segunda-feira, 22 de julho de 2024

Além do câncer de pulmão: quais tumores podem ter relação com tabagismo?

O tabagismo, doença crônica causada pela dependência à nicotina presente em produtos com tabaco, é presente em cerca de 9,3% dos adultos com 18 anos ou mais no Brasil, segundo dados do Vigitel 2023. Conforme o Instituto Nacional do Câncer (Inca), a condição está relacionada ao surgimento de diversos tipos de tumor, principalmente o câncer de pulmão — mas ele não é o único.

Para conscientizar a população acerca dos perigos do uso do tabaco, foi criada a campanha “Dia Mundial Sem Tabaco“, reconhecido nesta sexta-feira (31). Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 8 milhões de pessoas perdem a vida todos os anos no mundo em decorrência do tabagismo — 7 milhões de fumantes ativos e 1, 3 milhões de fumantes passivos.

De acordo com William Nassib William Junior, oncologista clínico e membro do Comitê de Tumores Torácicos da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), o cigarro possui inúmeras substâncias com potencial cancerígeno. Quando esses componentes são inalados, chegam ao pulmão sem grandes dificuldades.

“Essas substâncias acabam caindo na corrente sanguínea, e não somente aumentam o risco de desenvolvimento de câncer de pulmão, mas também o risco de desenvolvimento de cânceres em outros órgãos”, explica.

•        Quais cânceres podem estar relacionados ao tabagismo?

Entre os principais cânceres que podem ter relação com o tabagismo estão o câncer de cabeça e pescoço, incluindo o câncer de boca, laringe e faringe. Além disso, o câncer de rim, de colo de útero, de fígado, de bexiga, de pâncreas, de estômago e o de colorretal também tem o risco aumentado pela prática de fumar.

Conforme o uro-oncologista e cirurgião robótico André Berger, o tabagismo é a principal causa de câncer de bexiga. “Tabagistas têm três vezes mais chances do que não tabagistas de desenvolverem esse tipo de câncer”, afirma. A doença está relacionada ao tabaco devido à presença de substâncias carcinogênicas que causam danos ao DNA das células do urotélio.

Entre os principais sintomas de alerta para esse tipo de tumor é o sangramento, frequência urinária aumentada e ardência ao urinar. O diagnóstico pode ser feito com ressonância magnética e tomografia de abdômen e pelve. “A prevenção do câncer de bexiga pode ser feita com campanhas de cessação de tabagismo, controle de exposição a agentes químicos, como benzeno, e a conscientização a respeito do câncer de bexiga”, afirma Berger.

As leucemias mieloides agudas também tem seu risco aumentado em pacientes tabagistas, segundo William Junior. “O tabagismo é um fator de risco extremamente importante para o câncer. Estima-se que, aproximadamente 20% de todos os cânceres são causados pelo tabagismo e, nos Estados Unidos, 30% das mortes relacionadas ao câncer são por tumores que podem estar relacionados ao tabaco”, afirma.

Nos casos de câncer de boca e laringe, substâncias presentes no tabaco como benzeno, formaldeído, acroleína e nitrosaminas entram em contato com as células da cavidade oral e provocam mutações que podem resultar em tumores. O Inca estima 15 mil novos casos de câncer de boca e 10 mil para o câncer de laringe, para cada ano até 2025.

Fumar também está associado a um aumento no risco de câncer de estômago, especialmente na região do adenocarcinoma da região da cárdia, a parte do estômago mais próxima do esôfago. Isso acontece devido a substâncias cancerígenas presentes na fumaça do cigarro que podem ser ingeridas e atingir o estômago. Em 2020, 14 mil pessoas morreram em virtude do câncer de estômago – 21 mil novos casos serão diagnosticados por ano até 2025, segundo dados do Inca.

•        Tabagismo passivo também é um fator de risco

Quem não fuma, mas convive com tabagistas, também pode ter um risco maior para o desenvolvimento de câncer. O tabagismo passivo é a inalação da fumaça de derivados de tabaco. Segundo entidades internacionais de câncer, essa fumaça possui mais de 7 mil compostos e substâncias químicas, das quais 69, no mínimo, podem provocar câncer, conforme a American Cancer Society e a American Lung Association.

Segundo o Inca, a fumaça que sai da ponta do cigarro e se difunde em um ambiente contém, em média, três vezes mais nicotina, três vezes mais monóxido de carbono e até 50 vezes mais substâncias cancerígenas do que a fumaça que o fumante inala.

•        Políticas de controle ao tabagismo

William Júnior destaca a alta incidência e mortalidade associadas a esses tipos de cânceres no Brasil e a necessidade de expandir essa compreensão para melhor prevenir e combater os efeitos devastadores do tabaco na saúde.

“Ao eliminar este hábito, podemos diminuir consideravelmente os altos índices de diagnóstico de cânceres. O primeiro passo é entender os impactos negativos que o cigarro traz para a saúde. O segundo passo é buscar a orientação médica, porque hoje existem tratamentos eficazes para quem quer deixar de fumar”, acrescenta.

A cessação do tabagismo é importante para diminuir tanto o risco de desenvolvimento de câncer, quanto para atingir um melhor sucesso com o tratamento do câncer, com menor chance de recidiva.

 

•        Exposição do feto ao tabagismo pode acelerar envelhecimento biológico

Fetos que foram expostos ao tabagismo durante a gestação da mãe e pessoas que fumaram ao longo da infância podem envelhecer biologicamente mais rápido do que em relação à idade cronológica — ou seja, a idade desde o seu nascimento. A descoberta é de nova pesquisa publicada nesta sexta-feira (3) na revista científica Science Advances.

O estudo quantificou até que ponto a exposição precoce ao tabaco envelhece biologicamente uma pessoa e aumenta a predisposição a condições como doenças cardíacas, diabetes tipo 2, entre outros. Para isso, foram analisados mais de 276 mil participantes e foram avaliadas as relações entre exposição intrauterina à fumaça do tabaco, o tabagismo infantil e o envelhecimento biológico acelerado.

A idade biológica se refere ao estado de funcionalidade e conservação do organismo e sofre influências do estilo de vida, ambiente e outros fatores externos. Por isso, muitas vezes, ela não está alinhada à idade cronológica, que se refere aos anos que se passam desde o nascimento de uma pessoa.

A atual pesquisa descobriu que a exposição ao tabaco na infância, incluindo o período de gestação, pode acelerar a idade biológica para além da idade cronológica, aumentando o risco de doenças pulmonares, diabetes, doenças cardíacas e câncer.

<><> Como o estudo foi feito?

Para fazer o estudo, os pesquisadores avaliaram 276.259 participantes do Biobank, um bando de dados do Reino Unido. Eles foram divididos em vários grupos delineados pela exposição intrauterina ao tabaco e ao tabagismo infantil (ou a falta dessa exposição).

Os pesquisadores testaram amostras de sangue desses participantes usando duas métricas previamente estabelecidas, chamadas KDM-BA e PhenoAge, que compreendem uma variedade de biomarcadores indicativos da idade biológica. Eles também examinaram o comprimento dos telômeros dos participantes — trata-se das pontas dos cromossomos do DNA das células e funcionam como um “relógio biológico”, encurtando ao longo do envelhecimento biológico.

Segundo o estudo, as pessoas que foram expostas ao tabaco ainda no útero eram 0,26 anos KDM-BA e 0,49 anos PhenoAge mais velhas do que sua idade cronológica. Além disso, houve uma diminuição média de 5,34% no comprimento de seus telômeros.

Enquanto isso, as pessoas que fumaram na infância eram 0,88 anos KDM-BA e 2,51 anos PhenoAge mais velhas do que a sua idade cronológica. Eles também apresentaram uma diminuição no comprimento dos telômeros de 10,53%, em média.

Ademais, pessoas que foram expostas ao tabaco ainda no útero e que também fumaram durante a infância eram 1,13 anos KDM-BA e 2,89 anos PhenoAge mais velhas do que a sua idade cronológica.

“Esse resultado enfatizou os importantes benefícios públicos da cessação precoce do tabagismo, independentemente da origem genética, na resistência ao envelhecimento biológico e na prevenção de doenças relacionadas ao envelhecimento”, escreveram os autores do estudo.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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