José Dirceu: ‘Nordeste — um novo cenário’
É bem verdade que o
Nordeste ainda concentra quase a metade da pobreza do país — 45% das pessoas
pobres, equivalentes a 27,5 milhões, vivem naquela região —, mas não só vem
melhorando seus indicadores como caminha a passos largos para desenhar um novo
cenário. Hoje é exportador de frutas e grãos, seu turismo cresce a cada dia, é
autossuficiente em energia limpa a partir do parque eólico e solar em expansão
acelerada e seu crescimento está 50% acima da média nacional.
No primeiro trimestre
de 2024, a região cresceu 3,2% e tem uma posição privilegiada para exportar
para a Europa, a Ásia e os EUA, pois conta com vários portos.
Basta viajar pelo
Nordeste para constatar as mudanças. É visível a expansão do turismo; do
agronegócio, na região conhecida como Matopiba (região formada basicamente por
áreas de cerrado nos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, e onde se
planta grãos e fibras); de sua rede de rodovias e ferrovias; de sua
fruticultura; e mesmo de sua indústria, como os setores de confecções, calçados
e artesanato.
A presença do governo
federal é marcante: 40% dos investimentos do PAC — ou seja, R$ 688 bilhões —
serão destinados ao Nordeste. A região também receberá 80% dos investimentos da
transição energética e vai se beneficiar do programa Nova Indústria Brasil, que
adota uma visão de integração regional, e do programa Acredita, que visa apoiar
as pequenas e médias empresas e empreendedores para estimular a inclusão
produtiva.
Os estados do Nordeste
estão avançados em pesquisa e produção de hidrogênio verde, que promete
revolucionar a indústria e o transporte mundiais. A união dos nove estados da
região, com a criação do Consórcio Nordeste, hoje presidido pela governadora
Fátima Bezerra, do Rio Grande do Norte, fortaleceu a cooperação entre eles e
deu visibilidade internacional à iniciativa. Duas missões do Consórcio, com a
participação de representantes de todos os estados, foram à Europa buscar
investimentos e oportunidades de negócios, para a região, aumentando a
capacidade de inclusão social e produtiva.
Por falar em inclusão
produtiva, como resultado da primeira missão do Consórcio Nordeste à Itália,
onde foi assinado acordo de cooperação com o presidente do Fundo Internacional
de Desenvolvimento Agrícola — FIDA, o BNDES está desenvolvendo o projeto Sertão
Vivo, em parceria com o Consórcio Nordeste e o FIDA para projetos no semiárido
nordestino. O projeto já foi lançado em Pernambuco, onde serão aplicados R$ 299
milhões que vão beneficiar 75 mil famílias de agricultores. No total, serão
investidos R$ 1,8 bi, para o atendimento, em toda a região, de cerca de 500 mil
famílias (aproximadamente dois milhões de pessoas).
Na vanguarda do
desenvolvimento nordestino estão o Banco do Nordeste e o Consórcio Nordeste dos
nove estados. O BNB é responsável por 49% do crédito rural e 90% da agricultura
familiar, que envolve 1,8 milhão de famílias. Esses agricultores precisam de crédito,
de apoio para a extensão rural, de acesso à tecnologia para desenvolver uma
agricultura orgânica e produzir alimentos essenciais para a mesa das famílias
nordestinas e brasileiras. E, assim, tirar, definitivamente, o Nordeste do mapa
da fome e da pobreza.
·
Os números
Ainda há muito a ser
feito para se chegar lá. O Nordeste responde por 60% do contingente de pessoas
em situação de pobreza extrema: em 2023, segundo estudo desenvolvido pelos
pesquisadores Flavio Ataliba Barreto, João Marcos França e Vitor Hugo Miro — publicado
no Blog do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da FGV), no dia 11 deste mês
—, esse contingente era de 9,5 milhões de pessoas.
Mas foi o Nordeste a
região que apresentou a maior redução absoluta no número de pessoas pobres entre
2012 e 2023, período coberto pela pesquisa que usou os dados da PNAD Contínua
do IBGE. Nesses 11 anos, o número de pobres no Nordeste foi reduzido em 3,3
milhões de pessoas, um recuo de 8,9%. Percentualmente, a maior queda foi
registrada na região Norte: 11,6%.
No mesmo período,
também recuou o número de pessoas em extrema pobreza no Nordeste. Em 2012,
primeiro ano da série, a região registrava índice de 14,2%, com 7,7 milhões em
extrema pobreza. Em 2023, o percentual foi de 9%, equivalente a 5,6 milhões de
pessoas.
O estudo confirma a
rápida resposta, com a queda dos índices de pobreza extrema e de pobreza, às
políticas de transferência de renda. No período observado a queda ocorreu em
2020, com o auxílio emergencial instituído em função da pandemia do Covid 19, e
a partir de 2022 com a retomada dos programas de transferência de renda pelo
governo federal — Plano Brasil, no último ano do governo de Jair Bolsonaro, e
Bolsa Família, com a volta de Lula ao governo.
O pior ano da série em
termos de pobreza foi exatamente o de 2021, quando o governo de Jair Bolsonaro
acabou com o auxílio emergencial sem instituir nenhuma outra política de
transferência de renda. Naquele ano, o índice de extrema pobreza chegou a 17,6%,
atingindo mais de 10 milhões de pessoas.
·
As prioridades
Entre as prioridades
de investimento do BNB estão a universalização do saneamento básico e
abastecimento de água; a transição ecológica, com o hidrogênio verde e o
cimento verde; a transição energética, com a energia eólica e solar; e a
logística e o turismo.
Para dar conta da
expansão da economia da região, a infraestrutura rodoviária e ferroviária
precisa crescer. A Transnordestina já conta com 61% dos 1.206 km concluídos e a
FIOL (Ferrovia de Integração Oeste-Leste) está om 65,8% das obras concluídas. O
projeto prevê que tenha 1.527 quilômetros de extensão em bitola larga, ligando
o município baiano de Ilhéus à Ferrovia Norte-Sul (FNS) em Figueirópolis,
município de Tocantins.
Há novos investimentos
na indústria, especialmente na automobilística — Stellantis e BYD —; nas
refinarias da Petrobras e Noxis Energy, e na mineração, caso do consórcio
Galvani/INB. Na outra ponta, o turismo sustenta a indústria de construção
civil, a hotelaria e o emprego. No ano passado, o Nordeste abriu 340.776 novas
vagas.
Está claro que há
direção política e integração entre o Consórcio de Governadores e o governo
federal, que o papel do BNB é fundamental e que o Nordeste caminha para apagar
de vez o preconceito contra seu povo e a imagem de dependência da assistência
social, fermentados no caldeirão das fake news produzidas pelo bolsonarismo.
Logo mais, o Nordeste
passará a ser visto como exemplo para o Brasil, da mesma forma que escolas
públicas do Ceará são referência em qualidade de ensino: as dez melhores
escolas do Brasil de ensino fundamental em 2021 eram cearenses, de acordo com o
Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). E no ano passado, segundo
outro indicador desenvolvido por entidade da área educacional, a Roda
Educativa, entre os 50 municípios melhor pontuados em oportunidades na
educação, 40 eram do Nordeste e 32 deles cearenses.
¨ Atingidos pelo lítio avançam na fiscalização sobre a legalidade
da exploração na região
“É uma nova invasão
que nós, povos indígenas, estamos sofrendo. São empresas canadenses, chinesas,
inglesas, multinacionais riquíssimas que querem destruir nosso território”.
Assim, a indígena e atingida pela exploração do lítio, Cleonice Pankararu,
definiu a situação dos moradores do Vale do Jequitinhonha, em especial dos
povos da Aldeia Cinta Vermelha.
Problemas de saúde,
retaliações e perseguições; sucateamento de equipamentos públicos e das
próprias moradias e aumento da violência foram algumas das denúncias
apresentadas durante a audiência pública realizada nesta sexta (05), na ALMG a
requerimento da deputada estadual Beatriz Cerqueira (PT).
Como resposta às
demandas, os atingidos conquistaram o encaminhamento de uma visita técnica do
Ministério do Meio Ambiente à região. Também será entregue, nos próximos dias,
um relatório do inquérito sobre as violações de Direitos Humanos ocorridas no
Vale do Jequitinhonha, em decorrência da exploração do lítio. A investigação
foi conduzida pela Coordenadoria de Inclusão e Mobilização Social (CIMOS) do
Ministério Público de Minas Gerais.
A falta de escuta aos
povos e comunidades tradicionais, para a liberação de pesquisa e exploração de
lítio na região, foi um dos pontos centrais da audiência. Uma dezena de
representações de povos quilombolas e indígenas denunciaram que nunca foram
ouvidos sobre os empreendimentos. Embora o governo de Minas Gerais tenha
liberado mais de uma centena se licenças para o setor somente no último ano, o
artigo 169 da Organização Internacional do Trabalho determina que, nestes
casos, deve- se garantir uma consulta livre, prévia e informada aos povos do
território.
“Se é uma riqueza que
está no nosso solo, é uma riqueza que é nossa! É do povo!” afirmou Lucas
Martins, integrante da coordenação do Movimento dos Atingidos por Barragens e
representante da comunidade quilombola de Córrego do Narciso. Os moradores
também denunciaram que o subsolo da região já está sendo mapeado pelas
mineradoras. No entanto, pela lei, a exploração do subsolo brasileiro é de
exclusividade da União.
“É um bem estratégico
do Brasil e por isso fazemos esse pedido ao governo federal, ao Ministério de
Minas e Energia a ter uma Política de soberania e colocar o lítio no centro do
debate da soberania nacional. Queremos, também, a resposta sobre a visita que o
governo federal fez na região. Esse projeto precisa ser interrompido, porque
ele viola diversas leis”, reforçou Joceli Andrioli, integrante da coordenação
nacional do MAB.
Além das visitas ao
território, como encaminhamento a deputada Beatriz Cerqueira (PT) – requerente
da audiência – também solicitará à ALMG uma audiência pública na Comissão de
Mulheres, para debater o aumento dos casos de violência de gênero na região e uma
nova audiência na Comissão de Meio Ambiente, para as mineradoras esclarecerem
as denúncias dos atingidos.
Fonte: A Terra é
Redonda/MAB
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