Depoimento do Ramagem: “ficou dificil negar
a existência de uma ação clandestina de espionagem”
Alexandre Ramagem,
ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e pré-candidato à
Prefeitura do Rio de Janeiro, prestou depoimento à Polícia Federal que se
estendeu por quase sete horas. Segundo fontes ligadas à investigação que
acompanharam o testemunho, ficou claro que para os acusados e investigados no
caso da Abin paralela, tornou-se extremamente difícil negar a existência de uma
estrutura clandestina de investigação.
Durante seu
depoimento, Ramagem atribuiu a responsabilidade pela criação e operação desse
aparato clandestino a antigos subordinados. Ele afirmou que não tinha
conhecimento de tais atividades à época de sua gestão, mas admitiu que
atualmente não nega a possibilidade de que tal estrutura tenha existido. Essa
mudança de postura ocorreu apesar de gravações que mostram Ramagem em reuniões
onde o tema era discutido.
O ex-diretor buscou
isentar-se de qualquer responsabilidade direta, atribuindo a criação da Abin
paralela a outras pessoas dentro da agência. No entanto, o material apresentado
durante o depoimento sugere que Ramagem estava, no mínimo, ciente das discussões
em torno dessa estrutura.
A Polícia Federal
também apura um encontro extraoficial entre Ramagem e o atual diretor da Abin,
o delegado federal Luiz Fernando Corrêa. A reunião, que teria ocorrido dentro
da Abin em junho do ano passado, foi um dos assuntos tratados no depoimento. Ramagem
alegou que a reunião foi apenas um cumprimento formal, mas os investigadores
parecem acreditar que esse encontro pode ter um significado maior.
Não por menos, na
semana passada, a Procuradoria-Geral da República (PGR) e o ministro Alexandre
de Moraes demonstraram desconfiança em relação à agência. Moraes negou o
compartilhamento da investigação da Polícia Federal com a corregedoria da
agência para a abertura de sindicâncias internas e o procurador-geral da
República, Paulo Gonet, afirmou que compartilhar as informações “não parece
recomendável neste momento processual”.
A gravidade das
acusações e as revelações feitas no depoimento de Ramagem colocam em xeque a
integridade da agência de inteligência do Brasil. A possível existência de uma
estrutura clandestina de investigação levanta questões sérias sobre a
transparência e a responsabilidade dentro da Abin. Com o desenrolar das
investigações, mais detalhes deverão emergir, potencialmente implicando outros
membros da agência e aprofundando a crise de confiança nas instituições de
segurança e inteligência do país.
Há meses, falasse nos
bastidores que as relações entre o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, e o
diretor da Abin, Luiz Fernando Corrêa, não são as melhores, algo relatado por esta coluna ainda
no final do ano passado.
Em meio a essas
revelações, a Polícia Federal continua a investigar o caso, buscando esclarecer
a extensão da rede paralela de inteligência e as implicações de seu
funcionamento. O depoimento de Ramagem marca um ponto crucial na investigação,
sugerindo que a Abin paralela não é mais apenas uma suspeita, mas uma realidade
inegável, cuja origem e operações ainda precisam ser completamente desvendadas.
¨ Ex-presidente do SERPRO se encontrou com Flávio Bolsonaro e
advogadas um mês após reunião gravada por Ramagem
Gileno Barreto,
ex-presidente do SERPRO e atual presidente da Prodesp, está no centro de uma
controvérsia após a revelação de uma gravação de uma reunião ocorrida em agosto
de 2020 entre o ex-presidente Jair Bolsonaro, Alexandre Ramagem (então chefe da
Agência Brasileira de Inteligência), Augusto Heleno (então chefe do Gabinete de
Segurança Institucional) e as advogadas de seu filho, o senador Flávio
Bolsonaro, Juliana Bierenbach e Luciana Pires.
# A
Reunião Polêmica e o Plano para Uso do SERPRO
Durante uma reunião
que ocorreu em 25 de agosto de 2020, entre Jair Bolsonaro, Alexandre Ramagem,
Augusto Heleno, e as advogadas Luciana Pires e Juliana Bierenbach, foram
traçadas estratégias para utilizar o SERPRO a fim de influenciar as
investigações. Há diversas menções detalhadas sobre o uso da estatal para
apurar acessos e dados que poderiam comprometer a integridade das investigações
contra Flávio Bolsonaro.
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Detalhes do Plano para Uso do SERPRO
# Juliana
Bierenbach destacou várias vezes a importância
de utilizar apurações especiais do SERPRO para levantar todos os acessos feitos
antes do início da investigação. Ela menciona:
“O SERPRO pode
produzir relatórios, especificamente uma ‘apuração especial’, capaz de levantar
todos os acessos feitos antes do início da investigação”
Em outras ocasiões,
Bierenbach reiterou:
“Com uma apuração
especial do SERPRO, é possível demonstrar que a investigação foi conduzida de
forma ilegal e inconstitucional, passível de nulidade.”
“Uma apuração especial
do SERPRO pode revelar todos os acessos feitos, provando que não houve uma
investigação correta.”
# Luciana
Pires, por sua vez, ressaltou a importância de
formalizar os pedidos de apuração especial ao SERPRO:
“É crucial garantir a
validade das informações obtidas. A utilização de uma apuração especial do
SERPRO é fundamental para verificar acessos e demonstrar a ilegalidade de
determinadas investigações.”
#
Alexandre Ramagem discutiu as implicações legais e os
desafios de acessar dados sigilosos:
“O SERPRO pode
fornecer dados que são de sigilo fiscal e bancário, os quais estão protegidos e
não podem ser acessados sem autorização.”
# Jair
Bolsonaro também fez menções diretas ao SERPRO
durante a reunião, mostrando interesse no andamento das investigações:
“Não, não, não. A quem
interessa pra gente resolver esse assunto?” (00:51:35)
# Juliana
Bierenbach responde:
“Eu acho, o Serpro. O
que a gente puder mesclar a opinião.” (00:51:38)
# Jair
Bolsonaro continua:
“Eu falo com o Canuto.
Agora isso aí eu falo com o Flávio então. Qualquer hora do dia amanhã.”
(00:51:48)
#
Alexandre Ramagem acrescenta:
“Fala com o Canuto pra
saber do Serpro. Fala com o Canuto pra saber do Serpro, tá? [incompreensível] é
secretário da Receita.” (00:51:51)
Gustavo Canuto,
mencionado na reunião como “Canuto”, na ocasião, já estava no comando da
Dataprev, outro órgão que atua no processamento de dados dos programas sociais
do governo federal.
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Negação e contradição: a reunião de setembro
Na época em que a
reunião do Palácio do Planalto ocorreu, Barreto era diretor de compliance da
estatal, apenas em setembro de 2020, Gileno Barreto se torna presidente do
SERPRO. No mesmo mês ele se encontrou com Flávio Bolsonaro e suas advogadas, as
mesmas que recomendaram o uso da estatal, conforme revelado pelo jornalista
Guilherme Amado. Essa reunião foi negada por Barreto em um ofício à Câmara dos
Deputados, afirmando que “não houve reuniões com o senador Flávio Bolsonaro e
nem com sua representação”. A investigação jornalística, no entanto, comprovou
o contrário.
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A trajetória de Gileno Barreto
Gileno Barreto,
nomeado presidente do SERPRO em setembro de 2020, tem uma carreira marcada por
cargos de destaque. Em agosto de 2022, durante o governo Bolsonaro, Barreto foi
eleito presidente do Conselho de Administração da Petrobras e em 2023 ele assumiu
a presidência da Prodesp, a estatal de tecnologia de São Paulo, sob o governo
de Tarcísio de Freitas, aliado de Jair Bolsonaro.
¨ O silêncio de Ramagem
O ex-diretor da
Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem, optou pelo
silêncio ao ser questionado pelo jornalista Guilherme Amado, do Metrópoles,
sobre sua alegação de ter gravado secretamente uma reunião no Planalto em 2020
para evitar um crime contra Jair Bolsonaro. Ramagem afirmou que não confiava em
uma das advogadas presentes na reunião, mas a justificativa foi considerada
frágil pela cúpula bolsonarista.
“A coluna perguntou a
Ramagem que outras providências o então chefe da Abin tomou ao receber o alerta
de um possível crime no gabinete presidencial; se Ramagem notificou a PF, a
Procuradoria-Geral da República, o Gabinete de Segurança Institucional e a própria
Abin sobre o episódio; se Ramagem teve receio de uma nova proposta ilegal
depois da reunião; e no que consistiria o alegado crime. Ramagem não
respondeu”, relatou o jornalista.
Além disso, o
ex-diretor-geral da Abin e atual deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ)
atribuiu a dois ex-assessores a responsabilidade pelo funcionamento da chamada
“Abin paralela”, que teria monitorado ilegalmente ministros do Supremo Tribunal
Federal (STF), políticos, jornalistas, opositores e críticos durante o governo
Jair Bolsonaro (PL). As declarações foram feitas à Polícia Federal (PF) na
quarta-feira (17), no âmbito do inquérito sobre o suposto esquema de
monitoramento ilegal realizado por agentes da Abin, conforme informou a coluna
do jornalista Fausto Macedo, do jornal O Estado de S. Paulo.
“Ao tentar se esquivar
de responsabilidade pela estrutura clandestina, Ramagem indicou os nomes do
policial federal Marcelo Araújo Bormevet e do sargento do Exército Giancarlo
Gomes Rodrigues – ambos presos desde quinta-feira, 13, na Operação Última Milha”,
destacou a reportagem. Durante o depoimento, Ramagem foi submetido a mais de
100 perguntas.
Um dos tópicos
abordados foi o áudio divulgado na segunda-feira (15), no qual o deputado
federal e pré-candidato à Prefeitura do Rio de Janeiro orienta a defesa do
senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente, sobre como questionar
a conduta dos auditores fiscais que elaboraram o relatório de inteligência que
colocou Flávio sob investigação por um suposto esquema de “rachadinha” em seu
gabinete na época em que era deputado estadual pelo Rio de Janeiro.
¨ O racha na defesa de Bolsonaro no inquérito das joias ilegais
sauditas
A defesa do
ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) enfrenta um racha no inquérito sobre a venda
ilegal de joias recebidas da ditadura saudita. O conflito ocorre entre Fabio
Wajngarten e Frederick Wassef, com acusações de traição envolvidas, conforme
informações do UOL.
Wajngarten é acusado
de vazar detalhes da investigação para a mídia, usar o caso das joias para sua
própria promoção e abusar de suas prerrogativas como advogado da OAB (Ordem dos
Advogados do Brasil).
Uma conversa no
WhatsApp, divulgada pelo ministro Alexandre de Moraes, revela que Wassef acusou
Wajngarten, ex-chefe da Secom (Secretaria de Comunicação) no governo Bolsonaro,
de “atirar nas costas” do ex-mandatário.
Mensagens
interceptadas pela PF mostram que no dia 7 de março de 2023, Bolsonaro enviou
trechos de um acórdão do TCU (Tribunal de Contas da União) a Wassef e
questionou, em um áudio pelo WhatsApp, sobre a possibilidade de manter as joias
recebidas da Arábia Saudita.
Na ocasião, o
tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, havia afirmado
que o ex-presidente recebeu pessoalmente um segundo kit de joias de uma
comitiva liderada pelo ex-ministro Bento Albuquerque.
Bolsonaro pediu a
Wassef que analisasse o material, dizendo: “Você [Wassef] que é advogado aí, dá
uma olhada nisso aí. Nós sublinhamos aí um? pintamos de amarelo alguma coisa.
Pelo que tudo indica, nós temos o direito de ficar com o material. Dá uma
olhada aí”.
Após esse contato,
houve pelo menos sete ligações entre Bolsonaro e Wassef, além da troca de
várias versões de uma nota de defesa para definir o texto final.
Vale destacar que,
oficialmente, Wassef representa Bolsonaro apenas em uma ação no STJ, movida
pela OAB em favor de Zanone Manuel de Oliveira Júnior, ex-advogado de Adélio
Bispo, que tentou assassinar o ex-chefe do Executivo.
Durante as conversas
com o Bolsonaro, Wassef também manteve diálogo com Wajngarten, e os dois
discordaram sobre a estratégia de defesa. Wassef criticou Wajngarten por não
ter incluído seu nome na nota de defesa e pela falta de divulgação da nota na
imprensa.
Em uma conversa com
Mauro Cid, Wajngarten criticou Wassef e Marcelo Câmara, que era assessor
pessoal de Bolsonaro, dizendo que eles “contaminavam tudo”. Naquele momento,
estavam organizando a recuperação dos itens do kit de joias em ouro branco que
Bolsonaro havia recebido e que foram vendidos em 2022.
Wassef alegou à PF que
a operação para recomprar um relógio Rolex partiu de Wajngarten, que teria
prometido reembolsar o valor da recompra. A corporação, por sua vez,
identificou que Wajngarten estava envolvido na recuperação do kit “ouro rosé”,
enquanto Wassef cuidava da recompra do Rolex nos EUA.
Ao final do inquérito,
os dois advogados foram indiciados por associação criminosa e lavagem de
dinheiro. Agora, a PGR (Procuradoria-Geral da República) deve revisar as
evidências e decidir sobre possíveis denúncias.
Fonte: O Cafezinho/DCM
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