quarta-feira, 10 de julho de 2024

Eleições na Venezuela: Maduro abre corrida eleitoral com avanço da oposição

A Venezuela viverá, em 20 dias, as eleições presidenciais com a intensificação das campanhas eleitorais nesta semana. Para abrir oficialmente a agenda eleitoral, o presidente Nicolás Maduro lançou 70 atos em 70 cidades venezuelanas na última sexta-feira, 5 de julho.

A data, além de abrir oficialmente a disputa eleitoral, é o 70º aniversário do ex-presidente Hugo Chávez, e Maduro aproveitou a homenagem para iniciar os comícios. Somente na última sexta, Maduro esteve em Zulia, no noroeste do país, e na capital, Caracas, onde se concentrou a maior parte dos atos políticos.

<><> Oposição a Maduro

Além do atual presidente, outros 9 candidatos que fazem oposição também se apresentaram e tentam concorrer contra Maduro, que integram as coalizões Plataforma Unitária Democrática, Esperanza por el Cambio, Primero Venezuela, Arepa Digital, Alianza del Lápiz, Soluciones para Venezuela, Centrados en la Gente, Acción Democrática e Confederación Nacional Democrática.

A que detém maior força de oposição a Maduro, hoje, é a Plataforma Unitária Democrática (PUD), que havia lançado a candidata Maria Corina Machado, em outubro do ano passado, mas foi impedida de disputar as eleições, assim como a sua substituta Corina Yoris, pela Justiça venezuelana.

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Segundo o partido, a medida judicial foi uma atuação política. O atual candidato da força política é o diplomata aposentado Edmundo González Urrutia, que apesar de não ter experiência de governo, confia que a oposição tenha força para derrotar os 25 anos do chavismo no país.

<><> Relatório da ONU

O impedimento das candidatas da PUD chegou a ser exposto em relatório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, na semana passada. O órgão cobrou do país a “garantia de processo eleitoral transparente, inclusive e com completa participação” e afirmou ver com “preocupação” a retirada das duas candidatas da disputa, em janeiro, e de outros 5 candidatos em abril.

Em reunião do órgão, o Alto Comissário da ONU, Volker Türk, alertou contra a possível interferência da Justiça sobre as coalizões de oposição, incluindo a prisão de 15 membros de 5 partidos políticos, o fechamento de 10 estações de rádio em um ano e o bloqueio de 50 páginas da internet, além de impedir a participação de observadores internacionais europeus, em junho, após o aumento de sanções econômicas contra a Venezuela.

No início deste ano, o governo Lula chegou a criticar algumas atuações do governo de Nicolás Maduro, mas em discurso na ONU na semana passada, o Itamaraty optou por não deferir críticas, mas pressionar por transparência no processo eleitoral do país, e com a participação de observadores internacionais.

Em outubro de 2023, Maduro e a oposição assinaram o Acordo de Barbados, no qual o presidente se comprometeu a respeitar o resultado das urnas, ato que foi novamente repetido em junho passado.

<><> Pesquisas eleitorais

Até o momento, as pesquisas eleitorais dão diferentes resultados. Enquanto que IMC Orientación e DataViva informam a vitória de Nicolás Maduro, as últimas pesquisas da Hercon Consultores e da Datanalisis dão vitória ao opositor González Urrutia.

Na primeira, Maduro teria 45,17% das intenções de voto contra 31% de apoiadores de González. A DataViva marca uma maior diferença, com 56,1% ao atual presidente contra 20% ao opositor. Já a Hercon Consultores dá uma ampla maioria de 68,4% a Edmundo González e somente 27,3% a Nicolás Maduro. Por fim, a Datanalisis teria dado uma diferença de 18% a 25% para Urrutia, vencendo Maduro.

Nestas próimas semanas, o governo espera por uma campanha eleitoral pacífica, com dezenas de atividades planejadas e normas claras definidas pelo Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela para garantir atividades sem incitação ao ódio.

¨      Brasil e vizinhos veem chances de vitória da oposição e chavismo rachado

Monitorando de perto a situação na Venezuela, que tem eleições presidenciais marcadas para 28 de julho, o governo brasileiro e a diplomacia de países vizinhos enxergam a oposição com chances reais de vitória e o chavismo rachado sobre a estratégia para permanecer no poder.

Nos últimos dias, a CNN conversou reservadamente com diplomatas e altos funcionários de três países da região, além do Itamaraty. As visões colhidas sobre a força da oposição e o racha no governo de Nicolás Maduro têm muito mais concordâncias do que divergências.

A avaliação geral, inclusive de pessoas que estiveram em Caracas nos últimos meses, é de que a oposição está confiante em um triunfo. Depois das candidaturas barradas de María Corina Machado e Corina Yaris, há união em torno do diplomata aposentado Edmundo González Urrutia, tido como alguém de perfil discreto e capaz de dialogar com os chavistas.

Um diplomata sul-americano fez a seguinte análise: apesar de todas as dificuldades impostas pelo governo, a oposição sequer cogita um adiamento ou boicote às eleições. Um “sinal inequívoco” da crença de que pode ganhar. Apesar da baixa confiabilidade, pesquisas internas nas mãos de opositores mostrariam González Urrutia na frente.

O grande ponto de interrogação está no chavismo. Maduro, segundo diversos relatos, estaria convencido de que pode obter maioria nas urnas sem a necessidade de uma fraude escancarada. A própria presença de observadores internacionais, como o Centro Carter, dificultaria muito qualquer tentativa de manipulação flagrante do resultado.

Uma das fontes consultadas pela CNN disse ter ouvido, de seus auxiliares no Palácio de Miraflores, que o relaxamento temporário das sanções ao petróleo venezuelano forrou os cofres públicos e que o governo teria US$ 1 bilhão para gastar adicionalmente em benesses até 28 de julho — com efeitos sobre a obtenção de votos.

Outra corrente do chavismo, porém, estaria em desacordo com Maduro. Ela é composta essencialmente por militares linha-dura e por Diosdado Cabello, considerado a segunda pessoa mais poderosa do regime, ex-presidente da Assembleia Nacional e com ascendência sobre os setores mais radicalizados do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV).

Esse grupo, na avaliação de altos funcionários do governo brasileiro e de países vizinhos, defende que o chavismo não pode admitir qualquer risco de fracasso eleitoral. Uma derrota em julho levaria ao risco, em um futuro governo, de prisão e da necessidade de eventual refúgio em nações que hoje dão amparo ao regime venezuelano — como Cuba, Rússia e Irã.

Por isso, teme-se que Diosdado e militares ajam para inviabilizar as eleições ou até mesmo uma transferência de poder à atual oposição. Já Maduro estaria ciente de que uma fraude explícita ao processo provocaria a ira da comunidade internacional, transformando governos ainda “dialoguistas” com seu regime — Estados Unidos, Brasil, Colômbia — em detratores.

Questão a considerar em caso de vitória da oposição: a posse do próximo presidente está marcada apenas para 10 de janeiro de 2025. Serão quase seis meses até lá.

Esse longo ínterim faria com que Gónzalez Urrutia assumisse compromissos de pacificação com o chavismo, afastando-se de um clima de caças às bruxas. Afinal, Maduro e seus aliados têm poder sobre o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. Sem uma composição, os países vizinhos acreditam que o oposicionista pode ganhar e até mesmo não assumir.

De qualquer forma, segundo um político colombiano ouvido pela CNN que esteve recentemente com toda a cúpula da Fedecámaras (maior associação empresarial da Venezuela), e elite econômica do país quer apenas “paz” e “o mínimo de estabilidade política” no próximo mandato presidencial. Com o vencedor sem perseguir adversários e o derrotado aceitando o resultado. Não importa quem estiver em cada um dos lados.

¨      Grupo paramilitar afirma que foi convocado pela extrema direita a derrubar Maduro

Um grupo paramilitar colombiano, que atua na fronteira com a Venezuela, revelou que foi convocado por grupos de extrema direita para derrubar Nicolás Maduro, caso o atual presidente ganhe as eleições no próximo 28 de julho.

A informação foi revelada pelo próprio grupo criminoso Forças de Autodefesa Conquistadoras da Serra Nevada (ACSN), que controla o narcotráfico e a milícia na costa caribenha colombiana.

“Grupos do país vizinho procuraram a nossa influência para alterar o sistema democrático. Por isso decidimos tornar público através de comunicado no dia 5 de julho de 2024, que este é um acontecimento de grande importância para os dois territórios [Venezuela e Colômbia], cuja fronteira partilhamos sem qualquer interferência nos desígnios do país vizinho”, disse o grupo paramilitar, em comunicado divulgado nas redes sociais.

Ao longo dos anos, a ACSN e outras milícias colombianas já atuaram em conflitos políticos na região. A Colômbia, que durante muitos anos foi comandada por governos da direita e sob influência norte-americana, teria utilizado estes grupos para tentativas de derrubadas de governos na Venezuela.

Em 2004, por exemplo, no conhecido caso da Fazenda Daktari, mais de 150 paramilitares colombianos foram presos pela polícia venezuelana, flagrados em tentativa de golpe contra o então presidente Hugo Chávez. Depois, em 2020, o governo Maduro teria também derrubado uma tentativa de golpe com a participação das Forças de Autodefesa Conquistadoras da Serra Nevada. Um ano antes, o golpista Juan Guaidó, da Venezuela, teria se encontrado com líderes do grupo criminoso Los Rasrtojos.

De acordo com jornais venezuelanos, o aviso da ACSN nas redes sociais ocorre em meio a tentativa de gesto de aceno de apoio do grupo paramilitar com o governo Petro, da Colômbia, e Maduro, na Venezuela.

<><> Paramilitares colombianos e a influência na Venezuela

A Colômbia sempre foi uma base de tensões para a Venezuela. O país, historicamente alinhado aos EUA, sempre atuou para tentar derrubar eventuais governos de esquerda venezuelanos e serviu de muita dor de cabeça para Chávez quando Bogotá estava sob comando do direitista Álvaro Uribe, no início dos anos 2000.

A fronteira entre Venezuela e Colômbia é um ponto de conflito e influência de diferentes grupos criminosos. Em 2004, foi revelado o caso Fazenda Daktari, quando 153 paramilitares colombianos foram presos pela Diretoria de Inteligência Policial da Venezuela (Disip), revelando um plano de assassinato contra o então presidente da Venezuela, comandante Hugo Chávez.

Em 2019, o golpista Juan Guaidó apareceu em uma foto junto de John Jairo Durán Contreras, conhecido como Menor, e Albeiro Lobo Quintero, o Brother, líderes da gangue Los Rastrojos.

Em 2020, o governo Maduro desbaratinou uma tentativa de golpe que, segundo o embaixador Samuel Moncada, teve participação das Forças de Autodefesa Conquistadoras da Serra Nevada (ACSN) junto de “uma complexa rede de conexões entre grupos paramilitares, serviços de inteligência colombianos e operações militares dos EUA”.

Lideranças do cartel têm sido instadas pelo governo colombiano a negociar a paz entre os grupos criminosos e o governo colombiano, haja vista que o país vive, há décadas, em situação de guerra civil completa.

A imprensa venezuelana nota que o grupo denunciou a tentativa de golpe contra Maduro como sinal de paz a Petro, de que estaria confiante na institucionalidade e na paz na região norte do continente.

 

¨      Em novo aceno para reaproximação, EUA estendem permissão para exportação de gás da Venezuela

O Departamento do Tesouro dos Estados Unidos publicou nesta segunda-feira (8) permissão para que a Venezuela venda gás liquefeito de petróleo no mercado internacional. A medida é um aceno dos EUA depois que os dois países começaram uma nova rodada de negociações para retomar o diálogo e as negociações comerciais.

Essa licença foi expedida pela primeira vez em 2021 e é renovada anualmente. O novo documento é chamado de 40C e é válido até 8 de julho de 2025. Com isso, a Venezuela poderá exportar e reexportar o gás liquefeito de petróleo. 

No entanto, o governo dos Estados Unidos reforçou que continuam proibidos os pagamentos em espécie por petróleo ou derivados e que as outras sanções continuam valendo. Ou seja, quem quiser negociar com a estatal venezuelana PDVSA para comprar petróleo terá que ter a autorização do departamento do Tesouro dos EUA.

A renovação da licença beneficia Colômbia, Trinidad e Tobago e a empresa britânica British Petroleum (BP). Em abril, tanto a BP quanto a companhia trinitária NGC conseguiram uma permissão de dois anos para negociar e desenvolver os campos de gás Coquína-Manakin com o país. Venezuela e Trinidad e Tobago têm um acordo para a exploração e exportação de petróleo no Golfo de Paria, um espaço com águas compartilhadas entre os dois países. 

Chamado de campo Dragão, o local é também de interesse da Shell e da BP. Elas são sócias majoritárias da Atlantic, uma das maiores produtoras de Gás Natural Liquefeito de Trinidad e Tobago. 

A licença também é de interesse da Colômbia. Bogotá tem um projeto antigo de importar gás venezuelano. Os países firmaram um acordo em 2007 para que a estatal colombiana Ecopetrol compre e transporte o combustível da PDVSA pelo gasoduto binacional Antonio Ricaurte. A situação colombiana agrava essa necessidade. Em 10 anos, as reservas de gás colombianas caíram 51%. Segundo o governo, dentro de 4 a 6 anos haverá déficit para atender a população. 

·        Aproximação com os EUA

Apesar de ser uma renovação, a medida é mais um passo positivo para o governo venezuelano na relação com os Estados Unidos. Na última quarta-feira, Caracas e Washington abriram nova rodada de negociações para retomar o diálogo e as negociações comerciais entre os dois países. 

De acordo com o chefe da delegação venezuelana e presidente da Assembleia Nacional, Jorge Rodríguez, os dois países concordaram em manter as comunicações “de maneira respeitosa e construtiva” e se mostraram dispostos a “trabalhar em conjunto para ganhar confiança e melhorar as relações”.

A aproximação com os Estados Unidos se dá no mês em que a Venezuela realiza suas eleições presidenciais. Marcada para 28 de julho, a disputa pela presidência venezuelana é um dos motivos para a pressão estadunidense. Washington começou a impor sanções contra a economia venezuelana em 2013. O objetivo era pressionar para tentar forçar a saída do chavismo do poder. 

Em 2019 os estadunidenses subiram o volume e passaram a limitar a venda de petróleo para outros países. O produto é a principal fonte de receitas do governo venezuelano há 1 século. 

As medidas levaram o país sul-americano a uma grave crise econômica nos últimos anos. Em outubro de 2023, os EUA emitiram licenças para que a Venezuela pudesse vender seu petróleo no mercado internacional. A decisão do governo estadunidense foi tomada depois que o governo venezuelano assinou um acordo em Barbados com parte da oposição para definir as regras iniciais para a eleição de 2024. 

O documento determinava que as eleições da Venezuela deveriam ser realizadas no segundo semestre de 2024, que haveria uma revisão das inabilitações e que o pleito contaria com a observação de organizações internacionais. A ultraliberal María Corina Machado era uma das personagens que estava inabilitada por "inconsistência e ocultação" de ativos na declaração de bens que ela deveria ter apresentado à Controladoria-Geral da República (CGR) enquanto foi deputada na Assembleia Nacional (2011-2014).

Ela pediu a análise de sua pena em dezembro de 2023 e a Justiça venezuelana emitiu a decisão no final de janeiro de 2024. Por conta disso, os EUA passaram a ameaçar o retorno das sanções e a queda das licenças. A principal delas, a licença 44, venceu em abril de 2024 e foi substituída pelo Departamento do Tesouro dos Estados Unidos pela licença 44A, que determina que as empresas que mantêm negócios com a estatal petroleira PDVSA deveriam pedir autorização da Agência de Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC) dos EUA para retomar os negócios. Na prática, é uma forma de tornar o processo de negociação mais burocrático com a estatal venezuelana.

Mesmo passando por uma crise econômica no começo das sanções, a Venezuela conseguiu fazer negociações com outros países para driblar o bloqueio e vem se recuperando. Por isso, o governo agora adota o discurso de que “continuará crescendo mesmo com as sanções”. A inflação baixou, o câmbio está estável e a projeção do governo é de que o país deve terminar 2024 com um crescimento de, ao menos, 8% do PIB. Todos esses argumentos parecem ser determinantes para o recuo do governo dos EUA, que encara uma pressão interna de empresários ligados ao setor do petróleo para o fim das sanções.

 

Fonte: Jornal GGN/CNN Brasil/Brasil de Fato

 

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