sábado, 6 de julho de 2024

Caso das joias pode ter maior impacto para Bolsonaro do que cartão de vacinação

O analista da CNN Victor Irajá comentou no CNN Arena (segunda a sexta, 18h) sobre o indiciamento pela Polícia Federal de Jair Bolsonaro no caso das joias sauditas nesta quinta-feira (4). De acordo com Irajá, esse caso pode ter um impacto eleitoral mais significativo do que o das fraudes em cartões de vacinação, pelo qual o ex-presidente também foi indiciado.

O especialista explica que o caso das joias atinge diretamente um dos principais discursos de Bolsonaro: o combate à corrupção e a imagem de ilibado.

“O indiciamento em um esquema teoricamente mais fácil de se entender, que se trata da venda de joias dadas ao Estado brasileiro, não à pessoa física de Jair Bolsonaro, tem um impacto muito significativo. Isso por causa dos ataques que Jair Bolsonaro fazia, por exemplo, ao atual presidente, o chamando de corrupto”, avaliou Irajá.

<><> Impacto maior que o caso das vacinas

Segundo o analista, o caso das vacinas teve um impacto menor porque o discurso de Bolsonaro sobre a Covid-19 foi assimilado por parte de seu eleitorado. “Há um sentimento meio coletivo de esquecimento em relação ao que aconteceu na pandemia, até pelo impacto social que causou perante todos nós”, afirma.

Entretanto, Irajá ressalta que o caso ainda não foi encerrado. “Bolsonaro não foi condenado a nada. Ele é inocente até que se prove o contrário”, conclui.

•           Relembre a cronologia de como aliados do ex-presidente venderam e recuperaram Rolex

A Polícia Federal vai entregar ao Supremo Tribunal Federal (STF) o relatório final do inquérito que apurou a suspeita de venda ilegal de joias do acervo presidencial. O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi indiciado por peculato, que é a apropriação de bens públicos, associação criminosa e lavagem de dinheiro.

Bolsonaro ganhou joias e presentes no exercício do mandato. Ao todo, ele recebeu anel, abotoaduras, um rosário islâmico ("masbaha”) e um relógio da marca Rolex, de ouro branco com diamantes.

Segundo a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, ele teria usado a estrutura do governo brasileiro para se beneficiar da venda dos itens.

As investigações da PF mostraram que os presentes começaram a ser negociados nos EUA em junho de 2022. O g1 fez uma cronologia do recebimento, transporte e venda do relógio (veja mais abaixo).

O objeto foi vendido por cerca de R$ 300 mil para uma loja chamada o Precision Watches, na Pensilvânia, nos Estados Unidos. O item de luxo deixou o Brasil, segundo a investigação, em um avião da Força Aérea Brasileira junto com uma comitiva do ex-presidente.

<><> Cronologia

•           19/10/2019 - Bolsonaro viaja ao Oriente Médio. O objetivo era intensificar relações com países da região e divulgar oportunidades de investimentos no Brasil.

•           30/10/2019 - Em visita a Riad, na Arábia Saudita, Bolsonaro recebeu o Rolex de presente. Conforme apurado pelo jornal "O Estado de S. Paulo", o ex-presidente participou de um almoço oferecido pelo rei saudita, Salman Bin Abdulaziz al Saud, momento em que ganhou um conjunto de joias, incluindo o relógio.

•           11/11/2019 - O Rolex recebido foi protocolado como presente no "Acervo Privado" após ordem de Bolsonaro.

•           06/06/2022 - O Rolex é liberado do "Acervo Privado", tendo como destino o gabinete de Bolsonaro. O tenente Osmar Crivelatti assinou a retirada do Rolex.

•           06/06/2022 - Mauro Cid (filho) troca e-mails para tratar da possível venda do Rolex. Os e-mails não deixam claro quem estava negociando com o então ajudante de ordens de Bolsonaro.

•           jun/22 - Com Mauro Cid (filho) e comitiva, Bolsonaro viaja aos EUA para participar da Cúpula das Américas. Cid (filho) não retorna ao Brasil junto com a comitiva. A PF suspeita que o Rolex deixou o país neste mês.

•           12/06/2022 - Mauro Cid (filho) e Marcelo Camara trocam mensagens sobre o "Kit Ouro Branco", que inclui o Rolex. Os registros foram feitos por Mauro Cid (filho), enquanto ele ainda estava nos EUA.

•           13/06/2022 - Cid (filho) vai até Pensilvânia (EUA) vender o Rolex. O endereço refere-se a um Shopping Center, que abriga uma loja especializada em vendas de relógios novos e usados.

•           13/06/2022 - O Rolex presenteado pela Árabia Saudita é vendido na Pensilvânia. Segundo a PF, o item de luxo foi repassado à loja Precision Watches por R$ 346.983,60. O valor foi depositado na conta bancária de Mauro Cesar Lourena Cid, pai de Mauro Cid, e amigo de longa data de Bolsonaro.

•           30/12/2022 - Novos itens do conjunto "Ouro Branco" são retirados do Brasil. As peças foram transportadas no avião presidencial para os Estados Unidos, segundo a PF.

•           Março de 2023 - Imprensa revela existência do Rolex.

•           08/03/2023 - Envolvidos criam operação para resgatar as peças do “Kit Ouro Branco”, incluindo o Rolex. A PF informou que, durante a troca de mensagens, os envolvidos compartilharam notícias de que o TCU poderia pedir imediata devolução dos itens.

•           11/03/2023 - Frederick Wassef viaja para os EUA para recuperar o Rolex.

•           14/03/2023 - Wassef recompra o Rolex nos EUA. Ele precisou pagar um valor maior do que o obtido na venda, segundo o Blog da Natuza Nery.

•           15/03/2023 - Fábio Wajngarten troca mensagens com Mauro Cid (filho). Segundo a PF, na conversa, eles diziam temer que o Tribunal de Contas da União (TCU) determinasse a devolução imediata dos itens de luxo.

•           15/03/2023 - O TCU determina a devolução dos itens de luxo dado por sauditas. A entrega dos itens deveria ser feita à Secretaria-Geral da Presidência da República no prazo de cinco dias.

•           27/03/2023 - Mauro Cid (filho) embarca para os EUA para recuperar as demais peças do "Kit Ouro Branco", na Flórida. Nesta data, Mauro Cid (filho) disse a Osmar Crivelatti, por meio de um mensagem, que a situação estava resolvida.

•           28/03/2023 - Mauro Cid (filho) retorna ao Brasil com as peças do “Kit Ouro Branco”.

•           29/03/2023 - Wassef volta ao Brasil com o Rolex e desembarca em São Paulo.

•           02/04/2023 - Wassef entrega o Rolex a Mauro Cid (filho) em São Paulo.

•           02/04/2023 - Mauro Cid (filho) leva o Rolex para Brasília e o entrega a Osmar Crivelatti.

•           04/04/2023 - Kit de joias é entregue na Caixa Econômica Federal pela defesa de Jair Bolsonaro, segundo o blog da Julia Duailibi.

•           04/07/2024 - Polícia Federal conclui inquérito das joias

<><> Cristiano Piquet deu detalhes à PF sobre o transporte da mal levada de carro de Orlando para Miami

O empresário Cristiano Piquet afirmou à Polícia Federal que transportou uma mala de joias do ex-presidente Jair Bolsonaro de Orlando para Miami (EUA). Piquet, no entanto, reiterou que não sabia qual era o seu conteúdo.

Piquet é brasileiro, mas atua há 20 anos como corretor imobiliário no estado da Flórida e vive em Miami. Ele foi ouvido pela PF na condição de testemunha.

Dentro da mala, que o empresário afirmou desconhecer o conteúdo, havia um kit composto por um barco e uma palmeira, os dois supostamente de ouro, dados de presente a Jair Bolsonaro no Bahrein.

A mala foi levada aos EUA pelo tenente-coronel Mauro Cid, que era na época ajudante de ordens de Bolsonaro. O transporte foi feito no apagar das luzes do mandato do ex-presidente, no avião presidencial que partiu de Brasília no dia 30 de dezembro.

Bolsonaro viajou no mesmo período para os EUA para não ter que passar a faixa presidencial para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

>>>> Para o general vender

Mauro Cid pretendia levar a mala de Orlando para Miami, uma distância de 380 quilômetros, para encontrar seu pai, o general Mauro Lorena Cid. Lá o general venderia as joias em lojas especializadas.

Cristiano Piquet fez o seguinte relato para o podcast “Cid: A sombra de Bolsonaro”, do UOL:

"Eu tava em Orlando, né, fui lá só pra atender eles de carro. Aí na volta o segurança me fala: 'Piquet, você tá voltando pra Miami?'. Eu falei: 'tô'. 'Pode levar essa mala?' 'Posso.' 'Alguém vai pegar com você lá.' Eu falei 'beleza'. Nem mexi na mala, por respeito ao presidente. Cheguei e coloquei. No dia seguinte me liga o Cid: 'ó, tem que pegar a mala. Tá aqui, vem cá.' Pego a mala, beleza, morreu o assunto. Um mês depois é que eu fui saber na mídia", contou Piquet.

Ele afirmou também que a própria Polícia Federal, que está investigando o caso, "entendeu" que ele não teve culpa.

"Ainda fiquei preocupado, porque às vezes você faz um negócio e não pode alegar que não sabia. Eu perguntei pra eles. Eles falaram assim: 'não, nisso você tá de gaiato nessa história'. E aí me liberaram da investigação. Eu não sou nem investigado, só entrei como testemunha, dei minha versão", disse Piquet.

 

•           O que dizem os indiciados pela PF no esquema de desvio de joias do acervo presidencial na gestão Bolsonaro

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e mais 11 pessoas foram indiciadas pela Polícia Federal (PF) no âmbito da investigação que apura a venda ilegal de joias sauditas do acervo presidencial.

Alguns dos indiciados já se manifestaram a respeito e criticaram a ação da PF.

<><> Confira as manifestações:

¬¬ Bento Albuquerque, ex-ministro do Ministério de Minas e Energia;

Ainda não se manifestou

¬¬ Fabio Wajngarten, ex-chefe da Secretaria de Comunicação Social;

O assessor e advogado de Bolsonaro afirmou que foi indiciado por ter “cumprido a lei”, e classificou a que havia orientado, como advogado, de que os presentes recebidos por Bolsonaro quando “fossem imediatamente retornadas à posse do Tribunal de Contas da União”.

“Conselho jurídico não é crime. Minha sugestão foi acolhida e os presentes entregues imediatamente e integralmente recolhidos ao TCU”, afirmou o assessor do ex-presidente no X (antigo Twitter). Wajngarten também classificou a ação da PF como “arbitrária, injusta e persecutória”, e que pretende recorrer à OAB para continuar trabalhando.

¬¬ Frederick Wassef, advogado de Bolsonaro;

O advogado de Bolsonaro, Frederick Wassef, foi indiciado pela PF pelos crimes de lavagem de dinheiro e associação criminosa. Segundo as investigações, ele havia recomprado, nos Estados Unidos, o Rolex recebido de presente por Bolsonaro e vendido por Lourena Cid para poder entregar o item ao Tribunal de Contas da União (TCU).

Em nota, Wassef afirmou que não foi o ex-presidente nem Cid que pediram para ele recomprar o Rolex.

“Eu estava em viagem nos Estados Unidos por quase um mês e apenas pratiquei um único ato, que foi a compra do Rolex com meus próprios recursos, para devolver ao governo federal”, afirmou o advogado.

Wassef também declarou que está “passando por tudo isto apenas por exercer advocacia em defesa de Bolsonaro”.

¬¬ Jair Bolsonaro, ex-presidente da República;

O ex-presidente Bolsonaro ainda não se manifestou publicamente sobre o indiciamento. Sua defesa alega que ainda não teve acesso ao inquérito.

¬¬ José Roberto Bueno Júnior, ex-chefe de gabinete do Ministério de Minas e Energia;

Ainda não se manifestou.

¬¬ Julio Cesar Vieira Gomes, ex-secretário da Receita Federal;

Ainda não se manifestou.

¬¬ Marcelo da Silva Vieira, ex-chefe do Gabinete Adjunto de Documentação Histórica da Presidência;

Ainda não se manifestou.

¬¬ Marcos André dos Santos Soeiro, ex-assessor do ministério de Minas e Energia;

Ainda não se manifestou.

¬¬ Marcelo Costa Câmara, ex-assessor de Bolsonaro;

Ainda não se manifestou.

¬¬ Mauro Cesar Barbosa Cid ex-ajudante de ordens de Bolsonaro;

Em nota, a defesa do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), afirmou que o indiciamento é “só mais uma fase das investigações”.

Em setembro do ano passado, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), homologou a delação premiada de Cid. Em nota, sua defesa afirmou que o ex-ajudante de ordens “está cumprindo o acordo que fez com autoridades”.

¬¬ Mauro Cesar Lourena Cid, pai do tenente-coronel Cid e general da reserva do exército;

Ainda não se manifestou.

¬¬ Osmar Crivelatti, ex-assessor de Bolsonaro

Ainda não se manifestou.

A CNN tenta contato com os outros indiciados, o espaço segue aberto para as eventuais manifestações.

 

•           PF indicia Zé Trovão e cantor Sérgio Reis por convocarem “invasão” ao STF no 7 de Setembro de 2021

A Polícia Federal (PF) indiciou o deputado Zé Trovão (PL-SC), o ex-deputado e cantor Sérgio Reis (Republicanos-SP) e outras 11 pessoas por atos antidemocráticos praticados às vésperas do feriado de 7 de Setembro de 2021.

O relatório final da investigação, com 209 páginas, foi enviado ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), em 29 de abril deste ano e, neste momento, aguarda parecer da Procuradoria-Geral da República (PGR).

Cabe à PGR oferecer uma acusação formal (denúncia) contra os investigados ou arquivar o caso.

A PF imputou a eles os crimes de incitação ao crime, associação criminosa e tentativa de impedir o livre exercício dos Poderes.

A investigação foi aberta a pedido da ex-subprocuradora-geral Lindôra Maria Araújo.

Em 2021, Zé Trovão e Reis participaram da convocação de manifestações que pediam o fechamento e invasão do Supremo Tribunal Federal e um “ultimato” ao Senado Federal.

Segundo o pedido de investigação formulado pela PGR, as provas indicavam a “atuação dos investigados na divulgação de mensagens, agressões e ameaças contra a Democracia, o Estado de Direito e suas Instituições”.

A PGR também dizia que postagens e vídeos publicadas naquela época pelos investigados tinham “convocado a população, através de redes sociais, a praticar atos criminosos e violentos de protesto às vésperas do feriado de 7/9/2021, durante uma suposta manifestação e greve de ‘caminhoneiros'”.

A PF também indiciou outras quatro pessoas pelos crimes de incitação pública à prática de delito e por associação criminosa, como o jornalista Oswaldo Eustáquio Filho e Antonio Galvan, ex-presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja).

 

Fonte: CNN Brasil/Fórum

 

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