Longevidade:
imunização, prevenção e tecnologia terão papel-chave para um envelhecimento
saudável
A
população mundial está vivendo mais. Diante do crescimento da população 60+,
olhar para as demandas de quem está envelhecendo deixou de ser uma opção e se
tornou uma necessidade¹. Afinal, não basta viver mais, é preciso viver esses
anos a mais com qualidade. Se no passado os avanços de saneamento básico,
imunização e a descoberta dos antibióticos, por exemplo, contribuíram para essa
realidade2,3, a adoção de hábitos saudáveis e a importância das
vacinas terão papel-chave para a adoção de políticas públicas pensando na
longevidade.4
De
acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde) a expectativa de vida global
aumentou de 66 anos em 2000 para 73 anos em 2019, e a expectativa de vida
saudável aumentou de 58 para 63 anos. Em grande parte, isso se deve, aos ganhos
em saúde materno-infantil e ao combate de doenças transmissíveis, como HIV,
tuberculose e malária5.No Brasil, o último Censo do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou que pessoas com 60 anos ou
mais já somam 32,1 milhões.6
“O
IBGE fez um cálculo de que até 2030 essa população de 32 milhões de idosos vai
passar para 42 milhões. É um crescimento rápido, e vale pensar no impacto e na
transformação que esse movimento vai ter sobre a sociedade pensando pelo prisma
social, econômico, político, tecnológico e de acesso à saúde principalmente”,
afirma Rodrigo Favoni, Head de Negócios de Vacinas e HIV da GSK no Brasil.
Ele
foi um dos participantes do evento Longevidade 360º, promovido pela
biofarmacêutica, que contou ainda com as presenças de Andrea Janér, futurista e
CEO da Oxygen, Drauzio Varella, médico oncologista e comunicador em saúde,
Lessandra Michelin, gerente médica de vacinas da GSK, Margareth Dalcolmo,
presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) e
pesquisadora da Fiocruz, Martha Oliveira, ex-diretora da ANS e CEO da Laços
Saúde, e Pedro Bial, jornalista e apresentador. O encontro teve a curadoria
assinada por Rosana Richtmann, infectologista do Instituto Emílio Ribas e chefe
do Departamento de Infectologia do Grupo Santa Joana – que também participou de
um dos painéis de debate – e pela jornalista Natalia Cuminale, fundadora do
Futuro da Saúde.
Segundo
Favoni, há uma grande diferença entre a população atual de mais ou menos 50
anos e as gerações anteriores: “Essa é muito mais ativa, participativa, tem
cuidado consigo mesma ao mesmo tempo em que cuida dos filhos, que estão saindo
mais tarde de casa, e dos pais, que estão vivendo mais. Ela é a base emocional,
social e muitas vezes financeira dessa dinâmica familiar. Então, é um grupo
para o qual parar não é uma opção”.
·
Viver mais versus
viver com qualidade
A
preocupação de viver a fase idosa com qualidade tem sido discutida sob o olhar
da diferença entre expectativa de vida versus expectativa de saúde – ou
lifespan e healthspan, em inglês. O conceito ganhou fôlego em publicações
científicas a partir dos anos 2000 e diversos livros atuais têm explorado a
questão, que tem guiado discussões sobre como atingir o maior período possível
como com boa saúde, livre de doenças crônicas e deficiências do envelhecimento.7
Hoje,
devido aos hábitos de vida modernos, como maior presença de ultraprocessados na
alimentação, consumo de álcool e aumento do sedentarismo, a incidência das
chamadas doenças crônicas não transmissíveis tem disparado – e para muitas
delas, a idade é por si só um fator de risco.8 Nesse cenário, a
ideia não é combater a velhice, mas apresentar e entender novas maneiras de
vivê-la.
“O
Brasil vai envelhecer em 10 anos o que a Europa envelheceu em cem”, prevê
Martha Oliveira, doutora em envelhecimento humano, ex-diretora da ANS e CEO da
Laços Saúde, empresa especializada em cuidados domiciliares. “Temos muito a
fazer e o primeiro passo é ter um conceito de saúde mais amplo, que compreende
também o social, a cidade, a estrutura, o transporte, porque tudo isso tem a
ver com saúde, tudo isso vai influenciar na vivência desse envelhecimento.”
Diante
desse cenário multidisciplinar, Andrea Janér, futurista e CEO da Oxygen,
apontou que dentre as principais tendências para o futuro da longevidade estão
o protagonismo do paciente, o novo papel do médico, a desospitalização da saúde
– ou seja, com cuidados feitos cada vez mais fora dos ambientes de clínicas e
hospitais – e as novas tecnologias, que vão de anéis à dispositivos vestíveis
que mapeiam dados de saúde e trazem insights para guiar comportamentos
saudáveis.
Janér
cita como exemplo dispositivos apresentados em feiras de inovação, como a CES:
o BeamO, que reúne oxímetro, estetoscópio e termômetro em um único aparelho, e
U-Scan, que pode ser acoplado ao vaso sanitário do paciente e analisa a urina,
fornecendo informações sobre a saúde do paciente diretamente em um aplicativo.
“Isso
vai exigir do médico uma nova habilidade que é saber lidar com esses dados
todos. O paciente provavelmente vai encaminhar para esse profissional de saúde
um relatório do sono dele, da urina, coisas assim, e o médico vai precisar
saber o que fazer com esses dados. É uma provocação para começarmos a pensar em
como a gente vai formar esses novos médicos e como vamos nos transportar para
esse novo mundo”, diz a futurista.
·
Imunização é plano A
Na
esteira de novas abordagens para a longevidade está uma estratégia já conhecida
e bastante eficaz que passa a assumir um papel ainda mais importante: a imunização.9 A infectologista Rosana Richtmann explicou
que, embora ainda seja muito comum associar vacinação à fase infantil, estar
atento ao calendário após os 60 anos e dedicar esforços para o desenvolvimento
de novas vacinas para essa população é fundamental:
“O
estabelecimento do calendário de vacinação foi uma das maiores atitudes em
termos de saúde pública. Claro, a princípio isso teve um impacto muito grande
na mortalidade infantil, mas hoje todos têm um calendário a ser seguido,
adolescentes, gestantes e os idosos. Isso é muito importante porque, além da
proteção direta, temos que pensar na indireta. Esse fator é bastante relevante
para pessoas com mais de 60 anos, porque com a idade, é comum acumular
comorbidades. E, às vezes, o idoso é internado com um quadro respiratório,
acaba contraindo uma pneumonia bacteriana e vem a óbito. A vacina é um
instrumento que impede essa consequência.”
Richtmann
reforçou a necessidade de preparo dos profissionais de saúde para acolher as
demandas imunológicas dessa parcela da população. “Não é à toa que os idosos
são mais vulneráveis. Existe a imunosenescência, que é um fenômeno natural,
progressivo e irreversível, ou seja, todos nós já estamos envelhecendo no nosso
sistema imunológico. Por isso, a nossa resposta imunológica é muito diferente
e, para enfrentar isso, nossos médicos precisam estar preparados para toda essa
mudança.”
Ela
defende que, para os gestores, o investimento em prevenção e imunização é
também uma estratégia de sustentabilidade fiscal, uma vez que as vacinas têm o
potencial de evitar doenças que trarão sequelas e outras complicações a longo
prazo. “Não é ser plano B, o foco deve ser esse”, completou.
·
Recalculando rota:
mudança de hábitos depois dos 60
As
estratégias de prevenção, como as vacinas, precisarão andar lado a lado com uma
nova leitura do que é viver após os 60 anos. Ao entender que essa idade hoje
não é sinônimo de final de vida, abrem-se novas oportunidades de mudança de
hábitos. Incluir a prática de exercícios físicos na rotina e buscar atividades
ao ar livre são algumas das mudanças que, quando feitas, têm o poder de
impactar a saúde física e mental, direta e indiretamente.9,10
O
jornalista e apresentador Pedro Bial dividiu sua experiência com o público
presente no evento. Ao destacar sua atenção à imunização pessoal, ele pontuou
os desafios conjunturais: “Essas transformações sociais, como a própria cultura
da imunização e da prevenção, são desafios coletivos, mas solucionados por
iniciativas individuais.”
Para
ele, envelhecer traz novas possibilidades de reaprender a viver. “Uma vantagem
do envelhecimento é que a gente aprende a dosar. Você entende que tem menos
energia do que quando era jovem, mas antes essa energia era mal direcionada.
Hoje, eu uso minha energia ao máximo e ela rende muito mais”, relatou Bial.
Fonte:
Futuro da Saúde
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