sábado, 6 de julho de 2024

Longevidade: imunização, prevenção e tecnologia terão papel-chave para um envelhecimento saudável

A população mundial está vivendo mais. Diante do crescimento da população 60+, olhar para as demandas de quem está envelhecendo deixou de ser uma opção e se tornou uma necessidade¹. Afinal, não basta viver mais, é preciso viver esses anos a mais com qualidade. Se no passado os avanços de saneamento básico, imunização e a descoberta dos antibióticos, por exemplo, contribuíram para essa realidade2,3, a adoção de hábitos saudáveis e a importância das vacinas terão papel-chave para a adoção de políticas públicas pensando na longevidade.4

De acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde) a expectativa de vida global aumentou de 66 anos em 2000 para 73 anos em 2019, e a expectativa de vida saudável aumentou de 58 para 63 anos. Em grande parte, isso se deve, aos ganhos em saúde materno-infantil e ao combate de doenças transmissíveis, como HIV, tuberculose e malária5.No Brasil, o último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou que pessoas com 60 anos ou mais já somam 32,1 milhões.6

“O IBGE fez um cálculo de que até 2030 essa população de 32 milhões de idosos vai passar para 42 milhões. É um crescimento rápido, e vale pensar no impacto e na transformação que esse movimento vai ter sobre a sociedade pensando pelo prisma social, econômico, político, tecnológico e de acesso à saúde principalmente”, afirma Rodrigo Favoni, Head de Negócios de Vacinas e HIV da GSK no Brasil.

Ele foi um dos participantes do evento Longevidade 360º, promovido pela biofarmacêutica, que contou ainda com as presenças de Andrea Janér, futurista e CEO da Oxygen, Drauzio Varella, médico oncologista e comunicador em saúde, Lessandra Michelin, gerente médica de vacinas da GSK, Margareth Dalcolmo, presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) e pesquisadora da Fiocruz, Martha Oliveira, ex-diretora da ANS e CEO da Laços Saúde, e Pedro Bial, jornalista e apresentador. O encontro teve a curadoria assinada por Rosana Richtmann, infectologista do Instituto Emílio Ribas e chefe do Departamento de Infectologia do Grupo Santa Joana – que também participou de um dos painéis de debate – e pela jornalista Natalia Cuminale, fundadora do Futuro da Saúde.

Segundo Favoni, há uma grande diferença entre a população atual de mais ou menos 50 anos e as gerações anteriores: “Essa é muito mais ativa, participativa, tem cuidado consigo mesma ao mesmo tempo em que cuida dos filhos, que estão saindo mais tarde de casa, e dos pais, que estão vivendo mais. Ela é a base emocional, social e muitas vezes financeira dessa dinâmica familiar. Então, é um grupo para o qual parar não é uma opção”.

·        Viver mais versus viver com qualidade

A preocupação de viver a fase idosa com qualidade tem sido discutida sob o olhar da diferença entre expectativa de vida versus expectativa de saúde – ou lifespan e healthspan, em inglês. O conceito ganhou fôlego em publicações científicas a partir dos anos 2000 e diversos livros atuais têm explorado a questão, que tem guiado discussões sobre como atingir o maior período possível como com boa saúde, livre de doenças crônicas e deficiências do envelhecimento.7

Hoje, devido aos hábitos de vida modernos, como maior presença de ultraprocessados na alimentação, consumo de álcool e aumento do sedentarismo, a incidência das chamadas doenças crônicas não transmissíveis tem disparado – e para muitas delas, a idade é por si só um fator de risco.8 Nesse cenário, a ideia não é combater a velhice, mas apresentar e entender novas maneiras de vivê-la.

“O Brasil vai envelhecer em 10 anos o que a Europa envelheceu em cem”, prevê Martha Oliveira, doutora em envelhecimento humano, ex-diretora da ANS e CEO da Laços Saúde, empresa especializada em cuidados domiciliares. “Temos muito a fazer e o primeiro passo é ter um conceito de saúde mais amplo, que compreende também o social, a cidade, a estrutura, o transporte, porque tudo isso tem a ver com saúde, tudo isso vai influenciar na vivência desse envelhecimento.”

Diante desse cenário multidisciplinar, Andrea Janér, futurista e CEO da Oxygen, apontou que dentre as principais tendências para o futuro da longevidade estão o protagonismo do paciente, o novo papel do médico, a desospitalização da saúde – ou seja, com cuidados feitos cada vez mais fora dos ambientes de clínicas e hospitais – e as novas tecnologias, que vão de anéis à dispositivos vestíveis que mapeiam dados de saúde e trazem insights para guiar comportamentos saudáveis.

Janér cita como exemplo dispositivos apresentados em feiras de inovação, como a CES: o BeamO, que reúne oxímetro, estetoscópio e termômetro em um único aparelho, e U-Scan, que pode ser acoplado ao vaso sanitário do paciente e analisa a urina, fornecendo informações sobre a saúde do paciente diretamente em um aplicativo.

“Isso vai exigir do médico uma nova habilidade que é saber lidar com esses dados todos. O paciente provavelmente vai encaminhar para esse profissional de saúde um relatório do sono dele, da urina, coisas assim, e o médico vai precisar saber o que fazer com esses dados. É uma provocação para começarmos a pensar em como a gente vai formar esses novos médicos e como vamos nos transportar para esse novo mundo”, diz a futurista.

·        Imunização é plano A

Na esteira de novas abordagens para a longevidade está uma estratégia já conhecida e bastante eficaz que passa a assumir um papel ainda mais importante: a imunização.9 A infectologista Rosana Richtmann explicou que, embora ainda seja muito comum associar vacinação à fase infantil, estar atento ao calendário após os 60 anos e dedicar esforços para o desenvolvimento de novas vacinas para essa população é fundamental:

“O estabelecimento do calendário de vacinação foi uma das maiores atitudes em termos de saúde pública. Claro, a princípio isso teve um impacto muito grande na mortalidade infantil, mas hoje todos têm um calendário a ser seguido, adolescentes, gestantes e os idosos. Isso é muito importante porque, além da proteção direta, temos que pensar na indireta. Esse fator é bastante relevante para pessoas com mais de 60 anos, porque com a idade, é comum acumular comorbidades. E, às vezes, o idoso é internado com um quadro respiratório, acaba contraindo uma pneumonia bacteriana e vem a óbito. A vacina é um instrumento que impede essa consequência.”

Richtmann reforçou a necessidade de preparo dos profissionais de saúde para acolher as demandas imunológicas dessa parcela da população. “Não é à toa que os idosos são mais vulneráveis. Existe a imunosenescência, que é um fenômeno natural, progressivo e irreversível, ou seja, todos nós já estamos envelhecendo no nosso sistema imunológico. Por isso, a nossa resposta imunológica é muito diferente e, para enfrentar isso, nossos médicos precisam estar preparados para toda essa mudança.”

Ela defende que, para os gestores, o investimento em prevenção e imunização é também uma estratégia de sustentabilidade fiscal, uma vez que as vacinas têm o potencial de evitar doenças que trarão sequelas e outras complicações a longo prazo. “Não é ser plano B, o foco deve ser esse”, completou.

·        Recalculando rota: mudança de hábitos depois dos 60

As estratégias de prevenção, como as vacinas, precisarão andar lado a lado com uma nova leitura do que é viver após os 60 anos. Ao entender que essa idade hoje não é sinônimo de final de vida, abrem-se novas oportunidades de mudança de hábitos. Incluir a prática de exercícios físicos na rotina e buscar atividades ao ar livre são algumas das mudanças que, quando feitas, têm o poder de impactar a saúde física e mental, direta e indiretamente.9,10

O jornalista e apresentador Pedro Bial dividiu sua experiência com o público presente no evento. Ao destacar sua atenção à imunização pessoal, ele pontuou os desafios conjunturais: “Essas transformações sociais, como a própria cultura da imunização e da prevenção, são desafios coletivos, mas solucionados por iniciativas individuais.”

Para ele, envelhecer traz novas possibilidades de reaprender a viver. “Uma vantagem do envelhecimento é que a gente aprende a dosar. Você entende que tem menos energia do que quando era jovem, mas antes essa energia era mal direcionada. Hoje, eu uso minha energia ao máximo e ela rende muito mais”, relatou Bial.

 

Fonte: Futuro da Saúde

 

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