Relatório da PF deixa atual cúpula da Abin
sob pressão
A investigação sobre a
existência de uma estrutura paralela na Agência Brasileira de Inteligência
(Abin) durante o governo Bolsonaro alcança também a cúpula da agência indicada
pelo governo Lula.
Prova disso é a
decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que
impediu o compartilhamento das investigações da PF com a corregedoria da Abin.
O procurador-geral da República, Paulo Gonet, tinha dado a mesma recomendação.
A suspeita é de
‘conluio’ da direção indicada por Lula com antigos diretores para atrapalhar as
investigações.
Foi essa situação que
levou à queda, ainda em janeiro, do então número 2 da Abin, Alessandro Moretti.
Ex-chefe da
Inteligência da PF no governo Bolsonaro, Moretti teria alertado investigados
sobre a operação. Ele nega as acusações.
“Na época como
Diretor-Geral em exercício, é que foram iniciados os trabalhos de apuração
interna relacionados ao uso de ferramenta [First Mile], com a instauração de
sindicância investigativa pela Corregedoria-Geral”, disse Moretti à CNN após ser exonerado do cargo.
Apesar da queda do
subordinado, o diretor-geral da Abin, Luiz Fernando Corrêa, foi mantido no
cargo. Mas ficou isolado, segundo integrantes do governo.
No Palácio do
Planalto, ministros admitem que com a volta do caso à tona coloca novamente o
atual chefe da Abin sob pressão. Nenhuma demissão, no entanto, deve acontecer
por ora..
Auxiliares de Lula
recordam que o ex-delegado é homem de confiança do presidente que decidiu
indicá-lo ao cargo mesmo diante de protestos de servidores da Abin e sob
desconfiança de governistas.
No Senado, líderes
atuaram para impedir a sabatina de Luiz Fernando Corrêa pela Comissão de
Relações Exteriores, que só teve o nome submetido à análise após pedido do
presidente da República ao presidente da CRE, Renan Calheiros (MDB-AL).
¨ Após “Abin paralela”, ministério vai discutir medidas de
segurança a jornalistas espionados
O Ministério da
Justiça e Segurança Pública estuda medidas para proteger jornalistas
monitorados pelo esquema de espionagem ilegal que, segundo a Polícia Federal
(PF), vigorou durante o governo Jair Bolsonaro.
As iniciativas devem
ser discutidas no âmbito do Observatório da Violência contra Jornalistas e
Comunicadores Sociais, criado pela pasta em 2023 para monitorar dados e
garantir a defesa da liberdade de imprensa.
Uma sessão
extraordinária foi requerida pela Rede Liberdade, organização de direitos
humanos que integra o Observatório. Em ofício, a entidade cita “a gravidade e a
urgência” do caso. A reunião deve ser marcada para breve.
“Acreditamos ser
imprescindível uma análise e discussão aprofundada sobre as medidas necessárias
para garantir a segurança e a integridade dos jornalistas e comunicadores
sociais envolvidos”, diz o documento.
O ofício também pede a
criação de um grupo de trabalho para acompanhar as investigações da chamada “Abin (Agência Brasileira de
Inteligência) Paralela” e analisar
estratégias para fortalecer a liberdade de imprensa.
¨ Entorno de Bolsonaro levanta desconfiança sobre Ramagem e teme
novos áudios
Aliados de Jair Bolsonaro desconfiam que
Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência
(Abin) e deputado federal, tenha gravações de outros encontros com o
ex-presidente, a exemplo da que registrou reunião do governo passado para
tratar de investigação contra o filho Flávio Bolsonaro.
A divulgação do áudio elevou
o clima de conspiração entre pessoas muito próximas de Jair Bolsonaro. Segundo
amigos do ex-presidente, ele mesmo teria ficado irritado com a gravação.
Interlocutores
bolsonaristas afirmaram à CNN que desde o início do governo, em 2019,
havia incômodo com a atitude de Ramagem em gravar reuniões.
Após a revelação desta
semana, há preocupação sobre quantas outras reuniões e conversas podem ter sido
gravadas, e que Ramagem tenha guardado também estes conteúdos.
¨ Ramagem diz a aliados que gravou reunião por desconfiar de
advogada
Ex-diretor da Abin no governo Bolsonaro, o
deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ) afirmou na segunda-feira (15/7) que gravou uma
reunião com o ex-presidente em 2020 por desconfiar de uma pessoa que
participaria do encontro.
Em vídeo publicado nas
redes sociais, o ex-diretor da Abin disse que a pessoa teria contato com Wilson Witzel, então
governador do Rio de Janeiro, e poderia fazer “uma proposta nada republicada”
durante a reunião.
“A gravação da reunião
de agosto de 2020 não foi clandestina. Houve o aval e o conhecimento do
presidente para que ela ocorresse. A gravação foi realizada devido a uma
informação recebida sobre uma pessoa que participaria da reunião e que teria
contato com o governador do Rio de Janeiro na época. Havia a preocupação de que
essa pessoa pudesse apresentar uma proposta nada republicana”, disse Ramagem na
gravação, sem dar nomes.
A aliados, Ramagem
confidenciou que a pessoa que o levou a gravar a reunião seria a advogada
Luciana Pires, que defendia Flávio Bolsonaro (PL-RJ)
no caso das rachadinhas e participou da reunião gravada.
Em conversas
reservadas, o ex-diretor da Abin afirmou que teria recebido informações de que
Luciana seria ligada a Witzel, à época já visto como um desafeto político pelo
então presidente Jair Bolsonaro.
O próprio
ex-presidente citou Witzel na reunião. Em determinado momento do encontro, Bolsonaro disse que o ex-governador teria pedido uma vaga no STF em troca de “resolver” o caso
das rachadinhas de Flávio.
“Ano passado, no meio
do ano, encontrei com o Witzel (…) Ele falou: ‘eu resolvo o caso do Flávio. Me
dá uma vaga no Supremo'”, disse Bolsonaro durante a conversa realizada em
agosto de 2020, na qual estavam presentes também o general Augusto Heleno, então
ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), e a advogada Juliana
Bierrenbach.
O que diz a advogada
Procurada, Luciana
Pires disse não acreditar que Ramagem tenha falado que desconfiava dela. A
advogada sustentou que “jamais esteve” com Witzel. “Não temos qualquer contato
e nunca tivemos”, disse.
Luciana reforçou não
conhecer o ex-governador pessoalmente. “Nunca conversamos. Não me lembro nem se
já o encontrei. Não tenho o telefone dele e nem ele o meu. Zero contato”,
disse.
Procurado pela coluna
para comentar o assunto, Ramagem não respondeu. O espaço segue aberto para
eventual manifestação do deputado federal sobre o tema.
¨ Bolsonaro se desespera com "lavagem de dinheiro" de
Wassef e da ex; entenda o motivo
No áudio da reunião em
que trata com advogadas sobre a interferência da Agência Brasileira de
Informação (Abin) na investigação sobre o sistema de corrupção de Flávio
Bolsonaro (PL-RJ) - as chamadas "rachadinhas" - Jair Bolsonaro (PL)
mostra especial interesse na varredura que o Conselho de Controle de Atividades
Financeiras, o Coaf, fez nas contas do advogado Frederick Wassef.
O nome de Wassef é
citado logo no primeiro minuto de conversa, quando a advogada Luciana Pires,
que fazia a defesa do senador, diz ter recebido naquele 25 de agosto de 2020 a
"atualização de um RIF [Relatório de Inteligência Financeira] do Frederick".
Bolsonaro reage com um
misterioso "hum".
Wassef volta a ser
citado por Luciana aos 10 minutos de conversa que, dessa vez, fala em
"pirâmide sobre a vida" do advogado e a relação com as investigações
sobre Flávio Bolsonaro.
"O que o RIF do
Fred está fazendo no PIC [processo de investigação criminal] do Flávio?",
indaga a advogada, para na sequência responder. "Se ele trabalhou, não
trabalhou, lavou dinheiro. Não tem nada a ver com a investigação do Flávio, entendeu
presidente", emenda, sobre o advogado que serve ao clã, inclusive
escondendo Fabrício Queiroz em seu sítio em Atibaia.
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Pânico de Bolsonaro
Ao final da reunião,
por volta de 35 minutos da gravação, Bolsonaro procura Luciana demonstrando
certo desespero para saber mais detalhes da investigação sobre Wassef.
"Por que
investigar o Frederico? Por que investigar o Frederico", repete o
ex-presidente.
Luciana, então,
justifica dizendo que seria porque ele "é o advogado do Flávio".
Bolsonaro insiste na pergunta e ouve da advogada: "Porque, apareceu um RIF
espontâneo com lavagem de Dinheiro".
"Pagou médico
para Queiroz. Qual o problema?", emenda Luciana causando pânico em
Bolsonaro.
"Fred pagou
[inaudível] pagou como? DOC, Dinheiro. Pagou como?", indaga o
ex-presidente. "Transferência bancária do médico", responde a
advogada.
"Aí o que que
acontece? Apareceu no RIF transferência do médico", diz Luciana. "E,
eles falam, que isso é uma movimentação atípica e começam a varrer a vida dele,
que ele recebeu quatorze milhões", emenda.
Bolsonaro, então traz
à tona, uma personagem que enriqueceu e ostenta vida de luxo após firmar
contratos de "suporte técnico de computadores" com o governo federal,
turbinados na gestão do ex-presidente.
"Dessa empresa da
mulher dele", diz Bolsonaro, referindo-se a Maria Cristina Boner Leo,
ex-esposa de Wassef, que desde 2011 acumula R$ 258,4 milhões de faturamento em
contratos somente com o governo federal.
Na sequência da
conversa, Luciana Pires explica a Bolsonaro que Wassef "trouxe dinheiro
dos Estados Unidos, [inaudível], tem que transferir, que a conta dele tá tudo
lá".
Bolsonaro complementa
[inaudível] "há anos" e segue com certo alívio: "não é
comigo".
"Inclusive
[inaudível], do meu governo, caiu a, o contrato do governo. Devia aumentar,
né?", emenda Bolsonaro, pedindo a anuência de Augusto Heleno possivelmente
sobre os contratos da empresa de Cristina com a União. "É lógico, lógico",
responde o então ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).
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Contratos milionários e vida de luxo
Casada com Frederick
Wassef entre 2008 e 2017, Maria Cristina Boner Léo começou a construir seu
império quando ainda era casada com o advogado, que a auxiliara a entrar em
esquemas nos governos Aécio Neves (PSDB), em Minas Gerais, onde teria faturado
R$ 310 milhões, e Sérgio Cabaral, no Rio, onde teria embolsado R$ 130 milhões -
veja denúncias na Agência SportLight, de Lúcio Castro.
Os valores, no
entanto, seriam prenúncio do faturamento que a empresária, que ostenta vida de
luxo em viagens ao mundo nas redes, teria a partir de 2011, quando firmou o
primeiro contrato da nova empresa, a GlobalWeb Outsourcing do Brasil - que
nasceu a partir da fusão do Grupo TBA, de sua propriedade, com Benner Sistemas
- com o governo federal.
Os contratos foram
turbinados a partir do governo golpista de Michel Temer e chegaram ao pico
durante o governo Jair Bolsonaro (PL), a quem Wassef admirava e passou a
construir uma relação de amizade e consultoria jurídica a partir de 2014 -
quando defendeu o então deputado nos ataques misóginos contra a deputada Maria
do Rosário (PT-RS).
Em 2018, Wassef se
tornou homem de confiança de Bolsonaro, atuando na defesa dos filhos também.
Com a eleição do amigo, a empresa da agora ex foi turbinada e teve que fazer
uma manobra para burlar a decisão judicial, de junho de 2019, que proibiu a
GlobalWeb de contratar com o Poder Público ou receber benefícios pelo período
de três anos.
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Milhões
Impedida de fazer
contratos com o poder público, a matriz da GlobalWeb Outsourcing do Brasil
assinou apenas um contrato com o governo Bolsonaro, em janeiro de 2021, no
valor de R$ 3.508.018,80, junto ao Ministério das Comunicações.
No entanto, Cristina
Boner turbinou os ganhos de duas filiais, que levam o mesmo nome da matriz e
atuam apenas com CNPJs diferentes, driblando a punição da Justiça. No total, em
quatro anos de governo Bolsonaro, a empresa da ex de Wassef embolsou R$ 86,1
milhões em contratos com a União.
Fundada em 2013, a
primeira filial - com CNPJ terminado xxx.013/0002-45 - recebeu R$ 3.142.788,02
em 15 contratos firmados com órgãos do governo federal entre agosto de 2021 e
novembro de 2022, segundo o portal da Transparência. Em todos eles não há informação
sobre a localidade de aplicação do recurso - ou seja, onde o dinheiro foi
gasto.
O maior faturamento,
no entanto, foi acumulado pela segundo filial - CNPJ terminado xxx.013/0003-26
- com sede na sala 716 do Brasília Shopping, que foi aberta em 13 de junho de
2018.
No total, a empresa da
ex de Wassef recebeu R$ 79.556.758,71 em 9 contratos com órgãos da União, que
ainda estão sendo pagos pelo atual governo.
O último contrato foi
assinado em 31 de março de 2022 com a Agência Espacial Brasileira, que fica sob
a tutela do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, pasta
que era comandada pelo "astronauta" Marcos Pontes (PL-SP), atual
senador.
Com vigência até março
de 2025, o contrato prevê o pagamento de R$ 1.725.256,08.
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Modus operandi
Segundo informações
obtidas pela Fórum, além de contar com a intimidade de Jair
Bolsonaro, então presidente, a GlobalWeb Outsourcing do Brasil cresceu
cooptando servidores responsáveis por editais de licitações na área de
tecnologia.
Fornecedora exclusiva
da Microsoft no Brasil, a TBA - empresa que antecedeu a GlobalWeb -mantinha um
esquema de cooptação para que as licitações exigissem que as máquinas usassem o
sistema operacional Windows. Além disso, ofereciam aos servidores "capacitação",
totalmente custeadas pela empresa, entre outras benesses.
Separada de Wassef,
mas ainda mantendo relações com o ex-marido - que teriam recebido os R$ 14
milhões citados por Bolsonaro na reunião no Planalto -, Cristina Bonner agora
se ocupa em ostentar a vida de luxo e o novo romance com fotos nas redes
sociais.
Com viagens frequentes
à Europa, ela compartilha "hábitos das mulheres bem sucedidas" no
Instagram, entre publicações com roupas de grife e em lugares paradisíacos.
No Brasil, o passado
da empresária e os milionários frutos do casamento com Wassef seguem causando
pânico e preocupação no clã Bolsonaro.
Além da relação
"pouco republicanas" com o advogado, Bolsonaro teme ainda que a
investigação da Polícia Federal em parceria com o FBI descubra um suposto
esquema de compra e ocultação de imóveis nos EUA, onde Wassef teria comprado ao
menos 20 casas e apartamentos na Flórida e Nova Jersey em nome de terceiros.
Fonte: CNN Brasil/Metrópoles/Fórum
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