NEURÔNIOS EM DIA: Uma mentira leva a outra. Como isso funciona no
cérebro?
Nosso cérebro tem um mecanismo de alarme que acende
a "luz vermelha" quando
fazemos algo de perigoso, errado ou imoral. Contar uma
mentira tem o poder de disparar esse alarme, também conhecido como amígdalas
das regiões temporais. Em um estudo publicado pela prestigiada revista Nature
Neuroscience tivemos a demonstração de como o cérebro colabora para o fenômeno
“uma mentira leva a outra”.
Pesquisadores do University College of London
estudaram através de ressonância magnética funcional os cérebros de 80
voluntários durante um jogo que eles tinham a possibilidade de mentir para
aumentar as chances de ganhar o jogo. Uma pequena mentira era capaz de
estimular as amígdalas, e à medida que novas mentiras iam sendo contadas, as
amígdalas iam ficando menos estimuladas, iam adormecendo.
Com as amígdalas adormecidas, o cérebro ficaria
mais encorajado a contatar mentiras mais robustas. E foi exatamente isso que os
cientistas encontraram: à medida que eles iam mentindo, as amígdalas iam se
apagando e as mentiras ficavam cada vez mais ousadas. Você deve estar aí
imaginando que muitas personalidades do nosso noticiário diário devem ter as
amídalas, não adormecidas, mas em coma.
E não é só de amígdalas adormecidas que a mentira
vive. Regiões frontais do cérebro
precisam estar intactas para que a mentira aconteça. Vejam só o caso
dos portadores da Doença de Parkinson. O Parkinson é muito conhecido pelos seus
sintomas motores tais como o tremor e rigidez, mas o fato é que a doença vai
muito além disso.
Já é bem reconhecida a redução de funções
cognitivas na evolução da doença e há quase um século já se descrevia que os
parkinsonianos apresentavam uma personalidade peculiar e os estudos têm
consistentemente demonstrado que há uma tendência a um maior grau de
determinação, seriedade e inflexibilidade.
O processo de degeneração cerebral associado à
doença é visto como um grande candidato para explicar esses traços de
personalidade. A honestidade também é descrita como um traço peculiar da
personalidade do parkinsoniano, descrita como uma tendência em não mentir.
Nesse caso, o mais provável é que os doentes tenham
dificuldade em mentir devido às alterações cerebrais e não porque sejam
genuinamente mais honestos. E foi isso que pesquisadores japoneses conseguiram
confirmar em um elegante estudo publicado no periódico especializado Brain.
Num teste psicológico experimental, indivíduos com
o diagnóstico da Doença de Parkinson apresentaram mais dificuldade em dar
respostas falsas quando comparados ao grupo controle sem a doença. Além disso,
foi demonstrado que essa dificuldade em mentir foi maior entre os
parkinsonianos que tinham menor metabolismo cerebral nas regiões pré-frontais,
medido por tomografia por emissão de positrons (PET).
Estudos
anteriores já haviam demonstrado que essas mesmas regiões
pré-frontais são ativadas quando um indivíduo saudável conta uma mentira. Essa
foi a primeira vez que se demonstrou a base biológica da personalidade honesta
dos portadores da Doença de Parkinson e que esta está associada à disfunção nas
regiões frontais do cérebro.
Ø “Minhas
crises de enxaqueca eram problema de coluna”, diz socióloga
A socióloga Raquel Suely da Conceição, 33 anos, de
São Paulo, tinha dores próximas à cervical e enxaqueca desde a adolescência. Ela lidou com os problemas por anos, e
reparou que o incômodo era maior em situações de estresse. Porém, foi só na
pandemia que ela descobriu que as dores de cabeça eram causadas por um problema
na coluna.
“Os exames apontaram que eu nasci com algumas
vértebras fundidas mas, a princípio, essa má formação explicava apenas as dores na cervical”, conta.
A enxaqueca continuava sem explicação e, durante a
pandemia, o cenário se agravou. Com o estresse gerado pela emergência sanitária
e a transição do trabalho presencial para o home office, Raquel se sentia
enjoada por conta das dores de cabeça e não conseguia dormir com o desconforto.
Foi quando decidiu procurar ajuda.
Ela passou por neurologistas e ortopedistas. Todos
receitavam remédios, mas eram apenas cuidados paliativos e não impediam as
eventuais crises. Em 2021, Raquel lembra que ficou sem parte dos movimentos
depois de uma crise.
“Precisei ser afastada do meu emprego porque não
conseguia me movimentar. Eu não podia mexer a cabeça e os braços, que
formigavam muito. Tratei com anti-inflamatórios e analgésicos, até que um
especialista em coluna me sugeriu que a enxaqueca podia ser em decorrência da
minha má postura e recomendou procurar um fisioterapeuta”, conta a socióloga.
·
Cefaléia tensional
Segundo o neurocirurgião de coluna Márcio Vinhal,
do Hospital DF Star, em Brasília, a enxaqueca associada à má postura não é um
quadro raro. A condição é chamada de cefaléia tensional e tornou-se mais comum
depois da pandemia, com o aumento do número de pessoas em home office.
“As pessoas pararam de ir para a academia e
passaram a trabalhar em casa sem cuidados ergométricos. A má postura causa a compressão da coluna cervical, o que
sobrecarrega as articulações e desgasta a estrutura óssea. Essa degeneração,
por sua vez, pode atingir os nervos e causar uma dor que irradia tanto para os
braços quanto para a cabeça”, explica Vinhal.
Em casos congênitos, o médico afirma que as
cirurgias são descartadas e o ideal é procurar formas de ajustar a coluna do
paciente. A fisioterapia, musculação, descanso ideal, cuidados ergométricos e
técnicas como a acupuntura são algumas formas de estimular o posicionamento
certo.
No caso de Raquel, a má formação congênita que era
responsável pelas dores na cervical foi agravada pela má postura, causando as
enxaquecas.
·
Exerícios que aliviam
A socióloga buscou a fisioterapia e entendeu a
importância de se policiar quanto à postura. “Preciso ter atenção para não
comprimir minha cervical por muito tempo enquanto estou sentada, em pé e até
dormindo. Realizo exercícios passados pelo fisioterapeuta todos os dias. Eles
aliviam as dores e prevenem as crises”, conta.
Segundo o fisioterapeuta Abnel Alecrim, os
exercícios restabelecem a funcionalidade dos músculos, discos, nervos e das
articulações do pescoço.
“Um dos exercícios é o de retração da cabeça e
pescoço na posição sentada, em que a pessoa pressiona cuidadosamente o queixo
para trás, o que ajuda a descomprimir os nervos espinhais do pescoço e da nuca,
diminuindo e abolindo as dores de cabeça. O paciente pode apresentar
melhoras da cefaleia em apenas uma semana de atividades”, explica Abnel.
Fonte: Correio Braziliense/Metrópoles
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