Por um
projeto de nação que comece pela educação
Muito
se fala, hoje, sobre o investimento em tecnologia. Pululam por aí temas que
estão relacionados à economia global. E esse setor pertence a esse escopo de
ideias, há mais de quatro décadas. O Japão tem se destacado como um dos maiores
países do mundo nesse âmbito e em outros. Talvez porque há um tipo de
pensamento na Ásia que lhes permite projetar o espectro de suas nações na
esfera mundial em um longo prazo. Qual caminho o Brasil precisa percorrer para
se tornar uma potência na produção e industrialização desse recurso?
Não
é à toa que Japão, China, Estados Unidose Índia destinam suas verbas à geração
e manutenção desse segmento. O Brasil é um país dependente economicamente. Não
há no território nacional uma indústria própria que produza tecnologia, como o
Google, Chat GPT, Instagram e Facebook. Há por aí filiais espalhadas aos
montes. No entanto, não um lugar cuja competência seja específica e autóctone.
Tudo isso é importado. Necessita-se de um projeto de nação cujo nascedouro seja
a educação.
No
Japão, a tecnologia faz parte de um projeto que está imiscuído em todas as
instâncias públicas e privadas da sociedade. Por lá, há colaboração e
aproximação entre indústrias, empresas, universidades, compondo o orçamento das
instituições – inclusive, das públicas.
Todas
têm, nos seus respectivos orçamentos, investimentos da iniciativa privada.
Promovem-se, assim, a formação de mão de obra qualificada e o desenvolvimento
de pesquisas e inovações. Existe uma consciência de que as universidades
existem para serem propulsoras da economia. Esse fato é tão presente quanto
natural, portanto, não causa espanto aos nativos o fato de as empresas
aplicarem capital em áreas estratégicas da educação. O conceito de ensino como
mero certificador de algum tipo de saber, sim, lhes parece estranho.
O
Ministério da Educação japonês quer ampliar a oferta dos cursos de tecnologia
da informação, colocando-os em todas as carreiras universitárias. Isso
significa que consideram relevante, estrutural e economicamente, aumentar a
formação de profissionais de TI e de engenharias. Obviamente, não devemos
copiar o modelo japonês. Entretanto, com certeza temos uma lição a aprender com
a circunstância. Promover incentivos em setores específicos reforça a
possibilidade de haver por estas plagas um projeto de desenvolvimento. Quem
detém o saber de algo, de certa maneira, o domina.
O
governo federal precisa olhar sistematicamente para o que o país precisa. Não
dá mais para gerir esse ramo (educação) com miopia. Assim, somente alguns
poucos grupos empresariais que tenham foco em programas pontuais de efeitos
restritos, porém de impactos midiáticos, se beneficiam. O Brasil precisa de
planejamento para demonstrar quais são as suas pretensões para o futuro neste
mundo digital e globalizado. O setor das instituições de ensino superior (IES)
deve atuar para ajudar a sustentar critérios que fomentem a soberania nacional.
As adversidades vivenciadas nas últimas décadas precisam ser definitivamente
encaradas.
Quando
se observa o ranking das maiores economias globais, o Brasil é a que menos
parece investir, planejar ou mesmo se preocupar com este universo. Lembremos
que esta é uma alternativa a qual tende a alinhar nosso futuro com um projeto
de nação. O agronegócio, o minério e o setor financeiro não podem ser os únicos
meios pelos quais o Brasil produz suas riquezas. A institucionalização de
regras e instrumentação política dar-nos-ão recursos para poder gerar
oportunidades e mão de obra qualificada para o trabalho que precisamos encetar.
Defendo,
além disso, que deve haver a proposição e a aprovação de uma lei que permita
haver dedução do imposto de renda de pessoas físicas e de empresas em favor das
instituições de ensino superior; transformar-se-ia tal restituição em bolsa de
estudos; em qualificação profissional; em pesquisas que se proponham a resolver
problemas locais; e em extensões comunitárias de apoio às estruturas
governamentais. O direcionamento de uma pequena parte do IR para uma IES ou
instituição comunitária de ensino superior (ICES) que seja conhecida, de
confiança e que realiza trabalhos verificáveis parece muito mais razoável do
que o destinar (o imposto de renda) a investimentos que desconheço e não posso
fiscalizar.
Isso
já ocorre com projetos que trabalham com crianças e adolescentes carentes; com
a cultura e com o audiovisual; e com reciclagem. Por que, afinal, com a
educação isso é imbricado? Este não é um sendeiro a ser explorado, tampouco
desbravado, absolutamente. Porém, para que tal fato ocorra é necessário que
haja vontade política.
Fonte:
Por Rodrigo Bouyer, no Le Monde
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