quarta-feira, 3 de julho de 2024

Jean Menezes de Aguiar: ‘Por que bolsonaristas juram que não são bolsonaristas?’

Em defesa do capitão. Ou, pra não dizer que não falei das flores. (Perdoe-me Vandré).

Como ninguém absolutamente é bolsonarista – sim, muitos idolatram a mitologia, e só reenviam mensagens enaltecedoras, ou carnificiniais sobre Lula, dá no mesmo, mas juram que não são bolsonaristas, e só nos resta acreditar, ou fingir, afinal nossos amigos não poderiam (...) ser ‘mentirosos’-, a conclusão é que não existem bolsonaristas no Brasil.

O gancho da negação é promissor. Outorga direitos paralascivos e paradevassos. Mas como isso é feio, deixemos de lado. E salvemos o capitão, de suas insônias.

Uma primeira observação é sobre a mentira, ou não, de quem alega ‘não ser bolsonarista’. Como a Constituição garante a intimidade e a liberdade do voto, não se ousará adentrar neste quase ‘seer’ heideggeriano, tipo de ser não tematizável. Assim, quem ousará penetrar nestas profundezas? Verdade ou mentira, a negação se torna algo apenas idiossincrático.

Como meio do caminho, consideremos o pensamento lacratista, última moda para quem não produz p*. nenhuma, só reenvia alegorias. Quanta melancolia intelectual. Esse pensamento nasce dum tropeço espasmódico da compreensão contestatória que faz o sujeito reagir em imediatismo não-pensante para copiar e colar uma mensagem reenviada, acreditando, piamente, que provará qualquer coisa. Oh dó. Este parece ser o máximo de conhecimento alcançado aí. Deve haver nestes reenvios um onanismo coletivo em um reenviador massagear as partes do colega do lado e assim sucessivamente ao infinito. O fato é que os reenvios de mensagens geram frissons e parahisterias ideológicos, ainda que não alterem, em absolutamente nada, qualquer estado de coisas.

Um ponto importante é o imediatismo no uso altamente ressalvante do ‘mas eu não sou bolsonarista!’ A rigor, é mais que uma defesa personalista, é quase que uma ameaça ao interlocutor. Que medo! Uma característica que poderia ser investigada aí é a certeza de que quem usa esta admoestação acredita seriamente que o interlocutor é um néscio. Se é para atender a um amigo, ok. Somos analfabetos lisérgicos. Mas em o que as criaturas acreditam é algo muito íntimo e secretizável.

Outra característica epistemologicamente alvissareira é o sentimento de culpa escapado quando alguém ralha ‘mas eu não sou bolsonarista!’ É tipicamente um ser algo que não se quer ser. Bolsonaro teve o grande mérito de explodir o ‘armário’ para a direita enrustida. Sim, ela fazia suas ‘brincadeiras’ pornoideológicas secretamente, entre si, espremida nos armários do comedimento, mas não tinha coragem de negar a Ciência, dizer-se racista orgulhosamente e em público, escancarar homofobia em palanques etc. Nenhum político pós-ditadura conseguiu tamanha proeza. E veja que vários tentaram, timidamente. O armário era de madeira boa. Precisou do poderoso capitão, um político originário do baixo-clero para alforriar o ultraconservadorismo violento e vingativo, o ultra pieguismo que se alia a um neopentecostalismo fundamentalista. E mais, a ponto de tudo chegar a um ruptural 8/1, que, de novo, e nada surpreendentemente, negam ter existido. Que povo ‘inteligente’, ou, que marasmo pensante...

Buscando qualquer possibilidade de explicar o porquê bolsonaristas negam sê-lo, há variáveis interessantes. Uma possibilidade é a timidez com a ultrarradical direita, afinal ela assusta – mas seduz não é? Confesse!- quem apenas era modicamente da direita ‘normal’. Outra explicação é um padrão cultural de se mentir os preconceitos e as discriminações. Como muita gente foi educada sendo preconceituosa – isto é Brasil!-, mas sabendo que tinha que mentir no quesito, ao encontrar uma direita radical vibrante, praticamente nazista em tudo – olha que Disneylândia ideológica!- vive o drama de rejeitar sua educação ‘polida’, ou de ‘bom tom’, ou como na música Senhas, da tesuda Adriana Calcanhoto, chamada de ‘bom gosto’, para rasgar a fantasia e correr para a Parada do Orgulho Gay, ops, parada do orgulho bolsonarista.

Mas corre por fora o fortíssimo sentimento de que se dizer bolsonarista é algo ruim. Aí há algo de paradoxal. Quem ama/idolatra Jesus, Alá, Maomé, Buda, Deus e Iemanjá não tem qualquer pudor em assumir. É estranho quem ama e idolatra exatamente igual a Bolsonaro, fugir, como o lógico Diabo foge da cruz, de assumir. Há aí psicanálises secretas que só Freud descubra.

Fica o mistério em aberto. Adoradores, amantes e devotos do capitão, paradoxalmente não se dizem bolsonaristas. É até uma ingratidão para com o líder, ou coach ideológico. Será por causa dos crimes que ele é investigado e aí teria ‘cedida’ a fé no sujeito? Será por medo de, após eventual condenação criminal transitada em julgado, estar-se ligado a um condenado? Estas entranhas são muito profundas para um artiguinho destes.

Registre-se a ingratidão dos bolsonaristas raízes, assumidos e verdadeiros, ou dos que apenas se dizem ‘ligeiramente’ da direita, e que, ávidos, correram para o colo capitão, que negam ser bolsonaristas.

Esta é uma ingratidão dos próprios apaixonados, todos viuvinhas do 8/1. E como este artigo obedece à verdade-porquê do título, e é em polida ‘defesa’ do capitão, admita-se, Bolsonaro não merecia esta negação tão ‘verdadeira’ de seus próprios neolibertos do armário.

* Porcaria! (jamais seria a outra forma, muito mais viva, poética e jovem de ser dita).

¨      No Pará, trabalhadores rurais bloqueiam rodovia para evitar visita de Bolsonaro

A visita de Jair Bolsonaro (PL) a Parauapebas, município localizado no sudeste do Pará, a aproximadamente 700 km de Belém, foi marcada por manifestações de trabalhadores da agricultura familiar. Na manhã desta terça-feira (2), segundo a Folha de S. Paulo, membros da diretoria regional da Federação Estadual dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (Fetraf) bloquearam a rodovia PA-275, ateando fogo em pneus como forma de protesto.

O bloqueio foi organizado para coincidir com a passagem de Bolsonaro, que cumpre uma agenda de compromissos no interior do estado desde o último domingo (30). Os manifestantes da Fetraf-PA expressaram insatisfação com o que consideram um "descaso" do governo do ex-presidente em relação à agricultura familiar no Pará.

Noemi Gonçalves, coordenadora estadual da Fetraf-PA, esclareceu que a manifestação era uma resposta ao fechamento do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e à interrupção das políticas de reforma agrária durante a gestão de Bolsonaro. "O manifesto é uma resposta ao descaso do governo Bolsonaro em relação à agricultura familiar no Pará", afirmou Gonçalves.

Durante o bloqueio vídeos circularam nas redes sociais mostrando discussões acaloradas entre apoiadores de Bolsonaro e membros do movimento sindical.

Em sua fala em Parauapebas, Bolsonaro abordou diretamente as críticas. "Comigo não teve nenhuma maldade com produtor rural. Não demarquei nenhuma terra indígena, nenhuma área ambiental", declarou.

 

¨      Recado mostra que Lula compreende a lição do golpe que derrubou Jango. Por Paulo Moreira Leite

Como tem ocorrido durante suas viagens pelo interior do país, nesta segunda-feira, em Salvador, Lula mandou uma mensagem clara ao país.

Referindo-se à resistência que permitiu a recuperação de seus direitos políticos, a anulação da Lava Jato e o retorno à Presidência, ele fez questão de reconhecer sua dívida – acima de tudo política – com a grande massa de homens e mulheres que permitiram o retorno ao Planalto para cumprir um terceiro mandato.

"Não tenho que prestar contas a nenhum ricaço ou banqueiro desse país," disse. "Tenho de prestar contas ao povo pobre", acrescentou, durante uma cerimônia de anúncios de investimentos do governo federal em Salvador.

No discurso, onde também mencionou a perseguição sofrida por Dilma Rousseff, Lula lembrou que em 2016 "esse país entrou num processo de retrocesso de conquistas sociais. Inventaram mentiras, me prenderam, disseram que agora acabou, mas não vão acabar comigo, porque eu não sou eu, eu sou vocês."

Antes de encerrar, o presidente acrescentou: "o que deixa meus adversários nervosos são vocês."

É preciso recordar os traços fundamentais do golpe de 1964, que marcou com ferro e sangue a formação política de várias gerações de brasileiros e brasileiras – Lula tinha 19 anos na época – para compreender o sentido dessas palavras, que possuem uma gravidade fora do comum no rame-rame convencional das visitas presidenciais.

Sabemos que João Goulart, retirado da presidência após uma campanha infame de mentiras que tentava atingir inclusive sua família, era um chefe de governo com apoio popular muito superior ao que dizia a mídia adversária.

Num segredo que só seria revelado em 2020, 46 anos depois do golpe, o mesmo empresariado que contratou o Ibope para fazer um levantamento de opinião destinado a alimentar a campanha para derrubar um presidente legítimo impediu que os números fossem divulgados na época. O motivo era óbvio. Os dados eram bons para Jango e para a democracia, e péssimos para os golpistas.

Apurada entre 9 e 25 de março, e só divulgada publicamente quatro décadas depois, a pesquisa mostrava que para 30% dos eleitores entrevistados, o governo Goulart era bom. Para 15%, chegava a ser ótimo. Para 46%, era regular. Embora os grandes jornais estivessem em campanha aberta pela deposição de Jango, apenas 16% consideravam seu governo péssimo.

Apesar disso, na semana seguinte, o golpe avançou com apoio dos grandes grupos de comunicação, numa imensa conspiração, ajuda escancarada da CIA e outros serviços do império.

Meio século depois, ao se tornar o único político a ocupar a presidência da República pela terceira vez – sempre pelo voto direto – Lula tem razão em lembrar ao povo seu papel único na História do país.

Num tempo de muitas incertezas, Lula mantém uma conversa olho no olho de cada um dos presentes, para percorrer infinitos séculos de evolução humana quando diz, encarando aquela multidão de rostos humanos que ousam encarar a própria História: "O que deixa meus adversários nervosos são vocês."

Alguma dúvida?

 

¨      O Brasil não está em crise e a mídia entrou em pânico porque percebeu que Lula é favorito à reeleição. Por Leonardo Attuch

Abri os jornais nesta manhã e me deparei com a notícia de que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva estava fechando, no dia de hoje, seu pior semestre dos três já decorridos neste terceiro mandato. 

"Como assim?", eu me questionei. 

Nesta semana mesmo, o IBGE anunciou que, sob o comando do presidente Lula, a taxa de desemprego recuou ao menor nível em dez anos. Esta é apenas uma das boas notícias no campo econômico. A arrecadação é a maior em 29 anos, a massa salarial é recorde, os grandes investimentos públicos e privados voltaram e os brasileiros estão mais otimistas em relação ao próprio futuro. Em relação ao PIB, ainda que as projeções de crescimento, entre 2% e 3%, estejam claramente abaixo do potencial da economia brasileira, elas são melhores do que vinha sendo projetado pelo chamado "mercado".

Crise mesmo só há na imprensa corporativa brasileira, que, em associação com o atual presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, vem comandando um ataque especulativo contra o real, a moeda que completa trinta anos nesta semana. Mesmo com a armação, tudo o que Campos Neto e seus parceiros na imprensa conseguiram foi uma pequena desvalorização de cerca de 12% da moeda brasileira, com o real caindo de R$ 5 para R$ 5,6 em relação ao dólar. 

A questão é: por que a moeda brasileira não cai mais, diante das provocações de Campos Neto e da inação do Banco Central, que deixou de realizar leilões contra ataques especulativos? Porque qualquer agente econômico sério percebe que os fundamentos da economia brasileira são muito mais sólidos do que aquilo que vem sendo pintado nas páginas econômicas. O superávit comercial é de US$ 100 bilhões ao ano, as agências internacionais de risco vêm melhorando as perspectivas para o Brasil e o País atrai cada vez mais investimentos diretos, com o aumento do poder de compra da população. Por isso mesmo, o presidente Lula, nesta semana, afirmou que "quem apostar contra o real", em associação com os "cretinos" da imprensa, vai perder dinheiro. Lula tem razão. A julgar pelos fundamentos, a moeda brasileira poderia, inclusive, estar sendo negociada abaixo dos R$ 5.

A histeria da mídia se deve a um único fator: a percepção de que o presidente Lula não apenas é candidato à reeleição em 2026, como também é franco favorito. Dias atrás, o presidente fixou em seu perfil no X, antigo Twitter, uma mensagem dizendo que, aos 80 anos, se vê em seu auge físico e intelectual. E mais: que está pronto para seguir na presidência caso sua participação seja necessária para enfrentar os "trogloditas".

Lula não apenas se declarou candidato, como passou a agir como tal. Nos últimos dias, Lula viajou pela Bahia, Piauí, Maranhão, Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. Mais do que colocar o pé na estrada, o presidente também passou a conceder entrevistas às rádios regionais, demonstrando força não apenas para desconstruir as falácias da mídia tradicional, como também para pautar o debate no País.

Com isso, os setores da direita tradicional brasileira, que se agarraram ao presidente Lula para atirar ao mar o lixo fascista ao qual se associaram em 2018, começaram a se dar conta de que o atual governo não é uma ponte para o neoliberalismo, mas sim um projeto de oito anos. Só isso explica a pancadaria. E não há antídoto melhor contra essa cretinice do que a palavra constante do presidente. Fala mais, Lula. Quanto mais, melhor.  

 

Fonte: Brasil 247

 

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