segunda-feira, 8 de julho de 2024

Após ameaças de traficante evangélico, igrejas católicas fecham as portas no Complexo de Israel, diz irmandade

Depois de proibir terreiros de matrizes africanas, o traficante Álvaro Malaquias Santa Rosa, conhecido como Alvinho ou Peixão —que se diz evangélico—, decidiu que as igrejas católicas de Brás de Pina e Parada de Lucas, na Zona Norte do Rio, não poderão mais celebrar missas, casamentos ou batizados. A denúncia é da irmandade das igrejas católicas dessas paróquias.

Peixão está foragido. Contra ele, há ao menos 9 mandados de prisão por crimes variados.

Neste final de semana, as missas e eventos, como festas juninas e homilias, foram canceladas.

As igrejas afetadas são as paróquias de Santa Edwiges e de Santa Cecília, em Brás de Pina, e Nossa Senhora da Conceição e Justino, em Parada de Lucas.

Segundo católicos, motoqueiros armados com fuzis, que estariam cumprindo ordens de Peixão, foram nesta sexta-feira (5) às paróquias e ordenaram que não fossem realizados casamentos ou batizados.

Sem citar o caso, a Paróquia de Santa Edwiges usou suas redes sociais para anunciar o cancelamento de sua festa julina e das missas neste fim de semana.

“Comunicamos que nosso arraiá está suspenso neste fim de semana. Não teremos Santa Missa e atividades em nossa paróquia também. Igreja fechada. Em breve, retornamos com mais informações”, informa a mensagem.

Já nas redes sociais da Paróquia Nossa Senhora da Conceição e Justino, em Parada de Lucas, os administradores escreveram:

"As atividades paroquiais (missas, reuniões, secretaria, etc) estão suspensas até a segunda ordem".

De acordo com fiéis, o caso teria sido levado ao comando do 16º BPM (Olaria), responsável pelo policiamento na região, mas nenhuma medida teria sido colocada em prática.

A Polícia Civil disse que a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) investiga o caso. Apesar dos avisos postados, a Arquidiocese do Rio informou que as igrejas permanecem abertas.

A Secretaria de Segurança Pública do RJ também disse que as paróquias estão funcionando e informou que o policiamento segue reforçado na região.

•        A história de Alvinho, hoje Peixão

Em meados de 2016, Alvinho estava obcecado com uma ideia: “Libertar o povo da Alta”, como é chamada a comunidade da Cidade Alta.

Durante meses, só pensava num jeito de tomar o controle daquele conjunto habitacional em Cordovil, Zona Norte, vizinho a Parada de Lucas, favela que o traficante já controlava com uma receita básica: assistencialismo e mão de ferro.

Alvinho, hoje conhecido como Peixão, é o idealizador e chefe do Complexo de Israel, um conjunto de favelas na Zona Norte. Há quase uma década, é Peixão quem dá as cartas na região. Em 2016, ele deixou passar as Olimpíadas do Rio, para não chamar a atenção da polícia, e invadiu a Cidade Alta.

Aos poucos, foi expandindo seus domínios para as favelas vizinhas, como Pica-Pau e, mais recentemente, a Cinco Bocas, formando com Parada de Lucas e Vigário Geral o Complexo de Israel.

Peixão foi criado pela mãe, umbandista, que recebia santo (o Erê) vestida de branco, comia pipoca e doces de criança na esquina da Avenida Brasil.

Hoje adota e prega um discurso de “povo escolhido”. Mandou colocar a Estrela de Davi no topo da Cidade Alta e desenhou as bandeiras de Israel por toda parte. Seu bando passou a ser chamado de Tropa do Aarão.

A influência evangélica fez também com que as favelas fossem desenhadas com passagens bíblicas. Na esteira disso, veio a intolerância religiosa. Terreiros foram proibidos e imagens de santa retiradas.

O traficante já foi investigado por ordenar ataques a terreiros de religiões de matriz africana, através da atuação do Bonde de Jesus em Duque de Caxias, onde nasceu. Ele mesmo pregava em uma igreja evangélica no município, como contou o g1 em 2019.

Nota da Secretaria de Segurança Pública do RJ

"A Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro esclarece que as paróquias Santa Edwiges e Santa Cecília, em Brás de Pina, na Zona Norte da capital, estão abertas e com a segurança reforçada pela Polícia Militar. É importante ressaltar que não houve intimidação ou qualquer tipo de comando de traficantes para fechar as igrejas e que essa informação surgiu de boatos em redes sociais.

As forças policiais do Estado vêm realizando operações na região para retirada de barricadas e para aumentar a segurança da população, rotineiramente, há pelo menos dois meses. O blindado da Polícia Militar está baseado na localidade para evitar a retomada da instabilidade na região, garantindo o funcionamento das paróquias e a segurança dos moradores."

 

•        Intolerância religiosa: Homem destrói jardim de terreiro de candomblé; ialorixá diz ter sido insultada de 'negra sebosa'

Um homem depredou um terreiro de candomblé no Recife, em Pernambuco. O suspeito foi filmado usando uma marreta para destruir vasos de plantas e um banco de concreto.

As imagens, às quais o Terra teve acesso nesta sexta-feira, 5, mostram o homem discutindo com frequentadores do Terreiro Ilê Axé Oyá Igbalé Funan, na comunidade de Jardim Petrópolis, na capital pernambucana. Fundada em 2018, a casa segue a tradição Nagô.

"Vem para ver se você aguenta", ameaça ele. "A gente vai para a Justiça", responde uma mulher durante a discussão. "Vamos para a Justiça, eu tenho advogado caro", argumenta o suspeito.

O vídeo que mostra a depredação foi gravado na última quarta-feira, 3, quando também foi celebrado o Dia Nacional de Combate à Discriminação Racial. De acordo com a ialorixá Elaine Bezerra Torres, a esposa do agressor, que também aparece nas imagens, a insultou com ofensas racistas e a chamou de "negra sebosa".

O homem é vizinho do terreiro há alguns meses e faz uma reforma em sua residência. As brigas entre ele e os membros do centro religioso começaram após a construção de uma área de convivência para crianças no espaço do terreiro.

"Fui informada pelo pedreiro (responsável pela reforma) que ele ia retirar a grade de proteção da encosta. Eu fui questionar, dizendo que já havia um projeto para a área de crianças e por isso a grade de proteção existia (...) Ele disse que não queria crianças perturbando a vida dele, perto da casa dele", explicou ao Terra.

A segunda briga ocorreu no dia em que Elaine colocou vasos e o vizinho os retirou. Ela o questionou e o "quebra-quebra" começou. "Ele afastou as coisas e no outro dia teve isso", seguiu.

Vizinhos acionaram a polícia após a agressão e o suspeito foi levado à Central de Plantões da Capital (Ceplanc), no Recife. Além da depredação, ele também foi denunciado por injúria.

 

Fonte: g1/Terra

 

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