Inteligência artificial, robôs, carros elétricos: as promessas da
tecnologia para 2024
No mundo da tecnologia, 2023 talvez seja lembrado
como o ano em que a inteligência
artificial (IA) generativa – aquela capaz de gerar textos ou imagens em
resposta a solicitações em linguagem comum – se tornou popular.
De códigos de computador, a obras de arte e
ensaios, os sistemas generativos de IA podem criar rapidamente uma gama de
conteúdos que, embora não sejam perfeitos, viraram uma ferramenta essencial em
alguns setores e profissões.
Apoiado pela Microsoft, o ChatGPT abriu
o caminho com seu lançamento no final de 2022, e concorrentes têm pipocado
desde então.
Um dos movimentos mais significativos aconteceu
neste mês, quando a Alphabet,
proprietária do Google, revelou o Gemini – uma IA que será integrada aos
produtos da Google, incluindo seu chatbot e mecanismo de busca.
A Alphabet afirma que o Gemini supera a versão
atual do ChatGPT.
Mas a criadora do ChatGPT, a OpenAI, diz que não
está parada. A empresa promete uma versão mais poderosa de seu software no
próximo ano.
Em novembro, em uma conferência para
desenvolvedores de software, o presidente-executivo da OpenAI, Sam Altman,
disse: "O que lançamos hoje vai parecer antiquado em relação ao que
estamos ocupados criando para vocês agora."
o próximo grande agente do mercado.
De acordo com a plataforma de dados sobre
investimentos PitchBook, em todo o mundo, as empresas de capital de risco
investiram US$ 21,4 bilhões (R$ 102 bilhões) em startups de IA generativa e
isso apenas até ao final de setembro.
Para efeito de comparação, no ano de 2022, foram
investidos US$ 5,1 bilhões.
Mas alguns alertam que não devemos nos empolgar
tanto. Ben Wood, analista-chefe da CCS Insight, diz que a IA generativa sofrerá
um "banho de água fria" em 2024.
"Acreditamos que o hype ignorou alguns
obstáculos que vão desacelerar o processo um pouco no curto prazo", diz
ele.
Ele ressalta que é muito caro desenvolver e operar
um sistema generativo de IA. Requer muito poder de computação e chips caros e
escassos.
Para mitigar esses custos, ele prevê que parte da
IA migrará para sistemas híbridos, onde parte do processamento será feito
localmente – no laptop ou telefone do usuário.
Wood também diz que a regulamentação e as batalhas
legais podem esfriar a febre atual pela IA generativa.
"As empresas podem se ver numa situação em que
investiram muito dinheiro em um serviço alimentado por IA e depois precisam dar
um passo atrás para estar em conformidade com a regulação.”
·
Carros elétricos
No primeiro trimestre do próximo ano, o milionésimo
carro totalmente elétrico irá circular nas estradas do Reino Unido, de acordo
com a Schmidt Automotive Research.
Isso fará do Reino Unido o segundo mercado, depois
da Alemanha, a atingir esse marco.
Apesar disso, espera-se que 2024 seja mais um ano
difícil para os fabricantes de veículos elétricos (VEs).
No final de 2023, Ford, GM e Tesla suspenderam
planos para expandir sua produção de veículos elétricos. Em outubro, a
Mercedes-Benz descreveu o mercado de veículos elétricos como
"brutal", culpando a guerra de preços e problemas na cadeia de abastecimento.
Analistas não esperam que a situação melhore muito.
Matthias Schmidt, analista do mercado automotivo,
prevê um ano de estagnação para as vendas de veículos elétricos em toda a
Europa em 2024.
Em mercados tradicionalmente fortes como a Alemanha
e a Noruega, ele não vê quase nenhum crescimento.
No entanto, no Reino Unido, espera-se que pouco
mais de um quinto dos veículos vendidos sejam elétricos. A meta é atingir a
meta de 80% até 2030.
Tudo isso pode ser uma ótima notícia para quem tem
dinheiro para comprar um veículo elétrico.
·
Robôs humanóides
Os robôs humanoides podem
começar a parecer mais úteis no próximo ano.
Na Tesla, engenheiros estão trabalhando no Optimus
– um robô humanoide que eles esperam que em breve faça trabalhos básicos de
fábrica.
Um vídeo divulgado no início deste mês mostrou a
última versão do Optimus – mais leve que a anterior, com mãos novas e movida
por novos motores.
Em julho, Musk disse que os Optimus poderão
trabalhar em fábricas da Tesla em 2024.
"Sobre quando será capaz de fazer algumas
coisas úteis, primeiro tentaremos isso em nossas próprias fábricas – provando
sua utilidade. Acho que seremos capazes de fazer algo útil em nossas fábricas
em algum momento do próximo ano. Estou bastante confiante nisso."
A Tesla tem muita concorrência no campo de robôs
humanoides. Outras empresas já têm robôs aprendendo tarefas em ambientes de
trabalho.
A Amazon está testando um robô humanoide em seus
armazéns. Chamado de Digit, o robô pode mover, agarrar e manusear itens de
maneira semelhante a um ser humano.
Ele foi desenvolvido pela Agility Robotics, que
espera entregar robôs Digit a outros clientes no próximo ano.
Enquanto isso, no Canadá, a Sanctuary AI vem
treinando seu robô, chamado Phoenix, para realizar tarefas específicas, como
fazer malas. Em 2024 o plano é ampliar o leque de tarefas que o Phoenix pode
realizar.
·
Corrida pela perda de peso
No mundo dos produtos farmacêuticos, um tratamento
tem vendido tão rapidamente que seu fabricante tem dificuldade em atender a
demanda.
O
medicamento para perda de peso semaglutida, comercializado
sob a marca Wegovy, tem sido um enorme sucesso, chegando a tornar sua
proprietária, a farmacêutica Novo Nordisk, a empresa mais valiosa da Europa por
um breve período.
Para satisfazer a procura, a empresa dinamarquesa
está investindo bilhões de euros na expansão das instalações de produção.
No momento, o Wegovy é
administrado como uma injeção semanal, mas uma versão em comprimido está
quase pronta. A Novo Nordisk não diz quando ela chegará ao mercado.
A empresa dinamarquesa pode esperar que apareça
mais concorrência no próximo ano.
O
medicamento Mounjaro, da Eli Lilly, recebeu recentemente aprovação como
tratamento para perda de peso nos EUA e no Reino Unido, e a aprovação na União
Europeia deve acontecer em breve.
Enquanto isso, a Pfizer também busca aprovação para
sua pílula para perder peso.
Ø Por que
garantir segurança da inteligência artificial não é tão fácil como se pensa
Especialistas em inteligência artificial geralmente
seguem uma das seguintes escolas de pensamento: a inteligência artificial vai
melhorar muito nossas vidas ou vai destruir todos nós. Então como garantir
segurança?
A seguir, confira cinco dos desafios que temos pela
frente — e como o tema tem sido tratado na Europa.
·
1. Chegar a um acordo sobre o que é inteligência
artificial
O Parlamento Europeu levou dois anos para chegar à
definição de um sistema de inteligência artificial — software capaz de,
"para um determinado conjunto de objetivos definidos pelo ser humano,
gerar resultados como conteúdo, previsões, recomendações ou decisões que
influenciam os ambientes com os quais eles interagem".
Nesta semana, o Parlamento Europeu está votando o
projeto de lei sobre a regulamentação da Inteligência Artificial — as primeiras
normas legais sobre a tecnologia, que vão além de um código de conduta
voluntário, exigindo que as empresas as cumpram.
·
2. Alcançar um consenso global
A ex-chefe do Escritório de Inteligência Artificial
do Reino Unido, Sana Kharaghani, observa que a tecnologia não respeita
fronteiras.
"Precisamos ter colaboração internacional
nisso — sei que vai ser difícil", disse ela à BBC News. "Este não é
um assunto doméstico. Essas tecnologias não ficam dentro das fronteiras de um
país."
Mas ainda não há um plano para um órgão regulador
global de inteligência artificial, no estilo das Nações Unidas — embora alguns
tenham sugerido isso —, e diferentes territórios têm ideias distintas sobre o
tema.
As propostas da União Europeia são as mais rígidas
e incluem classificar os produtos de inteligência artificial dependendo do seu
impacto — um filtro de spam para e-mail, por exemplo, teria uma regulamentação
mais leve do que uma ferramenta de detecção de câncer.
O Reino Unido, por sua vez, está repassando a
regulamentação da inteligência artificial aos
reguladores existentes — aqueles
que dizem que a tecnologia os discriminou, por exemplo, são direcionados à Comissão de Igualdade.
Já os Estados Unidos têm apenas códigos de conduta
voluntários, e os legisladores admitiram recentemente, durante uma audiência do
comitê de inteligência artificial, que estavam preocupados se ele estava dando
conta do recado.
A China pretende fazer com que empresas notifiquem
os usuários sempre que um algoritmo de inteligência artificial estiver sendo
usado.
·
3. Garantir a confiança do público
"Se as pessoas confiarem, elas vão usar",
disse o chefe de assuntos regulatórios e governamentais da União Europeia na
IBM, Jean-Marc Leclerc.
Há grandes oportunidades para a inteligência
artificial melhorar a vida das pessoas de maneiras incríveis. Entre elas,
estão:
- Ajudar a descobrir antibióticos;
- Fazer pessoas com paralisia voltarem a andar;
- Tratar de questões como mudanças climáticas e
pandemias.
Mas e a triagem de candidatos a vagas de emprego ou
a previsão da chance de alguém cometer um crime?
O Parlamento Europeu quer que o público seja
informado sobre os riscos associados a cada produto de inteligência artificial.
As empresas que infringirem suas regras podem ser
multadas em até 30 milhões de euros (aproximadamente R$ 157 milhões) — ou 6% do
faturamento anual global.
Mas será que os desenvolvedores são capazes de
prever ou controlar como seu produto pode ser usado?
·
4. Decidir quem redige as regras
Até agora, a inteligência artificial tem sido
amplamente autopoliciada.
As grandes empresas dizem que estão de acordo com a
regulamentação do governo — "fundamental" para mitigar os riscos
potenciais, de acordo com Sam Altman, chefe da OpenAI, criadora do ChatGPT.
Mas será que elas vão colocar os lucros acima das
pessoas caso se envolvam demais na redação das regras?
Você pode apostar que elas querem estar o mais
próximo possível dos legisladores encarregados de estabelecer os regulamentos.
E Martha Lane Fox, fundadora do Lastminute.com, diz
que é importante ouvir não apenas as corporações. "Devemos envolver a
sociedade civil, a academia, as pessoas que são afetadas por esses diferentes
modelos e transformações", afirma.
·
5. Agir rápido
A Microsoft, que investiu bilhões de dólares no
ChatGPT, quer que ele "tire a parte penosa do trabalho".
Ele pode gerar respostas de texto de forma
semelhante a humanos, mas, Altman observa, é "uma ferramenta, não uma
criatura".
Os chatbots deveriam tornar os profissionais mais
produtivos.
Em algumas indústrias, a inteligência artificial
tem a capacidade de gerar empregos e ser uma assistente formidável. Em outras,
no entanto, trabalhadores podem perder seus empregos — no mês passado, a BT
(empresa de telecomunicação britânica) anunciou que a inteligência artificial
substituiria 10 mil postos de trabalho.
O ChatGPT está em uso público há pouco mais de seis
meses. Agora, ele pode escrever artigos, planejar férias e passar em exames
profissionais.
A capacidade desses modelos de linguagem em larga
escala está crescendo a um ritmo fenomenal.
E dois dos três "padrinhos" da
inteligência artificial — Geoffrey
Hinton e Yoshua Bengio — estão entre os que alertam que a tecnologia tem
um enorme potencial de danos.
A Lei de Inteligência Artificial, na Europa, não
vai entrar em vigor pelo menos até 2025 —"muito tarde", segundo a
chefe de tecnologia da União Europeia, Margrethe Vestager.
Ela está formulando um código voluntário provisório
para o setor, junto aos Estados Unidos, que pode ficar pronto dentro de semanas.
Fonte: BBC News Mundo
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