segunda-feira, 29 de julho de 2024

Fefito: Histeria em torno da Santa Ceia na Olimpíada é injustificada

Cercada de diversidade e multiculturalidade, a abertura dos Jogos Olímpicos de Paris acabou ofuscada por uma imagem específica. Drag queens e várias representações da comunidade LGBTQIAPN+ sentados a uma mesa reproduziram "A Última Ceia", quadro pintado por Leonardo Da Vinci, em 1498. Para uma parcela revoltada de cristãos nas redes sociais, tratou-se de um grande desrespeito, uma verdadeira blasfêmia.

A pintura simboliza, de fato, uma passagem bíblica, mas foi produzida 15 séculos depois por um homem, segundo a biografia escrita por Walter Isaacson, gay e ateu, o que por si só são carterísticas que afrontariam essa parcela da população. Não é a primeira vez que o quadro é reproduzido. Uma rápida busca mostra que há centenas de sátiras à obra de Da Vinci, que incluem desde super-heróis e Turma da Mônica a humorísticos como "Zorra Total" - para dizer o mínimo.

O que incomoda e gera debate, não é, portanto, a reinterpretação da pintura, uma vez que nem mesmo quando foi tratada como piada despertou tamanha controvérsia. O que provoca a discussão acalorada é a presença de LGBTs na pintura, público comumente alvo de setores religiosos mais conservadores. Na imagem, não há nada desabonador, nenhum crime está sendo cometido. Percebe-se, portanto, que o uso da fé não está em defesa da passagem da bíblica, mas, sim, a serviço do ódio a uma comunidade específica.

Curiosamente, passagens do livro sagrado usadas para criticar LGBTs vêm da mesma fonte que prega que mulheres adúlteras sejam apedrejadas ou não se coma carne de porco e não se use dois tipos de tecido. Todos esses ensinamentos já foram relativizados e superados. Jesus Cristo era conhecido por sentar-se à mesa com os marginalizados e perseguidos. É, portanto, um retrato de amor e compaixão, não de ódio. Será que essa parcela raivosa o representa tão bem ou entendeu suas palavras?

As Olimpíadas acertaram, sim, ao representar uma minoria já tãp excluída. LGBTs existem desde que o mundo é mundo. E seguirão existindo. Qualquer debate que não os inclua na busca por direitos básicos - como o de serem vistos - é pura histeria.

 

¨      Uma ceia para todas, todos... e todes! - Por Pastor Zé Barbosa Junior

Causou alvoroço nas redes sociais, logo após a abertura das Olimpíadas em Paris, uma encenação que remete à última ceia realizada por Jesus, ou pelo menos à obra de Leonardo Da Vinci que se aventura a retratar a cena bíblica. O que chocou as pessoas? A encenação foi feita por drag queens, o que fez com que religiosos conservadores do mundo inteiro se manifestassem atribuindo a pecha de “blasfêmia”, “vilipêndio da fé”, “escárnio” ao que, daqui do Brasil, assistimos pela TV.

Pois, como teólogo e pastor, apaixonado pelo Evangelho e pela pessoa de Jesus de Nazaré, quero permitir-me discordar daqueles que viram na cena em questão uma ofensa à fé cristã. Para mim, nada mais EVANGÉLICO (no sentido de ter a essência do Evangelho) do que uma ceia repleta de drag queens, pessoas marginalizadas pela sociedade e escanteadas pela religiosidade que mata e exclui “em nome de Deus”.

A última ceia de Jesus, um evento profundamente significativo na tradição cristã, transcende seu contexto histórico e cultural e emerge como um poderoso símbolo de acolhimento e inclusão. Realizada na noite anterior à sua crucificação, essa refeição final que Jesus compartilhou com seus discípulos é narrada nos Evangelhos como um momento de comunhão e preparação espiritual. Mais do que um simples jantar, a última ceia representa um convite aberto a todas as pessoas, independentemente de suas origens ou condições, orientações sexuais ou designação de gênero, para participarem do amor e da graça divina.

Naquela noite, Jesus reuniu um grupo diversificado de seguidores, incluindo pescadores, cobradores de impostos e até mesmo alguém que o trairia, Judas Iscariotes. Esse ato de reunir indivíduos tão distintos ao redor da mesma mesa demonstra a disposição de Jesus em acolher todos, sem discriminação. Ele ofereceu o pão e o vinho como símbolos de seu corpo e sangue, um gesto de profunda significância espiritual que, até hoje, é lembrado na celebração da Eucaristia (na Igreja Católica) ou na “Ceia do Senhor” ou “Santa Ceia” (nas igrejas evangélicas). A presença de Judas, mesmo sabendo de sua traição iminente, sublinha a mensagem de perdão e inclusão que permeia a passagem do Evangelho.

A última ceia é, talvez, umas das mais fortes expressões de uma comunidade inclusiva e amorosa. Jesus lavou os pés de seus discípulos, um ato de humildade e serviço que desafiou as normas sociais de sua época. Este gesto ensinou aos seus seguidores que a verdadeira liderança está no serviço aos outros e que todos são dignos de amor e cuidado. Ao quebrar as barreiras sociais e culturais, Jesus estabeleceu um modelo de comunidade onde cada pessoa é valorizada e respeitada, independentemente de sua posição ou status.

Ao longo dos séculos, a refeição pascal tem sido interpretada como um convite contínuo para a humanidade abraçar a diversidade e praticar o amor em sua radicalidade. Igrejas e comunidades cristãs ao redor do mundo têm se esforçado para viver este ideal, acolhendo pessoas de todas as origens, raças, gêneros e orientações sexuais. A mesa da comunhão é um espaço onde as diferenças são celebradas e onde todos são convidados a experimentar a presença de Deus. Essa visão inclusiva desafia preconceitos e convida a uma reflexão sobre como podemos ser mais acolhedores em nossas próprias vidas.

Em última análise, a última ceia de Jesus serve como um lembrete eterno de que o amor divino não conhece fronteiras. É um chamado para acolhermos uns aos outros com compaixão e respeito, reconhecendo a dignidade inerente de cada ser humano. Ao refletirmos sobre esse evento, somos inspirados a criar espaços de inclusão e aceitação em nossas comunidades, seguindo o exemplo de Jesus, que abriu sua mesa para todas, todos... e todes. Assim, a ceia derradeira continua a ser um símbolo poderoso de unidade e acolhimento, convidando-nos a abraçar a diversidade e a viver em comunhão com todos.

Portanto, quem exclui quem quer que seja da mesa da comunhão, ou quem não aceita nenhuma representação (como se a de Da Vinci fosse fiel ao texto) diferente da que imagina, não entendeu em nada o convite escancarado e “excêntrico” de Jesus de Nazaré, pois são justamente esses que representam a maravilha e a essência da partilha do corpo de Cristo. E, segundo São Paulo, não entende o Evangelho quem não discerne o “corpo de Cristo”, corpo torturado diariamente nos corpos que sofrem humilhações, violências e mortes de drag queens, travestis, profissionais do sexo, pessoas marginalizadas, gente escanteada pelos poderosos... esse é o Corpo de Cristo! Tomai e comei todos vós!

 

¨      Santa Ceia LGBT dos jogos olímpicos inunda as redes com chorume de preconceituosos. Por Marcelo Hailer

A abertura dos Jogos Olímpicos de Paris 2024 aconteceu nesta sexta-feira (26), com uma série de apresentações, incluindo a da cantora Lady Gaga. As manifestações artísticas visaram enaltecer a cultura francesa e de várias partes do mundo.

Uma apresentação em particular gerou repercussão nas redes sociais: uma representação queer do quadro "A Última Ceia" de Leonardo da Vinci. Esta obra, criada por Da Vinci entre 1495 e 1498, retrata a última refeição de Jesus Cristo com seus discípulos antes de sua crucificação.

A performance incluiu várias drags que participaram do programa "RuPaul's Drag Race", como Nicky Doll, Paloma, Piche e Vespi, todas da versão francesa do reality.

Embora para muitos a performance tenha sido vista como uma expressão artística, fundamentalistas e críticos a consideraram uma "blasfêmia", gerando grande debate nas redes.

A cantora Lady Gaga foi a responsável por abrir as Olimpíadas 2024, em Paris, nesta sexta-feira (26). Em suas redes sociais, Gaga afirmou que se sente "completamente grata" por tal momento e revelou detalhes da música escolhida e da performance como um todo.

"Me sinto honrada por ter sido convidada pelo comité organizador dos Jogos Olímpicos para cantar uma canção francesa tão especial – uma canção para homenagear o povo francês e a sua tremenda história de arte, música e teatro. Esta música foi cantada por Zizi Jeanmaire, nascida em Paris, uma bailarina francesa, que cantou 'Mon Truc en Plumes' em 1961. O título significa 'My Thing with Feathers'", inicia a cantora.

Em seguida, a artista revela que já teve outro "encontro" com a obra de Zizi Jeanmaire. "E esta não é a primeira vez que nos cruzamos. Zizi estrelou o musical 'Anything Goes' de Cole Porter, que foi meu primeiro lançamento de jazz. Embora eu não seja uma artista francesa, sempre senti uma ligação muito especial com o povo francês e com o canto da música francesa - nada mais queria do que criar uma performance que aquecesse o coração da França, celebrasse a arte e a música francesas, e em tal ocasião importante lembrar a todos uma das cidades mais mágicas do planeta: Paris", conta.

"Alugamos pompons do arquivo Le Lido – um verdadeiro teatro cabaré francês. Colaboramos com a Dior para criar fantasias personalizadas, usando penas de muda natural. Estudei coreografia francesa que deu um toque moderno a um clássico francês. Ensaiei incansavelmente para estudar uma alegre dança francesa, aprimorando algumas habilidades antigas – aposto que você não sabia que eu costumava dançar em uma festa francesa dos anos 60 no Lower East Side quando estava começando!", revela.

¨      Confira uma dúzia de versões da Santa Ceia que vão tirar a tranquilidade da extrema direita

Depois que a abertura dos Jogos Olímpicos de Paris 2024 apresentou, na última sexta-feira (26), uma representação queer do quadro "A Última Ceia" de Leonardo da Vinci, uma onda de ódio nas redes sociais contra a cerimônia foi registrada. Neste sábado (27), viraliza nas redes sociais uma publicação da página Jornal Nota, que mostra outras 12 versões alternativas da famosa bíblica. “Para você também achar blasfêmia”, diz a legenda da publicação.

Ao longo do fio publicado no X, antigo Twitter, são expostas reproduções da cena a partir de personagens de histórias em quadrinhos e filmes. A que abre a publicação traz a Turma da Mônica sentada à mesa, com a própria Mônica ao centro, fazendo o papel de Jesus.

A seguir, aparecem imagens com Mickey Mouse e o marinheiro Popeye fazendo as vezes de Jesus Cristo, além de duas versões dos Simpsons, com Homer ao centro. Ambas, bastante blasfemas, são retratadas no Bar do Moe.

O fio segue com a turma da Sega, com Mario ao centro, os Cavaleiros do Zodíaco, Street Fighter, Star Wars e até uma versão em lego. A obra original, criada por Leonardo Da Vinci entre 1495 e 1498, retrata a última refeição de Jesus Cristo com seus discípulos antes de sua crucificação.

A performance na abertura dos Jogos Olímpicos incluiu várias drags que participaram do programa "RuPaul's Drag Race", como Nicky Doll, Paloma, Piche e Vespi, todas da versão francesa do reality. E embora para muitos a performance tenha sido vista como uma expressão artística, fundamentalistas e críticos a consideraram uma "blasfêmia", gerando grande debate nas redes.

A extrema direita ficou possessa, no Brasil e fora dele. Taxou a apresentação como “blasfêmia” e “cristofobia”. Em matéria publicada na noite de sexta, o jornalista Marcelo Hailer mostra algumas dessas reações: clique aqui para ver.

E a mera notícia produzida pelo profissional expressou, da pior forma possível, esse ódio da extrema direita à comunidade LGBTQIA+. Hailer foi ameaçado de morte horas depois.

Um perfil no Instagram chamado "Afrontando Otários", anônimo e criado recentemente, seguindo a receita da atuação da extrema direita nas redes, então, enviou uma mensagem através do perfil pessoal de Marcelo Hailer, comentando em um story do jornalista com a foto de sua gata.

"Chorume será o teu na vala seu viado FDP", disparou o detrator, em uma explícita ameaça de morte. A palavra “chorume” nesse contexto faz referência ao título da reportagem de Hailer na Fórum: “Santa Ceia LGBT dos Jogos Olímpicos inunda as redes com chorume de preconceituosos”.

 

¨      Medalha de ouro para o perfeito idiota. Por Ricardo Noblat

A festa de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris ainda estava pelo meio quando dois brasileiros se apresentaram para disputar a medalha de ouro na modalidade O Perfeito Idiota: o general Hamilton Mourão, o vice-presidente da República desprezado por Bolsonaro enquanto governou, e o delegado Alexandre Ramagem, incensado por Bolsonaro até quê…

O delegado é mais forte candidato ao ouro do que o general, um simplório amante de cavalos. Mourão limitou-se a abrir a boca para dizer mais uma de suas besteiras, sequer merecer ganhar a medalha de bronze. Ramagem, não: esqueceu o que aprendeu nas aulas de espionagem e guardou para a posteridade provas dos seus crimes.

Para a posteridade, não: para que a Polícia Federal as encontrasse nos seus arquivos. Ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), Ramagem pregou contra a lisura do processo eleitoral brasileiro e a favor de rupturas com a democracia. Fez um dossiê sobre procuradores da República que investigavam Bolsonaro e seus filhos.

O material colhido em buscas e apreensão reforçam a suspeita da Polícia Federal de que a ABIN foi usada para a propagação de notícias falsas e o questionamento por Bolsonaro do resultado das eleições de 2022. Em depoimento prestado no último dia 17, Ramagem disse não se lembrar se os textos de sua autoria foram enviados a Bolsonaro. Compreensível.

A projeção de Ramagem deve-se a Bolsonaro e aos seus filhos que confiaram nele. Bolsonaro quis nomeá-lo Diretor-Geral da Polícia Federal, mas o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, não deixou. Com o apoio da primeira família presidencial brasileira, Ramagem elegeu-se deputado federal e é candidato a prefeito do Rio.

A família indignou-se ao saber que Ramagem não apagou os arquivos dos seus computadores. Só não rompeu publicamente com ele porque isso equivaleria a admitir que a história contada pela Polícia Federal é verdadeira. O criminoso sempre volta ao local do crime. Ramagem não precisou voltar. Carregou o local do crime a tiracolo.

À falta do que fazer, o general Mourão escreveu no X, ex-Twitter, que a “ida de Janja à França é algo lamentável para o Brasil, que pretere seu vice-presidente e seus ministros em uma missão protocolar de representação. O Itamaraty deveria explicar como manobrou para obter as credenciais de chefe de Estado para a primeira-dama”.

Assim o Itamaraty manobrou: acionou a embaixada da França em Brasília, e a do Brasil em Paris, para que obtivessem a credencial. Lula fora convidado para a abertura dos jogos. Designou Janja para representá-lo. O presidente Joe Biden, dos Estados Unidos, que não pode ou não quis ir, também designou sua mulher. Nada demais, viu, Mourão? Vai te catar.

 

Fonte: Terra/Fórum/Metrópoles

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