quinta-feira, 18 de julho de 2024

Relatório da PF deixa atual cúpula da Abin sob pressão

A investigação sobre a existência de uma estrutura paralela na Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo Bolsonaro alcança também a cúpula da agência indicada pelo governo Lula.

Prova disso é a decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que impediu o compartilhamento das investigações da PF com a corregedoria da Abin. O procurador-geral da República, Paulo Gonet, tinha dado a mesma recomendação.

A suspeita é de ‘conluio’ da direção indicada por Lula com antigos diretores para atrapalhar as investigações.

Foi essa situação que levou à queda, ainda em janeiro, do então número 2 da Abin, Alessandro Moretti.

Ex-chefe da Inteligência da PF no governo Bolsonaro, Moretti teria alertado investigados sobre a operação. Ele nega as acusações.

“Na época como Diretor-Geral em exercício, é que foram iniciados os trabalhos de apuração interna relacionados ao uso de ferramenta [First Mile], com a instauração de sindicância investigativa pela Corregedoria-Geral”, disse Moretti à CNN após ser exonerado do cargo.

Apesar da queda do subordinado, o diretor-geral da Abin, Luiz Fernando Corrêa, foi mantido no cargo. Mas ficou isolado, segundo integrantes do governo.

No Palácio do Planalto, ministros admitem que com a volta do caso à tona coloca novamente o atual chefe da Abin sob pressão. Nenhuma demissão, no entanto, deve acontecer por ora..

Auxiliares de Lula recordam que o ex-delegado é homem de confiança do presidente que decidiu indicá-lo ao cargo mesmo diante de protestos de servidores da Abin e sob desconfiança de governistas.

No Senado, líderes atuaram para impedir a sabatina de Luiz Fernando Corrêa pela Comissão de Relações Exteriores, que só teve o nome submetido à análise após pedido do presidente da República ao presidente da CRE, Renan Calheiros (MDB-AL).

¨      Após “Abin paralela”, ministério vai discutir medidas de segurança a jornalistas espionados

O Ministério da Justiça e Segurança Pública estuda medidas para proteger jornalistas monitorados pelo esquema de espionagem ilegal que, segundo a Polícia Federal (PF), vigorou durante o governo Jair Bolsonaro.

As iniciativas devem ser discutidas no âmbito do Observatório da Violência contra Jornalistas e Comunicadores Sociais, criado pela pasta em 2023 para monitorar dados e garantir a defesa da liberdade de imprensa.

Uma sessão extraordinária foi requerida pela Rede Liberdade, organização de direitos humanos que integra o Observatório. Em ofício, a entidade cita “a gravidade e a urgência” do caso. A reunião deve ser marcada para breve.

“Acreditamos ser imprescindível uma análise e discussão aprofundada sobre as medidas necessárias para garantir a segurança e a integridade dos jornalistas e comunicadores sociais envolvidos”, diz o documento.

O ofício também pede a criação de um grupo de trabalho para acompanhar as investigações da chamada “Abin (Agência Brasileira de Inteligência) Paralela” e analisar estratégias para fortalecer a liberdade de imprensa.

¨      Entorno de Bolsonaro levanta desconfiança sobre Ramagem e teme novos áudios

Aliados de Jair Bolsonaro desconfiam que Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e deputado federal, tenha gravações de outros encontros com o ex-presidente, a exemplo da que registrou reunião do governo passado para tratar de investigação contra o filho Flávio Bolsonaro.

divulgação do áudio elevou o clima de conspiração entre pessoas muito próximas de Jair Bolsonaro. Segundo amigos do ex-presidente, ele mesmo teria ficado irritado com a gravação.

Interlocutores bolsonaristas afirmaram à CNN que desde o início do governo, em 2019, havia incômodo com a atitude de Ramagem em gravar reuniões.

Após a revelação desta semana, há preocupação sobre quantas outras reuniões e conversas podem ter sido gravadas, e que Ramagem tenha guardado também estes conteúdos.

¨      Ramagem diz a aliados que gravou reunião por desconfiar de advogada

Ex-diretor da Abin no governo Bolsonaro, o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ) afirmou na segunda-feira (15/7) que gravou uma reunião com o ex-presidente em 2020 por desconfiar de uma pessoa que participaria do encontro.

Em vídeo publicado nas redes sociais, o ex-diretor da Abin disse que a pessoa teria contato com Wilson Witzel, então governador do Rio de Janeiro, e poderia fazer “uma proposta nada republicada” durante a reunião.

“A gravação da reunião de agosto de 2020 não foi clandestina. Houve o aval e o conhecimento do presidente para que ela ocorresse. A gravação foi realizada devido a uma informação recebida sobre uma pessoa que participaria da reunião e que teria contato com o governador do Rio de Janeiro na época. Havia a preocupação de que essa pessoa pudesse apresentar uma proposta nada republicana”, disse Ramagem na gravação, sem dar nomes.

A aliados, Ramagem confidenciou que a pessoa que o levou a gravar a reunião seria a advogada Luciana Pires, que defendia Flávio Bolsonaro (PL-RJ) no caso das rachadinhas e participou da reunião gravada.

Em conversas reservadas, o ex-diretor da Abin afirmou que teria recebido informações de que Luciana seria ligada a Witzel, à época já visto como um desafeto político pelo então presidente Jair Bolsonaro.

O próprio ex-presidente citou Witzel na reunião. Em determinado momento do encontro, Bolsonaro disse que o ex-governador teria pedido uma vaga no STF em troca de “resolver” o caso das rachadinhas de Flávio.

“Ano passado, no meio do ano, encontrei com o Witzel (…) Ele falou: ‘eu resolvo o caso do Flávio. Me dá uma vaga no Supremo'”, disse Bolsonaro durante a conversa realizada em agosto de 2020, na qual estavam presentes também o general Augusto Heleno, então ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), e a advogada Juliana Bierrenbach.

O que diz a advogada

Procurada, Luciana Pires disse não acreditar que Ramagem tenha falado que desconfiava dela. A advogada sustentou que “jamais esteve” com Witzel. “Não temos qualquer contato e nunca tivemos”, disse.

Luciana reforçou não conhecer o ex-governador pessoalmente. “Nunca conversamos. Não me lembro nem se já o encontrei. Não tenho o telefone dele e nem ele o meu. Zero contato”, disse.

Procurado pela coluna para comentar o assunto, Ramagem não respondeu. O espaço segue aberto para eventual manifestação do deputado federal sobre o tema.

¨      Bolsonaro se desespera com "lavagem de dinheiro" de Wassef e da ex; entenda o motivo

No áudio da reunião em que trata com advogadas sobre a interferência da Agência Brasileira de Informação (Abin) na investigação sobre o sistema de corrupção de Flávio Bolsonaro (PL-RJ) - as chamadas "rachadinhas" - Jair Bolsonaro (PL) mostra especial interesse na varredura que o Conselho de Controle de Atividades Financeiras, o Coaf, fez nas contas do advogado Frederick Wassef.

O nome de Wassef é citado logo no primeiro minuto de conversa, quando a advogada Luciana Pires, que fazia a defesa do senador, diz ter recebido naquele 25 de agosto de 2020 a "atualização de um RIF [Relatório de Inteligência Financeira] do Frederick".

Bolsonaro reage com um misterioso "hum".

Wassef volta a ser citado por Luciana aos 10 minutos de conversa que, dessa vez, fala em "pirâmide sobre a vida" do advogado e a relação com as investigações sobre Flávio Bolsonaro.

"O que o RIF do Fred está fazendo no PIC [processo de investigação criminal] do Flávio?", indaga a advogada, para na sequência responder. "Se ele trabalhou, não trabalhou, lavou dinheiro. Não tem nada a ver com a investigação do Flávio, entendeu presidente", emenda, sobre o advogado que serve ao clã, inclusive escondendo Fabrício Queiroz em seu sítio em Atibaia.

<><> Pânico de Bolsonaro

Ao final da reunião, por volta de 35 minutos da gravação, Bolsonaro procura Luciana demonstrando certo desespero para saber mais detalhes da investigação sobre Wassef.

"Por que investigar o Frederico? Por que investigar o Frederico", repete o ex-presidente.

Luciana, então, justifica dizendo que seria porque ele "é o advogado do Flávio". Bolsonaro insiste na pergunta e ouve da advogada: "Porque, apareceu um RIF espontâneo com lavagem de Dinheiro".

"Pagou médico para Queiroz. Qual o problema?", emenda Luciana causando pânico em Bolsonaro.

"Fred pagou [inaudível] pagou como? DOC, Dinheiro. Pagou como?", indaga o ex-presidente. "Transferência bancária do médico", responde a advogada.

"Aí o que que acontece? Apareceu no RIF transferência do médico", diz Luciana. "E, eles falam, que isso é uma movimentação atípica e começam a varrer a vida dele, que ele recebeu quatorze milhões", emenda.

Bolsonaro, então traz à tona, uma personagem que enriqueceu e ostenta vida de luxo após firmar contratos de "suporte técnico de computadores" com o governo federal, turbinados na gestão do ex-presidente.

"Dessa empresa da mulher dele", diz Bolsonaro, referindo-se a Maria Cristina Boner Leo, ex-esposa de Wassef, que desde 2011 acumula R$ 258,4 milhões de faturamento em contratos somente com o governo federal.

Na sequência da conversa, Luciana Pires explica a Bolsonaro que Wassef "trouxe dinheiro dos Estados Unidos, [inaudível], tem que transferir, que a conta dele tá tudo lá".

Bolsonaro complementa [inaudível] "há anos" e segue com certo alívio: "não é comigo".

"Inclusive [inaudível], do meu governo, caiu a, o contrato do governo. Devia aumentar, né?", emenda Bolsonaro, pedindo a anuência de Augusto Heleno possivelmente sobre os contratos da empresa de Cristina com a União. "É lógico, lógico", responde o então ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).

<><> Contratos milionários e vida de luxo

Casada com Frederick Wassef entre 2008 e 2017, Maria Cristina Boner Léo começou a construir seu império quando ainda era casada com o advogado, que a auxiliara a entrar em esquemas nos governos Aécio Neves (PSDB), em Minas Gerais, onde teria faturado R$ 310 milhões, e Sérgio Cabaral, no Rio, onde teria embolsado R$ 130 milhões - veja denúncias na Agência SportLight, de Lúcio Castro.

Os valores, no entanto, seriam prenúncio do faturamento que a empresária, que ostenta vida de luxo em viagens ao mundo nas redes, teria a partir de 2011, quando firmou o primeiro contrato da nova empresa, a GlobalWeb Outsourcing do Brasil - que nasceu a partir da fusão do Grupo TBA, de sua propriedade, com Benner Sistemas -  com o governo federal. 

Os contratos foram turbinados a partir do governo golpista de Michel Temer e chegaram ao pico durante o governo Jair Bolsonaro (PL), a quem Wassef admirava e passou a construir uma relação de amizade e consultoria jurídica a partir de 2014 - quando defendeu o então deputado nos ataques misóginos contra a deputada Maria do Rosário (PT-RS).

Em 2018, Wassef se tornou homem de confiança de Bolsonaro, atuando na defesa dos filhos também. Com a eleição do amigo, a empresa da agora ex foi turbinada e teve que fazer uma manobra para burlar a decisão judicial, de junho de 2019, que proibiu a GlobalWeb de contratar com o Poder Público ou receber benefícios pelo período de três anos.

<><> Milhões 

Impedida de fazer contratos com o poder público, a matriz da GlobalWeb Outsourcing do Brasil assinou apenas um contrato com o governo Bolsonaro, em janeiro de 2021, no valor de R$ 3.508.018,80, junto ao Ministério das Comunicações.

No entanto, Cristina Boner turbinou os ganhos de duas filiais, que levam o mesmo nome da matriz e atuam apenas com CNPJs diferentes, driblando a punição da Justiça. No total, em quatro anos de governo Bolsonaro, a empresa da ex de Wassef embolsou R$ 86,1 milhões em contratos com a União.

Fundada em 2013, a primeira filial - com CNPJ terminado xxx.013/0002-45 - recebeu R$ 3.142.788,02 em 15 contratos firmados com órgãos do governo federal entre agosto de 2021 e novembro de 2022, segundo o portal da Transparência. Em todos eles não há informação sobre a localidade de aplicação do recurso - ou seja, onde o dinheiro foi gasto.

O maior faturamento, no entanto, foi acumulado pela segundo filial - CNPJ terminado xxx.013/0003-26 - com sede na sala 716 do Brasília Shopping, que foi aberta em 13 de junho de 2018.

No total, a empresa da ex de Wassef recebeu R$ 79.556.758,71 em 9 contratos com órgãos da União, que ainda estão sendo pagos pelo atual governo.

O último contrato foi assinado em 31 de março de 2022 com a Agência Espacial Brasileira, que fica sob a tutela do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, pasta que era comandada pelo "astronauta" Marcos Pontes (PL-SP), atual senador.

Com vigência até março de 2025, o contrato prevê o pagamento de R$ 1.725.256,08.

<><> Modus operandi

Segundo informações obtidas pela Fórum, além de contar com a intimidade de Jair Bolsonaro, então presidente, a GlobalWeb Outsourcing do Brasil cresceu cooptando servidores responsáveis por editais de licitações na área de tecnologia.

Fornecedora exclusiva da Microsoft no Brasil, a TBA - empresa que antecedeu a GlobalWeb -mantinha um esquema de cooptação para que as licitações exigissem que as máquinas usassem o sistema operacional Windows. Além disso, ofereciam aos servidores "capacitação", totalmente custeadas pela empresa, entre outras benesses.

Separada de Wassef, mas ainda mantendo relações com o ex-marido - que teriam recebido os R$ 14 milhões citados por Bolsonaro na reunião no Planalto -, Cristina Bonner agora se ocupa em ostentar a vida de luxo e o novo romance com fotos nas redes sociais.

Com viagens frequentes à Europa, ela compartilha "hábitos das mulheres bem sucedidas" no Instagram, entre publicações com roupas de grife e em lugares paradisíacos.

No Brasil, o passado da empresária e os milionários frutos do casamento com Wassef seguem causando pânico e preocupação no clã Bolsonaro.

Além da relação "pouco republicanas" com o advogado, Bolsonaro teme ainda que a investigação da Polícia Federal em parceria com o FBI descubra um suposto esquema de compra e ocultação de imóveis nos EUA, onde Wassef teria comprado ao menos 20 casas e apartamentos na Flórida e Nova Jersey em nome de terceiros.

 

Fonte: CNN Brasil/Metrópoles/Fórum

 

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