terça-feira, 2 de julho de 2024

Pantanal: último grande refúgio de fauna do Brasil tem futuro incerto

O Pantanal é um bioma que se originou de um rio, o Paraguai. Portanto, se há algo errado nesse rio, todo o bioma vai mal. E a situação desse curso de água em Cáceres, a 220 km da capital de Mato Grosso, é um sinal de emergência. Na ponte Marechal Rondon, a cena é catastrófica para a maior área úmida do mundo, com 195,7 km2, parte de um dos maiores sistemas hidrológicos, a Bacia do Paraná/Paraguai. Com chuvas irregulares há três anos, pesquisadores alertam sobre o que poderá acontecer se nada for feito.

As vigas de sustentação da ponte são vistas pela primeira vez desde a sua construção, em 1965. Ali, o pequeno barco de alumínio mal navega entre tantos bancos de areia. Na maior parte de seu leito, o antes gigante Paraguai não cobre os joelhos de quem tenta atravessá-lo. Uma tempestade de poeira – algo cada vez mais corriqueiro na região – silencia um grupo que faz um churrasco no meio do rio. Como se caçoassem da doma das águas, os homens rapidamente retomam à churrasqueira assim que o vento desaparece.

Em minutos, um pequeno incêndio surge na margem esquerda do rio, na forma de um redemoinho de fogo. Mas nem a ventania ou o fogo interrompem por completo a população que busca algum alívio para o calor de 40ºC daquela tarde de outubro, um dos meses mais quentes do Pantanal. 

A grande praia que alegra a população é resultado da pior seca já registrada no ponto conhecido como Tramo Norte do rio Paraguai, entre as cidades de Corumbá, em Mato Grosso do Sul, e Cáceres, Mato Grosso. A seca nessa região é um alerta importante para quem não acredita nos sinais de esgotamento do bioma.

A falta de chuvas é um dos primeiros problemas. O bioma – que conecta três países: Brasil, Bolívia e Paraguai – padece há três anos sem chuvas regulares. Estudos indicam que a região enfrenta a pior seca dos últimos 50 anos.

•           Que animais estão ameaçados pelas queimadas no Pantanal?

O Pantanal é um bioma que ocupa não só o Brasil, mas outros países da América do Sul como Paraguai e Bolívia, em um total de mais de 150 mil km². Esta enorme área, que deveria estar protegida por suas características particulares, como ser uma das maiores planícies úmidas do planeta, tem fauna e flora únicas, como explica o site do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima do governo federal do Brasil.

Em terras brasileiras, apenas 4,6% do Pantanal encontram-se protegidos por unidades de conservação, sendo que 2,9% desse total correspondem a áreas de proteção integral, e outros 1,7% estão liberados para serem usados “de maneira sustentável”, detalha a fonte oficial.

Essa planície pluvial depende dos rios que saem da  bacia do Alto Paraguai, bem como da umidade que vem dos rios voadores da Amazônia. Por isso, trata-se de uma região que já vem sendo bastante afetada pelas mudanças climáticas e por queimadas descontroladas, grande parte provocadas por atividade humana, como detalha o artigo do Ministério do Meio Ambiente.

•           Quantas espécies de animais e plantas existem no Pantanal brasileiro?

Toda essa situação gera impactos enormes na biodiversidade do Pantanal e ameaça diretamente os animais típicos da região. Estudos já catalogaram um enorme número de espécies dos mais diversos gêneros na fauna e na flora. “Quase 2 mil espécies de plantas já foram identificadas no bioma e classificadas de acordo com seu potencial – e algumas apresentam vigoroso potencial medicinal”, detalha o site da  Embrapa Pantanal, banco de informações governamental com dados climáticos da região.

Já em relação aos animais, dados publicados pelo Ministério do Meio Ambiente indicam que as espécies catalogadas seriam: 263 espécies de peixes, 41 espécies de anfíbios, 113 espécies de répteis, 463 espécies de aves e 132 espécies de mamíferos sendo 2 endêmicas – ou seja, que são nativos somente da região do Pantanal.

•           Os principais animais ameaçados pelo fogo no Pantanal

Conforme o MapBiomas (rede multi-institucional que reúne universidades, instituições e empresas de tecnologia), o número de focos de incêndios no Pantanal em 2024 já supera o registrado no mesmo período de 2020, que foi o ano recorde de queimadas em todo o bioma e que afetou mais de 65 milhões de animais vertebrados da região, entre répteis, anfíbios, mamíferos e aves.

<<< De acordo com uma lista formulada pela Universidade Mackenzie, localizada em São Paulo, que coincide com outra listagem elaborada pelo Instituto SOS Pantanal, os animais mais ameaçados pelas queimadas no Pantanal, são:

•           Onça-pintada (panthera onca): a única espécie do gênero panthera na região, está no topo da cadeia alimentar do Pantanal, sendo sua presença mais comum no Parque Estadual do Encontro das Águas, no estado do Mato Grosso. Além de sofrer com diversos os incêndios, as onças-pintadas também enfrentam a caça ilegal.

•           Tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla): presente também em outros biomas brasileiros e lugares da América Latina, é um mamífero bem comum no Pantanal e que pode chegar a ter 2 metros de comprimento e pesar 45 kg. O tamanduá-bandeira sofreu muito ao longo dos grandes incêndios de 2020 e é preocupante sua situação atual.

•           Ariranha (Pteronura brasiliensis): espécie considerada “em perigo” pela Lista Vermelha União Internacional para a Conservação da Natureza (Iucn). É uma espécie bem tradicional do Pantanal, típica dos rios da região. Porém, as secas e as queimadas afetam essa espécie diretamente.

•           Cervo-do-pantanal (Blastocerus dichotomus): apesar do nome, esse grande cervídeo (que pode pesar até 130 kg) é comum também em outras regiões do Brasil e da América do Sul. Ele possui uma membrana protetora em seus cascos, que permite a ele conseguir ficar longos períodos em regiões alagadiças como o Pantanal.

•           Arara-azul-grande (Anodorhynchus hyacinthinus): essa bela ave é encontrada em outros locais, mas o Pantanal é seu principal habitat sendo que no bioma, 90% de seus ninhos são feitos em uma única espécie de árvores: o manduvi. Os incêndios e secas afetam a mata e acabam forçando a migração dessas aves.

•           Jacaré-do-pantanal (Caiman yacare): comumente encontrado em regiões alagadas é um dos maiores predadores do Pantanal. Esse jacaré é um animal que sofre muito com as secas, queimadas e também com a caça ilegal (por conta de seu couro).

•           Sucuri-amarela (Eunectes notaeus): essa serpente não venenosa é encontrada na América do Sul, sendo bem comum no Pantanal. Tem hábitos aquáticos e, por isso mesmo, o ambiente mais seco e com incêndios prejudica o seu habitat natural.

•           Surucucu-do-pantanal (Hydrodynastes gigas): essa serpente de grande porte pode atingir até 3 metros de comprimento. Apesar do nome, ela é de outra família da surucucu comum e não é peçonhenta.

 

Fonte: National Geographic Brasil

 

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