sábado, 27 de julho de 2024

Banho de lua pode ser fator de risco para câncer, diz pesquisa

Uma pesquisa realizada pela Universidade Federal do Ceará (UFC) apontou fortes indícios de que banho de lua, tratamento estético de clareamento dos pelos, é fator de risco para câncer de medula (leucemia) e síndrome mielodisplásica (SMD), distúrbio relacionado à produção de células sanguíneas.

O possível fator de risco estaria ligado à concentração da solução utilizada no procedimento — peróxido de hidrogênio (água oxigenada) e amônia — e da frequência com que se realiza a prática.

“Alguns estudos já indicavam uma possível associação entre o uso dessas substâncias com câncer de medula óssea. Agora, nosso trabalho trouxe mais indícios de que a combinação peróxido de hidrogênio e amônia pode ser fator de risco para o câncer”, diz a pesquisadora Letícia Rodrigues, responsável pelo trabalho.

“Sem dúvida nenhuma, temos um alerta para a comunidade científica. São indícios fortes de que o banho de lua pode induzir alterações no DNA e na medula óssea, o que pode levar a uma leucemia aguda”, diz o orientador do trabalho, Ronald Feitosa, da Faculdade de Medicina da UFC e pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Atualmente, o banho de lua conta com autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Os dois pesquisadores são unânimes em afirmar que isso não quer dizer que necessariamente uma pessoa que fez uso do banho de lua desenvolverá câncer. Mas que as pessoas devem estar atentas para a frequência e concentração da água oxigenada e amônia utilizadas.

“Como a gente trabalha com prevenção, é bom evitar o uso do banho de lua e de outros procedimentos que utilizem essas substâncias químicas, como a tintura”, diz Letícia.

A pesquisa teve início em 2019, quando Ronald Feitosa teve contato com uma paciente de 22 anos com SMD hipoplásica, cuja medula não conseguia mais produzir células sanguíneas, e que não tinha nenhum caso de câncer na família.

A jovem faleceu pouco tempo depois, deixando um filho de seis meses. A história chamou a atenção dos pesquisadores para um fator externo: a paciente havia relatado que fazia banho de lua semanalmente, por períodos de até quatro horas.

 

•        Exame pode prever câncer e outras 66 doenças 10 anos antes do diagnóstico

Um estudo publicado na segunda-feira (22) na Nature Medicine mostra que um novo exame de sangue pode prever o desenvolvimento de câncer e outras 66 doenças até 10 anos antes do diagnóstico. A descoberta foi realizada a partir da análise de milhares de proteínas presentes no sangue.

De acordo com os pesquisadores, essas proteínas têm capacidade de prever o início de doenças como mieloma múltiplo, linfoma não-Hodgkin, doença do neurônio motor, fibrose pulmonar e cardiomiopatia dilatada, além de doenças raras.

Com isso, os autores acreditam que a pesquisa abre novas possibilidades de previsão de diagnóstico para uma ampla gamas de doenças, incluindo condições que poderiam levar meses e anos para serem identificadas.

A pesquisa foi realizada como parte de uma parceria internacional entre a farmacêutica GSK, a Queen Mary University of London, a University College London, a Cambrigde University e o Berlin Institute of Health da Charité Universitätsmedizin, na Alemanha.

Para realizá-la, os pesquisadores usaram dados do UK Biobank Pharma Proteomics Project, o maior estudo de proteômica [área da biologia que estuda a distribuição e abundância das proteínas do organismo] até o momento. O banco conta com, aproximadamente, 3 mil proteínas plasmáticas de um conjunto selecionado aleatoriamente de mais de 40 mil participantes do UK Biobank.

Os dados de proteína foram vinculados aos registros eletrônicos de saúde dos participantes. Os autores usaram técnicas analíticas avançadas para identificar uma “assinatura” específica para cada doença entre as proteínas mais importantes para fazer a previsão de diagnóstico.

Segundo os pesquisadores, os modelos de predição de proteína analisados no estudo superaram os modelos baseados em informações clínicas, que é o padrão utilizado para prever o risco de doenças. Além disso, o modelo usado na pesquisa também foi superior do que modelos de predição que usam contagem de células sanguíneas (hemograma), níveis de colesterol, função renal e hemoglobina glicada para a maioria dos exemplos de doenças avaliados.

“Estamos extremamente animados com a oportunidade de identificar novos marcadores para triagem e diagnóstico a partir de milhares de proteínas circulantes e agora mensuráveis no sangue humano”, afirma Claudia Langenberg, autora principal do estudo e diretora do Instituto de Pesquisa Universitária de Assistência Médica de Precisão (PHURI), da Universidade Queen Mary de Londres, em comunicado à imprensa.

No entanto, a pesquisadora enfatiza a necessidade de validação das descobertas feitas pelo estudo em diferentes populações, incluindo pessoas com e sem sintomas de doenças e em diferentes grupos étnicos.

“O que precisamos urgentemente são estudos proteômicos de diferentes populações para validar nossas descobertas, e testes eficazes que possam medir proteínas relevantes para doenças de acordo com padrões clínicos com métodos acessíveis”, completa Langenberg.

“Um desafio fundamental no desenvolvimento de medicamentos é a identificação de pacientes com maior probabilidade de se beneficiar de novos medicamentos. Este trabalho demonstra a promessa no uso de tecnologias proteômicas em larga escala para identificar indivíduos de alto risco em uma ampla gama de doenças e se alinha com nossa abordagem de usar tecnologia para aprofundar nossa compreensão da biologia humana e das doenças”, acrescenta Robert Scott, vice-presidente e chefe de Genética Humana e Genômica da GSK, e coautor principal do estudo.

Na visão de Scott, este e outros estudos futuros poderão contribuir para melhores taxas de sucesso e maior eficiência na descoberta e desenvolvimento de medicamentos para pessoas com risco de desenvolver doenças.

O próximo passo dos pesquisadores é selecionar doenças de alta prioridade e avaliar sua predição através de proteínas sanguíneas em um ambiente clínico.

 

•        Endometriose aumenta risco de câncer de ovário em quatro vezes, diz estudo

O risco de desenvolver câncer de ovário pode aumentar cerca de quatro vezes entre mulheres com endometriose, em comparação com mulheres que não foram diagnosticadas com a condição, segundo um novo estudo.

Os cientistas já sabiam que a endometriose pode estar ligada a um risco aumentado de câncer de ovário, mas o estudo detalha como esse risco pode variar conforme os subtipos de endometriose.

A endometriose é uma condição comum e muitas vezes dolorosa que ocorre quando o tecido semelhante ao revestimento do útero cresce fora do próprio útero. Estima-se que afete mais de 11% das mulheres entre 15 e 44 anos nos Estados Unidos.

Mulheres com formas severas — seja endometriose infiltrativa profunda, endometriomas ovarianos ou ambos — têm um risco geral de câncer de ovário “marcadamente aumentado”, cerca de 9,7 vezes maior, em relação às mulheres sem endometriose, de acordo com o estudo publicado na quarta-feira (17) no jornal médico JAMA.

A forma de endometriose que é profundamente infiltrativa é encontrada profundamente dentro do tecido ou órgão, e os endometriomas ovarianos, às vezes chamados de “cistos de chocolate”, são cistos que se formam no ovário.

Mulheres com endometriose infiltrativa profunda, endometriomas ovarianos ou ambos parecem enfrentar um risco quase 19 vezes maior de câncer de ovário tipo I, que tende a crescer mais lentamente, em comparação com mulheres sem endometriose, segundo o estudo.

Mas pessoas com endometriose não devem entrar em pânico com os novos achados do estudo, segundo especialistas, porque o câncer de ovário em si ainda é raro.

Cerca de 1,1% das mulheres nos EUA serão diagnosticadas com câncer de ovário em algum momento de suas vidas, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer. Este ano, estima-se que haverá quase 20 mil novos casos de câncer de ovário e cerca de 13 mil pessoas morrerão da doença.

“Deve-se notar que, devido à raridade do câncer de ovário, a associação com a endometriose aumentou o número de casos de câncer em apenas 10 a 20 por 10 mil mulheres”, diz Karen Schliep, autora principal do novo estudo e professora associada na Divisão de Saúde Pública da Escola de Medicina da Universidade de Utah.

“Não recomendaríamos, neste momento, qualquer mudança nos cuidados clínicos ou na política”, acrescenta. “A melhor forma de prevenir o câncer de ovário ainda é a recomendação de fazer exercícios, não fumar e limitar o consumo de álcool.” Além da idade, ter um histórico familiar de câncer de ovário, câncer de mama ou câncer colorretal também é um importante fator de risco para o câncer de ovário.

No geral, pessoas com endometriose devem estar cientes dos sinais de alerta do câncer de ovário, incluindo inchaço, dor abdominal e alterações na função intestinal ou da bexiga, escreveu em um e-mail BJ Rimel, oncologista ginecológico e diretor médico do Escritório de Ensaios Clínicos de Câncer do Cedars-Sinai, que não participou do estudo.

“Se uma pessoa tem endometriose e pílulas anticoncepcionais foram recomendadas por seu médico para tratamento ou apenas como anticoncepção, eu definitivamente consideraria tomá-las”, diz Rimel. “As pílulas anticoncepcionais estão associadas a uma redução de 50% no risco de câncer de ovário, o que é uma ótima notícia.”

•        Pesquisadores encontram aumentos “chocantes”

Para o novo estudo, uma equipe de pesquisadores nos Estados Unidos analisou dados de quase 500 mil mulheres em Utah, com idades entre 18 e 55 anos. Os dados vieram do Banco de Dados Populacional de Utah no Instituto de Câncer Huntsman, e os pesquisadores examinaram de perto quantas mulheres foram identificadas como tendo endometriose em seus registros de saúde eletrônicos, bem como quantas desenvolveram câncer de ovário entre 1992 e 2019, com base no Registro de Câncer de Utah.

Os pesquisadores descobriram que o risco de todos os tipos de câncer de ovário era 4,2 vezes maior entre mulheres com endometriose do que em mulheres sem a condição. O risco de câncer de ovário tipo I especificamente era “especialmente alto”, segundo o estudo, sendo cerca de 7,5 vezes maior entre mulheres com endometriose, e o risco de desenvolver câncer de ovário tipo II – que pode ser mais agressivo – era cerca de 2,7 vezes mais provável.

“As magnitudes dessas associações variaram conforme o subtipo de endometriose. Indivíduos diagnosticados com endometriose infiltrativa profunda e/ou endometriomas ovarianos tiveram 9,66 vezes mais risco de câncer de ovário em comparação com indivíduos sem endometriose”, escreveram os pesquisadores.

Os pesquisadores descobriram que, em relação às mulheres sem qualquer tipo de endometriose, mulheres com endometriose infiltrativa profunda tinham o maior risco geral de câncer de ovário — cerca de 18,8 vezes maior — e mulheres com endometriose infiltrativa profunda juntamente com endometriomas ovarianos tinham o segundo maior risco, cerca de 13 vezes maior.

Esses aumentos dramáticos surpreenderam Schliep e seus colegas.

“Ver esse aumento dez vezes, com intervalos de confiança relativamente estreitos entre oito e doze vezes, e depois um risco 19 vezes maior, como epidemiologista, você não vê esses tipos de relações com frequência”, diz Schliep. “Essa é a parte que me chocou, apenas do ponto de vista da epidemiologia.”

Os dados do estudo não indicaram quais mulheres com endometriose foram tratadas especificamente com anticoncepcionais orais ou com agonistas do hormônio liberador de gonadotrofina, o que poderia distorcer ligeiramente os dados, já que as pílulas anticoncepcionais estão associadas a um menor risco de câncer de ovário e ainda não está claro quais associações os agonistas do hormônio liberador de gonadotrofina podem ter com o risco de câncer. Além disso, algumas mulheres indicadas como não tendo endometriose nos dados poderiam ter sido não diagnosticadas ou diagnosticadas incorretamente.

Mas, no geral, o estudo adiciona ao corpo de pesquisas que sugerem uma ligação entre endometriose e risco de câncer de ovário, escreveu o Dr. Michael McHale da Universidade da Califórnia, San Diego, em um editorial que acompanha o novo estudo no JAMA.

“Além disso, esses dados apoiam a importância de aconselhar mulheres com endometriose infiltrativa profunda e/ou ovariana sobre o risco aumentado de câncer de ovário. Embora o número absoluto de cânceres de ovário seja limitado, o risco aumentado é significativo”, ele escreveu. “Naquelas mulheres que completaram a procriação ou têm opções alternativas de fertilidade, a consideração de uma cirurgia mais definitiva deve ser discutida e considerada. Como sempre, a tomada de decisão compartilhada é essencial, dados esses dados em evolução.”

•        “O risco é, no geral, ainda baixo”

O novo estudo mostra a associação mais forte até o momento entre endometriose e risco de câncer de ovário, segundo Tatnai Burnett, especialista em cirurgia ginecológica minimamente invasiva na Mayo Clinic em Rochester, Minnesota, que não esteve envolvido na pesquisa, mas cujo trabalho se concentra na endometriose.

Ele acrescenta que essa associação pode ser impulsionada por uma série de fatores.

“Sabemos que uma proliferação anormal de células — então, na endometriose, estamos vendo células onde não deveriam estar — e isso é um fenômeno genético. As células ganham a capacidade de se mover ou estar em lugares, e provavelmente há alguma relação genética aí”, diz Burnett.

“Mas então há uma série de outras conexões potenciais, desde conexões inflamatórias até fatores imunológicos”, diz. “Existem múltiplas associações potenciais, então não acho que possamos efetivamente adivinhar uma coisa específica.”

Ainda assim, pessoas com endometriose não devem entrar em pânico com a associação, segundo Burnett.

“O risco é, no geral, ainda do lado inferior dos riscos de câncer”, afirma. “Atualmente, mesmo com os níveis de risco conhecidos, não recomendamos qualquer rastreamento universal para pacientes com endometriose, e não vejo isso mudando necessariamente. Já acompanhamos mulheres com endometriomas ou endometriose cística com ultrassom, para descartar o desenvolvimento de malignidade. Então, não vejo isso mudando nossas recomendações neste momento.”

A endometriose em si é um diagnóstico que não é totalmente compreendido, o que torna a associação com o câncer de ovário difícil de compreender completamente também, segundo Deanna Gerber, oncologista ginecológica do Perlmutter Cancer Center no NYU Langone Hospital-Long Island, em Nova York, que não participou do novo estudo.

Pode haver um fator genético impulsionando a associação, ou a inflamação que é frequentemente vista com a endometriose pode aumentar o risco de câncer de ovário, diz a especialista, mas fatores hormonais também podem estar impulsionando a associação.

Os pacientes devem lembrar que “o risco de câncer de ovário é extremamente baixo na população em geral. É menos de 2%, o que é muito, muito menos do que um câncer comum como o de mama”, afirma Gerber. “Então, no estudo, um aumento de quatro vezes no risco de câncer de ovário ainda mantém as mulheres em um risco muito baixo.”

O novo estudo demonstra uma associação entre endometriose e câncer de ovário, mas não causação — e o que exatamente impulsiona essa associação ainda não está claro, de acordo com Rimel do Cedars-Sinai.

“Existem vários mecanismos propostos, mas nenhum é completamente comprovado. Algumas mutações em genes como ARID1A estão associadas à endometriose e ao câncer endometrial, o que pode ligar os dois”, escreveu Rimel em um e-mail.

Ela acrescenta que outro possível mecanismo poderia envolver a maneira como a endometriose se forma e como essa formação pode danificar o tecido, criando um ambiente mais propenso ao câncer — mas mais pesquisas são necessárias.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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