sábado, 6 de julho de 2024

As 2 provas da PF que condenariam Bolsonaro como líder de organização criminosa

A investigação profunda e devastadora empreendida pela Polícia Federal contra o esquema criminoso de furto de joias do acervo da Presidência da República, que foram desviadas para serem vendidas no exterior, trouxe duas provas, dizem autoridades envolvidas no inquérito, que são cabais para levar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a uma condenação que possivelmente o colocará na cadeia. Ele foi indiciado formalmente pela PF nesta quinta-feira (4).

Para os agentes e delegados federais que atuaram no caso, o antigo ocupante do Palácio do Planalto deverá ser acusado de liderar uma organização criminosa por sua suposta atuação central e de controle do bando. Isso começa a ficar claro quando um primeiro aspecto vem à tona: o uso do avião presidencial para transportar as joias e itens valiosos para fora do território nacional.

A aeronave que serve ao chefe de Estado pertence à Força Aérea Brasileira (FAB), portanto, é de caráter militar, embora equipado e configurado de maneira mais luxuosa e confortável. Tal avião não pode ser revistado ou averiguado por autoridades fiscais ou aduaneiras e as bagagens da comitiva presidencial são itens considerados “diplomáticos”, ou seja, protegidos por convenções internacionais. É absolutamente vetado e impensável que policiais ou quaisquer outros servidores, no Brasil ou no exterior, toquem nessas malas para vistoriá-las. Bolsonaro teria usado desta prerrogativa para mandar esses objetos valiosos e caríssimos para fora do país sem que ninguém percebesse ou pudesse evitar.

Outro ponto que, na avaliação dos policiais, levará a Justiça a condenar o ex-presidente como chefe da quadrilha que espoliava o patrimônio público são os supostos pagamentos em dinheiro entregues em mãos ao próprio Jair Bolsonaro. O tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid, ex-ajudante de ordens do então chefe do Executivo federal, revelou em seu acordo de delação premiada que Bolsonaro recebeu um pacote de dólares de seu pai, o general da reserva Mauro Cesar Lourena Cid, na segunda quinzena de setembro de 2022, em Nova York, quando o à época presidente estava em viagem oficial para representar o Brasil na cerimônia de abertura da Assembleia Geral da ONU. Os valores seriam relativos à venda de um relógio da grife Rolex retirado do Palácio do Planalto e negociado pelo oficial-general nos EUA. Ele ainda teria dado a Bolsonaro um outro maço de dinheiro, na Flórida, nos primeiros dias de 2023, quando o já ex-presidente “fugiu” para não entregar a faixa presidencial a Lula (PT).

•           Entenda o que significa ser indiciado pela PF, como aconteceu com Bolsonaro

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi indiciado pela Polícia Federal (PF), nesta quinta-feira (4), no âmbito da investigação das vendas das joias sauditas, pelos crimes de associação criminosa, lavagem de dinheiro e apropriação de bens públicos.

Em março, a PF já havia indiciado o ex-presidente no caso das fraudes em cartões de vacina. Ele refuta as acusações nos casos.

<><> O que significa ser indiciado?

Uma pessoa investigada passa à condição de indiciada quando o inquérito policial aponta pelo menos um indício de que ela cometeu determinado crime.

O indiciamento é formalizado pelo delegado de polícia, com base em evidências colhidas em depoimentos, laudos periciais e escutas telefônicas, entre outros instrumentos de investigação.

Quando o inquérito é concluído, a autoridade policial encaminha o documento ao Ministério Público.

O Ministério Público — no caso, o Federal — passa a analisar se há provas contra o indiciado. Se considerar que sim, é apresentada uma denúncia à Justiça.

<><> Condição de réu

Assim que o Judiciário aceita a denúncia formulada pelo Ministério Público, o denunciado passa à condição de réu e começa a responder a processo judicial.

O réu tem garantido o direito de defesa. Após responder a processo, ele pode ser absolvido ou condenado a cumprir pena.

Conforme o Código Penal, a pena pode ser privativa de liberdade, ou seja, de prisão ou restritiva de direitos, como, por exemplo, a prestação de serviços comunitários ou multa.

<><> Entenda o caso

O caso das “joias sauditas” apura um suposto plano de negociação de joias milionárias, que foram presenteadas a Bolsonaro por autoridades estrangeiras. As peças teriam sido omitidas e vendidas no exterior.

A situação envolveu, além de Bolsonaro, o tenente-coronel e ex-ajudante de ordens Mauro Cid e o pai dele, o general Mauro César Cid.

Além dos dois, o advogado do ex-presidente, Frederick Wassef, e o tenente do Exército Osmar Crivelatti, foram alvos da investigação.

Como apurou a CNN, Mauro Cesar Cid tentava vender as joias em Miami, nos Estados Unidos, enquanto Crivelatti era responsável por cuidar das joias.

Em maio, a Polícia Federal colheu imagens nos EUA – onde as joias seriam legalizadas.

•           Saiba quais são as investigações que pesam contra Jair Bolsonaro além do caso das joias

As investigações do caso da venda ilegal de joias da Presidência levaram ao indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pelos crimes de peculato, lavagem de dinheiro e associação criminosa nesta quinta-feira, 4. O caso não é o único que pesa contra o ex-presidente, que também é alvo central em outros oito inquéritos, incluindo os que apuram uma tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022 e a falsificação de cartões de vacina contra a covid-19.

Outro caso que está em fase de conclusão é o que investiga um esquema de falsificação de cartões de vacina contra a covid-19. Em março, Bolsonaro e outros 16 foram indiciados pelos crimes de associação criminosa e de inserção de dados falsos no sistema do Ministério da Saúde. Porém, em abril, Moraes atendeu a um pedido da PGR e determinou que a PF aprofunde as investigações, que devem ser encerradas em breve.

Na manhã desta quinta-feira, 4, o ex-prefeito de Duque de Caxias (RJ) e secretário de Transportes do Estado do Rio Washington Reis (MDB) foi alvo de busca e apreensão da PF. Durante as buscas, foram apreendidos R$ 200 mil em espécie.

A falsificação, segundo a PF, teria o intuito de burlar regras sanitárias durante a pandemia de covid-19, evitando possíveis problemas para que Bolsonaro entrasse nos Estados Unidos, país que exigia a imunização dos estrangeiros, no fim de 2022.

Segundo os investigadores, o ex-ajudante de ordens da Presidência tenente-coronel Mauro Cid imprimiu a carteira de vacinação falsa do ex-presidente dentro do Palácio da Alvorada. O delator, que também foi indiciado, narrou que “recebeu a ordem” de Bolsonaro para fazer as inserções de dados falsos e, depois, entregou nas mãos do ex-chefe do Executivo o documento falsificado.

•           Tentativa de golpe de estado após as eleições de 2022

Bolsonaro é alvo central da investigação da PF sobre uma tentativa de golpe de Estado após o segundo turno das eleições de 2022. O inquérito surgiu a partir da Operação Tempus Veritatis, deflagrada em fevereiro após ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e investiga, além do ex-presidente, ex-ministros, militares de alta patente e ex-assessores da Presidência.

Na decisão de Moraes que autorizou a deflagração da Tempus Veritatis, é apresentado que os alvos da operação estavam planejando a execução de um golpe de Estado em uma organização formada por, pelo menos, seis diferentes tipos de atuação. As tarefas das frentes tinham três objetivos: desacreditar o processo eleitoral, planejar e executar o golpe de Estado e abolir o Estado Democrático de Direito, para manter a permanência do grupo de Bolsonaro no poder.

De acordo com o diretor-geral da PF, Andrei Passos Rodrigues, a investigação sobre a tentativa de golpe está em reta final e deve ser concluída nos próximos meses.

•           Envolvimento de Bolsonaro na ‘Abin paralela’

Em janeiro deste ano, a PF cumpriu mandado de busca e apreensão na casa de férias do ex-presidente em Angra dos Reis, no litoral do Rio, no âmbito da operação que apura as ligações de Carlos Bolsonaro (Republicanos), vereador da capital fluminense e filho do ex-presidente, em suposto esquema de espionagem ilegal na Agência Brasileira de Inteligência (Abin).

O principal alvo dessa ofensiva foi o ex-diretor da Abin na gestão Bolsonaro e hoje deputado federal e pré-candidato à Prefeitura do Rio Alexandre Ramagem (PL-RJ). A investigação se debruça sobre a suspeita de que a Abin teria sido usada ilegalmente para atender a interesses políticos e pessoais de Jair Bolsonaro e de sua família.

A PF já descobriu que a agência utilizou um sistema de espionagem israelense para monitorar ministros do STF e adversários do governo do então presidente. O inquérito mira supostos crimes de organização criminosa, interceptação de comunicações telefônicas, de informática ou telemática sem autorização judicial, ou com objetivos não autorizados em lei.

No mês passado, o diretor-geral da PF afirmou que a corporação negocia delações premiadas com investigados sobre o caso. “Isso está em fase de discussão interna no inquérito com os possíveis colaboradores”, afirmou.

•           Inquérito das milícias digitais

Prorrogado por Moraes no mês passado, o inquérito das milícias digitais investiga a existência de uma rede de militância digital que usou ferramentas ilícitas para favorecer Bolsonaro, com a participação de autoridades públicas e parlamentares.

O inquérito é um desdobramento da investigação que apura ofensas, ameaças e ataques aos ministros do STF e a seus familiares. Essa investigação foi aberta em março de 2019, por ordem do ministro Dias Toffoli, que na época era o presidente da Corte.

Em um relatório parcial da investigação, remetido ao STF em fevereiro de 2022, a PF afirmou que os elementos colhidos até então corroboravam a hipótese de uma “atuação orquestrada” para promover desinformação e ataques contra adversários e instituições com objetivo de “obter vantagens para o próprio grupo ideológico e auferir lucros diretos ou indiretos por canais diversos”.

•           Ataques a ministros do Supremo

Há um inquérito tramitando em segredo de justiça no STF que apura a disseminação de fake news pelo ex-presidente e realização de ataques pessoais aos ministros do Supremo. O processo é relatado por Alexandre de Moraes.

•           Vazamento de dados de inquérito do Supremo

Outra investigação que tramita no STF apura se Bolsonaro e outras autoridades teriam vazados documentos sigilosos do inquérito sobre as agressões contra ministros da Corte. O processo foi aberto a pedido do presidente da Corte, Luís Roberto Barroso, em agosto de 2021.

•           CPI da Covid

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid que, em outubro de 2021, sugeriu o indiciamento 62 pessoas, incluindo Bolsonaro e os três filhos políticos dele (Carlos, Eduardo e Flávio), foi enviado para a Procuradoria-Geral da República (PGR) e ao STF, apontando supostos crimes do ex-presidente.

Um dos episódios apontados pela comissão parlamentar foi a live feita por Bolsonaro no dia 21 de outubro de 2020, ocasião onde ele associou a vacinação a contaminação por Aids.

Em novembro de 2022, nas vésperas do término do mandato de Bolsonaro na presidência, a PGR pediu o arquivamento das investigações relacionadas ao relatório da CPI. Em fevereiro de 2023, a ministra Rosa Weber, então presidente do STF, contrariou o parecer e determinou a continuidade do inquérito.

•           Interferência na Polícia Federal

Enquanto estava na Presidência, Bolsonaro trocou o comando da Polícia Federal quatro vezes. O STF abriu inquérito para investigar se essas mudanças foram feitas com o suposto objetivo de beneficiar filhos e aliados do ex-presidente em investigações.

O relatório de investigação sobre o caso foi divulgado pela PF caso em março de 2022. No documento, a corporação entendeu que não houve crime da parte do ex-presidente. Mesmo assim, o inquérito ainda não foi arquivado e, como revelou o Estadão no início do ano passado, a Polícia Federal continua apurando o caso internamente.

•           Filho de Bolsonaro diz que há “perseguição declarada e descarada” contra seu pai

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) disse, nesta quinta-feira (4), que há uma perseguição “declarada e descarada” contra seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), após ele ter sido indiciado pela Polícia Federal (PF) no caso das “joias sauditas” pelos crimes de associação criminosa, lavagem de dinheiro e peculato.

“A perseguição a Bolsonaro é declarada e descarada”, escreveu Flávio no X (antigo Twitter). Segundo a PF, um conjunto de joias que foram dadas a Bolsonaro pelo governo da Arábia Saudita foram omitidas do acervo presidencial e vendidas nos Estados Unidos.

Conhecido como “01”, o filho mais velho do ex-presidente também citou que “não há dano ao erário” no caso, referindo-se à prática de atos contra a administração pública, justificando que o Tribunal de Contas da União (TCU) questionou o presente e ele foi devolvido.

Apesar da decisão da PF, o inquérito ainda precisa ser relatado ao Supremo Tribunal Federal (STF). O ministro Alexandre de Moraes é o responsável por relatar o caso.

Além do ex-presidente, outras onze pessoas foram indiciadas pela PF. Entre elas, o advogado de Jair Bolsonaro, Frederik Wassef, e o assessor de ex-secretário de Comunicação Fabio Wajngarten.

Wassef e Wajngarten foram indiciados crimes de lavagem de dinheiro e associação criminosa.

Veja a lista completa dos indiciados no caso das joias sauditas

•           Jair Bolsonaro

•           Bento Albuquerque;

•           José Roberto Bueno Júnior;

•           Julio Cesar Vieira Gomes;

•           Marcelo da Silva Vieira;

•           Marcos André dos Santos Soeiro;

•           Mauro Cesar Barbosa Cid;

•           Fabio Wajngarten;

•           Frederick Wassef;

•           Marcelo Costa Câmara;

•           Mauro Cesar Lourena Cid;

•           Osmar Crivelatti

 

Fonte: Fórum/Agencia Estado

 

Nenhum comentário: