As falhas que levaram atirador a chegar tão perto de Trump
O ex-presidente
americano Donald Trump sofreu uma tentativa de assassinato por
um homem que conseguiu se posicionar a menos de 150 metros de distância dele,
armado com um fuzil de assalto do tipo AR, no meio de um comício eleitoral numa
área rural do estado da Pensilvânia – e isso apesar de o candidato republicano
à Casa Branca estar sob proteção reforçada do Serviço Secreto e da polícia
local.
Trump contava com
proteção do Serviço Secreto tanto na condição de ex-presidente quanto de
candidato competitivo - neste último caso, a proteção foi instituída em 1968,
quando o democrata Robert Kennedy foi morto enquanto disputava as primárias do
seu partido.
Além disso, as
autoridades americanas também estariam em alerta diante do receio de um
possível atentado contra Trump por parte do Irã.
Aliados e apoiadores
de Trump questionam como foi possível que o atirador chegasse tão perto e como
ninguém o deteve antes de ele efetuar os primeiros disparos – que feriram Trump
superficialmente na orelha, mas mataram uma pessoa na plateia do evento e deixaram
outras duas em graves condições de saúde.
Confira, abaixo, as
falhas de segurança que levaram ao atentado.
- Atirador foi identificado como ameaça uma hora antes de disparo
O atirador, Thomas
Matthew Crooks, de 20 anos, chamou a atenção das forças de segurança locais uma
hora antes do ataque, segundo noticiado pelo jornal americano The New
York Times.
Policiais em Butler,
Pensilvânia, onde o comício estava sendo realizado, teriam tirado uma foto dele
e notificado o Serviço Secreto a respeito, mas acabaram perdendo Crooks de
vista. Ao menos dois agentes teriam sido mobilizados para procurá-lo.
- Sniper também viu atirador com antecedência
Ainda de acordo
o NYT, um dos snipers também teria avistado Crooks no telhado cerca
de 20 minutos antes do atentado. Cerca de dez minutos depois, Trump subiu no
palanque. Em um vídeo gravado quase dois minutos antes dos disparos, é possível
ver um agente que mira e, depois, se movimenta, enquanto o autor da gravação,
que estava na área reservada ao público, comenta: "Alguma coisa está
acontecendo."
Não está claro por que
o comício não foi interrompido a essa altura, nem por que Trump não foi
impedido de subir ao palco.
- Telhado desguarnecido
Outra pergunta que
ainda está sem resposta é por que o telhado de onde Crooks disparou não foi
policiado. Forças de segurança locais teriam informado ao Serviço Secreto dois
dias antes do comício que não poderiam vigiar o imóvel por falta de pessoal,
conforme a emissora americana CBS News.
- Serviço Secreto e polícia local trocam acusações
Diretora do Serviço
Secreto, Kimberly Cheatle disse na segunda-feira (15/07) em entrevista à
emissora americana ABC que a vigilância do comício era
"compartilhada" entre seus agentes e forças de segurança locais, e
sugeriu que a área era de onde o atirador agiu era de responsabilidade dos
policiais, e não do Serviço Secreto.
"Nós
compartilhávamos o apoio naquela área em particular e o Serviço Secreto era
responsável pelo perímetro interno [do comício]. E então buscamos ajuda de
nossos parceiros locais para o perímetro externo", afirmou Cheatle.
"Havia polícia local naquele imóvel. Havia polícia local na área, e que
era responsável pelo perímetro externo do edifício."
Autoridades locais,
que teriam informado ao Serviço Secreto justamente com dois dias de
antecedência sobre a impossibilidade de patrulhar a área por falta de pessoal,
questionaram a versão da diretora do Serviço Secreto.
"O Departamento
de Polícia de Butler não tinha nenhum detalhe da segurança desse evento",
afirmou outro representante da administração local, Edward Natali, em
comunicado postado no Facebook. Segundo ele, os sete agentes deslocados para o
evento estavam a cargo de cuidar do trânsito.
Falando em episódio
divulgado nesta quinta-feira (18/07) de seu podcast One Decision, o ex-diretor
da CIA Leon Panetta afirmou que "a desculpa de que isso [o telhado de onde
Crooks atirou] de alguma forma está fora do perímetro do evento é loucura".
Segundo Panetta, se era verdade que Trump estava sob esquema reforçado de
segurança por temor de um ataque iraniano, então o Serviço Secreto
"falhou" em estabelecer um perímetro de segurança do evento.
- Policial caiu quando tentou subir no telhado
Segundo relato
reproduzido pelo jornal The Guardian feito por Tom Knight, da
Prefeitura de Butler, dois policiais foram atrás de Crooks ao serem informados,
por rádio, de que ele estava no telhado. "Um dos agentes de fato empurrou
o segundo agente alto o suficiente para que ele pudesse agarrar o telhado. Ele
de fato viu um indivíduo no telhado com uma arma", afirmou.
Ao surpreender o
atirador lá em cima, porém, o agente se viu sob a mira do rifle de Crooks.
Pendurado no telhado pelas duas mãos e incapaz de alcançar seu rádio ou arma, o
agente caiu de uma altura de mais de dois metros. Momentos depois, o atirador
disparou contra Trump, sendo "neutralizado" por snipers
26 segundos depois, de acordo com a emissora ABC News.
- Testemunhas alertaram policiais e agentes
Antes de Crooks ser
encontrado pelos policiais, porém, pessoas que haviam ido ao comício para ver
Trump já haviam reparado no atirador em cima do telhado, como mostram alguns
vídeos amadores. Alguns chegaram a gritar que ele estava armado.
Greg Smith, que estava
do lado de fora do local do comício ouvindo Trump falar, disse a um
correspondente da BBC que viu um homem "rastejando" em estilo militar
no telhado de uma fábrica próxima. "Ele estava claramente segurando uma
arma", relatou.
Smith disse que chegou
a chamar a atenção da polícia para o fato, mas eles pareceram ignorar seus
avisos. Smith sugeriu que a inclinação do telhado os impediu de ver o atirador.
"Estou pensando
comigo mesmo: 'Por que Trump ainda está falando? Por que não o tiraram do
palco?'" questionou. "Logo depois, cinco tiros foram
disparados."
Outro homem, Ben
Maser, 41 anos, também notou o atirador. "Eu vi o cara no telhado. Falei
para o policial que ele estava lá em cima. Ele saiu para procurá-lo",
disse Maser à agência Reuters.
- Reação de agentes do Serviço Secreto também foi criticada
À emissora NBC News,
ex-agentes do Serviço Secreto e especialistas em proteção de famosos criticaram
a ação do órgão nos momentos seguintes aos tiros. Para essas pessoas, os
agentes agiram corretamente ao cobrir o corpo do ex-presidente logo após os
primeiros disparos, mas depois teriam desrespeitado protocolos de segurança ao
demorar mais de um minuto para retirá-lo do palco e permitir que ele parasse
para gesticular aos apoiadores.
Um agente do Serviço
Secreto ouvido sob condição de anonimato ponderou à emissora que os agentes
haviam sido informados pelo ponto que traziam no ouvido que a ameaça havia sido
neutralizada. De fato, no vídeo que mostra Trump sendo erguido pelos seguranças
é possível ouvir os agentes gritando "o atirador foi abatido" e
"estamos bem".
Ex-agente do órgão,
Paul Eckloff, que integrou as equipes de proteção dos presidentes Trump e
Barack Obama, elogiou a ação dos colegas em uma publicação no LinkedIn. Segundo
ele, a suposta demora pode ter sido uma escolha racional, para dar mais tempo
aos colegas para fazer a segurança do trecho até o carro.
Mas especialistas
ouvidos pela NBC News argumentaram que não era possível saber se não havia
outros atiradores e que eles são treinados para agir sempre como se esse fosse
o caso. Outros afirmaram que alguns agentes não tinham altura suficiente para
oferecer a cobertura corporal adequada a Trump em caso de ameaça.
¨ Dúvidas e zonas cinzentas após tentativa de assassinato de Trump
A investigação sobre a
tentativa de assassinato de Donald Trump avança, mas cada revelação levanta
novas dúvidas, enquanto outras questões continuam sem resposta.
– Dispositivo de
segurança –
Após a tentativa de
assassinato do ex-presidente e candidato republicano em um comício em Butler,
Pensilvânia (nordeste), o público questionou como o atirador conseguiu se
posicionar no telhado com uma arma.
O Serviço Secreto,
responsável pela proteção de personalidades políticas, deixou esse prédio fora
de seu “perímetro”, colocando a responsabilidade sobre a polícia local, o que
gerou críticas.
Mas o FBI forneceu na
quarta-feira mais detalhes aos congressistas, que rapidamente vazaram para a
imprensa.
Soube-se que vários
policiais consideraram o autor dos disparos, Thomas Matthew Crooks, de 20 anos,
como suspeito. Eles o viram com um dispositivo usado para medir distâncias de
tiro antes de perdê-lo de vista entre a multidão. Sua foto foi distribuída pelos
canais internos de comunicação.
Os serviços de
segurança o localizaram no telhado dez minutos antes de Trump subir ao palco.
Crooks foi finalmente abatido por um atirador de elite 26 segundos após abrir
fogo com seu rifle semiautomático, conforme as mesmas fontes.
Estas novas revelações
reavivaram a indignação entre os republicanos.
“Ele foi identificado
como suspeito uma hora antes do tiroteio. Ele tinha um dispositivo para medir
distâncias e uma mochila”, disse o senador John Barrasso, que pediu a demissão
da diretora do Serviço Secreto, Kimberly Cheatle.
– Sem motivação
aparente –
Descrito como
reservado e interessado em armas, Thomas Matthew Crooks trabalhava em um lar de
idosos e não mostrava sinais de filiação ideológica. Parece ter agido sozinho,
segundo os investigadores.
A análise de seus
dispositivos eletrônicos, um laptop e dois celulares, revelou interesse por
pessoas poderosas e celebridades, de acordo com informações fornecidas pelo FBI
aos congressistas.
Suas últimas buscas na
internet incluíam Donald Trump, o presidente democrata Joe Biden, as datas do
comício republicano de 13 de julho e da convenção democrata de agosto, além do
diretor do FBI Christopher Wray, o procurador-geral Merrick Garland e um membro
da família real britânica, conforme as mesmas fontes.
A boa notícia é que
foi possível analisar o telefone. A má notícia é que “não ajuda em nada”, disse
o ex-alto funcionário do FBI Frank Figliuzzi à MSNBC nesta semana.
“Não esperem encontrar
qualquer tipo de motivo lógico aqui, não sigam a lógica para entender a
loucura”, acrescentou.
Quanto ao material, a
investigação será minuciosa para esclarecer “de onde cada bala veio”, com a
sequência completa dos eventos, “incluindo o que ele tomou no café da manhã”,
disse Frank Figliuzzi.
Mas é possível que o
motivo nunca seja esclarecido, como aconteceu no caso do massacre de Las Vegas,
o pior da história moderna dos Estados Unidos, em que 58 pessoas morreram e
mais de 500 ficaram feridas em 1º de outubro de 2017.
– ferimento na orelha
–
“Fui atingido por uma
bala que perfurou a parte superior da minha orelha direita”, escreveu Trump em
sua rede Truth Social, horas depois de ser evacuado do comício com sangue
escorrendo pelo rosto.
O magnata está desde
segunda-feira na convenção republicana em Milwaukee, onde foi oficialmente
nomeado como candidato do partido para as eleições presidenciais de novembro.
Trump usa um curativo
branco na parte superior da orelha direita. Sua equipe de campanha, no entanto,
não forneceu nenhuma avaliação médica e não houve confirmação oficial de que
ele tenha sido realmente atingido por uma bala.
¨
Biden pede proibição
da arma usada em atentado contra Trump
O presidente dos
Estados Unidos, Joe
Biden, pediu a proibição do tipo de fuzil
semiautomático utilizado na tentativa de assassinato de
seu antecessor Donald Trump. "Juntem-se mim para banir essas armas de
guerra das ruas dos Estados Unidos", disse Biden nesta terça-feira (16/07)
em um evento em Las Vegas organizado pela organização de direitos civis
Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor (NAACP). "Um
AR-15 foi usado para atirar em Donald Trump (...). É hora de bani-los.”
Trump sobreviveu à
tentativa de assassinato em um comício de campanha em
Butler, Pensilvânia, no sábado. O ex-presidente foi levemente ferido no ouvido
por uma bala. Além do suposto atirador, um
espectador – um bombeiro de 50 anos – também foi morto, enquanto dois
outros homens na plateia ficaram gravemente feridos.
O AR-15 é uma das
armas mais usadas em massacres nos EUA.
Entretanto, o direito
às armas é uma questão altamente controversa no país. O direito de portar armas
está consagrado na Constituição. As tentativas de endurecer as leis sobre armas
fracassam repetidamente devido à resistência dos republicanos conservadores e
do poderoso lobby das armas.
A restrição a armas
é um tema pelo qual Biden frequentemente tem se engajado. Em 1994,
ele foi fundamental na aprovação de uma proibição de armas de assalto, que
expirou em 2004. Ele fez referência a essa legislação durante seu discurso,
dizendo: "Já fiz isso antes, farei de novo".
- Ataques políticos contra Trump
Ao discursar no evento
em Las Vegas, Biden retomou os ataques políticos contra Donald Trump pela
primeira vez desde o atentado contra seu rival.
Biden fez um novo
apelo para que os americanos baixem a temperatura da discussão política
e disse que a presidência de Trump tinha sido "um inferno para os
negros americanos".
Os aplausos irromperam
quando Biden, de 81 anos, atacou o republicano por ter falado sobre
"empregos para negros" durante seu recente debate – o
mesmo debate no qual Biden teve um desempenho ruim que colocou sua candidatura
em crise.
"Pessoal, eu sei
o que é um emprego para negros – é o de vice-presidente dos Estados
Unidos", disse Biden, referindo-se à sua companheira de chapa Kamala
Harris, a primeira vice-presidente negra e mulher. Em seguida, lembrou
também que nomeou a primeira juíza negra a fazer parte do Supremo Tribunal dos EUA.
O foco político
renovado de Biden em Trump ocorre no momento em que alguns democratas pedem que
ele renuncie após a retomada da campanha, brevemente silenciada pelo
tiroteio.
Enquanto isso, o
Comitê Nacional Democrata está levando adiante os planos de apressar a nomeação
do próprio Biden antes da convenção em agosto, apesar dos apelos para adiar o
processo.
Fonte: Deutsche Welle/AFP
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