quarta-feira, 24 de julho de 2024

Ouro argentino enviado por Milei para Europa pode 'não voltar mais', alerta economista

A decisão do ministro da Economia argentino, Luis Caputo, de enviar reservas de ouro para o exterior torna muito difícil para o país recuperá-las, disse o economista Juan Valerdi à Sputnik.

O especialista garantiu que a Argentina poderá sofrer a apreensão do ouro caso deixe de garantir qualquer pagamento ou não aja "como quer a OTAN [Organização do Tratado do Atlântico Norte]".

A saída das reservas de ouro do país havia sido alertada publicamente pelo sindicalista bancário e deputado da oposição Sergio Palazzo, que enviou um pedido de informações ao Banco Central argentino em resposta a relatos sobre supostas "operações de envio de barras de ouro ao exterior" durante o mês de junho.

O parlamentar perguntou se houve dois carregamentos de ouro especificamente nos dias 7 e 28 de junho e se as barras realmente partiram em um voo da British Airways.

Parte das suspeitas de Palazzo foram corroboradas pelo próprio ministro da Economia argentino, Luis Caputo, durante entrevista ao jornal argentino La Nación, na qual, embora não tenha dado informações sobre o destino dos lingotes, garantiu que a transação é "muito positiva" porque guardar as reservas dentro do banco "é como se você tivesse um imóvel lá dentro e não pudesse usar para nada".

Segundo Caputo, o envio de reservas de ouro para o exterior permite "obter retorno" em um momento no qual "o país precisa aprimorar/maximizar o retorno dos seus ativos".

Para Valerdi, a decisão de enviar ouro para o exterior é um sinal de que o governo de Javier Milei "está desesperado" à procura de acesso ao crédito, algo que não conseguiu nos seus mais de seis meses de mandato.

·        O ouro pode não voltar para a Argentina?

Valerdi alertou que um dos grandes problemas do envio de reservas físicas de ouro para o exterior é que se trata de um metal que "é muito mais escasso do que os jornais indicam", o que o torna um bem muito precioso para o mercado internacional. E, embora seja possível obter retornos econômicos dessas reservas, é cada vez mais complexo que o ouro volte aos cofres do Banco Central da Argentina.

O economista deu como exemplo as dificuldades que a Alemanha teve em recuperar o ouro físico de origem alemã que estava em cofres dos bancos centrais dos EUA, da França e do Reino Unido desde a Segunda Guerra Mundial. Embora Berlim tenha manifestado sua vontade de repatriá-los desde 2013, foram necessários muitos anos para que esses lingotes regressassem, em parte, aos seus cofres.

"Cada vez que um país exige que o seu ouro físico seja enviado para eles porque preferem tê-lo no seu país, eles pensam duas vezes e não o enviam. Isso faz com que o ouro físico valha muito mais nos mercados financeiros do que realmente vale", explicou o especialista.

Para Valerdi, um dos grandes riscos é que, ao colocar esse ouro em bancos estrangeiros como garantia para obter crédito, "ao menor incumprimento da Argentina [temos] que dizer adeus a esse ouro físico".

"Mesmo que a Argentina não entre em default, esse ouro físico não retorna à Argentina porque há grande escassez, e a última coisa que farão é nos enviar esse ouro físico novamente, mesmo que outro governo argentino o reivindique no futuro", ele adicionou.

 

¨      Estados do futuro: Sul Global tem tradição de pensar em termos próprios, diz ministra da Gestão

Em evento à margem do G20, acompanhado pela Sputnik Brasil, ministros brasileiros falaram sobre a falta de acesso a água e rede de esgoto, a importância do desenvolvimento sustentável e o papel do Estado como um projeto de longo prazo que não pode ser ligado ou desligado com um botão.

O Brasil inaugurou nesta segunda-feira (22) a Reunião Ministerial de Desenvolvimento do G20, realizada no Galpão da Cidadania, no Rio de Janeiro, que tem como temas o combate à fome, à desigualdade e a universalização do acesso à água e ao saneamento básico.

Com duração de dois dias, o evento antecede a reunião da Força-Tarefa do G20 para o Estabelecimento de uma Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, marcado para a quarta-feira (24), quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva lançará uma aliança global contra a fome, com abertura da adesão aos demais países do G20.

A reunião desta segunda-feira foi presidida pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e contou com a presença da ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, e do ministro das Cidades, Jader Filho. A Sputnik Brasil acompanhou o evento.

Mauro Vieira abriu a primeira sessão do evento, sob o tema "Assegurar o acesso à água e ao saneamento". Ele chamou atenção para a importância de garantir o acesso ao saneamento básico.

"A água é um recurso vital sem o qual não há crescimento ou futuro. A falta de saneamento adequado resulta na proliferação de doenças previsíveis, como a diarreia e a cólera, que são responsáveis por elevado número de internações hospitalares e mortes no nosso país. Para as comunidades afetadas, a carência de serviços básicos amplifica a pobreza e as dificuldades existentes", disse o ministro.

Ele acrescentou que "o desenvolvimento sustentável do Brasil está, portanto, diretamente vinculado à gestão eficiente dos recursos hídricos".

"A agricultura, a indústria e a geração de energia são setores fundamentais para a nossa economia que dependem das nossas bacias hidrográficas. Além de políticas públicas eficazes e dos investimentos robustos em infraestrutura, é necessário implementar programas de educação e conscientização sobre a importância do uso responsável e da preservação dos recursos hídricos. Essa é uma responsabilidade coletiva que requer a participação do governo, das empresas, das organizações da sociedade civil e de cada cidadão brasileiro", disse Vieira.

Em seguida, o ministro passou a palavra para a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, que destacou o número de pessoas no mundo que vivem sem acesso à água potável e ao saneamento básico.

"Segundo a ONU [Organização das Nações Unidas], no total, no planeta são 2 bilhões e 200 milhões de pessoas que não têm acesso à água tratada e 3 bilhões e 500 milhões que não têm acesso ao serviço de saneamento básico. No Brasil, o país com o maior manancial de água doce do planeta, ainda são 32 milhões sem água tratada e 90 milhões de brasileiros e brasileiras sem tratamento de esgoto. Isso significa dizer que não têm acesso a esse direito fundamental à vida, à plenitude da cidadania", disse a ministra.

Nesse contexto, ela afirmou que o governo federal incluiu a ampliação do acesso à água tratada e ao saneamento básico em seu Plano Plurianual (PPA).

Ao centro, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad discursa no encontro da trilha

Em sua fala, o ministro das Cidades, Jader Filho, afirmou que sua gestão à frente da pasta tem como meta levar acesso à água tratada a 99% da população até 2033.

"O Novo PAC [Novo Programa de Aceleração do Crescimento] vai investir, até 2026, US$ 330 milhões na gestão de resíduos sólidos, além de US$ 4,92 bilhões em esgotamento sanitário, US$ 2,73 bilhões em drenagem e contenção de encostas e US$ 2,27 bilhões em abastecimento de água", afirmou o ministro.

Após a Reunião Ministerial de Desenvolvimento do G20, foi iniciado o evento Estados do Futuro, inaugurado por Mauro Viera e pela ministra da Gestão e Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck.

Ao abrir o evento, Vieira destacou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva estabeleceu como prioridade para a presidência do Brasil no G20: inclusão social e combate à fome e à pobreza; transições energéticas e promoção do desenvolvimento sustentável em suas dimensões econômica, social e ambiental; e promoção da reforma das instituições de governança global, partindo do diagnóstico de que precisamos de um ambiente internacional mais propício à paz, à cooperação e à busca de meios efetivos para solucionar os imensos desafios globais.

"Entre os desafios mais urgentes estão a fome, a pobreza e a desigualdade; os conflitos armados, com consequências humanitárias catastróficas; os retrocessos nos padrões de vida em muitas regiões do mundo; a inflação alta nos países ricos e seu impacto para as taxas de juros e para o investimento em economias em desenvolvimento; a crise da dívida pública nos países pobres; a alta volatilidade nos preços de alimentos e energia; e uma crise climática que já não é uma ameaça distante, mas uma realidade incontornável. Para o Brasil, é preciso trazer de volta ao centro da agenda internacional a temática do desenvolvimento nas suas dimensões social, econômica e ambiental."

Em seguida, a ministra Esther Dweck afirmou que "a importância do Estado não se limita a momentos de crises agudas".

"O Estado, como o desenvolvimento, é um projeto de longo prazo: não pode ser 'ligado' ou 'desligado' no apertar de um botão. Construir suas capacidades, inclusive aquelas a serem acionadas na prevenção e resposta a emergências, é um trabalho de acúmulo contínuo."

Ela acrescentou que "o debate sobre o Estado requer um olhar diferenciado para países em desenvolvimento e as assimetrias internacionais que enfrentam". Ainda, destacou a importância do Sul Global nesse contexto, por sua "longa tradição de pensar em termos próprios, a si mesmo e ao mundo".

"Sabemos que processos de desenvolvimento não se dão da mesma forma em diferentes lugares. Cada país tem suas especificidades, e a diversidade de perspectivas e experiências nacionais aqui reunida é um grande patrimônio político do G20."

Após discursar na abertura do States of the Future, nesta segunda-feira (22), que discutiu ações globais para lidar com os desafios atuais, a ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck, concedeu coletiva a jornalistas acompanhada pela Sputnik Brasil.

Ela falou sobre a presidência do Brasil no G20 a respeito do desenvolvimento sustentável e afirmou que a pauta ambiental deve ser discutida a nível mundial.

"A dimensão ambiental […], é fundamental ela ser necessária em uma discussão mundial. Um país só não consegue resolver a questão ambiental", classificou.

¨      Sul Global não tem motivos para usar o dólar, diz vice-chanceler russo 

Em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia Aleksandr Pankin, que veio ao Brasil para participar das reuniões preparativas do G20, comentou como o Ocidente enfraqueceu depois de iniciadas as sanções unilaterais contra a Rússia.

Aleksandr Pankin esteve presente na Reunião Ministerial de Desenvolvimento do G20, presidida pelo chanceler brasileiro, Mauro Vieira, e que também contou com a presença da ministra de Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, da ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, e do ministro de Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias.

À reportagem, o vice-chanceler da Rússia comentou a queda do dólar nas transações internacionais e a ascensão de outras moedas, como o yuan chinês, que "duplicou ao longo do último ano", atingindo uma parcela de 4,6%.

Para Pankin, há vários motivos para a queda, desde o crescimento da dívida pública dos Estados Unidos, que está em aproximadamente US$ 35 trilhões (R$ 195,7 trilhões), o uso do dólar como arma, como evidenciado pelas sanções unilaterais e ilegais contra a Rússia.

"Há definitivamente uma falta de fé no dólar no mundo devido a várias ações tomadas pelo governo dos EUA, incluindo sanções", disse o vice-ministro.

Segundo o diplomata, a decadência do dólar pode ser ainda maior, uma vez que esses dados não contabilizam outros sistemas de pagamentos, como o Sistema de Transferência de Mensagens Financeiras (SPFS, em russo) da Rússia, o mBridge, o Sistema de Pagamentos Interbancários Transfronteiriços (CIPS, em inglês) da China e a Interface de Pagamentos Unificada (UPI, em inglês) da Índia.

Sobre as sanções, Pankin destacou seu caráter unilateral, já que foram tomadas apenas por "certos Estados, mas não por organizações internacionais".

"Não existe uma única organização internacional, como a ONU [Organização das Nações Unidas] ou qualquer outra, de natureza global e adesão universal, que tenha tomado sanções contra a Rússia."

A maior parte dos países são do chamado "Sul e Leste Global", lembrou. "Estes são países que não partilham as posições dos países ocidentais […]. E temos uma cooperação muito boa com eles."

Nesse sentido, Pankin ressaltou que esses também são os países que estão liderando o processo de desdolarização do mundo, pois acordam cada vez mais para o fato de que não é preciso seguir os ditames dos Estados Unidos.

"Os países do Sul comercializam mais entre si do que com o Norte […]. Isso significa que eles não precisam de dólares para fazer transações entre si."

¨      EUA pressionam países da América Latina a produzirem semicondutores em meio à guerra comercial

O México deve aumentar o investimento na indústria de semicondutores nos próximos dois anos para evitar perder terreno para países concorrentes, disse uma funcionária de alto escalão do governo Biden, segundo a Bloomberg.

Na semana passada, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, se reuniu com colegas de diversas nações latino-americanas para pressionar a América Latina a impulsionar seu papel na indústria, de acordo com a agência.

"A competição está acirrada — é isso que está acontecendo — e o nearshoring [trabalho terceirizado feito em um país com o qual se compartilha uma fronteira] não diz respeito apenas ao México: Costa Rica e Panamá também estão muito próximos dos EUA e têm desenvolvimento e experiência semelhantes que lhes permitem ser competitivos neste mercado", disse Jene Thomas, diretora de missão da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID, na sigla em inglês) no México, ouvida pela mídia.

Segundo Thomas, estados no norte e centro do México que já têm produção de eletrônicos estão mais bem equipados para receber novos investimentos no setor no curto prazo, com o país se posicionando para participar da área de menor custo da cadeia de produção, incluindo testes e montagem.

Um roteiro apresentado pela USAID e pela Fundação Estados Unidos-México para a Ciência (FUMEC, na sigla em inglês) sugere que os estados mexicanos poderiam cortar os US$ 30,94 bilhões (R$ 173,22 bilhões) em semicondutores que o país importou em 2022, principalmente da Ásia.

Além disso, os países da Ásia estão focados em aproveitar o interesse global na diversificação das fontes de fornecimento. "É por isso que continuamos falando em dois anos, porque estamos vendo os países se movimentarem rapidamente", afirmou Thomas.

A pressão norte-americana em países latino-americanos acontece em meio à "guerra dos chips" entre EUA e China.

Capitaneada por Washington com parceiros estratégicos como Japão e Países Baixos, o governo Biden tem cada vez mais "apertado" as regras e restringido o acesso chinês à tecnologia dos semicondutores, peças essenciais para o desenvolvimento de diversos produtos, que vão de celulares a tanques de guerra.

¨      Segurança, defesa e empregabilidade: o que o Brasil ganha com a compra de 420 blindados leves?

O Exército Brasileiro assinou um contrato para a compra de 420 Viaturas Blindadas Multitarefa Leves sobre Rodas 4x4 Guaicurus (VBMT-LSR 4x4). Veículos elevam a segurança nas fronteiras, e Brasil ganha com produção interna e aplicação de componentes nacionais.

Viaturas que pesam em média 8 toneladas, com uma velocidade de mais ou menos 90 km/h e blindagem para aguentar tiros de fuzil de calibre 762: essas são algumas características dos Guaicurus, os novos blindados que vão integrar o quadro bélico da cavalaria do Exército.

O contrato, avaliado em R$ 1,4 bilhão, foi executado como parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do Governo Federal, e está de acordo com o Programa Estratégico de Blindados das Forças Terrestres Brasileiras. A parceria com a italiana Iveco prevê a entrega das viaturas em um prazo de dez anos, com previsão de chegada das primeiras unidades em 2026.

A compra representa, além da recomposição para a defesa nacional, uma elevação do nível de nacionalização dos componentes, uma vez que a montagem das viaturas vai acontecer na fábrica de Sete Lagoas (MG) e abarca, segundo o Exército Brasileiro, "o serviço de integração do sistema de armas automatizado e de comando e controle", como o Equipamento Rádio TRC-1193 Mallet, desenvolvido e produzido pela Indústria de Material Bélico do Brasil (Imbel).

Outro exemplo é a torre REMAX, uma estação de armas remotamente controlada e de giro estabilizado, fabricada pelo próprio Exército, capaz de operar tanto com munições .50 quanto 762.

Fabrício Ávila, doutor em ciência politica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e presidente do Instituto Sul-Americano de Política e Estratégia (ISAPE), avalia a negociação com bons olhos e vê um acerto do Brasil em vários aspectos.

"A fabricação nacional desses 420 Guaicurus vai fazer com que, pelos próximos 30 anos, a gente consiga gerar muitos empregos diretos e indiretos, porque vai ter toda a questão de manutenção, peças de reposição e tudo mais", explica.

Segundo o especialista, os veículos blindados estão de acordo com a doutrina seguida pelo Exército Brasileiro, de ter veículos de reconhecimento em apoio a tanques — no caso do país, o Centauro. Além disso, são viaturas que ajudam a elevar a segurança nas fronteiras.

Outro ponto positivo destacado pelo analista é o baixo custo do investimento em um equipamento que terá grande proeminência no futuro, em um contexto de miniaturização das armas. Cada Guaicuru vai custar cerca de R$ 1,5 milhão.

"Na guerra moderna, com a digitalização, quanto mais blindados uma força tiver, mesmo que leves, menos alvos os drones vão ter para engajar. Então a taxa de sobrevivência dos soldados vai ser maior", explica Ávila.

Países como a Inglaterra e a Rússia utilizam o veículo, conta o especialista. Os blindados leves russos, inclusive, são também de fabricação da Iveco e já foram testados na operação militar especial, em andamento na Ucrânia.

O presidente do ISAPE afirma ainda que as compras dos Guaicurus não representam um rearmamento do Brasil, mas a reposição de equipamentos defasados em 40 anos.

No âmbito na fabricação interna de armas, Ávila enxerga também a possibilidade de futuros intercâmbios entre empresas dentro do Brasil, como atrelar mísseis antitanque produzidos pela Avibras aos veículos blindados, por exemplo.

"Tudo que a gente conseguir produzir aqui e para países parceiros vai ser mais um passo para a estabilidade na América do Sul. […] Quanto mais preparado o Brasil estiver para o que vai acontecer agora no século XXI, melhor para a sua soberania e para o seu futuro. Um Brasil forte também vai ser uma América do Sul forte", finaliza.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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