PT e PL repassaram quase R$ 300 mil a Lula e Bolsonaro em 2023; outros
ex-presidentes não recebem
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o
ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) recebem pagamentos mensais de seus
respectivos partidos. Entre abril e outubro, Bolsonaro foi remunerado pelo PL
sete vezes, somando R$ 200 mil. Por sua vez, Lula foi beneficiado com nove
repasses do PT, de fevereiro a outubro, totalizando R$ 96 mil. Os vencimentos
pagos ao atual presidente e a seu antecessor são uma exceção, já que nenhum
outro ex-chefe de Estado possui benefício semelhante em suas legendas.
Procurados, o PL não se manifestou, enquanto o PT argumentou que recurso é para
pagar aluguel de imóvel (veja abaixo).
As informações foram levantadas pelo Estadão junto
às prestações de contas anuais do MDB, PL, PSDB, PT e PTB enviadas neste mês ao
Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Os documentos encaminhados à Justiça
Eleitoral compreendem o período de outubro de 2022 a outubro de 2023. Nesse
intervalo, não foram identificados pagamentos em benefício dos ex-presidentes
José Sarney (MDB), Fernando Collor (PRD, antigo PTB), Fernando Henrique Cardoso
(PSDB), Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB).
A legislação brasileira não impõe aos partidos a
obrigação de pagar salários a presidente ou ex-presidentes. Portanto, as
remunerações recebidas por Lula e Bolsonaro não derivam de suas passagens pelo
Palácio do Planalto, mas sim de suas funções dentro de seus respectivos
partidos. Lula e Bolsonaro ocupam as posições de presidentes de honra no PT e
no PL, respectivamente. Além deles, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro
também desempenha um papel na estrutura partidária como presidente do PL
Mulher.
Entre fevereiro e outubro, Bolsonaro e Michelle
receberam um total de R$ 437 mil pelas responsabilidades que desempenharam
dentro do PL. O registro financeiro do partido classificou essa transferência
como “serviços técnicos-profissionais”. O salário atual de cada um como
dirigente partidário é de R$ 30.483,16. Os gastos com assessores, advogados e
outras despesas, como deslocamentos e alimentação, não estão inclusos nesse
valor. O PL foi procurado pela reportagem, mas não retornou.
Além de seu salário no PL, Bolsonaro também recebe
a aposentadoria do Exército, de cerca de R$ 12 mil por mês. Além disso, usufrui
dos benefícios da aposentadoria como ex-deputado, o que corresponde a mais de
R$ 30 mil mensais. Como ex-presidente da República, ainda tem direito a quatro
servidores para desempenhar funções de segurança e apoio pessoal, dois
assessores pessoais, dois veículos oficiais e dois motoristas.
• Repasses
a Lula são para pagar aluguel em SP, diz PT
O PT, por sua vez, informou, em nota, que as
transferências mencionadas pela reportagem referem-se ao custeio de parte do
aluguel de imóvel que, desde 2022, serviu como residência e local de trabalho
do presidente de honra do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, em São Paulo. “Todas
estas transferências foram feitas com recursos de arrecadação própria do
partido, conforme declarado à Justiça Eleitoral, sem uso de Fundo Partidário ou
outras fontes”, diz o texto.
O partido esclareceu também que assumiu uma parcela
do custo do aluguel, tendo em vista que o imóvel deveria prover as necessidades
de segurança, privacidade, espaço para trabalho de assessores e para reuniões
políticas inerentes às atividades de seu presidente de honra. “Desde outubro
último, o PT assumiu integralmente o contrato de locação e o pagamento do
contrato de aluguel, cessando então as transferências registradas na Justiça
Eleitoral”.
“Patafísica
do poder” explica a existência de tantos personagens tóxicos na política
Para quem estancou a queda da nação no abismo, são
fracos neste fim de ano os índices de popularidade de Lula. Fracas também as
explicações. A campanha governamental “O Brasil é um só povo”, recém-lançada,
não desautoriza uma hipótese de natureza patafísica: existiriam dois Brasis.
No primeiro, real, Lula é legítimo presidente da
República, com dezenas de milhões de seguidores. No segundo, irreal, o outro
perdeu a eleição, mas ainda não lhe caiu a ficha nem a de seus aderentes, o que
pavimenta o caminho patafísico dos absurdos.
Patafísica é a “ciência” das soluções imaginárias,
uma invenção de literatos franceses para jogar criativamente com distorções da
realidade. Nesse país distorcido por hipótese, sombra projetada sobre o real, o
portador da caveira de burro nada em seco, o pão lhe caindo com leite
condensado para baixo. Ainda assim, trafega nos índices e nas barricadas da
direita. Aos contratempos: na posse de Milei, tentou bancar o papagaio de
pirata numa foto de presidentes, foi por eles repelido. Um vexame, que não pareceu
constrangê-lo.
Mas a hipótese deixa intocado o enigma dos
personagens tóxicos na política: Bozo teratológico, Milei que diz ter “filhos
de quatro patas”, Maduro em colóquio com passarinhos, Trump que prega
abertamente a ditadura etc.
Nenhuma doutrina salvífica explica as bizarrices,
apenas o traço comum de uma tirania prometida e, religiosamente, aguardada.
É que existe um laço íntimo, místico entre tiranos
e escravos: “O grande segredo do regime monárquico consiste em enganar os
homens, travestindo com o nome de religião o temor com que os mantém
acorrentados; de maneira que lutam por sua servidão como se tratassem de sua
salvação” (Espinosa, “Tratado Teológico-Político”).
Para o filósofo, isso se deve à paixão triste, “um
complexo que reúne o infinito dos desejos, a perturbação da alma, a cupidez e a
superstição”. O tirano, para triunfar, precisa da alma triste e vice-versa,
pois o que os une é “o ódio à vida, o ressentimento contra a vida”.
A palavra tirania, obsoleta, retorna na afirmação
da vice-presidente argentina de que é preciso um arrocho tirânico para repor
nos eixos o seu país. É um toque sombrio e mais opressivo do que autocracia,
com a qual os analistas políticos vestem as inclinações da ultradireita.
Mas tirano e autocrata rezam pela mesma cartilha da
violência antidemocrática, atrativa para o sujeito do ressentimento, adulto ou
jovem, que faz da estreiteza vingativa seu único afeto. Uma besta triste, de
tocaia no pior. Não com volátil estado de ânimo, mas com tristeza como paixão
profunda, afecção contagiosa da alma que faz cadeia com medo, inveja, ódio e
crueldade.
É uma negação da alegria vital, da qual não dá
conta nenhum psicologismo, nenhuma política. Talvez a patafísica, quem sabe?
Um
desafio! A difícil aproximação de Lula com os eleitores evangélicos
O segundo turno das eleições para a Presidência da
República, em 2022, foi marcado por intensos discursos com apelo religioso
tanto pelo atual presidente, Lula da Silva, quanto pelo seu então adversário, o
ex-mandatário Jair Bolsonaro. Apesar de o derrotado nas urnas contar com o
apoio de vários líderes evangélicos, a preferência de eleitores sem religião
pode ter sido decisiva para o retorno do petista ao comando do Executivo.
Lula pode ter aberto uma vantagem superior a cinco
milhões de votos para Bolsonaro entre os eleitores que não declararam uma
religião específica, o que contribuiu para a vitória do petista na disputa mais
apertada desde a redemocratização, segundo estudo divulgado à época.
Já neste mês, uma pesquisa do Datafolha divulgada
no último dia 7, mostrou que Lula ainda continua a enfrentar resistência entre
os evangélicos, que compõem 28% do eleitorado brasileiro. A reprovação ao
petista nesse grupo é de 38%, enquanto entre os católicos esse índice é de 28%
(52% da população ouvida). No geral, segundo o levantamento, Lula fechará o ano
em estabilidade, com 38% de aprovação, enquanto 30% consideram seu trabalho
regular e outros 30% o definem como ruim ou péssimo.
Mas, voltando ao relacionamento em questão, nas
últimas semanas Lula fez duas referências aos evangélicos. A primeira ocorreu
durante um ato do PT, no qual reconheceu que a legenda tem dificuldade em se
comunicar com o grupo. Já a segunda, foi durante um evento do governo em que
Lula reclamou dos ataques da campanha. “Se tem um cara neste país que acredita
em Deus, é este que está vos falando”, declarou.
Apesar de Lula muitas vezes extravasar além do que
deveria, sobretudo quando improvisa, a disputa do eleitor evangélico no campo
da fé é um passo arriscado, pois essa alternativa indicaria empunhar uma
bandeira conservadora, o que se afasta do argumento da esquerda.
Existe hoje uma ligação já cristalizada desse
eleitor com o bolsonarismo e que não caminha por análises racionais, ainda que
o mesmo se depare com resultados positivos na economia ou em outros segmentos.
O senso de pertencimento acaba sendo maior do que qualquer realidade, tornando,
para uma certa parcela, as ações governamentais advindas sempre como
representativas de uma esquerda adversária.
Desta forma, e de olho em uma nova estratégia, o
governo incluiu numa campanha publicitária um cantor gospel e uma personagem
que dá “glória a Deus” quando recebe o Bolsa Família. Em outra iniciativa, o
Ministério do Desenvolvimento Social passou a oferecer financiamento a projetos
de combate à fome tocados pelas igrejas e começou a treinar seus integrantes
para cadastrar beneficiários de programas sociais. Uma forma de amenizar o
domínio dos templos evangélicos nas periferias.
A ideia é evitar com que os evangélicos passem a se
identificar com a direita de forma definitiva. E, de fato, há espaço para
reverter uma parte desse quadro. Exemplo disso é que uma pesquisa recente do
PoderData mostra que 52% dos evangélicos acham que o governo Lula é pior que o
governo Bolsonaro, enquanto 30% consideram o petista melhor, e 15% veem os dois
da mesma maneira.
Discutir que religião e política não deveriam se
misturar é inviável. Ao menos por enquanto. O caminho para uma possível
dissociação é longo, ainda. E, sabendo disso, vários líderes religiosos
barganham benefícios, apostando na persuasão dos seus seguidores.
Porém, ainda que uma perspectiva de mudança se
encaixe no longo prazo, é possível acreditar que um dia, sob o cenário
democrático, seja possível que cada cidadão escolha de forma individual os seus
representantes, analisando sem a influência ou a ameaça da religião, e
sobretudo vendo as contradições entre os discursos e as promessas dos falsos
profetas e os valores da fé professada.
• Lula
agora anuncia que ninguém acredita em Deus mais do que ele
Após resistência no ano de campanha, petistas
tentam disputa nos campos da fé e dos cofres do governo. Nas últimas semanas,
Lula fez duas referências aos evangélicos. Num ato do PT, o presidente
reconheceu que a sigla tem dificuldade em se comunicar com o grupo.
Depois, num evento do governo, ele reclamou dos
ataques da campanha e emendou: “Se tem um cara neste país que acredita em Deus,
é este que está vos falando”.
Conselheiros influentes de Lula sempre resistiram à
ideia de disputar o eleitor evangélico no campo da fé. O argumento era que a
esquerda jamais empunharia certas bandeiras conservadoras. Entrar nessa briga,
portanto, evidenciaria uma diferença brutal de valores. O melhor, segundo esses
auxiliares, seria fisgar o segmento pelo bolso.
O vínculo cristalizado desse eleitor com o
bolsonarismo sugere que talvez não seja suficiente contar com uma melhora da
economia. Há uma barreira anterior, ligada a um senso de pertencimento, que faz
com que muitos evangélicos ainda vejam a esquerda como adversária.
Se Lula disser uma ou duas vezes que acredita em
Deus, pouca coisa vai mudar. Mas a mensagem indica que o presidente busca um
caminho diferente para falar com aquele eleitor. Também nas últimas semanas, o
governo incluiu numa campanha publicitária um cantor gospel e uma personagem
que dá “glória a Deus” quando recebe o Bolsa Família.
Outra iniciativa tem o objetivo de amenizar o
domínio dos templos evangélicos nas periferias. O Ministério do Desenvolvimento
Social passou a oferecer financiamento a projetos de combate à fome tocados
pelas igrejas e começou a treinar seus integrantes para cadastrar beneficiários
de programas sociais.
O governo quer evitar que a identificação dos
evangélicos com a direita se torne definitiva. Pode haver espaço para reverter
uma parte desse quadro.
Uma pesquisa recente do PoderData mostra que 52%
dos evangélicos acha que o governo Lula é pior que o governo Bolsonaro,
enquanto 30% consideram o petista melhor, e 15% veem os dois da mesma maneira.
Em 2022, Bolsonaro teve 69% dos votos válidos no grupo.
Fonte: Agencia Estado/Folha Press/Tribuna da
Internet
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