CNJ inicia fiscalização no TJ-BA após
inspeção apontar 'estado de ineficiência grave na gestão'
O Tribunal de Justiça
da Bahia (TJ-BA) passa por uma correição extraordinária a partir desta terça-feira
(9). O termo jurídico, que se refere a uma espécie de fiscalização, foi
determinado pela Corregedoria Nacional de Justiça, vinculada ao Conselho
Nacional de Justiça (CNJ), diante do "estado de ineficiência grave"
identificado na gestão de unidades administrativas e jurisdicionais da Corte
baiana.
Os "graves
problemas", como definidos pelo CNJ, foram identificados na inspeção
realizada em abril de 2024. Mas o órgão corregedor entendeu que as questões não
foram resolvidas, o que justifica a nova correição dois meses depois.
A fiscalização será
realizada até a próxima sexta-feira (12), e não deve prejudicar os trabalhos
regulares do TJ-BA. A medida consiste na presença de juízes que vão analisar os
processos internos e indicar mudanças necessárias.
• Os "graves problemas" do TJ
baiano
Os tais problemas do
tribunal foram detalhados pelo ministro Luis Felipe Salomão, o corregedor
nacional, na portaria (nº21/2024) que determinou a correição. Um dos tópicos
destaca os "gravíssimos achados" (...) referentes à Vara dos Feitos
Relativos a Delitos Praticados por Organização Criminosa e Lavagem de Dinheiro
de Salvador, instalada em 2016.
<<<< De
acordo com o CNJ, os registros são de:
• clima organizacional desfavorável, com
relatos contundentes de servidores que temem sofrer represália do magistrado
titular;
• atrasos regulares do magistrado para
início das audiências por videoconferência, noticiados por outros Juízos e pela
direção do Complexo Penitenciário;
• ineficiência no gerenciamento dos
processos conclusos, especialmente com réus presos, ocasionando atrasos
significativos na análise dos pedidos de liberdade e prolação de sentenças;
• inautenticidade dos dados estatísticos.
Entre as demais
irregularidades apontadas também se destacam problemas na estrutura de
segurança da informação e atraso na liberação dos pagamentos de acordos
estabelecidos — a Corregedoria aponta que, em um ano, foram processados o
pagamentos de 640 acordos de um total de 5,5 mil credores habilitados.
Além disso, a
ineficiência na gestão de setores administrativos e de unidades jurisdicionais
já havia sido apontada no Relatório de Inspeção Ordinária, feito em maio de
2022. Mas, assim como identificado agora, os ajustes determinados não foram
cumpridos no passado.
Diante desse cenário,
a correição se estenderá até sexta (12), preferencialmente das 9h às 19h, nos
seguintes setores:
1. Gabinete da Presidência
2. Gabinete da Corregedoria-Geral de Justiça
3. Gabinete da Corregedoria das Comarcas do
Interior
4. 1ª Vara Empresarial de Salvador
5. 2ª Vara Empresarial de Salvador
6. 1º Cartório Integrado Cível
7. 2° Cartório Integrado Cível
8. 3ª Vara de Família de Salvador
9. 9ª Vara de Família de Salvador
10. 5ª Vara da Fazenda Pública de Salvador
11. Vara dos Feitos Relativos a Delitos
Praticados por Organização Criminosa e Lavagem de Dinheiro de Salvador
12. Gabinete de Segurança Institucional
13. Secretaria de Planejamento e Orçamento
Eventualmente, outras
unidades jurisdicionais podem ser visitadas. No período, a Presidência da Corte
baiana deve disponibilizar local para o trabalho e, caso necessário, para a
realização de oitivas.
A equipe na operação é
composta por dois desembargadores federais, três juízes de direito, um delegado
da Polícia Federal, sete servidores do Poder Judiciário e dois agentes da
Polícia Judicial. Os trabalhos serão presididos pelo ministro-corregedor Nacional
de Justiça.
• PF cumpre mandados de busca contra
investigados por negociar decisões judiciais na Bahia
A Polícia Federal
deflagrou uma nova fase, na manhã desta terça-feira (9), na operação que
investiga a participação de advogados em negociações de decisões judiciais de
magistrados do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA).
A investigação deriva
dos fatos apurados da Operação Faroeste, quando se descortinou a existência de
várias organizações criminosas atuando naquele Tribunal, integradas por
magistrados, servidores, advogados e empresários.
Estão sendo cumpridos
seis mandados de busca e apreensão em Salvador, Mata de São João e Serrinha,
além de medidas cautelares diversas, com a participação de 28 policiais
federais.
Em 14/09/2023 e
01/07/2024 foram deflagradas as fases I e II da Operação Patronos, quando
também foram cumpridos mandados de busca e apreensão nos endereços dos
investigados, além da determinação de medidas cautelares de constrição
patrimonial.
A ação é em conjunto
com o Ministério Público Federal, como parte da Operação Patronos.
• MPF busca na Justiça reparação de danos
a quilombos da Bahia por instalação de linha de transmissão
Ação civil pública
ajuizada pelo Ministério Público Federal (MPF) pede a reparação dos danos
provocados a comunidades remanescentes de quilombo, localizadas na área de
influência direta da instalação da Linha de Transmissão 500 Kv Porto de Sergipe
– Olindina – Sapeaçu C1 e Subestações Associadas, na Bahia.
A ação, com pedido de
tutela provisória (liminar), foi ajuizada contra o Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária (Incra), a São Francisco Transmissão de Energia
S.A e a Sterlite Brasil Participações S.A.
De acordo com o MPF, a
instalação da linha de transmissão foi realizada sem a consulta prévia, livre e
informada das comunidades Gavião, Cavaco, Paus Altos, Orobó, Salgado, Morro da
Pindoba, Coroá, Poço, Tocos e Lagoa Grande, como prevê a Convenção 169 da
Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Segundo o procurador
da República Marcos André Carneiro Silva, autor da ação, “essa omissão acabou
por gerar um impasse para o órgão licenciador (o Ibama), porque, tanto na
Licença Prévia como na Licença de Instalação, foi estabelecida como
condicionante a obrigação de realização da consulta”.
Diante disso, o MPF
requer a retirada das torres de transmissão do território tradicional e a
definição de um novo trajeto, no qual as comunidades não estejam mais inseridas
na Área de Influência Direta do empreendimento. Além disso, busca o pagamento
de indenização pelos danos morais coletivos já causados.
No pedido de liminar,
o MPF pede a suspensão dos efeitos da licença prévia e da licença de instalação
emitidas pelo Ibama, até que seja realizada a devida consulta prévia nas
comunidades afetadas pelo empreendimento, além da validação, pelas comunidades tradicionais,
de todas as peças técnicas produzidas: plano de trabalho, Estudo de Impacto
Quilombola, Plano Básico Ambiental Quilombola e o relatório de execução final.
O MPF também pede que
a São Francisco Transmissão de Energia e a Sterlite Brasil Participações não
realizem novas instalações de torres de transmissão com impacto sobre as
comunidades quilombolas e que não iniciem a operação das torres já instaladas.
Além disso, pede que o Incra elabore, no prazo de 30 dias, Termo de Referência
Específico e não se manifeste favorável à emissão da licença de operação, até
que a consulta prévia às comunidades seja realizada.
O CONFLITO
A empresa São
Francisco Transmissão de Energia,que é controlada pela Sterlite Brasil
Participações, assumiu em 2018 o empreendimento de implantação e exploração de
instalações de transmissão de energia estendidas em 363,5 km nos estados de
Sergipe e Bahia. O projeto inclui a linha de transmissão em corrente alternada
em 500kV, entre as subestações de Olindina e Sapeaçu, em circuito simples, com
extensão aproximada de 207 quilômetros.
Três anos depois, em
2021, o MPF ajuizou a primeira ação civil pública para tratar dos impactos
desse empreendimento nas comunidades tradicionais. Essa ação tratou das
comunidades quilombolas de Subaé e Santo Antônio.
Fonte:
g1/Correio/Ascom MPF
Nenhum comentário:
Postar um comentário