Por que a sua tolerância ao álcool diminui
à medida que você envelhece?
Se você já notou
que beber um drinque ou dois tem um impacto maior agora do que
quando você era mais jovem, não é fruto da sua imaginação. Muitas pessoas não
percebem que tanto homens quanto mulheres desenvolvem uma sensibilidade
maior e uma tolerância menor ao álcool à medida que envelhecem.
É
importante prestar atenção a essa questão porque uma pesquisa recente
mostrou que o uso de bebidas alcóolicas tem
aumentado entre pessoas com 65 anos ou mais nos últimos anos – e
o tamanho da população de adultos mais velhos está
crescendo rapidamente agora que as pessoas estão vivendo mais, observa
George Koob, neurocientista e diretor do National Institute on Alcohol
Abuse and Alcoholism, dos Estados Unidos. “As pessoas não estão cientes
das mudanças fisiológicas [relacionadas ao envelhecimento] que levam
a níveis mais altos de álcool no sangue e a maiores prejuízos no comportamento
e na cognição.”
Os efeitos podem
ser sorrateiros, no sentido de que as pessoas pensam: “Bem, eu costumava beber
X, mas não podem necessariamente continuar de onde pararam porque
isso terá mais impacto quando forem mais velhas”, diz Michael Weaver,
diretor médico do Center for Neurobehavioral Research on Addiction (Centro
de Pesquisa Neurocomportamental sobre Dependência, em tradução livre) do University
of Texas Health Science Center em Houston. “Há muitas mudanças
fisiológicas que ocorrem à medida que envelhecemos.”
A verdade
simples: tomar um martini ou uma caipirinha aos
60 ou 70 anos pode afetá-lo da mesma forma que dois ou três
desses coquetéis afetavam quando a pessoa tinha seus 20 ou 30 anos.
·
O que está por trás da baixa tolerância ao
álcool
À medida que as
pessoas envelhecem, seus corpos
mudam. Ao longo de décadas, por exemplo, a composição corporal de uma
pessoa muda: A porcentagem de gordura corporal tende a aumentar à
medida que as pessoas envelhecem, mesmo que seu peso corporal permaneça o mesmo,
e a quantidade de água no corpo diminui.
Um estudo publicado
em uma edição de 2023 da revista científica Kidney Research and
Clinical Practice descobriu que, em pessoas cujo peso corporal
está na faixa normal, a água representa 62% desse peso entre as
idades de três e 10 anos; depois disso, ela permanece estável nos homens
e diminui para 55% nas mulheres entre as idades de 11 e 60 anos.
Aos 61 anos de idade, a água corporal diminui em ambos os sexos:
para 57% nos homens e 50% nas mulheres.
O declínio no
conteúdo de água do corpo é significativo porque “o álcool é uma substância
solúvel em água”, explica Alison Moore, diretora do Stein Institute for
Research on Aging e do UC San Diego Center for Healthy Aging,
nos Estados Unidos. Como as pessoas têm menos água no corpo à medida que envelhecem, “se
você beber a mesma quantidade aos 80 anos que bebia aos 30, seu nível
de álcool no sangue será muito maior”.
Nesse cenário, um
drink pode ter o mesmo impacto que dois ou três tiveram quando
você era mais jovem, fazendo com que você se sinta intoxicado muito mais
cedo.
Tenha em
mente: em qualquer idade, as mulheres são mais suscetíveis aos efeitos do álcool porque, em
termos de peso, elas têm menos água no corpo do que os homens. As
mulheres também têm menos uma enzima estomacal que ajuda no
metabolismo do álcool, diz Moore.
Como resultado, se um
homem e uma mulher, cada um pesando cerca de 68 kg, beberem a mesma
quantidade de álcool, a mulher terá um nível mais alto de álcool
no sangue do que o homem. Embora isso seja verdade em qualquer idade,
também significa que as mulheres serão
ainda mais suscetíveis aos efeitos do álcool à medida que envelhecem.
Enquanto isso,
a capacidade das pessoas de metabolizar o álcool muda à medida que
envelhecem porque a atividade de determinadas enzimas – álcool
desidrogenase, aldeído desidrogenase e citocromo P450 2E1 – que processam
o álcool diminui com a idade, explica Olivera Bogunovic, professor
assistente de psiquiatria da Harvard Medical School e diretor
médico do Programa Ambulatorial de Álcool, Drogas e Dependência do McLean
Hospital, em Massachusetts, nos Estados Unidos.
Como resultado,
“os efeitos do álcool se acumulam mais rapidamente e duram
mais”, afirma Stephen Holt, especialista em medicina do vício e professor
associado de medicina na Yale School of Medicine.
O cérebro também se
torna mais sensível aos efeitos do álcool à medida que as pessoas
envelhecem, diz Moore. “Isso pode tornar as pessoas mais propensas a
desenvolver problemas de coordenação ou equilíbrio”, aumentando
o risco de quedas. Também pode afetar o julgamento, o tempo de reação e a
capacidade de dirigir.
Em conjunto, “todas
essas mudanças fisiológicas se somam”, diz Weaver. “É uma mudança gradual
ao longo do tempo durante a idade adulta.” Em outras palavras, não há uma
mudança brusca. As mudanças na fisiologia começam com cerca de 40 e 50 anos e
se tornam mais dramáticas nas décadas de 60, 70 e 80 anos,
revela Moore.)
·
Potencial de danos à saúde
Uma preocupação
frequentemente negligenciada: os adultos mais velhos frequentemente tomam
mais medicamentos do que os jovens, e muitas prescrições (incluindo alguns
anticoagulantes, sedativos e medicamentos para diabetes) e medicamentos de
venda livre (como analgésicos e soníferos) podem ter interações
problemáticas e perigosas com o álcool.
Esse é um
risco especialmente para medicamentos que são metabolizados
pelo fígado, diz Holt. “O álcool pode retardar o
metabolismo dos medicamentos ou os medicamentos podem prejudicar o metabolismo
do álcool.”
Esses efeitos
interativos podem fazer com que os medicamentos se
tornem menos ou mais eficazes. Ou podem ainda “criar efeitos
colaterais aditivos, como sonolência elevada ou até aumento do risco
de sangramento gastrointestinal”, explica Moore. Se estiver tomando algum
medicamento, leia atentamente o rótulo da embalagem e a bula e/ou converse com
seu médico para saber se deve se abster totalmente do consumo de
álcool.
Antigamente,
acreditava-se que o consumo moderado de álcool trazia benefícios à saúde, mas
os especialistas agora reconhecem que a ingestão regular de álcool pode
ter uma série de consequências prejudiciais à saúde. “Ele pode exacerbar
a depressão, aumentar a pressão arterial e levar a arritmias
cardíacas”, diz Koob.
O álcool também
pode interferir no sono. Às vezes, as pessoas
tomam uma bebida noturna para ajudá-las a dormir, afirma Bogunovic. “Muitas
vezes, elas não percebem que o álcool perturba a arquitetura do sono,
fazendo com que passem menos tempo em sono profundo e tenham um sono mais
fragmentado.” Isso pode ser especialmente problemático à medida que as pessoas
envelhecem, já que a insônia e outros distúrbios do sono se
tornam mais comuns com o avanço da idade.
Enquanto isso,
as chances de desenvolver muitas doenças crônicas aumentam
à medida que as pessoas envelhecem, e o consumo de álcool pode
ampliar alguns desses riscos. O consumo regular de álcool é um
fator de risco importante para doenças
hepáticas e câncer de cabeça e pescoço, e o uso crônico de
álcool tem sido associado a uma aceleração do declínio
cognitivo relacionado à idade e à atrofia cerebral. Pesquisas descobriram
que o consumo de apenas uma bebida alcoólica por dia aumenta o risco de câncer de mama em
mulheres, especialmente para tumores com receptores de estrogênio positivos.
Além disso, com o
avanço da idade, as pessoas geralmente têm problemas de saúde, como
insuficiência cardíaca, doença hepática ou renal, apneia obstrutiva do sono ou
doença pulmonar, afirma Holt, e “quando você adiciona álcool a esses
problemas, eles se tornam mais perigosos”.
·
Diversão com segurança
Em última análise, o
cálculo do risco versus prazer do consumo de bebidas alcóolicas deve
ser considerado individualmente, com base no seu estado de saúde atual, no
uso de medicamentos e em outros fatores, dizem os especialistas. “Não acho que
o álcool seja maléfico de forma alguma, mas é uma proposta mais arriscada
à medida que você envelhece – e é preciso
ser mais cauteloso”, diz Moore.
Se você consumir
álcool, “certifique-se de monitorar o que está fazendo”, diz Koob, e “saiba
como é uma bebida”. Dependendo de onde você for ou de quem estiver servindo,
uma bebida alcoólica pode ter uma aparência diferente. Mas a definição de um
“coquetel padrão” é consistente: 355 ml de cerveja, 148 ml de vinho ou 44 ml de
destilados (como vodca, gim ou tequila).
De acordo com as
atuais Diretrizes Dietéticas para Americanos do USDA, a recomendação
para consumo moderado de álcool é de no máximo dois drinques por
dia para homens e um drinque por dia para mulheres. Com base nas mudanças
fisiológicas relacionadas à idade na forma como as pessoas reagem ao álcool,
alguns especialistas acreditam que os critérios devem ser alterados
para adultos mais velhos –
talvez limitando a ingestão a não mais que um drinque por dia após os
65 anos.
Quando beber,
tente fazer uma refeição ou um lanche antes de tomar um coquetel ou
tomar uma taça de vinho com uma refeição, o que retardará a absorção do álcool,
recomenda Weaver. E não deixe de beber bastante água ou
outra bebida não alcoólica – talvez alternando-as com bebidas
alcoólicas – para ajudá-lo a se manter hidratado.
“Estar perto de
amigos e familiares é muito importante à medida que as pessoas
envelhecem”, diz Holt. “Mas tenha cuidado ao tentar continuar bebendo com
amigos e familiares mais jovens.”
Fonte: National
Geographic Brasil
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