Por que tantas
pessoas estão morando em hotéis-cápsula na Espanha
Um colchão, um
travesseiro e menos de três metros quadrados para se movimentar, esse é o
espaço e o "conforto" disponível para descansar em uma cápsula. Esse tipo de
alojamento que
surgiu no Japão há várias décadas agora está virando tendência em algumas
cidades espanholas que enfrentam graves problemas de moradia.
"Procurei
bastante por um quarto ou um apartamento para
alugar em Madri e
quando percebi que os preços estavam
exorbitantes e
as condições de aluguel muito rígidas, decidi me hospedar nestas cápsulas. Aqui
pelo menos tenho meu espaço e certa privacidade por um preço mais
acessível", explica o espanhol Luis Miranda que é professor e se hospeda
em um hostel que fica no sul de Madri.
Ele paga 25 euros
(cerca de R$160) por dia para dormir nesse lugar que oferece o sistema de
cápsulas: pequenas caixas de plástico individuais ou para duas pessoas, onde o
cliente tem wifi, ar-condicionado, tomada, sua própria luz e acesso a áreas
compartilhadas como banheiros e cozinha.
O professor é da
cidade de Cáceres e trabalha na capital espanhola durante a semana. "Aqui
é quase impossível encontrar um aluguel por menos de mil euros (aproximadamente
R$ 6,3 mil) por mês, sem falar que alguns donos de imóveis pedem dois ou três
meses de fiança e até contrato de trabalho. Como foi inviável alugar outro
lugar, essa foi a opção que encontrei para poder trabalhar aqui durante três
dias da semana", esclarece.
Atualmente Madri há
mais de seis hostels que oferecem alojamento em cápsulas, algo que visivelmente
é uma tendência nesse setor, principalmente no centro da cidade.
A poucos
quarteirões da praça Tirso de Molina, outro hostel anuncia seu moderno sistema
de alojamento. Com uma decoração futurista e luzes coloridas onde cada hóspede
pode escolher a cor que preferir. Nesse estabelecimento cada quarto tem de duas
a 22 cápsulas e o cliente pode escolher entre as que têm abertura horizontal ou
vertical. O espaço de cada uma é de 1,94 m de comprimento x 0,96 cm de largura
e uma altura de um metro.
"Neste último
ano tivemos um aumento na demanda de profissionais que vêm a trabalho a Madri
por alguns dias. Eles nos ligam para fazer a reserva diretamente conosco e
alguns pedem sempre a mesma cápsula, como é o caso de uma senhora de 67 anos
que se hospeda aqui duas noites por semana", revela Paula Funchal, uma das
proprietárias do Art Seven Hostel.
A empresária conta
que atualmente eles estão hospedando um rapaz há dois meses mas que ele será o
última nessa modalidade. "Temos demanda e pessoas que perguntam o tempo
todo se fazemos contratos a longo prazo mas decidimos que não vamos continuar
com essa opção porque não podemos fazer contratos de estadia longa já que temos
licença só como alojamento turístico".
Uma noite nesse
hostel custa a partir de 35 euros por noite, mas os valores podem dobrar
durante os fins de semana ou em temporada alta. "Como os requisitos para
alugar em Madri são cada vez maiores e os preços estão bem elevados, as
cápsulas são uma boa opção neste momento. De sexta-feira a domingo estamos
sempre cheios", diz Paula.
·
O
fenômeno se repete em outras cidades
O problema com a
moradia não é exclusivo só de Madri. Outras cidades turísticas como Barcelona
ou Málaga vão pelo mesmo caminho. Com o lema "Chega. Vamos baixar o preços
dos aluguéis", há poucas semanas centenas de pessoas protestaram nas ruas
da capital catalã exigindo a redução dos aluguéis e o fim da especulação
turística nos imóveis de Barcelona.
O panorama nesse
quesito, pelo menos na Espanha, não é positivo. De acordo com o Idealista, o
maior site de compra e venda de imóveis do país, os aluguéis em Madri subiram
cerca de 16% somente no último ano. Segundo o mesmo portal, em Barcelona a
média é de 60 pessoas interessadas para cada anúncio publicado. O desequilíbrio
entre oferta e demanda é palpável. "Quem é proprietário cada vez menos
quer alugar seu imóvel por períodos longos. Não há oferta no mercado e faltam
moradias na Espanha, esse é o problema", sintetiza Pedro Martínez, diretor
de marketing do Futurotel.
Essa rede hoteleira
conta com hostels-cápsula em cidades como Málaga, Granada e Sevilha e para o
próximo ano planeja abrir cinco estabelecimentos desse tipo em Madri.
"Cerca de 10%
dos nossos clientes são de estadia longa e não aumentamos esse número ainda
mais porque esse não é o nosso foco. Se a gente quisesse poderíamos lotar o
espaço só com pessoas que querem se hospedar por períodos maiores. Demanda para
isso existe", explica Pedro.
No hostel de
Málaga, cada cubículo conta com uma pequena caixa-forte, uma TV e além disso os
hóspedes também podem usar as bicicletas e patinetes do alojamento
gratuitamente. Outro diferencial é que ali cada pessoa tem a sua mini geladeira
particular.
O preço médio para
uma noite em um quarto com 8 a 12 cápsulas, na turística Málaga, é de 55 euros
por noite, mas quando o período é mais longo, o mês pode custar a partir de 600
euros.
O diretor de
marketing conta que eles já tiveram clientes que chegaram a ficar até cinco
meses hospedados ali. "A maioria são profissionais espanhóis que vêm a
trabalho e também recebemos muitos estudantes".
O argentino Claudio
Fogtman, chegou há poucas semanas para morar e procurar trabalho em Madri.
"Minha intenção era alugar um quarto, mas percebi que isso ia ser muito
mais difícil do que eu pensava. Acabei me hospedando durante três semanas em um
hostel que tinha 36 cápsulas em um único quarto. A experiência foi boa, o único
problema é que eu me batia um pouco quando queria me virar no colchão",
relembra.
Durante a busca ele
chegou a ver vários anúncios, mas disse que mesmo ligando ou escrevendo muitas
vezes não recebia sequer uma resposta. "Das poucas vezes que me
responderam, um lugar chegou a me pedir 150 euros por noite. Estive em Madri há
dois anos e a situação não era essa. Isso mudou radicalmente nos últimos anos.
Hoje tentar alugar é uma loucura", desabafa.
Fonte: BBC News
Brasil
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