quarta-feira, 10 de julho de 2024

Ascensão científica da China é prenúncio de queda ocidental, dizem analistas

A China superou os Estados Unidos em termos de pesquisa científica de alto impacto, apontam os maiores agregadores científicos do mundo. Enquanto os EUA investem, sem retorno, em guerras pelo mundo, a ascensão chinesa assusta Washington e dita os novos rumos mundiais, dizem analistas entrevistados pela Sputnik Brasil.

A revista britânica The Economist apontou a ascensão científica da China e as preocupações que vêm surgindo na Casa Branca de que as sanções implementadas contra Pequim não estão funcionando.

"Durante séculos o Ocidente menosprezou a tecnologia chinesa", diz a publicação. "Os europeus lutaram para aceitar que um lugar tão distante pudesse ter inventado a bússola, a besta e o alto-forno."

Por muito tempo, também, as publicações científicas chinesas foram desconsideradas pelas instituições ocidentais, em um binômio muita quantidade e baixa qualidade.

Hoje, contudo, o cenário se inverteu e, a passos largos, a China produz cada vez mais ciência de alta qualidade, evidenciam os indicadores de análise científica, como Clarivate e Nature Index.

Os índices citados se preocupam com a qualidade dos artigos científicos produzidos, medida através de sua influência sobre outros artigos. No primeiro, em 2003, a China figurava atrás dos Estados Unidos em uma grandeza de 20 vezes. Dez anos mais tarde, em 2013, a diferença diminuiu para uma grandeza de 4 vezes.

Passados mais dez anos, a China superou tanto os EUA quanto a União Europeia.

Já no segundo agregador, iniciado em 2014, a China ocupou a segunda posição até 2023, quando ultrapassou os EUA, contribuindo com cerca de um terço dos artigos para as publicações da marca Nature.

Alexandre Pires, professor de economia e relações internacionais do Ibmec, explica que dentro do xadrez geopolítico global, a posição dos países depende da sua capacidade de inovar. "Tudo que existe se torna obsoleto, e os países que conseguem se manter à frente do processo de inovação acabam melhorando suas posições."

A opinião é compartilhada por Diego Pautasso, doutor em relações internacionais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e especialista em China. Desde a construção do sistema do mundo moderno, "as hegemonias são hegemonias geopolíticas e geoeconômicas".

"Essa hegemonia geoeconômica está baseada na liderança produtiva e na liderança da inovação. Não por acaso, os polos que lideraram as revoluções industriais lideraram também o sistema internacional."

"E o que a gente vê é a China cada vez mais liderando o mundo em termos produtivos e cada vez mais em termos tecnológicos. E isso cacifa a China a assumir um papel de liderança no mundo."

·        'Não precisa de futurologia'

Além de se destacar na produção científica de qualidade, a publicação ressalta que o país asiático está ganhando espaço em setores fundamentais para o futuro da economia mundial, como tecnologias quânticas, inteligência artificial (IA) e semicondutores.

Na China, sublinha a The Economist, as áreas prioritárias para investimento são determinadas pelo governo em seus planos quinquenais. É o caso, por exemplo, de pesquisas agrícolas, tidas pelo Partido Comunista Chinês como essenciais para a segurança alimentar da população. E assim também foram definidos os setores da fronteira tecnológica.

Segundo Pires, essas tecnologias são a grande aposta da indústria para gerar "ganhos de produtividade". Muitas das inovações dos anos 1990, 2000, 2010 e 2020 não eram ligadas ao aumento da produtividade do trabalho.

Dessa forma, aponta o professor do Ibmec, a Indústria 4.0, "essa combinação de IA, computação mais rápida e robótica", tem gerado grandes expectativas em relação a produtividade e ganhos de escala.

"O mundo, há algum tempo, não sofre um choque de produtividade, e esses setores têm sido chave nisso."

Enquanto isso, os Estados Unidos se ocupam "basicamente de uma política internacional de contenção, de sanções de guerra", diz Pautasso.

Os gastos militares bilionários de Washington, como o auxílio à Ucrânia e a Israel, são cada vez mais criticados até mesmo pelos próprios políticos norte-americanos, como o ex-presidente Donald Trump e congressistas, como Marjorie Taylor Greene.

Essa política de policiamento global é, na opinião de Pautasso, errônea, uma vez que é insuficiente para manter os EUA na posição de potência hegemônica.

"E isso é a demonstração máxima do enfraquecimento do poder dos Estados Unidos."

Pautasso destaca ainda que o Instituto Australiano de Política Estratégica (ASPI, na sigla em inglês) publicou um relatório mapeando 44 tecnologias de vanguarda. Dessas, "a China lidera em 37 […]". "Isso coloca a China em uma condição de grande vantagem para enfrentar os desafios do século XXI."

Conforme aponta a revista e confirmado por Pires, esse é um dos grandes pontos de embate entre Pequim e Washington, que sancionou comercialmente a nação da Ásia para impedir seu progresso nesses setores. "Há uma disputa enorme nessas áreas."

No entanto, diz o economista, essa política acaba sendo ineficiente, uma vez que a China se mantém ligada ao Ocidente e se torna uma válvula de escape para países ainda mais sancionados, como Rússia e Irã.

Nesse ponto, a Índia também se torna um pólo de triangulação para contornar as proibições comerciais dos Estados Unidos e da Europa, afirma Pires.

De acordo com Pautasso, a política de sanções dos EUA tem dado errado sob várias perspectivas. "Primeiro porque tem precipitado a obsessão chinesa pelo desenvolvimento dessas tecnologias." Segundo porque as próprias sanções norte-americanas fazem com que os EUA percam esses mercados.

"Ou seja, mercados que eram importantíssimos para os Estados Unidos estão sendo perdidos em função de uma estratégia que é suicida."

E, em terceiro lugar, pelo fato de que os Estados Unidos não estão focando o problema estrutural de sua economia, "que é retomar o dinamismo". A economia norte-americana, afirma Pautasso, está com "uma infraestrutura cada vez mais velha, sucateada e cada vez mais financeirizada".

"Sem precisar de futurologia", o que se vê, crava Pautasso, é a China diminuindo rapidamente a dianteira ocidental dentro de "uma tendência de vir a ultrapassar os Estados Unidos dentro de uma década".

¨      China apresenta crescimento de dois dígitos com revolução digital

A indústria de software e serviços de tecnologia da informação (TI) da China apresentou um notável crescimento anual de dois dígitos em receita e lucros nos primeiros cinco meses de 2024, segundo dados oficiais divulgados Escritório Nacional de Estatísticas do país.

Os lucros do setor aumentaram 16,3% em relação ao ano anterior, atingindo 575,6 bilhões de yuans (aproximadamente R$ 433 bi). Simultaneamente, a receita combinada subiu 11,6%, totalizando 4,93 trilhões de yuans (R$ 3,72 tri).

A receita proveniente de computação em nuvem e serviços de big data também teve um crescimento significativo de 13% em comparação ao mesmo período de 2023..

Além disso, as receitas de produtos de software e de segurança da informação apresentaram aumentos anuais de 9,2% e 8,5%, respectivamente, evidenciando o robusto desempenho do setor.

<><> Investimento em IA

O governo chinês também tem feito um forte investimento na área de inteligência artificial, que tem contado com um apoio massivo da população do país.

Segundo a empresa de pesquisa International Data Corporation, o investimento da China em inteligência artificial (IA) deverá atingir 38,1 bilhões de dólares até 2027, representando cerca de 9% do total global.

O mercado de hardware de IA é atualmente o maior destino para as verbas, representando mais de 60% do mercado de IA da China. No entanto, espera-se que a proporção de investimento em software cresça, atingindo quase 10 bilhões de dólares nos próximos anos.

O embaixador da China na ONU, Zhang Jun, reforçou que o país tem um grande compromisso para lutar por um bom uso da tecnologia.

"Primeiro, devemos aderir ao princípio de colocar a ética em primeiro lugar. Os potenciais impactos da IA ??podem exceder os limites cognitivos humanos. Para garantir que esta tecnologia beneficie sempre a humanidade, é necessário considerar a orientação para as pessoas e a IA para o bem como os princípios básicos para regular o desenvolvimento da IA ??e evitar que esta tecnologia se transforme num cavalo selvagem em fuga", afirmou Zhang.

"Com base nestas diretrizes, devem ser feitos esforços para estabelecer e melhorar gradualmente normas éticas, leis, regulamentos e sistemas políticos para a IA, permitindo ao mesmo tempo que os países estabeleçam sistemas de governação da IA ??que estejam em linha com as suas próprias condições nacionais, com base no seu próprio desenvolvimento, características sociais e culturais", completou o embaixador.

¨      O megaprojeto chinês que deve revolucionar a conexão logística do país

A China continua a investir pesadamente em infraestrutura, buscando não apenas modernizar suas cidades, mas também impulsionar a conectividade e a economia regional.

No último dia 30 de junho, foi inaugurado o Corredor Shenzhen-Zhongshan, uma impressionante obra de engenharia que promete transformar a dinâmica de transporte e comércio na região do Delta do Rio das Pérolas (ou Rio Zhujiang).

O projeto é uma espécie de Ponte-Rio Niteroi. Para se ter uma noção, a conexão entre a capital carioca e sua vizinha via Baia de Guanabara tem treze quilômetros. A construção chinesa tem 24 quilômetros e combina pontes com túneis submarinos.

Veja o vídeo que mostra mais detalhes do projeto:

<><> Impacto do megaprojeto

A conclusão do Corredor Shenzhen-Zhongshan é deve ter um impacto significativo na economia regional. Atualmente, o tráfego entre Shenzhen e Zhongshan é feito principalmente via balsas e longas rotas terrestres que contornam a baía. Com a nova ligação direta, espera-se uma redução significativa no tempo de viagem, de aproximadamente duas horas para cerca de 30 minutos.

Esta melhoria na eficiência do transporte deve estimular o comércio e facilitar a mobilidade de trabalhadores entre as duas cidades, promovendo um crescimento econômico mais integrado na região.

Shenzhen é uma das mais importantes cidades de toda a China, e Zhongshan possui uma importante produção industrial que precisa ser escoada para o resto do país.

A nova conexão deve incentivar investimentos adicionais em infraestrutura urbana, logística e setores de alta tecnologia.

¨      Turismo de estrangeiros cresce na China e quebra estereótipos

O turismo estrangeiro na China cresceu significativamente no primeiro semestre de 2024 após o governo flexibilizar sua política de vistos para os viajantes internacionais.

Na primeira metade do ano, foi registrada a entrada de 14,635 milhões de entradas de cidadãos estrangeiros. Trata-se de um aumento de 152,7% em relação ao mesmo período do ano anterior.

8 milhões de entradas foram feitas sob a política de isenção de visto, representando 52%, um aumento de 190,1% em relação ao ano anterior.

Além dos países europeus e dos EUA, países como Grécia, Brasil, Hungria, Rússia e Canadá apresentaram um crescimento significativo em sua exportação de turistas para a China.

No Global Times, um dos principais periódicos chineses em língua inglesa, se destacou a importância de tal mudança para quebrar estereótipos sobre o país.

Recentemente, mostramos o vídeo de uma influenciadora de turismo brasileira mostrando que diversos estereótipos sobre a China eram mentirosos.

"A governança e o ambiente da China não são decididos por certos meios de comunicação ocidentais distorcidos, pensamentos mesquinhos e conjecturas subjetivas impostas ao público internacional", explica Li Haidong, professor da Universidade de Assuntos Estrangeiros da China, ao Global Times.

O pais tem investido em uma infraestrutura de altíssima qualidade com experiências incríveis para os turistas, além de oferecer acesso a uma tradição cultural e histórica milenar.

¨      China revela inovadora estratégia de defesa em uma possível invasão contra Taiwan

O Exército de Libertação Popular da China é extremamente consciente do interesse dos EUA e de outras potências estrangeiras em desestabilizar sua integridade territorial e Taiwan é um dos principais pontos de atenção de Pequim.

Um estudo publicado no jornal acadêmico chinês Command Control & Simulation, publicado em 5 de junho, revelou uma possível estratégia do Exército da Libertação Popular contra um eventual ataque contra a China.

<><> Resultados do estudo

Segundo o pesquisador Chen Huijie, engenheiro da unidade 92116 do PL, líder do estudo, a China seria capaz de manter um bloqueio naval e aéreo para defender a ilha apenas com seus drones militares.

"O bloqueio e controle de área se apresenta como um cenário típico de aplicação para enxames de drones em operações militares", descreve o artigo.

O artigo trata de uma simulação para bloquear e controlar uma ilha não nomeada com uma semelhante ao terreno de Taiwan. No cenário, a ilha estava fortificada com defesa antiaérea e com navios de guerra.

"Dada a presença de ameaças móveis amplamente dispersas, altamente ocultas e sensíveis ao tempo na ilha e nas águas adjacentes, o uso de forças tripuladas tradicionais para reconhecimento e ataques representa um desafio em termos de baixa relação custo-eficácia", escreveu a equipe de Chen.

"Por outro lado, equipamentos não tripulados oferecem vantagens, incluindo descartabilidade, baixo custo e mínimas baixas. A integração de agrupamentos não tripulados em uma guerra sistemática é esperada para acelerar os ciclos de reconhecimento, identificação, tomada de decisão e ataque, consequentemente aumentando a eficácia geral do combate"

A conclusão do estudo afirma que o uso de drones seria suficiente para conseguir controlar uma ilha sem a necessidade de destacamento de outras forças.

"Aumentar ainda mais o número de drones de patrulha aumentará a capacidade de combate, mas a mudança não é significativa", escreveram os pesquisadores.

<><> Drones chineses avançam

A China fez avanços significativos na tecnologia de drones militares nos últimos anos, com foco no desenvolvimento de drones tanto de alta qualidade quanto de baixo custo e descartáveis para várias aplicações.

O país está desenvolvendo drones capazes de se dividir em seis unidades separadas no ar para sobrecarregar a defesa inimiga e tem feito investimentos para desenvolvimento de alternativas militares mais baratas do que as encontradas no Ocidente.

A indústria bélica chinesa se tornou uma grande exportadora de drones militares, entregando mais de 280 drones de combate para o Oriente Médio, Norte da África e Sul da Ásia na última década.

 

Fonte: Sputnik Brasil/Fórum

 

Nenhum comentário: