terça-feira, 9 de julho de 2024

A crise está na direita, não no governo Lula

O indiciamento de Jair Bolsonaro pela Polícia Federal por roubo e venda de joias pertencentes ao patrimônio da União e pela falsificação de cartão de vacina contra a Covid-19 constitui a primeira mostra do que vem por aí. 

Bolsonaro e seus acólitos devem ter que enfrentar nos tribunais outros ainda mais sérios indiciamentos por crimes de golpe de Estado, associação para difusão de fake news e por contribuírem para agravar a mortalidade gerada no país em consequência da pandemia de Covid-19.

Por óbvio, os processos vão atualizar a memória geral e contribuir para agravar o estado de decadência política para o qual caminha a extrema-direita no Brasil,  dificultando as condições de sua competitividade.

Já se fazem notar as debilidades e fissuras desse campo, incapaz de reeditar ao longo do primeiro semestre as mobilizações de rua que já exibiu.

Sem falar dos entraves que encontra para impor obstáculos decisivos ao governo no Congresso. Ao menos não na medida da força nominal da representação parlamentar oposicionista.

Menos frequentes, as mobilizações se reduzem aos adeptos mais extremados.

A lista de crimes em que o ex-presidente está arrolado revela-se fardo pesado quando se trata de sustentar um movimento.

O ambiente político, apesar dos espetáculos de personagens cada vez mais bizarros, se desanuvia em comparação com os tempos incandescentes que levaram na condução de Jair Bolsonaro ao poder.

Este é um intervalo de crise da extrema-direita. É também um outono para a articulação da direita tradicional que esteve associada ao bolsonarismo.

Num arranjo pleno de avanços surpreendentes e também de recuos desconfortáveis, parte dela está coligada no Congresso com a frente de apoio ao presidente Lula. Este se abre e se adapta para agregar uma tal amplitude em sua base de apoio, o que lhe tem propiciado vitórias importantes para a realização de seu programa de governo.

Completados 18 meses da posse, vive o mandato presidencial situação oposta à de seus adversários.

A inflação segue em queda convergindo para a meta. Pelo segundo ano seguido, o crescimento da economia vai surpreender as projeções pessimistas (um eufemismo para designar economistas e mídia de oposição). O comportamento do mercado de trabalho e da renda pode superar os melhores resultados do século.

O desemprego caiu no trimestre encerrado em maio para 7,1%, a taxa mais próxima do recorde de 6,8%, observado em 2014 durante o governo de Dilma Rousseff. O número de pessoas sem trabalho caiu pela primeira vez em muito tempo para abaixo dos 8 milhões.

O Banco Central elevou suas projeções do Produto Interno Bruto de 1,9% para 2,3%, e todas as demais previsões apresentam viés de alta.

Esse crescimento apóia-se no vigor demonstrado pelo mercado interno, reflexo da melhora registrada na massa salarial e no consumo das famílias.  Cresce o investimento em máquinas e equipamentos enquanto o comércio exterior caminha para registrar outro resultado excepcional, próximo  do superávit de US$ 100 bilhões registrado em 2023.

Esses sucessos e suas repercussões políticas futuras, excitam reações ansiosas e contrárias.

A falsa crise do real, tema de tanta celeuma nas últimas semanas, foi usada pela mídia oligárquica a serviço de seus patrões do sistema financeiro. Mais uma vez, o contubérnio mídia-Faria Lima tentou controlar o presidente Lula atribuindo a este culpa por falar em defesa da preservação de valores dos benefícios aos aposentados e dos mais humildes no orçamento.

Demonstra falta de argumentos querer atribuir a Lula uma flutuação de valor do real que de resto atingiu igualmente dezenas de moedas do mundo. Tentou-se encurralar o presidente e o ministro Fernando Haddad. Estes, porém, dispõem de instrumentos fiscais para, mantidos os contornos gerais de sua política de distribuição de renda e indução do crescimento, realizar ajustes necessários ao manejo da situação da correlação de forças políticas. Segue a carruagem em busca dos dividendos para a sociedade e de suas repercussões políticas para o futuro, pois 2026 já entra no horizonte.

•        Datafolha: Lula mantém forte aprovação nas capitais do Sudeste

A pesquisa Datafolha realizada entre os dias 2 e 4 de julho indica que tanto o presidente Lula quanto o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, têm 34% dos eleitores classificando as gestões como ótima/boa na capital paulista. A gestão de Tarcísio é considerada regular por 35% dos entrevistados e ruim por 27%, enquanto Lula tem 31% de avaliação regular e 34% de avaliação ruim.

No Rio de Janeiro, o governador Cláudio Castro enfrenta 46% dos eleitores considerando sua gestão ruim ou péssima, 36% avaliando como regular e apenas 14% como ótima ou boa. A gestão de Lula no Rio é vista como ruim ou péssima por 39% dos eleitores, enquanto 33% veem como ótima/boa e 27% consideram regular.

Em Belo Horizonte, a rejeição ao governador Romeu Zema aumentou de 21% em 2022 para 30% atualmente, com 35% de ótimo/bom e 35% considerando sua gestão regular. O presidente Lula é avaliado como ótimo ou bom por 33% em BH, e 40% consideram seu governo ruim ou péssimo. O governo federal é considerado regular por 25% dos respondentes.

 

•        Noblat: Engane-se quem quiser, mas não tente enganar seus semelhantes

Concordo: para pessoas que não se ligam no assunto, e por mais que se explique, é difícil compreender e aceitar que um ex-presidente da República possa ser punido por uma tentativa de golpe que fracassou. Democracia? Ora, não vivemos em uma e ela não continua a existir? A essa altura, então, por que punir Bolsonaro?

Mas se homicídio é crime e tentativa de homicídio também é, golpe é crime, está na lei, e tentativa de golpe, segundo a lei, igualmente é crime. Vale o que está escrito na Constituição e nos códigos. É por isso que Bolsonaro, ao que tudo indica, será condenado no próximo ano e preso – salvo se Jesus descer à Terra outra vez e prescrever o contrário.

Há quanto tempo não se espera a volta de Jesus? Depois de ter sido tão maltratado como foi da primeira vez, por que se arriscaria a voltar? Sou cristão, sobrinho de bispo, conheci pessoalmente dois santos, mas aposto que Ele (atenção, revisor: é com maiúscula) jamais voltará. Não tem por quê.

Discordo, porém, dos que dizem que os brasileiros também não compreenderão se Bolsonaro for condenado por roubo de joias milionárias que pertenciam ao Estado. Ou se compreenderem, poderão concluir que Bolsonaro está sendo perseguido, acelerando assim o processo de vitimização dele.

Convenhamos: roubo é roubo, todo mundo sabe o que é. As tais joias milionárias foram presenteadas ao Brasil, não ao governo, não ao presidente da República, por governantes estrangeiros. Logo… Elementar, meus caros: logo, Bolsonaro não poderia ter vendido algumas joias e escondido outras na casa de amigos. Não podia.

E por que recomprou algumas joias que havia vendido se não era crime apoderar-se delas? Por ignorar que fosse crime e só depois dar-se conta de que era? Quem acreditará numa baboseira dessas, fora os bolsonaristas fanáticos, de raiz, capazes de bater na porta de quarteis para pedir a anulação de eleições consideradas legítimas pela Justiça?

Esses, sinto muito, sempre acreditarão no que Bolsonaro disser e no que queiram crer. São os que batem continência para pneus, casos perdidos. Mas nem todos os bolsonaristas são fanáticos. E se Bolsonaro perder o apoio deles, sua popularidade se reduzirá. O Bolsonaro que saiu das urnas em 2022 é hoje muito menor do que o Bolsonaro que entrou.

Outra coisa: todo mundo sabe o que significa falsificar documentos. Sabe que falsificar documentos particulares ou oficiais é crime. Há fartas provas de que foram falsificados os certificados de vacinação contra o Covid-19 em nome de Bolsonaro e da sua filha adolescente. Bolsonaro não sabia? Faça-me o favor… Respeite minha inteligência.

A quem interessava o crime da fraude de documentos oficiais – mais um crime? Só a Bolsonaro, que se beneficiou ou que se beneficiaria dele. Ninguém sai por aí falsificando documentos para dá-los de presente ao presidente da República. E se o fizer, o presidente é obrigado a denunciar ou a mandar prender os criminosos.

Os chefes militares convidados a dar um golpe para impedir a posse de Lula disseram não a Bolsonaro ou subiram no muro. Era obrigação deles denunciá-lo e até prendê-lo. Em resumo: por ingenuidade, malícia ou desinformação, subestima-se a capacidade de entendimento das pessoas comuns. Engane-se quem quiser – mas não tente enganar seus semelhantes.

 

•        Fugitiva do 8/1 ajuda golpistas e até oferece hospedagem

Após seu envolvimento na organização de ônibus dos atos golpistas do 8 de Janeiro, e condenação pelos ataques aos Três Poderes em Brasília, uma vendedora bolsonarista fugiu para a Argentina e agora está oferecendo “assistência” a outros condenados condenados e réus que buscam escapar do Brasil.

A informação é do portal UOL, que apurou que Fátima Aparecida Pleti, 63 anos, estaria vendo maneiras de facilitar uma "travessia segura" na fronteira entre Brasil e Argentina através de aplicativos a golpistas. Além disso, ela alugou uma residência em La Plata, a 56 km de Buenos Aires, onde está disponibilizando quartos por R$ 500 a R$ 600 mensais por pessoa, conforme testemunhos de fugitivos do 8 de Janeiro.

A equipe de reportagem do portal visitou a residência de Fátima em La Plata duas vezes: primeiro no início de junho, sem sucesso, e novamente na última quinta-feira (4 de julho). A casa, um sobrado com três quartos, sala, cozinha, dois banheiros e garagem, servia de moradia para pelo menos seis brasileiros condenados ou investigados por suposta participação em tentativas de golpe no Brasil, conforme apurado no mês anterior.

Um detalhe que chamou a atenção foi a ausência da bandeira brasileira, que antes decorava o interior da casa. Na quinta-feira, Fátima escolheu se identificar como Aparecida, seu segundo nome, e recusou conceder entrevista. Ela estava acompanhada por uma brasileira chamada Camila, que afirmou ser estudante de medicina.

Em março deste ano, após danificar sua tornozeleira eletrônica, ela fugiu para a Argentina. O governo brasileiro, durante a gestão de Lula (PT), está em tratativas com o governo de Javier Milei para a extradição dos fugitivos. Em entrevista por telefone ao UOL na semana passada, ela refutou as acusações e declarou que o ministro do STF Alexandre de Moraes, relator de seu processo, "vai pagar".

Segundo o site, Fátima terminou a ligação sem comentar sobre as supostas ofertas de assistência para fugas. Seu advogado afirmou que não fará comentários adicionais sobre o caso. No entanto, em um áudio enviado a outros condenados pelo 8/1, ela diz:

“Se tiver alguém aí do [inquérito número 49] 21 com risco de voltar pra prisão ou do [inquérito número 49] 22, manda falar comigo que eu ajudo a fazer a travessia com segurança e vim [sic] pra cá. Eu poderia estar pensando só em mim. Montei essa casa pensando em outros patriotas".

À Fórum, Moraes falou sobre movimentos de anistia dos golpistas do 8/1

No dia 28 de junho, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, chegou cedo ao último dia do 12° Fórum de Lisboa, e logo de cara já falou com os jornalistas. A previsão para a chegada do magistrado era para as 16h do horário local (12h no horário de Brasília), mas ele entrou pelo corredor que dá acesso ao anfiteatro principal do prédio da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa por volta das 10h.

Na coletiva que concedeu do lado de fora do grande salão onde ocorria uma mesa de debate com a presença de Flávio Dino, seu colega de STF, que explanava sobre jurisdição constitucional e separação dos poderes, o ministro que enquadrou os golpistas bolsonaristas que destruíram Brasília no 8 de janeiro de 2023 respondeu a várias perguntas, entre elas uma formulada pela Fórum, sobre o Judiciário sentir-se ou não afetado por um movimento de anistia que se arvora no Congresso Nacional para deixar impune os insurgentes que tentaram derrubar um governo legítimo.

“Bem, vamos aguardar... Quem admite ou não uma anistia é a Constituição Federal, e quem interpreta a Constituição Federal é o Supremo Tribunal Federal”, comentou Moraes. Outra abordagem muito insistida pelos jornalistas foi em relação às ações e decisões da Corte para a manutenção e preservação da democracia no país, que foi gravemente ameaçada ao fim do mandato do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O ministro não se furtou de reafirmar o papel do tribunal e sua missão.

“A importância do Supremo não vem só da última eleição, afinal, o Supremo é uma instituição centenária quem é mais atacado quando a Constituição Federal é mais atacada e desrespeitada, é o Supremo Tribunal Federal, e o Supremo tem a missão constitucional de defendê-la, e o fez. O Supremo Tribunal Federal se utilizou de todos os instrumentos constitucionais existentes numa democracia, como ações diretas, habeas corpus, mandados de segurança, mandando investigar ações, e tudo isso para garantir que eleições fossem realizadas, para garantir que a desinformação e as notícias fraudulentas, esse novo populismo extremista digital não capturasse o eleitorado. E assim o fez. As eleições já foram, houve posse, a democracia brasileira continua forte e a estabilidade democrática continua sendo a missão do Supremo Tribunal Federal”, concluiu o magistrado.

 

Fonte: Brasil 247/Metrópoles/Fórum

 

Nenhum comentário: