Pantanal:
último grande refúgio de fauna do Brasil tem futuro incerto
O
Pantanal é um bioma que se originou de um rio, o Paraguai. Portanto, se há algo
errado nesse rio, todo o bioma vai mal. E a situação desse curso de água em Cáceres,
a 220 km da capital de Mato Grosso, é um sinal de emergência. Na ponte Marechal
Rondon, a cena é catastrófica para a maior área úmida do mundo, com 195,7 km2,
parte de um dos maiores sistemas hidrológicos, a Bacia do Paraná/Paraguai. Com
chuvas irregulares há três anos, pesquisadores alertam sobre o que poderá
acontecer se nada for feito.
As
vigas de sustentação da ponte são vistas pela primeira vez desde a sua
construção, em 1965. Ali, o pequeno barco de alumínio mal navega entre tantos
bancos de areia. Na maior parte de seu leito, o antes gigante Paraguai não
cobre os joelhos de quem tenta atravessá-lo. Uma tempestade de poeira – algo
cada vez mais corriqueiro na região – silencia um grupo que faz um churrasco no
meio do rio. Como se caçoassem da doma das águas, os homens rapidamente retomam
à churrasqueira assim que o vento desaparece.
Em
minutos, um pequeno incêndio surge na margem esquerda do rio, na forma de um
redemoinho de fogo. Mas nem a ventania ou o fogo interrompem por completo a
população que busca algum alívio para o calor de 40ºC daquela tarde de outubro,
um dos meses mais quentes do Pantanal.
A
grande praia que alegra a população é resultado da pior seca já registrada no
ponto conhecido como Tramo Norte do rio Paraguai, entre as cidades de Corumbá,
em Mato Grosso do Sul, e Cáceres, Mato Grosso. A seca nessa região é um alerta
importante para quem não acredita nos sinais de esgotamento do bioma.
A
falta de chuvas é um dos primeiros problemas. O bioma – que conecta três
países: Brasil, Bolívia e Paraguai – padece há três anos sem chuvas regulares.
Estudos indicam que a região enfrenta a pior seca dos últimos 50 anos.
• Que animais estão ameaçados pelas
queimadas no Pantanal?
O
Pantanal é um bioma que ocupa não só o Brasil, mas outros países da América do
Sul como Paraguai e Bolívia, em um total de mais de 150 mil km². Esta enorme
área, que deveria estar protegida por suas características particulares, como
ser uma das maiores planícies úmidas do planeta, tem fauna e flora únicas, como
explica o site do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima do governo
federal do Brasil.
Em
terras brasileiras, apenas 4,6% do Pantanal encontram-se protegidos por
unidades de conservação, sendo que 2,9% desse total correspondem a áreas de
proteção integral, e outros 1,7% estão liberados para serem usados “de maneira
sustentável”, detalha a fonte oficial.
Essa
planície pluvial depende dos rios que saem da
bacia do Alto Paraguai, bem como da umidade que vem dos rios voadores da
Amazônia. Por isso, trata-se de uma região que já vem sendo bastante afetada
pelas mudanças climáticas e por queimadas descontroladas, grande parte
provocadas por atividade humana, como detalha o artigo do Ministério do Meio
Ambiente.
• Quantas espécies de animais e plantas
existem no Pantanal brasileiro?
Toda
essa situação gera impactos enormes na biodiversidade do Pantanal e ameaça
diretamente os animais típicos da região. Estudos já catalogaram um enorme
número de espécies dos mais diversos gêneros na fauna e na flora. “Quase 2 mil
espécies de plantas já foram identificadas no bioma e classificadas de acordo
com seu potencial – e algumas apresentam vigoroso potencial medicinal”, detalha
o site da Embrapa Pantanal, banco de
informações governamental com dados climáticos da região.
Já
em relação aos animais, dados publicados pelo Ministério do Meio Ambiente
indicam que as espécies catalogadas seriam: 263 espécies de peixes, 41 espécies
de anfíbios, 113 espécies de répteis, 463 espécies de aves e 132 espécies de
mamíferos sendo 2 endêmicas – ou seja, que são nativos somente da região do
Pantanal.
• Os principais animais ameaçados pelo
fogo no Pantanal
Conforme
o MapBiomas (rede multi-institucional que reúne universidades, instituições e
empresas de tecnologia), o número de focos de incêndios no Pantanal em 2024 já
supera o registrado no mesmo período de 2020, que foi o ano recorde de
queimadas em todo o bioma e que afetou mais de 65 milhões de animais
vertebrados da região, entre répteis, anfíbios, mamíferos e aves.
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De acordo com uma lista formulada pela Universidade Mackenzie, localizada em
São Paulo, que coincide com outra listagem elaborada pelo Instituto SOS
Pantanal, os animais mais ameaçados pelas queimadas no Pantanal, são:
• Onça-pintada (panthera onca): a única
espécie do gênero panthera na região, está no topo da cadeia alimentar do
Pantanal, sendo sua presença mais comum no Parque Estadual do Encontro das
Águas, no estado do Mato Grosso. Além de sofrer com diversos os incêndios, as
onças-pintadas também enfrentam a caça ilegal.
• Tamanduá-bandeira (Myrmecophaga
tridactyla): presente também em outros biomas brasileiros e lugares da América
Latina, é um mamífero bem comum no Pantanal e que pode chegar a ter 2 metros de
comprimento e pesar 45 kg. O tamanduá-bandeira sofreu muito ao longo dos
grandes incêndios de 2020 e é preocupante sua situação atual.
• Ariranha (Pteronura brasiliensis):
espécie considerada “em perigo” pela Lista Vermelha União Internacional para a
Conservação da Natureza (Iucn). É uma espécie bem tradicional do Pantanal,
típica dos rios da região. Porém, as secas e as queimadas afetam essa espécie
diretamente.
• Cervo-do-pantanal (Blastocerus
dichotomus): apesar do nome, esse grande cervídeo (que pode pesar até 130 kg) é
comum também em outras regiões do Brasil e da América do Sul. Ele possui uma
membrana protetora em seus cascos, que permite a ele conseguir ficar longos
períodos em regiões alagadiças como o Pantanal.
• Arara-azul-grande (Anodorhynchus
hyacinthinus): essa bela ave é encontrada em outros locais, mas o Pantanal é
seu principal habitat sendo que no bioma, 90% de seus ninhos são feitos em uma
única espécie de árvores: o manduvi. Os incêndios e secas afetam a mata e
acabam forçando a migração dessas aves.
• Jacaré-do-pantanal (Caiman yacare):
comumente encontrado em regiões alagadas é um dos maiores predadores do
Pantanal. Esse jacaré é um animal que sofre muito com as secas, queimadas e
também com a caça ilegal (por conta de seu couro).
• Sucuri-amarela (Eunectes notaeus):
essa serpente não venenosa é encontrada na América do Sul, sendo bem comum no
Pantanal. Tem hábitos aquáticos e, por isso mesmo, o ambiente mais seco e com
incêndios prejudica o seu habitat natural.
• Surucucu-do-pantanal (Hydrodynastes
gigas): essa serpente de grande porte pode atingir até 3 metros de comprimento.
Apesar do nome, ela é de outra família da surucucu comum e não é peçonhenta.
Fonte:
National Geographic Brasil
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