Seja o segmento de empresários, seja o de trabalhadores.
A pirâmide da
democracia representativa terá sempre o ápice para poucos, uma minoria, uma
elite. Por mais que seja aumentada a estrutura de poder da democracia
representativa, ela terá, inevitavelmente, o cume estreito. A pirâmide não se
transformará em quadrado!
Se a praça física
ficou pequena, a praça virtual é, em princípio, infinita. Através da tecnologia
todos são alcançáveis, portanto, potenciais participantes de decisões. Assim,
terá o seu destino ao alcance de suas decisões e não somente de representantes
ou de venerando líder.
Construir a democracia
participativa é levar o modo de ser democrático a estender sua capilaridade aos
locais de trabalho, estudo, moradia e, sobretudo, aos organismos
representativos: sindicatos, associações, federações, conselhos,
partidos.
Construí-la é criar
mecanismos de participação decisória em todas as faixas da pirâmide. De baixo
para cima e de cima para baixo.
Sem uma democracia
organicamente participativa, os direitos dos trabalhadores serão sempre
vulneráveis e a esquerda perseguida.
Democracia e
capitalismo coexistem por um tempo, mas não por todo tempo, pois enquanto a
democracia é pela descentralização do poder e da renda, o capitalismo é pela
concentração de renda e poder. Enquanto a democracia é coletivista, o
capitalismo é monopolista. Enquanto a democracia é pelo pleno emprego, o
capitalismo é pela existência de uma mão de obra de reserva (desempregada).
Enquanto a democracia é pela diferença cada vez menor entre salários, o
capitalismo necessita de elites salarias que gerenciem o capital. Enquanto o
capitalismo é pela maximização do lucro, portanto, mais-valia crescente, seja
absoluta, seja relativa, a democracia é pela redução da mais-valia, ou seja:
diminuição da jornada de trabalha sem redução do salário, aumento da produtividade
com melhoria salarial.
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O capitalismo é pela plutocracia, a democracia é pelo governo popular
O caminho reformista é
o único na atual conjuntura da correlação de forças, contudo, se seguir uma
estratégia que exclua o empoderamento popular, isto é, formação
político-ideológica, fomento à organização basal e participação nas demandas e
decisões, estaremos sujeitos a andar em círculos e a democracia permanecer sob
o fio de alta tensão dos golpistas.
Para tanto, o uso
massivo dos meios de comunicação, os mecanismos de consulta direta à população,
referendo, plesbicito e leis de iniciativa popular, devem ser
continuados.
Onde houver governos
progressistas, municipais, estaduais e federal, é a receita tática a ser
implantada.
Quem teme o resultado
da formação, organização e participação (FOP)?
Todos que temem a
educação como força libertadora e também o peleguismo e o populismo.
Como estabelecer uma
estratégia não reformista? É viável? Como?
A premissa primeira é
o povo sonhar para além do café, almoço e janta. Um sonho do seu
país ideal, onde se sentirá feliz. Estômago saciado, coração aquecido.
A segunda premissa é
ter todas as forças de esquerda engajadas na realização desse sonho.
A terceira é a
realização de um acordo de partidos, entidades e movimentos sociais, para
discutir e estabelecer uma estratégia de longo prazo, com cartel de táticas com
responsabilidade divididas entre os membros da concertação.
Sem sonhar, não haverá
motivação de fôlego. Os trabalhadores, mulheres, negros, tendo um sonho de um
novo país, acreditando na viabilidade de tornar o sonho realidade, se sentido
protagonista do sonho e da estratégia de concretização, estará em condições
para perseguir cada tática com o foco-guia da estratégia do sonho.
Não é necessário e até
dispensável dar nomes envelhecidos a essa nova sociedade imaginada, cujo
dístico deve ser: O SONHO DE UM NOVO BRASIL.
Ousar sonhar, ousar
realizar.
¨ Vitória da esquerda na França é um sopro de esperança por um
novo caminho progressista. Por José Reinaldo Carvalho
As eleições
parlamentares de segundo turno na França trouxeram uma surpreendente
reviravolta política, uma clara rejeição às forças reacionárias da extrema
direita, com uma derrota adicional do presidente Emmanuel Macron que defraudou
as expectativas do povo francês ao fazer um governo conservador, neoliberal e
antipopular em toda a linha. O máximo que conseguiu foi salvar os móveis no
sinistro que abalou as estruturas de sua residência.
A esquerda obteve uma
vitória contundente, embora sem maioria absoluta, consolidando-se como a
principal força política do país. Em contraste, a extrema direita sofreu uma
derrota acachapante, demonstrando que o eleitorado francês não está disposto a
aceitar políticas fascistas.
A inexistência de uma
maioria absoluta cria um cenário político incerto, abrindo espaço para
manobras, pressões e negociações. Com a Nova Frente Popular (NFP) alcançando
até 199 cadeiras, Macron até 169 e a extrema direita até 143, o parlamento
francês se tornou um campo de batalhas políticas intensas.
Venceu a tática da
frente popular que do primeiro para o segundo turno se alargou e se transformou
na “frente republicana”, reunindo a esquerda, diferentes setores progressistas,
centristas e de centro direita. A tática demonstrou ser um método eficaz para
frear a extrema direita. A barragem contra o fascismo funcionou, mostrando que
o povo francês reage vigorosamente diante de semelhante ameaça fascista.
A Nova Frente Popular
chega ao primeiro posto da vida política nacional com a maior bancada na
Assembleia da República, portando um programa radicalmente antineoliberal, o
que significa um sopro de esperança para as amplas massas populares, os
deserdados, os despossuídos, oprimidos e explorados, abrindo a perspectiva de
justiça social numa sociedade cada vez mais excludente.
A extrema direita, em
sua habitual retórica destemperada, alega que o que ocorreu foi a aliança da
vergonha e da desonra. No entanto, afirmamos que foi a aliança possível da
virtude que abriu caminho para salvar a honra da França. A vitória da esquerda
não é apenas um triunfo eleitoral, mas um claro recado de que os valores
progressistas da igualdade prevalecem sobre as políticas e ideologias
retrógradas.
O futuro, porém, ainda
é incerto. Três cenários são possíveis: 1) um governo minoritário da esquerda;
2) manobras e pressões de Macron para impor um primeiro-ministro mais próximo a
ele do que aos seus pares da Nova Frente Popular, para formar uma coalizão
arrancando concessões da esquerda; e 3) um governo técnico.
O presidente da
República tem a obrigação institucional de indicar um primeiro-ministro da
força vencedora, a Nova Frente Popular que pode sim, assumir o governo com o
programa vitorioso, mesmo sem maioria no Parlamento. As demais forças políticas
adversárias, ainda que fazendo oposição, têm a obrigação de não atirar a França
na ingovernabilidade e no caos político. A extrema direita foi derrotada mas
segue com força política e está disposta a prosseguir sua ofensiva
antidemocrática e antissocial.
O povo francês mostrou
que está disposto a lutar por um futuro melhor. Estão criadas as possibilidades
para a França trilhar um caminho progressista.
¨ A vitória da democracia contra o fascismo. Por Arnóbio Rocha
Na semana passada
escrevi que a grande vencedora das eleições francesas tinha sido a
esquerda, A NOVA FRENTE POPULAR (CENTRO-ESQUERDA) É A
VENCEDORA NA FRANÇA. Alguns não entenderam a lógica ali
exposta, por mais simples que parecesse.
A RN de extrema
direita tinha tido 33% dos votos, enquanto a Nova Frente Popular (NPN) teve
28%. Era óbvio que a extrema direita teria mais votos, no entanto, a esquerda
além do 2° lugar, se pôs como protagonista no segundo turno para derrotar a
ameaça fascista.
Hoje, 07.07.2024, é
histórica, uma virada fenomenal que tira, por enquanto, a ameaça fascista na
França, enfraquece a extrema direita no país e no mundo. A RN caiu para o 3°
lugar, contrariando os prognósticos mais pessimistas.
A reviravolta francesa
somada à retumbante vitória dos Trabalhistas ingleses apontam para um novo
cenário político, em que se pode respirar um pouco aliviado, o próximo embate,
que será a eleição presidencial dos EUA, em novembro.
Viva a democracia,
viva a esquerda!
Fonte: Brasil 247
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