segunda-feira, 22 de julho de 2024

Aliado estratégico: o que há por trás do interesse dos EUA no Quênia?

Em meio a uma série de protestos devido ao projeto de lei de finanças do presidente queniano, William Ruto — que desistiu do texto após a morte de mais de 20 pessoas —, o Quênia vive dias intensos.

Apesar das manifestações e dos confrontos com policiais que fazem uso de gás lacrimogêneo e balas de borracha, um interesseiro conhecido — os Estados Unidos — tem demonstrado "afetos" pelo Quênia.

A nação considerada a maior potência do mundo — com seus dias de poderio contados com a insurgência de um mundo multipolar — sinalizou que o Quênia é um país aliado não OTAN. Mas o que isso quer dizer?

·        Interesse militar

A sinalização dos EUA de aproximação amigável do Quênia, declarado um país aliado não membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), traz à tona o que guia o interesse do país norte-americano. Segundo Franco Alencastro, professor de relações internacionais da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), "como aliados preferenciais da OTAN, isso permite o acesso do Quênia à compra preferencial de material militar".

"Por exemplo […] munições antitanque de urânio empobrecido, entre outros equipamentos militares avançados", explica o especialista em entrevista ao Mundioka, podcast da Sputnik Brasil.

De acordo com Alencastro, o Quênia pode ser visto como um aliado tradicional dos EUA, sobretudo a partir do final da Guerra Fria. E essa ligação foi fortalecida durante alguns dos governos dos EUA no século XXI.

"[Como o de] Barack Obama, cujo pai era justamente de origem queniana. O Obama visitou o Quênia em 2015, foi aclamado pela população."

Outro fator, segundo ele, foi a Guerra ao Terror, do ex-presidente George Bush (2001–2009), precedida, antes do 11 de Setembro, por um ataque da Al-Qaeda (organização terrorista proibida na Rússia e em vários outros países) à Embaixada dos EUA em Nairóbi, em 1998.

"[Isso] Fez com que o Quênia fosse observado com muito interesse pelos Estados Unidos durante o governo Bush, durante a Guerra ao Terror, e fosse considerado um parceiro nessa atuação."

O professor explica que o Quênia — assim como muitos outros países da África — é principalmente um exportador de bens primários, vendendo produtos como chá, flores e petróleo, mas que tem apresentado uma economia estável.

"Falando da parte política: na economia, é um país mais estável do que a maioria dos outros países africanos, que pode não parecer atualmente, com esses protestos, mas isso é fruto de um cenário político mais estável no Quênia. Sem guerras, sem grandes guerras civis e movimentações desse tipo."

Essa estabilidade, segundo o pesquisador, "faz com que a economia do Quênia tenha crescido bastante nos últimos anos", com uma média de 5% na última década. Mas com um porém, um aumento do endividamento, "que foi justamente para impulsionar a economia com grandes obras, investimento em infraestrutura, e que neste momento vem cobrando as consequências, porque o governo tem tido dificuldade de equilibrar o orçamento".

Sobre a decisão do presidente do Quênia de dissolver quase todo o governo, à exceção do ministro das Relações Exteriores e do vice-presidente, Alencastro aponta que é uma decisão que corrige rumos.

"Eu creio que ele não demitiu também o ministro de Relações Exteriores para manter alguma estabilidade no campo externo, principalmente aí no seu diálogo com a União Africana, para garantir que a sua relação com os vizinhos continue da maneira que vem seguindo. […] Mas no quadro interno, eu acho que [a mudança] se trata bastante de uma resposta a uma extrema insatisfação da população."

¨      Bissau: "Declarações de Sissoco Embaló são prejudiciais à democracia"

A relação entre o Presidente da Guiné-Bissau e os jornalistas guineenses ganhou novos contornos, após Umaro Sissoco Embaló ter afirmado que decretou um "boicote" ao sindicato da classe, que tinha apelado aos seus associados para não cobrirem as atividades do Chefe de Estado.

Após as declarações desta quinta-feira (18.07.) do Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, fonte do Sindicato dos Jornalistas e Técnicos da Comunicação Social (SINJOTECS) disse à DW que o órgão está a levar a sério o anúncio de Embaló, adiantando que está prevista para este sábado (20.07) uma reunião dos órgãos de comunicação social guineense para analisar a situação e tomar uma posição.

Umaro Sissoco Embaló acusa o SINJOTECS de estar caduco e diz ter decretado um "boicote" aos jornalistas e ao seu sindicato, em resposta ao apelo que o órgão representante da classe fez aos associados para boicotarem os eventos do Chefe de Estado, que na semana passada soltou palavras insultuosas contra um jornalista.

"Eu também boicotei jornalistas. Já decretei boicote ao sindicato de jornalistas, que é um órgão ilegal. Quem não está legal não pode falar, só estão a falar porque a Procuradoria-Geral da República (PRG) não está a fazer o seu trabalho", disse Embaló que acrescentou que a PGR e o Ministério da Comunicação Social "devem acionar mecanismo contra esse órgão caduco."

<><> Ordem à PRG e ao Governo

Em entrevista à DW, o jurista Fodé Mané considera que estas declarações de Sissoco Embaló visam transmitir um recado ao Executivo. Segundo Mané, ao dizer que o Governo deve tomar medidas contra o Sindicato dos Jornalistas e Técnicos da Comunicação Social, o PR estaria a dar ordens no sentido de o Executivo atuar contra o sindicato.

"Ele [Presidente da República] pretende demonstrar que as pessoas que o desafiam devem pagar por isso", afirmou Mané.

Para o jornalista Bacar Camará, a atitude de Sissoco Embaló são prejudiciais à democracia e ao Estado de Direito.

"Acho que o Chefe de Estado devia potenciar a liberdade de imprensa e a democracia. [Mas] com essa conduta, não ajuda para a consolidação da democracia e do Estado de Direito. Aliás, o Presidente da República tem constantemente hostilizado a imprensa, desde que assumiu a presidência do país", observou.

O jurista Fodé Mané não tem dúvidas de que as declarações do Chefe de Estado guineense também revelam à musculação perante os jornalistas.

"É a continuação e o aumento da sua agressividade contra os direitos fundamentais dos cidadãos, principalmente dos que defendem ou que são vozes dos sem vozes, que são os jornalistas", acrescenta.

<><> Comportamento antigo

A antipatia de Umaro Sissoco Embaló aos jornalistas e órgãos de comunicação social da Guiné-Bissau não são de agora. Também enquanto primeiro-ministro, em 2017, Embaló desferiu um duro ataque contra a imprensa nacional, ameaçando na altura contratar órgãos internacionais para atuarem no lugar dos jornalistas guineense que considera parciais e "sem preparação".

Desde que assumiu a Presidência da Guiné-Bissau em 2020, registou-se dois ataques armados à rádio privada Capital FM, encerramento das emissões de dezenas de rádios por alegadamente não pagarem a licença e ataques contra analistas políticos.

Em janeiro passado, Sissoco Embaló ameaçou acabar com analistas políticos nas rádios do país e acusou os jornalistas de serem da oposição.

Esses ataques levaram o Sindicato dos Jornalistas e Técnicos de Comunicação Social a realizar uma vigília em Bissau para pedir que Umaro Sissoco Embaló os "deixe trabalhar". Na ocasião, a presidente do SINJOTECS, Indira Correia Baldé, apelou também à intervenção do Chefe de Estado português, Marcelo Rebelo de Sousa, para sensibilizar o seu homólogo guineense sobre a forma de relacionar com a imprensa.

O jornalista Bacar Camará não vê solução para o problema.

"Eu acho que o Presidente não vai parar, vai continuar com os seus ataques à imprensa, sobretudo contra os jornalistas que estão a fazer a informação com total liberdade e independência. O Presidente não quer que lhe seja colocada questões que não são da sua conveniência ou não quer responder e, entretanto, o Presidente obriga a imprensa a colocar-lhe perguntas que lhe apetece. Sendo assim, naturalmente a confrontação vai continuar", concluiu.

¨      Turquia enviará Marinha à Somália após concordar com busca de petróleo e gás

A Turquia deve enviar apoio naval às águas somalis depois que os dois países concordaram com a exploração ao largo da costa da Somália para procurar petróleo e gás.

O presidente Recep Tayyip Erdogan apresentou uma moção ao Parlamento na sexta-feira (19) à noite, buscando autorização para o envio de militares turcos para a Somália, incluindo para as águas territoriais do país, relata a Reuters.

A medida ocorreu um dia após o Ministério da Energia turco anunciar que a Ancara enviará um navio de exploração à costa da Somália no final deste ano para procurar petróleo e gás como parte de um acordo de cooperação em hidrocarbonetos entre os dois países.

No início deste ano, Mogadíscio e Ancara assinaram um acordo de cooperação econômica e de defesa durante a visita do ministro da Defesa somali à capital turca.

A Turquia se tornou uma aliada próxima do governo somali nos últimos anos. Ancara construiu escolas, hospitais e infraestrutura e forneceu bolsas de estudo para somalis estudarem na Turquia.

¨      Moldávia se tornou centro logístico para aviões de guerra ocidentais, diz ex-premiê

A Moldávia se tornou um centro logístico para aeronaves militares ocidentais, disse Ion Chicu, líder do partido PDCM e ex-primeiro-ministro do país, expressando preocupação com uma possível transferência de carga letal através do país do Leste Europeu.

O ex-premiê disse que o país deve evitar ser arrastado para um conflito militar. Os moldavos devem enviar um sinal claro ao governo de que transformar seu país em "um campo de batalha entre o Ocidente e o Oriente" é inaceitável, afirmou.

"Hoje, a Moldávia se tornou um centro logístico para transporte por aeronaves militares. Há fotos de transporte terrestre e aeronaves militares. Como cidadão, como pai, estou preocupado com tudo o que está acontecendo", disse Chicu à emissora Rlive.

Chisinau planeja aumentar seus gastos com defesa para 1% do PIB do país até 2030, de acordo com a Estratégia de Segurança Nacional para 2024-2034, aprovada pelo governo no início desta semana.

A Constituição moldava contém uma cláusula neutra, no entanto, o país tem cooperado com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) desde 1994 dentro da estrutura de um plano de parceria individual.

Quando o Partido de Ação e Solidariedade do presidente moldavo Maia Sandu chegou ao poder, Chisinau começou a realizar exercícios frequentes com a participação de militares dos Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha e Romênia.

¨      EUA alimentam tensões e anunciam que vão reabastecer navio disputado por Filipinas e China

Na sexta-feira (19), o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, declarou que os Estados Unidos "farão o que for necessário" para garantir que as Filipinas consigam reabastecer o navio encalhado no recife Second Thomas Shoal, o qual Manila usa para reforçar suas reivindicações sobre o atol.

Discursando na conferência do Fórum de Segurança de Aspen, no Colorado, Sullivan afirmou que os EUA deixaram claro para a China que seu tratado de defesa mútua com as Filipinas se aplica ao Sierra Madre, o navio de guerra que Manila encalhou em 1999 no recife para reforçar as reivindicações no mar do Sul da China.

"O mais importante agora é ver a redução da tensão e verificar a capacidade das Filipinas de fazer reabastecimentos", disse o conselheiro, citado pela Reuters.

A mídia também afirma que pilotos filipinos estão participando pela primeira vez de jogos de guerra multinacionais no exterior, os jogos de guerra Pitch Black, envolvendo 20 países indo-pacíficos e europeus em uma vasta área do norte da Austrália.

As Filipinas trouxeram quatro de seus 12 caças FA-50 fabricados na Coreia do Sul para os jogos e estão avaliando as capacidades de caças mais avançados para seu programa de modernização, disse o comandante do contingente, coronel Randy Pascua, à Reuters em Darwin.

Pascua afirmou que a Força Aérea fipilina precisa fechar uma "grande lacuna tecnológica" à medida que moderniza seus caças, incluindo as habilidades dos pilotos de içamento.

"Se tivermos que adquirir mais de 20 caças multifuncionais, realmente precisamos nos esforçar. Estamos aqui para treinar e aprimorar nossa capacidade operacional porque perdemos capacidade de defesa aérea por décadas", acrescentou.

Ainda de acordo com a mídia, os exercícios estão consumindo um milhão de litros de combustível de aviação por dia, enquanto caças dos Estados Unidos, Reino Unido, Austrália, Cingapura, Japão e Coreia do Sul, entre outros, testam táticas e habilidades de guerra, disseram os organizadores.

A Força Aérea das Filipinas está focada na conscientização do domínio marítimo em operações conjuntas com a Marinha, e Manila está construindo suas defesas aéreas em meio a tensões com Pequim.

Manila e Pequim travam um confronto no disputado mar do Sul da China e seus encontros ficaram mais tensos à medida que os dois lados pressionam suas reivindicações marítimas sobre a região.

 

Fonte: Sputnik Brasil/Deutsche Welle

 

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