quarta-feira, 3 de julho de 2024

Luis Nassif: Roteiro para o MP de Contas investigar Campos Neto

O Ministério Público das Contas, ligado ao Tribunal de Contas da União (TCU) anunciou a abertura de investigações sobre a possível manipulação das taxas Selic.

Em 2010, ocorreu especulação semelhante no mercado de câmbio global, envolvendo diversas instituições financeiras, incluindo bancos renomados como o Barclays, o Royal Bank of Scotland (RBS) e o UBS. 

As investigações revelaram que traders dessas instituições agiram em conjunto para manipular a taxa de câmbio da libra esterlina (GBP) em relação ao dólar americano (USD) entre 2008 e 2010.

Eles se valiam de uma prática conhecida como “negociação em tandem” (no Brasil, antigamente, era conhecida como zé-com-zé). Consiste nos traders coordenarem ordens de compra e venda entre si. No caso, para influenciar a taxa de câmbio da libra em relação ao dólar, especialmente durante a janela de fixação da taxa Libor (London Interbank Offered Rate), um benchmark global para taxas de juros.

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O resultado foram multas bilionárias para as instituições envolvidas e sanções disciplinares para os traders. 

A operação é idêntica ao que ocorreu no Brasil nas últimas semanas.

Havia uma regra de redução da taxa Selic a cada reunião do Copom (Comitê de Política Monetária). A maneira do BC orientar o mercado é através da chamada “forward guidance”, ou orientação futura. São indicações sobre o comportamento futuro do banco, levando o mercado a antecipar os movimentos.

Ao mercado não interessa saber se o BC está certo ou não nos seus movimentos: o mercado ganha quando consegue emular o BC, errar tanto ou acertar tanto quanto o BC.

O ponto central é que as mudanças de rumo do BC precisam ser discutidas, antes, internamente. O que Roberto Campos Neto fez, em evento financeiro nos Estados Unidos, foi apontar para uma mudança de ventos sem ter discutido internamente com a diretoria do banco.

Foi uma decisão individual, que influenciou diretamente o mercado.

O primeiro passo do MP de Contas seria investigar as circunstâncias desse anúncio antecipado de Campos Neto. Para tanto, deveria ouvir diretoria e equipe técnica do banco.

Depois, analisar o cenário econômico naquele momento e os argumentos invocados por Campos Neto. E comparar com as projeções e análises de outros bancos centrais, especialmente de países emergentes.

O segundo passo será abrir os dados da Pesquisa Focus e identificar quais as instituições apostaram em 8% de inflação nos próximos meses. É uma projeção totalmente descabida, com o claro propósito de influenciar a formação das médias do Focus e a definição da taxa Selic.

Para reforçar as investigações, poderia recorrer a gráficos que mostram que a especulação com o real começou entre operadores brasileiros. Há boas análises de economistas estrangeiros apontando para esta manobra.

Finalmente, investigar as operações de taxa futura e de juros e de câmbio nos últimos dias. Há claramente uma corrida contra o real. O segredo está em identificar quem deu início à corrida e cobrar explicações.

Finalmente, poderia ir atrás de denúncias de que Campos Neto entrou em contato com operadores e grandes empresários reforçando o discurso negativo contra o país. 

Há dois enfoques nessa investigação.

O primeiro, de direito econômico, de formação de cartel interferindo nos preços. E não se trata apenas de um perde-ganha entre comprados e vendidos. A manutenção da Selic em patamares elevados impõe um custo a todos os tomadores de crédito e um ganho a todos os detentores de capital.

O segundo, de direito penal, abrindo as contas da offshore de Campos Neto e de Paulo Guedes. No seu tempo de Ministro da Fazenda, Guedes foi flagrado com um terminal da Bloomberg ao fundo, próprio não apenas para consultas, mas para operações.

¨      Alta do dólar: José Genoino decifra disparada da moeda e dá 'nome aos bois'

O ex-presidente do PT e ex-deputado federal José Genoino revelou, em entrevista ao jornalista Luiz Carlos Azenha no Fórum Café desta terça-feira (2), sua visão sobre os fatores por trás da recente disparada do dólar. Na segunda-feira (1), a moeda norte-americana fechou o dia cotada a R$ 5,65, a maior alta desde janeiro de 2022.

Parte da imprensa tem sugerido que a valorização do dólar estaria relacionada às reações do mercado financeiro a declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que têm criticado a política de juros do Banco Central (BC) e sua independência.

Para Genoino, contudo, o verdadeiro responsável pela alta do dólar é o próprio BC, em especial seu presidente, Roberto Campos Neto, a quem o petista chama de "infiltrado do bolsonarismo que quer torpedear o governo Lula".

O ex-parlamentar acusa Campos Neto de incentivar a "especulação do dólar" e de não intervir para conter a alta da moeda, como já fez durante o governo Bolsonaro utilizando as reservas cambiais da instituição. Genoino argumenta que essa atitude visa justificar um possível aumento na taxa básica de juros (Selic) e garantir o ajuste fiscal, prejudicando os investimentos do governo Lula em áreas como educação, saúde e previdência.

"Há uma crise real, sistêmica, do modelo neoliberal que atinge o mundo inteiro. A alguns mais e a outros menos. É nesse clima de crise que, no caso do Brasil, há uma atitude de incentivo à especulação do dólar por parte do presidente do Banco Central. Ele não toma nenhuma atitude: fica especulando com o aumento do dólar para que atinja de maneira dura a economia e justifique o aumento dos juros", afirma Genoino.

"Setores financeiros monopolistas querem garantir o ajuste fiscal tirando dos pobres. Querem mexer na saúde, educação e previdência", prossegue.

Genoino também destaca o aspecto político e eleitoreiro da articulação de Campos Neto e das elites financeiras para manter o dólar alto.

"Eles querem, com isso, fazer um processo de 'mostrar a crise' do governo Lula para que ele possa ser enfraquecido politicamente. Estamos em ano eleitoral. Querem encurralar o Lula politicamente", pontua.

O ex-deputado propõe que o PT, partidos de esquerda e lideranças políticas façam um "movimento contra a especulação do dólar". "É especulação para forçar o aumento dos juros e fazer o governo mexer no teto da previdência, saúde e educação", diz.

"Campos Neto é um infiltrado do bolsonarismo no Banco Central para torpedear o governo Lula", finaliza José Genoino.

¨      Lula enquadra Campos Neto: "não pode estar a serviço do sistema financeiro"

Em entrevista à Rádio Sociedade nesta terça-feira (2), o presidente Lula (PT) criticou a política de juros do Banco Central e a pressão política em cima da instituição.

Desde o início do mandato Lula 3 no ano passado, o governo vem batendo de frente com o Banco Central liderado por Roberto Campos Neto pela alta taxa de juros operada pelo presidente da instituição, indicado por Jair Bolsonaro (PL).

Na visão do atual chefe do Palácio do Planalto, o Banco Central não pode operar em interesse do mercado, mas com o povo brasileiro.

"A gente precisa fazer com que o Banco Central continue funcionando de forma correta, com autonomia, para que o Banco Central não fique vulnerável às pressões políticas. Se você é um presidente democrata, permite que isso aconteça sem nenhum problema", afirmou Lula.

"Agora, quando você é autoritário, resolve fazer com que o mercado se apodere de uma instituição que deveria ser do Estado. O Banco Central é um banco do Estado brasileiro, pra cuidar da política monetária. Ele não pode estar a serviço do sistema financeiro, a serviço do mercado", continuou o presidente.

"Definitivamente, eu acho que ele tem um viés político, e eu não posso fazer nada, eu tenho que esperar ele terminar o mandato e indicar alguém", concluiu Lula.

O mandato de Roberto Campos Neto se encerra no fim de 2024 e o governo deve indicar um novo nome para o ano seguinte. O favorito é o economista Gabriel Gallipolo.

¨      Em Lisboa, Campos Neto faz defesa aberta do “mercado”

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, participou na sexta-feira (28) do último dia do 12° Fórum de Lisboa. O economista, um aliado de Jair Bolsonaro (PL), que advoga abertamente em favor do “mercado” e é o garantidor maior dos juros astronômicos no Brasil, seguiu a cartilha de sempre: um “economês” rebuscado para concluir que gastos e investimentos públicos pioram a saúde financeira do país, repetindo inúmeras vezes o dogma da “responsabilidade fiscal”.

Antes mesmo de dar início à sua participação na mesa de debate que aconteceria no grandioso auditório da reitoria da Universidade de Lisboa, a assessoria de Campos Neto já afirmou que ele não falaria uma só palavra à imprensa. Ao encerrar sua fala e sair, foi perseguido pelos jornalistas, mas reiterou que não responderia e ainda disse que tudo que havia proferido na conferência era de “caráter geral” e “não sobre o Brasil”.

“Claro que os mercados têm que operar de forma mais livre. Outro dia eu estava em uma reunião com vários banqueiros centrais e disseram assim: olha, as coisas estão bem porque os mercados estão absorvendo bem esse choque e esses juros mais altos. E minha primeira reação foi [de pensar] ‘o mercado tá absorvendo bem porque nós somos o mercado, a gente nunca teve tanto banco central no mundo com balanços tão grandes e negociando tantos títulos e obrigações dos mercados’... Então, no final das contas, o problema é quando você tem o setor público muito grande no mercado... Você tira a informação do preço, e a informação do preço no mercado é muito importante para quem faz política econômica, para entender de onde estão vindo os problemas”, afirmou Campos em sua intervenção.

Cada dia chafurdando no ninho bolsonarista, o presidente do Banco Central já teve até encontros amistosos e insuspeitos com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), o bolsonarista que possivelmente encampará uma corrida presidencial daqui a dois anos e meio pela extrema direita, uma vez que Jair Bolsonaro, seu padrinho, está inelegível.

Mesmo visto como um player no universo bolsonarista, Campos Neto rejeitou na quinta-feira (28) que esteja sendo sondado para ser ministro da Fazendo num eventual governo de Tarcísio se um dia o carioca que administra São Paulo se torne presidente.

“É importante dizer que eu nunca tive nenhuma conversa com o Tarcísio sobre ser ministro de nada. Eu nunca disse isso, nem o Tarcísio”, afirmou.

 

Fonte: Jornal GGN/Fórum

 

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