Taxa de abandono da religião na Ásia
Oriental é das mais altas do mundo, mas “rituais tradicionais” mantêm-se
A taxa de abandono da
religião na Ásia Oriental está entre as mais altas do mundo, com metade dos
adultos em Hong Kong e na Coreia do Sul a afirmar que trocaram a religião em
que foram educados por outra ou a já não se identificarem com nenhuma. Mas, ao mesmo
tempo, muitos deles continuam a acreditar em Deus ou noutros seres invisíveis e
a recorrer aos rituais espirituais transmitidos pelos seus pais e avós. Estas
são algumas das conclusões de um inquérito realizado pelo Pew Research Center a
mais de dez mil adultos em Hong Kong, Coreia do Sul, Japão, Taiwan e Vietname,
que acaba de ser divulgado.
“Segundo alguns
critérios, a Ásia Oriental parece ser uma das regiões menos religiosas do
mundo. Relativamente poucos adultos da Ásia Oriental rezam diariamente ou dizem
que a religião é muito importante nas suas vidas”, pode ler-se no resumo do
estudo. “No entanto, o inquérito também revela que muitas pessoas em toda a
região continuam a manter crenças religiosas ou espirituais e a participar em
rituais tradicionais”, sublinha o texto.
Um grande número de
adultos em toda a região – variando entre 27% em Taiwan e 61% em Hong Kong –
afirma que “não tem religião”. Mas mesmo entre essas pessoas sem filiação
religiosa , metade ou mais deixam oferendas a antepassados falecidos; pelo
menos quatro em cada dez acreditam em Deus ou em seres invisíveis; e um quarto
ou mais dizem que as montanhas, rios ou árvores têm espírito.
Em Taiwan, por
exemplo, apenas 11% dos adultos dizem que a religião é muito importante para
eles, mas 87% acreditam no carma. E pelo menos um quinto dos adultos em cada
uma das quatro sociedades da Ásia Oriental inquiridas, bem como 79% dos adultos
no vizinho Vietname, asseguram sentir que o espírito de um antepassado veio em
seu auxílio em algum momento das suas vidas.
No Japão, 70% dos
inquiridos relatam ter oferecido comida, água ou bebidas para homenagear os
seus antepassados nos últimos 12 meses. Uma percentagem que atinge os 86% no
Vietname. Orar ou oferecer sacrifícios a figuras religiosas ou divindades é
também bastante comum. Em Hong Kong, 30% dos adultos dizem que rezam ou
oferecem os seus sacrifícios a Guanyin, uma divindade associada à compaixão, e
em Taiwan 46% fazem-no em relação a Buda.
“Em suma, quando
medimos a religião nestas sociedades por aquilo em que as pessoas acreditam e
pelo que fazem, e não pelo facto de dizerem que têm uma religião, a região é
mais vibrante religiosamente do que pode parecer inicialmente”, conclui o Pew
Research Center.
A pesquisa – realizada
em sete idiomas, de 2 de junho a 17 de setembro de 2023 – representou um
desafio complexo para o centro de estudos sedeado em Washington (EUA), tendo em
conta que o conceito de religião foi importado para a região da Ásia Oriental por
estudiosos há cerca de apenas um século, e as traduções comuns de “religião”
(como zongjiao em chinês, shūkyō em japonês e jonggyo em coreano) são muitas
vezes entendidas como referindo-se a formas organizadas e hierárquicas de
religião – como o Cristianismo ou novos movimentos religiosos – e não às formas
tradicionais asiáticas de espiritualidade.
• Do budismo ao cristianismo… e vice-versa
O estudo destaca a
“percentagem substancial de adultos” que se identifica como cristã em Hong Kong
(20%), e que é superior à de budistas (14%), mas ainda assim bastante inferior
à dos que se assumem como não religiosos (61%). Na Coreia do Sul, país que irá
acolher as próximas Jornadas Mundiais da Juventude em 2027, os sem religião são
menos que em Hong Kong, mas ainda assim mais de metade (52%). Já os que se
dizem cristãos são 32% e os budistas 14%.
A percentagem de
pessoas que mudaram da religião em que foram educadas para alguma outra
religião – ou para nenhuma religião – varia entre 17% dos adultos no Vietname e
53% em Hong Kong e na Coreia do Sul.
As divergências são
principalmente a partir do Budismo, Cristianismo e Taoísmo. Em Hong Kong, 15%
dos adultos dizem que foram criados como cristãos, mas que agora não têm
religião. E 14% dos adultos sul-coreanos e japoneses relatam que foram criados
como budistas, mas que já não se identificam com nenhuma religião.
Contudo, as elevadas
taxas de mudança religiosa não resultam exclusivamente do abandono da religião
pelas pessoas. Aproximadamente um em cada dez adultos na Coreia do Sul (12%) e
em Hong Kong (9%) identifica-se atualmente como cristão, mas foi criado numa
tradição religiosa diferente, como o budismo, ou foi mesmo educado sem
identidade religiosa. Da mesma forma, 11% dos adultos em Taiwan e 10% no
Vietname foram criados fora do budismo, mas agora identificam-se como budistas.
De referir ainda que a
maioria das pessoas entrevistadas em toda a região afirma sentir uma ligação
pessoal ao “modo de vida” de pelo menos uma crença ou filosofia religiosa,
mesmo que não corresponda à sua identidade religiosa atual. Por exemplo, 34% dos
cristãos sul-coreanos dizem sentir uma ligação pessoal com o modo de vida
budista, e 26% dos budistas na Coreia do Sul sentem uma ligação com o modo de
vida cristão.
• Desfiliação religiosa superior à da
Europa
Seja como for, “no
geral, a população sem filiação religiosa teve um ganho líquido com a mudança
em quatro dos locais inquiridos, conclui o estudo. “As taxas de mudança
religiosa no Leste Asiático (de 32% no Japão a 53% em Hong Kong e na Coreia do
Sul) são mais altas do que as medidas do Pew Research Center em muitos outros
lugares. Por exemplo, nos nossos inquéritos anteriores sobre religião em toda a
Ásia desde 2019 – incluindo no Camboja, Índia, Indonésia, Malásia, Singapura,
Sri Lanka e Tailândia – apenas a taxa de mudança religiosa de Singapura (35%)
se aproxima das taxas observadas nas sociedades do Leste Asiático”, destaca o
resumo do estudo.
E continua: “Mesmo no
nosso inquérito de 2017 a 15 países da Europa Ocidental – uma região onde
décadas de desfiliação levaram a um crescimento acentuado no número de pessoas
sem filiação religiosa – não encontrámos nenhum país em que a taxa de mudança excedesse
os 40% (o mais elevado foi de 36%, nos Países Baixos).”
Quanto aos Estados
Unidos, 28% dos adultos já não se identificam com a tradição religiosa em que
foram criados, de acordo com dados recolhidos pelo Pew Research Center no verão
de 2023 .
A mudança religiosa é
muito menos comum na América Latina e na região do Médio Oriente-Norte de
África, em que a percentagem não ultrapassa os 15% em nenhum dos países
avaliados pelo centro de estudos norte-americano.
Fonte: 7 Margens
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