Gás, lítio
e segurança: Brasil será muito beneficiado com Bolívia no Mercosul, dizem
analistas
Na
próxima segunda-feira (8), os presidentes dos países-membros do Mercosul —
Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai — se reúnem em Assunção, no Paraguai. O
objetivo da reunião é consolidar a entrada da Bolívia como membro pleno do
bloco.
Segundo
especialista ouvido pela Sputnik Brasil, a primeira participação da Bolívia em
reunião oficial como membro pleno marca "um momento histórico para o país
e para o Mercosul".
Para
Rodrigo Barros de Albuquerque, professor de relações internacionais da
Universidade Federal de Sergipe (UFS) e de ciência política na Universidade
Federal de Pernambuco (UFPE), o momento pode ser visto como uma oportunidade.
"É
a oportunidade de a Bolívia apresentar suas prioridades e expectativas em
relação ao bloco, além de iniciar sua participação ativa nas discussões e
decisões conjuntas", pontua o analista.
Segundo
Barros, a entrada da Bolívia no Mercosul traz ganhos imediatos para o Brasil em
diversas áreas.
"Por
exemplo, o Mercosul é fortalecido como um todo com a expansão do bloco,
aumentando sua representatividade e poder de negociação em acordos
internacionais. Isso beneficia diretamente o Brasil, que é um dos principais
membros do bloco. Além disso, o mercado boliviano é de mais de 11 milhões de
consumidores, o que pode gerar um bem-vindo impulso para as exportações
brasileiras, seja no setor do agronegócio (carne, soja, açúcar, entre outros),
seja na indústria (máquinas e equipamentos, produtos químicos e materiais de
construção) ou mesmo no setor de serviços, prestando serviços de consultoria em
áreas técnicas como engenharia e tecnologia", explica à reportagem.
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Gás natural, lítio e combate ao
narcotráfico
O
analista internacional destacou, ainda, que a Bolívia é um importante
fornecedor de gás natural para o Brasil, e a integração ao Mercosul "pode
facilitar e ampliar essa parceria energética, garantindo maior segurança
energética para o Brasil", inclusive "com importantes ativos para as
empresas brasileiras que poderão participar de projetos de exploração e
produção de gás natural no país".
Segundo
ele, são ganhos de longo prazo, dependentes de um processo gradual de
integração da Bolívia ao Mercosul, e o subsequente aprofundamento das relações
comerciais e econômicas entre os países.
O
cientista sublinha que a entrada da Bolívia no bloco corrobora a questão de
segurança.
"Outro
aspecto importante diz respeito à cooperação em segurança e combate ao crime. A
entrada da Bolívia no Mercosul pode intensificar a cooperação entre os dois
países em áreas como segurança de fronteiras, combate ao narcotráfico e crime
organizado, beneficiando a segurança de ambos os países", exemplifica à
agência.
A
coordenadora do Observatório do Regionalismo e professora de relações
internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Regiane Nitsch
Bressan segue a lógica do analista da UFS e reforça que a entrada da Bolívia no
Mercosul como membro pleno traz diversos ganhos para o Brasil e para o bloco
como um todo.
"A
Bolívia é um importante fornecedor de gás natural e, sendo a Bolívia membro
pleno, a gente [o Brasil] vai ter maior integração e facilidade nesse comércio
de energia. Além disso, a Bolívia possui várias reservas de minérios como o
lítio, que é essencial para baterias e tecnologias, então isso é muito
vantajoso para as indústrias do Brasil", reforça Bressan.
Segundo
ela, a integração vai permitir uma facilidade no comércio porque "deve
simplificar processos aduaneiros e reduzir tarifas, promovendo um aumento
constante no fluxo comercial".
"Temos
as empresas do setor energético, especialmente aquelas envolvidas na importação
e distribuição no gás natural que vão se beneficiar cada vez mais dessa
estreita ligação com a Bolívia", arremata a internacionalista.
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Alternativa de acesso ao mar
Questionado
se a Bolívia utilizaria o Mercosul como alternativa para a falta de acesso ao
mar, o analista disse que, uma vez que La Paz não conta com litoral, o bloco
pode ser uma solução.
"O
Mercosul pode ser uma alternativa para ampliar suas relações comerciais e
reduzir a dependência de seus vizinhos com acesso ao mar. Através do Mercosul,
a Bolívia pode, por exemplo, acessar portos no Oceano Atlântico, facilitando
suas exportações e importações", arguiu Barros.
Segundo
ele, como os países-membros já possuem acordos comerciais com diversos países e
blocos econômicos, isso também representa uma ampliação do leque de
oportunidades de comércio exterior para a Bolívia.
"Isso
poderá ser significativamente facilitado através de projetos de infraestrutura
habitualmente promovidos pelo Mercosul, como a construção de corredores de
transporte que conectam o país aos portos do Atlântico."
Brasil
saúda
Após
a aprovação do Senado boliviano por unanimidade, na quarta-feira (3), o governo
brasileiro, por meio de nota, saudou o movimento.
"A
plena incorporação da Bolívia ao bloco abrirá novas oportunidades para o
incremento do comércio e dos investimentos, além de possibilidades de
aprofundamento da cooperação em temas sociais para os cinco países envolvidos,
contribuindo para o crescimento econômico e a prosperidade dos membros do
Mercosul", diz o comunicado emitido pelo Itamaraty.
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Arce ratifica entrada
da Bolívia no Mercosul
O
presidente da Bolívia, Luis Arce, promulgou a lei que ratifica a adesão da
Bolívia ao Mercosul poucos dias antes da cúpula de chefes de Estado do bloco
marcada para 8 de julho em Assunção, capital do Paraguai.
"Apresentamos
o projeto de adesão ao Mercosul à Assembleia Legislativa Plurinacional em 15 de
dezembro de 2023. Em 14 de junho de 2024 foi aprovado na Câmara dos Deputados,
e em 3 de julho de 2024 na Câmara dos Senadores. Finalmente hoje nos enviaram a
lei sancionada e neste mesmo dia promulgamos de imediato", destacou.
A
Bolívia era um país associado do bloco econômico e não tinha direito a voto.
Agora, poderá participar como membro pleno pela primeira vez no dia 8 de julho,
no Paraguai.
"A
incorporação da Bolívia como país-membro do Mercosul tem caráter estratégico
porque significa fazer parte de um importante espaço de integração regional,
intercâmbio comercial, fortalecimento produtivo e nos torna um eixo articulador
na região", disse o presidente.
O
Mercosul é o quinto maior bloco econômico do mundo e foi fundado por Argentina,
Paraguai, Uruguai e Brasil em 26 de março de 1991 em Assunção. Mais tarde,
Venezuela e Bolívia aderiram.
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Arce destaca o papel
importante que o Brasil tem nas relações com a Bolívia
A
recente tentativa de golpe de Estado na Bolívia no dia 26 de junho despertou
não apenas a atenção do mundo para a região, mas colocou o governo de Arce sob
alerta quanto ao interesse internacional sobre os recursos do país, o que
fortaleceu o compromisso do presidente com seus parceiros.
No
início da tarde do dia 26 de junho, tropas comandadas pelo general Juan José
Zúñiga ocuparam a Praça Murillo, onde ficam os prédios do governo boliviano, e
chegaram a invadir o palácio presidencial. A tentativa de golpe foi denunciada
pelo presidente Luis Arce, que pediu apoio da comunidade internacional e que a
população fosse às ruas para proteger a democracia.
Apesar
da recente tensão política, a agenda do governo Arce não ficou paralisada. Na
última terça-feira (2), a Comissão de Política Internacional do Senado da
Bolívia aprovou por unanimidade um projeto de lei que ratifica a adesão do país
ao Mercosul, que agora segue para o plenário da câmara alta.
Em
entrevista à Sputnik, o presidente boliviano comentou os últimos eventos em seu
país e explicou quais são os interesses em pauta com o Brasil, falando ainda
sobre alguns dos temas que pretende tratar com o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva em sua próxima reunião na próxima semana.
"Vemos
isso [tentativa de golpe], primeiro, com muita cautela porque não é por acaso,
os interesses não desapareceram sobre os nossos recursos naturais, então temos
que estar alertas, essa é a lição", ressaltou Arce ao comentar o episódio
sui generis enfrentado pelo país. Ele destacou ainda que "temos que
trabalhar muito, há muitas coisas que temos que continuar fazendo e vamos
continuar fazendo pelo maior tempo possível enquanto estivermos na Casa Grande
do Povo".
O
presidente destacou o importante papel que seus aliados na América Latina
tiveram, entre eles o Brasil, para que a democracia boliviana encontrasse apoio
internacional caso a situação política se deteriorasse e acredita que
"deveríamos nos unir ainda mais" para evitar episódios desta
natureza.
"Com
o presidente Lula temos uma agenda bastante extensa. Há muitas coisas que
precisamos conversar. [Dentre os principais temas] estão os fertilizantes que
temos que falar conjuntamente com o Brasil para fazer novas plantas. Falar de
comércio entre Bolívia e Brasil, de investimentos, de cooperação na fronteira.
A fronteira mais longa da Bolívia é com o Brasil, a mais extensa",
destacou o líder boliviano.
A
Bolívia, que já possui estreitas relações com o Brasil na exploração de
hidrocarbonetos, vem pleiteando uma vaga no BRICS graças ao novo impulso de
investimentos que o país tem experimentado também na exploração de suas
reservas de lítio. Para além disso, Arce reforçou que o interesse nas relações
com o Brasil, vão além das relações comerciais.
"Então
temos que falar não só de comércio, investimentos etc., mas também de proteger
adequadamente, de lutar contra o narcotráfico, de lutar contra as forças
criminosas que operam em nossas fronteiras. Enfim, tudo isso é um conjunto de
temas que vamos abordar nesta reunião."
O
presidente Lula viaja a Santa Cruz de La Sierra, na semana que vem, para uma
visita bilateral com o presidente Arce. Lula já disse que pretende prestar
apoio ao homólogo boliviano durante a viagem, após a denúncia da tentativa de
golpe de Estado no país, uma vez que o governo brasileiro não mudou sua posição
de condenar "qualquer tentativa de golpe", segundo o Itamaraty.
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Ações pessoais de
Milei e Lula, e não de seus governos, levam Argentina e Brasil ao confronto
As
atitudes dos dois chefes de Estado sul-americanos, e não de seus governos,
levaram a situação entre os países vizinhos ao perigoso contexto atual,
analisou o jornal O Globo, nesta sexta-feira (5).
Em
meio à forte troca de farpas entre os presidentes, na segunda-feira (1º), por
iniciativa do Brasil, os ministros das Relações Exteriores Mauro Vieira e Diana
Mondino se falaram por telefone.
O
chanceler brasileiro, confirmaram fontes dos dois países, queria expressar
"surpresa e desagrado" pela decisão de Javier Milei de cancelar sua
presença na cúpula do Mercosul, dia 8 de julho, no Paraguai, mas, no mesmo fim
de semana, participar de evento da extrema direita junto a Jair Bolsonaro em
Santa Catarina.
A
resposta da chanceler argentina foi se desvincular das opções feitas por seu
presidente, das quais, disse ao ministro brasileiro, sequer fora informada com
antecipação. Naquele momento, ficou claro que a capacidade da diplomacia de
conter uma escalada entre Milei e Luiz Inácio Lula da Silva chegará ao limite,
escreve a coluna de Janaína Figueiredo no jornal O Globo.
Desde
que o argentino assumiu o poder, em dezembro passado, o Itamaraty e o Palácio
San Martin fizeram notórios esforços para controlar os danos causados pelas
graves ofensas de Milei ao brasileiro na campanha de 2023. Visita oficial da
chanceler à Brasília e carta enviada por Milei pedindo encontro bilateral, mas
que não teve resposta de Lula.
O
Brasil, por sua parte, apoiou Buenos Aires em organismos internacionais, e o
Itamaraty realizou gestão frenética e eficiente para destravar o envio de gás
ao mercado argentino no fim de maio, em meio a uma crise energética complexa
para Milei.
"A
esta altura, dizem fontes dos dois lados, não adianta discutir sobre quem tem
mais culpa. A realidade é que atitudes dos dois chefes de Estado, e não de seus
governos, levaram a situação ao perigoso estado atual", escreve a
colunista.
Os
argentinos alegam que Milei tentou uma aproximação com Lula no encontro do G7
na Itália, e que o presidente brasileiro foi "frio e distante", ao
mesmo tempo, os insultos do líder argentino contra o petista, durante sua
campanha, foram muito fortes.
"A
escalada entre os dois presidentes é vivida com preocupação por diplomatas e
empresários. Ficou claro que futuros desdobramentos estão em mãos de Lula e
Milei. O brasileiro não cede um milímetro em sua posição de exigir um pedido
formal de perdão. Lula, dizem fontes brasileiras, 'está magoado'. Milei, como
dizem seus colaboradores, está sendo Milei: passou da tentativa de um encontro
ao ataque feroz. A impulsividade do presidente argentino não é novidade",
escreve a colunista.
E a
situação pode piorar ainda mais se Milei reiterar as ofensas a Lula em
território brasileiro, ao lado do ex-presidente Jair Bolsonaro. A reposta do
Brasil será dura, e Brasília pode, pela primeira vez desde 1906, convocar seu
embaixador na Argentina, Julio Bitelli.
A
última vez que isso aconteceu, comentam diplomatas brasileiros, foi por decisão
do barão do Rio Branco, então ministro das Relações Exteriores do Brasil, em
meio a tensões envolvendo a demarcação de fronteiras entre os dois países.
Fonte:
Sputnik Brasil
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