Mais de 1.000% de crescimento: como o
Brasil está fortalecendo o comércio com o Sudeste Asiático
Formada por dez países de uma das regiões com maior
dinamismo econômico do mundo, a Associação de Nações do Sudeste Asiático
(Asean) conta com uma população superior a 650 milhões de pessoas e muito a
oferecer. De arroz a produtos de alta tecnologia, a região tem fortalecido a
parceria com outros países do Sul Global, principalmente o Brasil.
Nos últimos 20 anos, o comércio do Brasil com os
países da Asean teve um crescimento surpreendente: saltou de US$ 2,9 bilhões
(R$ 14 bilhões) em 2002 para US$ 34 bilhões (R$ 164,9 bilhões) em 2022, uma
alta de 1.072%. Crucial para o fortalecimento das relações entre o Sul Global,
a região do Sudeste Asiático respondeu por quase um quarto do superávit de US$
73 bilhões (R$ 354,2 bilhões) acumulado pela balança comercial brasileira entre
janeiro e setembro deste ano.
Outra prova da aproximação cada vez maior foi o
lançamento neste mês do documento "Áreas de Cooperação Prática", pelo
Conjunto de Cooperação Setorial Brasil-Asean, com diretrizes para os próximos
cinco anos de atuação conjunta em setores como segurança, economia e cultura.
Pesquisador formado em comércio exterior e
idealizador do projeto MenteMundo, que aborda relações dos países com o Sudeste
Asiático, Valter Peixoto avaliou à Sputnik Brasil que ainda há muito para se
avançar com relação à parceria, principalmente na questão cultural.
"A cultura é o passo inicial para qualquer
tipo de negociação, e, infelizmente, conhecemos quase nada do Sudeste Asiático,
esse é o grande ponto fraco dessa relação. É preciso retirar o rótulo de
'exótico' dos países da região e perceber a beleza e a singularidade histórica
que possuem. A Ásia é muito mais do que a China", defende o especialista.
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Quais são os países do Asean?
Formado por Brunei Darussalam, Camboja, Cingapura,
Filipinas, Indonésia, Laos, Malásia, Mianmar, Tailândia e Vietnã, a Asean já
representa a quinta maior economia do mundo, com PIB de US$ 3 trilhões (R$ 14,5
trilhões), e, diante de uma das maiores taxas de crescimento populacional do
mundo, consome cada vez mais produtos brasileiros do agronegócio, como carne,
soja e outros alimentos. Peixoto destaca ainda o acordo de livre comércio
firmado entre Cingapura e Mercosul no fim deste ano, além do início das negociações
com o Vietnã, que já tem parceria com o Brasil no setor de semicondutores.
"Isso necessariamente implica em queda de
barreiras tarifárias e não-tarifárias. Os setores imediatamente beneficiados
seriam os que já dominam o comércio bilateral entre os países dos blocos. Do
nosso lado, estão os setores do agro e de commodities. Os países do Mercosul
exportam soja, trigo, carne, petróleo e algodão. Enquanto do lado asiático os
produtos mais enviados para nós são manufaturas finais e intermediárias de
média e alta tecnologia, como circuitos variados, peças automotivas e eletrônicas",
enfatiza.
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Fortalecimento do comércio 'Sul-Sul'
Para o pesquisador, o fortalecimento do comércio
"Sul-Sul" é uma resposta aos longos anos de dominação imperialista
dos países ocidentais, como Estados Unidos e União Europeia.
"Esse é o impacto que os países do G-7 não
conseguem enfrentar, estão com o protagonismo reduzido por não conseguirem
competir com as economias e investimentos do próprio Sul-Global, tampouco gozam
da credibilidade que um dia já tiveram", acrescenta.
Além disso, Valter Peixoto pontuou que a pandemia
mostrou a necessidade de diversificar o portfólio de clientes e fornecedores
entre os países, como vem ocorrendo entre Brasil e Asean. E são justamente os
países emergentes, pontua o especialista, os principais responsáveis pelo
dinamismo econômico do século XXI, e novas oportunidades não faltam.
"Hoje, o país que mais cresce no mundo é a
Guiana, a Índia se consolida como potência incontornável, a Indonésia tem tudo
para ser uma das cinco maiores economias até 2050, e, nessa mesma década,
outros quatro países da Asean devem estar no top 30, ou seja, quase metade do
bloco", explica.
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Quais são os principais acordos da Asean?
Nos últimos anos, a Asean tem apostado em ampliar
seu leque de parcerias para além dos países da Ásia e do Pacífico, o que trouxe
oportunidades para o Brasil e o Mercosul. "Com isso, a aproximação entre
esses dois blocos pode ser uma forma de fortalecimento regional, tanto
intrabloco como, claro, para suas políticas externas em um momento de retração
[mundial]. É mais um passo em direção a esse protagonismo dos emergentes e
ascensão de um novo arranjo mundial que precisa nascer", afirma o pesquisador.
Ao longo dos primeiros nove meses do ano, o
principal mercado para os produtos brasileiros no Sudeste Asiático foi
Cingapura, cujas exportações alcançaram US$ 6,2 bilhões (R$ 30 bilhões) ou 34%
de todas as vendas brasileiras. Na sequência, aparecem Tailândia, com US$ 2,8
bilhões (R$ 13,5 bilhões), e Malásia, que somou US$ 2,7 bilhões (R$ 13,1
bilhões).
"Há em andamento diversos projetos
interessantes. Por exemplo, a Embrapa atua em alguns países da região com
exportação de tecnologia de plantio. A Tailândia e as Filipinas possuem
projetos verdes que o Brasil pode atuar com sua inteligência em biotecnologia,
assim como a área de segurança alimentar, [é] uma região densamente povoada,
responsável por 30% da produção mundial de arroz", exemplifica Peixoto.
Com 261 milhões de habitantes, a Indonésia é o
maior país muçulmano do mundo, onde quase 90% da população segue o islamismo, e
um dos principais membros da Asean. De acordo com o especialista, a cada ano, o
Brasil tem aumentado o número de frigoríficos autorizados a vender carne Halal
(produzida a partir dos preceitos do islã do nascimento à morte dos animais)
para a região.
"Tem um potencial muito grande para crescer
ainda [o setor de carnes]. Há também uma parceria no setor de calçados da
cidade de Blumenau (SC) com a Indonésia. Em feiras locais, a nação asiática
costuma enviar representantes. O setor de turismo também pode ser uma
alternativa, a Tailândia conta com uma expertise única de quem costuma figurar
no topo da lista de país mais visitado ano após ano, e Cingapura anunciou o
setor hoteleiro [do Brasil] como um dos principais para investir",
finaliza.
Ø Kremlin: se
o Ocidente roubar ativos da Rússia, consequências serão 'prejudiciais' e terão resposta
O porta-voz do presidente russo criticou "a
total imprevisibilidade de nossas contrapartes", que, diz ele, estão
minando a confiança em si mesmos e no sistema econômico mundial com tais
medidas.
A Rússia tem uma lista de ativos que podem ser confiscados
de estrangeiros em resposta a suas ações, disse na sexta-feira (29) Dmitry
Peskov, porta-voz presidencial do Kremlin.
"Compreendendo a total imprevisibilidade de
nossas contrapartes, sua propensão a violar a lei internacional e outras leis,
incluindo suas próprias leis nacionais, compreendendo sua propensão à
autodestruição, quero dizer, a destruição do sistema econômico moderno, minando
a confiança nos princípios básicos do sistema econômico mundial, ou seja, a
moeda de reserva principal, o princípio da inviolabilidade da propriedade e
assim por diante", listou ele.
"Analisamos antecipadamente as possíveis
medidas de retaliação e faremos tudo da melhor maneira possível, de acordo com
nossas próprias leis nacionais", conforme Peskov.
O porta-voz sublinhou que há um efeito óbvio do
bumerangue das sanções contra Moscou, e que muitos estrangeiros começaram a
pensar nisso.
"Tais ações, em termos de volume de roubo de
nossos ativos, terão consequências mais prejudiciais", acrescentou Peskov.
Na quinta-feira (28) o jornal britânico Financial
Times citou fontes que afirmaram que a Alemanha, a França, a Itália e a UE
questionaram os planos dos EUA de confiscar US$ 300 bilhões (R$ 1,5 trilhão) em
ativos congelados da Rússia, considerando necessário primeiro avaliar
cuidadosamente a legalidade de tal medida. Washington tem planos de anunciar o
confisco em 24 de fevereiro de 2024, no aniversário do começo da operação
militar especial na Ucrânia.
·
EUA dependem de consentimento europeu para transferir ativos russos para
Ucrânia, diz mídia
A administração do presidente dos EUA, Joe Biden,
enfrenta desafios na implementação de plano para utilizar ativos congelados da
Rússia a fim de auxiliar a Ucrânia, uma vez que necessita do consentimento dos
países europeus, os quais, incluindo a Alemanha, questionam a viabilidade dessa
medida, segundo o colunista do Washington Post, Josh Rogin.
O colunista ressalta a falta de consenso entre os
países europeus em relação a essa questão. "Sem o apoio europeu, este
plano não funcionará. É verdade", afirma o autor, citando funcionário não
identificado do governo Biden.
"Apenas cerca de 2% desses fundos são mantidos
nos Estados Unidos. A maior parte dos ativos congelados da Rússia está
localizada na Bélgica e na Suíça. Há resistência na Europa, especialmente em
Berlim, sobre se a medida é justificada ao abrigo do direito internacional e se
poderia minar a confiança no euro", destaca o artigo, citando fontes não
identificadas.
Segundo Rogin, sem acesso aos ativos russos, a
Ucrânia corre o risco de perder a capacidade de "sobreviver como país
funcional".
Na quinta-feira (28), o jornal Financial Times
informou que a Alemanha, a França, a Itália e a União Europeia expressaram
dúvidas sobre a ideia dos EUA de confiscar ativos congelados russos no valor de
300 bilhões de dólares (cerca de R$ 1,5 trilhão), considerando necessário
avaliar cuidadosamente a legalidade dessa medida.
Anteriormente, o coordenador de Comunicações
Estratégicas da Casa Branca, John Kirby, afirmou que os EUA consideram
prematuro falar sobre a possibilidade de usar ativos soberanos congelados da
Rússia para ajudar a Ucrânia.
Desde o início da operação especial na Ucrânia, os
países da UE e do G7 congelaram quase metade das reservas cambiais russas,
principalmente nas contas do Euroclear belga — um dos maiores sistemas de
liquidação e compensação do mundo.
O Euroclear informou que, nos nove meses de 2023,
obteve cerca de 3 bilhões de euros (R$ 16 bilhões) em juros ao investir em
ativos russos sancionados.
O ministro das Finanças russo, Anton Siluanov,
destacou anteriormente que a Rússia lidará com a pressão das sanções impostas
pelo Ocidente, intensificando-se ao longo dos anos, e continuará a defender
seus interesses.
Fonte: Sputnik Brasil
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