segunda-feira, 8 de julho de 2024

Antidepressivos realmente engordam? Quais provocam maior ganho de peso? Estudo de Harvard responde

Embora os antidepressivos sejam fundamentais no tratamento de alguns pacientes com transtornos mentais, eles não estão isentos de efeitos colaterais. Um dos mais relatados é um possível ganho de peso. Diante disso, um estudo da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, analisou e revelou dados sobre os efeitos dos antidepressivos mais prescritos no mundo no ganho de peso. O trabalho foi publicado nesta terça-feira, 2, no periódico Annals of Internal Medicine.

Os pesquisadores estudaram registros de saúde de mais de 183.000 adultos, avaliando as mudanças no peso provocadas por cada medicação no período de seis meses após os participantes começarem a tomá-la. Foram analisados os efeitos dos oito antidepressivos de primeira linha mais usados globalmente: sertralina, citalopram, bupropiona, escitalopram, fluoxetina, venlafaxina, paroxetina e duloxetina.

Eles notaram como cada tratamento afetou o peso médio das pessoas em comparação com a medicação sertralina, além de examinar a probabilidade de os pacientes ganharem pelo menos 5% a mais do seu peso inicial durante os meses de análise.

Os pesquisadores identificaram variações no ganho de peso entre as diferentes subclasses de antidepressivos, sendo o escitalopram, paroxetina e duloxetina apresentando o maior risco de aumento na balança e a bupropiona levando à perda de peso.

<><> Comparativo do ganho de peso em seis meses

<< Escitalopram: em seis meses, os participantes que faziam uso de escitalopram apresentam um ganho de peso estimado de 0,41 kg a mais em comparação com a sertralina;

<< Paroxetina: ganho de peso de 0,37 kg;

<< Duloxetina: ganho de 0,34 kg;

<< Venlafaxina: ganho de de 0,17 kg;

<< Citalopram: ganho de 0,12 kg;

<< Fluoxetina: Demonstrou uma mudança quase neutra no peso, com uma diferença de -0,07 kg;

<< Bupropiona: Foi associada a uma perda de peso, com uma diferença de -0,22 kg.

Além do dado sobre o ganho médio de peso, os cientistas também notaram que os usuários de escitalopram, paroxetina e duloxetina têm um risco de 10% a 15% maior de aumentar em 5% seu peso. Por outro lado, os usuários de bupropiona tiveram uma chance 15% menor de ganho de quilos.

A adesão aos medicamentos também variou ao longo do período de seis meses: duloxetina teve a menor taxa de adesão, com 28%, e bupropiona apresentou a maior taxa de adesão, com 41%. A diferença nas taxas de adesão aos medicamentos é considerada uma limitação do estudo, já que a inconsistência no uso dos remédios pode afetar os dados analisados sobre o ganho de peso.

De qualquer forma, os autores da pesquisa dizem que esses resultados são importantes, pois médicos e pacientes podem querer considerar esse risco de ganho de peso ao tomar decisões sobre qual antidepressivo específico começar, especialmente para pacientes que estão preocupados com a balança.

Importante ressaltar que a troca ou interrupção de qualquer medicação prescrita, especialmente de antidepressivos, só deve ser feita com orientação médica. Uma parada abrupta pode levar à piora dos sintomas do transtorno mental tratado.

 

•        Antidepressivo vicia? Engorda? Será mesmo verdade? Entenda alguns mitos e verdades sobre os antidepressivos

Os antidepressivos são medicamentos utilizados para combater os sintomas da depressão.

Além dos estigmas que tais medicamentos carregam, são diversos mecanismos de ação que podem ser utilizados. Isso significa que alguns antidepressivos agem de maneira diferente dos outros, o que pode gerar muitas dúvidas e confusões.

Para combater este estigma acerca dos antidepressivos, aqui vão alguns mitos e verdades sobre o uso de antidepressivos:

•        Antidepressivos viciam

Talvez um dos maiores medos que as pessoas têm ao iniciar o tratamento com antidepressivos é o de correr o risco de viciar em um medicamento. Contudo, isso é um mito: antidepressivos não viciam.

O que ocorre é que, após a suspensão do medicamentos, alguns sintomas que a pessoa tinha anteriormente podem retornar, dizemos que a doença ainda estava ativa. Além disso, a falta abrupta do medicamento pode causar desequilíbrios nos neurotransmissores (síndrome de descontinuação), mas este desequilíbrio é resolvido em algumas semanas ou meses e não significa que existe um vício.

Para lidar com isso, médicos psiquiatras recomendam fazer o “desmame” do medicamento, ou seja, ao invés de simplesmente parar de usar, ir diminuindo as doses gradativamente. Dessa forma, evita-se o surgimento de sintomas de retirada.

•        Antidepressivos engordam

Esse tópico é parcialmente verdadeiro, porque não são os antidepressivos de fato que fazem a pessoa ganhar peso. O que acontece é que alguns tipos de antidepressivo afetam o apetite, podendo aumentá-lo ou diminuí-lo.

Pessoas que têm o apetite aumentado como efeito colateral do antidepressivo podem acabar se alimentando com mais frequência e em maiores quantidades, o que pode ocasionar o ganho de peso caso a energia extra adquirida pela alimentação não seja gasta.

Da mesma forma, pessoas que têm o apetite diminuído pelo antidepressivo podem deixar de se alimentar com tanta frequência, o que eventualmente leva à perda de peso.

Na realidade, não tem como prever exatamente qual será o efeito do antidepressivo no apetite de uma pessoa, e, portanto, é interessante que o paciente preste atenção neste detalhe.

Caso considere que as alterações no apetite estejam causando alterações de peso indesejadas, conversar com o psiquiatra para verificar a possibilidade de mudar ou ajustar a medicação é sempre uma boa ideia.

•        Antidepressivos tem efeito sedativo

Quem nunca ouviu falar que os antidepressivos deixam as pessoas sedadas? Este é outro mito relacionado aos usos dos antidepressivos que possuem um “fundo de verdade”.

Na realidade alguns tipos de antidepressivos podem causar (mirtazapina, amitriptilina, trazodona e paroxetina, por exemplo)  e outros não têm efeito sedativo (venlafaxina, sertralina, duloxetina).

Grande parte dos antidepressivos mexem com os neurotransmissores que são responsáveis pela manutenção de um padrão de sono (pois são os mesmos que são responsáveis pela regulação do humor) e, portanto, ao iniciar a medicação, pequenos desequilíbrios que ocorrem no período de adaptação podem alterar o padrão de sono da pessoa.

Algumas pessoas podem precisar de mais horas de sono por dia, enquanto outras podem precisar de menos. Contudo, é esperado que essas desregulações sejam resolvidas em algum tempo, tendo em vista que o organismo tende a se adaptar ao medicamento.

Contudo, se você está medicado com algum antidepressivo e sente que isso tem atrapalhado a questão do sono, é importante conversar com seu psiquiatra para conferir a possibilidade de ajustes na medicação.

•        Os antidepressivos só servem para a depressão

Apesar do nome, os antidepressivos não são medicamentos indicados apenas para quadros depressivos. Uma grande variedade de transtornos mentais são influenciados pelos mesmos neurotransmissores que os antidepressivos atuam e, portanto, o uso de antidepressivos para estes transtornos também é efetivo.

Dentre tais transtornos estão os transtornos ansiosos, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), problemas de sono, fibromialgia, ejaculação precoce…

•        Mudanças de personalidade podem ser causadas por antidepressivos

# Mito.

É fato que uma pessoa deprimida se comporta de maneira diferente de uma pessoa não deprimida, e o uso de antidepressivos tende a mudar o comportamento de uma pessoa, pois os sintomas de depressão deixam de existir.

Muitas pessoas acabam confundindo essa mudança de comportamento como uma mudança de personalidade, mas trata-se de um mito. Os antidepressivos não alteram a personalidade de uma pessoa, só permitem que ela se expresse melhor.

Uma pessoa muito deprimida pode não ter energia ou vontade de fazer as coisas, pode mudar seus padrões de comportamento sociais (isolando-se), podem deixar de expressar seus pensamentos e opiniões; enfim, a depressão é uma verdadeira máscara para a personalidade de uma pessoa.

Sendo assim, quando o antidepressivo entra em ação, a pessoa consegue ter energia para se expressar, para viver de acordo com aquilo que deseja e acredita, enfim, pode finalmente expressar sua personalidade sem essa máscara da depressão.

Ou seja, o antidepressivo não muda a personalidade de ninguém, só permite que ela seja expressada de maneira adequada.

•        Antidepressivos podem demorar para funcionar

# Verdade.

- Infelizmente, o efeito dos antidepressivos não é imediato, podendo demorar entre 2 a 6 semanas para que o paciente apresente melhorias nos sintomas da depressão.

No entanto, os efeitos colaterais podem surgir já na primeira semana de tratamento, fazendo com que muitas pessoas acreditem que o tratamento não funciona e só faz mal.

Contudo, se continuar o tratamento, a tendência é que grande parte destes efeitos colaterais sejam temporários e desapareça, tendo em vista que muitos surgem no momento em que o organismo está se adaptando à medicação.

Portanto, se você iniciou o tratamento com antidepressivos recentemente e sente que eles não estão funcionando ou só estão piorando a situação, tenha um pouco de paciência e converse com seu psiquiatra caso os efeitos colaterais sejam realmente muito intensos.

•        É preciso tomar antidepressivo para o resto da vida

# Mito.

- A depressão é frequentemente um quadro passageiro, que pode ser resolvido em um ano com o tratamento adequado. Porém, algumas pessoas possuem quadros crônicos, que precisam de tratamento constantemente. Por isso, alguns pacientes irão sim tomar antidepressivos por muitos anos.

No entanto, mesmo pessoas com depressão crônica podem não precisar dos medicamentos a vida inteira. Frequentemente, o tratamento psicológico por meio da psicoterapia também ajuda a aliviar os sintomas, então é possível que a pessoa passe longos períodos sem tomar medicação alguma e com o transtorno em remissão, mas às vezes, por alguma mudança em seu corpo, na sua história de vida, podem precisar voltar a usar.

Nenhum caso é igual ao outro e cada um tem um prognóstico próprio. Só porque alguém que você conhece precisa do medicamento há anos e não tem previsão de quando irá parar, não significa que este será o caso de todas as pessoas.

•        Antidepressivos afetam a libido

# Parcialmente verdade.

- Depende do antidepressivo utilizado. A própria depressão traz alterações na libido, assim como no apetite e no sono, e pelo mesmo motivo, a medicação pode acabar interferindo na libido.

Em alguns casos, o antidepressivo pode ajudar um paciente a recuperar sua libido caso ela esteja muito baixa por conta de depressão. Em outros, ele realmente pode dar uma boa diminuída no desejo sexual. Existem ainda os pacientes que demoram a ejacular com o uso da medicação mas não têm o desejo alterado.

Assim como ocorre no sono e no apetite, não é possível prever com certeza como a libido do paciente será afetada pela medicação (ou até mesmo se ela será afetada, o que pode não ocorrer).

Além dos antidepressivos, outras medicações podem interferir no desejo sexual como alguns usados para o tratamento de pressão alta e até mesmo anticoncepcionais.

Por isso, é importante que o paciente tome nota do que ocorre com sua libido, outras substâncias em uso durante o tratamento e traga isso para o psiquiatra para, caso seja necessário, ajustar a medicação.

•        Os antidepressivos interagem com muitos medicamentos

# Parcialmente verdade.

_ Tudo depende do mecanismo de ação do antidepressivo e dos outros medicamentos.

Interações medicamentosas são comuns e ocorrem com absolutamente qualquer tipo de medicamento, não apenas antidepressivos. Por isso, sempre diga ao seu psiquiatra e demais médicos quais os medicamentos que você está tomando, para que eles possam indicar medicações que não causem tais interações.

As interações medicamentosas mais comuns dos antidepressivos são com medicamentos analgésicos, anticoagulantes, anestésicos, anticonvulsivantes e anti-hipertensivos além de outros antidepressivos.

•        Quem toma antidepressivo não pode beber álcool

# Parcialmente verdade.

- Alguns antidepressivos podem interagir com o álcool e causar efeitos indesejáveis.

Na realidade, a combinação de álcool e depressão já é uma péssima combinação. Isso porque o álcool pode potencializar os sintomas do paciente depressivo, além de deixá-lo mais impulsivo, o que muitas vezes pode colocar sua vida em risco.

Em relação aos medicamentos, alguns antidepressivos são “pesados” para o fígado, órgão que também fica debilitado pelo álcool. Portanto, misturar antidepressivos e álcool pode ser uma verdadeira bomba para o fígado, que fica sobrecarregado e consequentemente pode trazer uma série de problemas a longo prazo. Além disso, a interação de antidepressivos podem aumentar o efeito do álcoo – os desejáveis como os indesejáveis.

O álcool também pode contribuir para a hipoglicemia em conjunto com alguns antidepressivos, além da possibilidade de sangramentos gastrointestinais.

Em suma, o álcool aumenta os sintomas depressivos, que é justamente o que tentamos combater com os antidepressivos, e também pode causar danos físicos ao organismo quando misturado com tais medicamentos.

Por isso, beber álcool utilizando antidepressivos é um tanto perigoso, mas não é realmente proibido. O importante é beber com moderação, evitando exageros.

•        Na mulher, os antidepressivos podem afetar a menstruação e a lactação

# Parcialmente verdade.

- Alguns tipos de antidepressivos podem alterar a menstruação, mas estes são pouco usados nos dias de hoje.

Além disso, para novas mamães que estão amamentando, é importante tomar bastante cuidado, pois alguns antidepressivos podem passar para o leite materno, que por sua vez pode acabar indo para o bebê.

Contudo, existem antidepressivos que não passam  para o leite materno, e, caso a mulher esteja amamentando, é importante que ela deixe isso claro para que o psiquiatra possa indicar um desses antidepressivos que podem ser usados no período de lactação.

•        Antidepressivos deixam de fazer efeito com o tempo

# Mito.

- Não é que os antidepressivos deixam de fazer efeito, mas frequentemente são necessários ajustes nas doses e até mesmo nas medicações utilizadas.

Como citado anteriormente, ao iniciar o tratamento com antidepressivos, o organismo passa por todo um processo de adaptação e, com isso, pode ser que ele simplesmente não se adapte adequadamente ao antidepressivo, fazendo com que pareça que o medicamento “perde o efeito”.

Por isso, são necessárias trocas ou associações de outros medicamentos para que o efeito do antidepressivo seja potencializado e o organismo consiga se adequar.

Em casos raros, existem pessoas que realmente não respondem bem aos antidepressivos. São os casos de depressão resistente (ou refratária), uma espécie de depressão para a qual nenhum antidepressivo consegue se manter eficaz por muito tempo.

 

Fonte: Agencia Estado/IPPr – Instituto de Psiquiatria do Paraná

 

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